Um novo espécime da jiboia do Ribeira (Corallus cropanii), uma fêmea adulta, foi encontrado e resgatado com vida por moradores do Bairro Guapiruvu, no município de Sete Barras, em outubro/2020 e divulgado na última semana. Este é o segundo espécime encontrado vivo pela população. Outro havia sido encontrado em janeiro de 2017.
Historicamente, o encontro quase sempre resultava na morte destes animais e esse acontecimento revela uma mudança significativamente positiva na relação da população com as serpentes encontradas na região.
A área onde o animal foi encontrado, além abrigar uma comunidade preocupada e ativa no protagonismo da conservação da natureza, é também especial pela sua proteção legal: contigua ao Parque Estadual Intervales e inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra do Mar. Sendo assim, o fato se reveste de grande importância para a biodiversidade da Mata Atlântica, indicando que o conjunto de unidades de conservação do Vale do Ribeira vem cumprindo seu papel de proteger e viabilizar a existência de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção, a exemplo da Corallus cropanii.
Os responsáveis pelo encontro, Paulo Vinicius Teixeira, Wilian Daniel Martins, Bernardo Alves dos Santos e Virgílio Gomes foram contatados pelos guardas-parque do Parque Estadual Intervales, que avistaram o animal se deslocando pela estrada durante a ronda pela comunidade.
Willian e Vinícius são fundadores da “Ação Comunitária Mãos que protegem”, uma iniciativa que colabora com a gestão do Parque Estadual de Intervales e viabiliza o resgate de serpentes encontradas na comunidade e sua soltura em áreas preservadas e seguras, desenvolvida em consonância com o “Projeto de Ciência Cidadã Amigos da Mata”.
Wiliam e Vinícius são também funcionários da Fundação Florestal, cumprindo funções de proteção ao patrimônio e à biodiversidade na Base Guapiruvu do Parque Estadual Intervales. Vinicius foi um dos responsáveis pelo encontro da jiboia em 2017, que ficou conhecida como “dona Crô”. Ele atuou como auxiliar de pesquisa no “Projeto Jiboia do Ribeira”, responsável pelo monitoramento desenvolvido ao longo de três meses, até que o animal desprendeu o transmissor que carregava, durante uma troca de pele.
Cobra da espécie Corallus cropanii é redescoberta, 60 anos após o seu último registro vivo
Cobra da
espécie Corallus cropanii é redescoberta, 60 anos após o seu último registro
vivo, no Vale do Ribeira por pesquisadores do Instituto Butantan e do Museu de
Zoologia da USP
São Paulo, 03 de fevereiro de
2017 - Pesquisadores do Instituto Butantan e do
Museu de Zoologia da USP anunciam a redescoberta da cobra da espécie Corallus
cropanii, conhecida popularmente como jiboia-do-Ribeira ou
jiboia-de-Cropan, na região do Vale do Ribeira, em São Paulo.
Ela é considerada
uma das mais raras do mundo e após mais de meio século o animal foi encontrado
vivo e na natureza.
Esta é
a segunda serpente da espécie encontrada viva em seu habitat natural. A
primeira vez que a jiboia-do-Ribeira foi encontrada viva na natureza foi em
1953, quando foi descrita pelo herpetólogo do Instituto Butantan Alphonse
Richard Hoge, a partir de um macho de cerca de 1 metro de comprimento
encontrado na cidade de Miracatu, SP.
A
segunda jiboia foi capturada em Pedro Toledo em 1969 e trazida já morta para o
Instituto Butantan, enquanto o terceiro chegou até o Instituto vindo da Estação
de Trem do município de Santos em 1978. Como seus dados de localidade são
incertos é possível que tenha sido capturado no Vale do Ribeira e enviado ao
Butantan por Santos.
Após
cerca de 30 anos sem novos registros da espécie, que foi então considerada
praticamente extinta, em 2003 pesquisadores do Instituto Butantan encontraram
um novo espécime sem vida no município de Eldorado, próximo ao rio Ribeira do
Iguape. Este espécime estava com um morador local e tinha somente a cabeça e a
pele conservados em álcool.
O exemplar era uma fêmea, o maior espécime
conhecido da jiboia-do-Ribeira, com 1,5 m de comprimento.
O
quinto registro da Jiboia-do- Ribeira não foi capturado e coletado para
adicionar na coleção científica. Ele foi registrado em fotografias por um
morador da Região do Vale do Ribeira em janeiro de 2009 na comunidade
Guapiruvú, município de Sete Barras. O sexto registro também no Guapiruvú
embora tenha sido morto, teve parte de sua pele e esqueletos recuperados e
encontra-se na coleção científica do Museu de Zoologia da USP.
O novo
espécime, encontrado no dia 21 de janeiro de 2017 por moradores da região, é um
macho, de 1,70 metros de comprimento e 1,5 kg. O animal é de cor alaranjada,
com escamas bem definidas e losangos pretos espalhados pelo corpo. Como toda
jiboia, não é venenosa e mata suas presas por constrição (esmagamento).
“A cobra será
estudada a fim de se descobrir mais informações sobre sua biologia e hábitos.
Como nunca foi observada na natureza, não temos muitas informações sobre o seu
comportamento”, afirma Lívia Corrêa, bióloga do Instituto Butantan.
“Ela será
solta em seu habitat natural e receberá um equipamento com radiotelemetria que
possibilitará seu rastreamento na natureza e a transmissão de informações aos
pesquisadores”, destaca a bióloga.
Trabalho junto à comunidade
A
redescoberta da jiboia-do-Ribeira foi possível graças à aproximação entre
pesquisadores e moradores da comunidade rural do Guapiruvu, localizada no
município de Sete Barras (Vale do Ribeira).
Os biólogos Bruno Rocha e Daniela Gennari,
do Museu de Zoologia da USP, e Lívia Corrêa, do Instituto Butantan, conduziram
as ações. Além de palestras com os moradores, foram distribuídos cartazes e
folhetos contendo fotos e informações sobre a jiboia-do-Ribeira.
De acordo com
os pesquisadores, sem essa parceria com a comunidade o projeto de encontrar
este animal vivo não teria tido sucesso.
O
trabalho tinha como objetivo encontrar um animal vivo com a ajuda da população
local. As ações incluíram envolvimento da comunidade, desenvolvendo atividades
educativas sobre a importância de conservar as serpentes e o ecossistema onde
elas vivem.
Desta forma, além de promover a apropriação da biodiversidade local
pela comunidade, buscou-se reverter a atitude, comum nas áreas rurais, por
falta de informação dos seus habitantes, de matar as serpentes encontradas.
Em anos
anteriores, pesquisadores do Instituto Butantan já haviam identificado a
necessidade de envolver a comunidade local na busca desta espécie rara e
ameaçada.
Com financiamento da Fapesp e da Rufford Foundation, e após da
Universidade de Cornell, o Instituto Butantan desenvolveu um projeto de
parceria com a comunidade, com ações educativas pensadas especialmente para as
crianças e jovens da região, visando mostrar a importância ecológica das serpentes
e desmistificar estes animais como "necessariamente ruins".
“A
confirmação de sua presença na região e o desconhecimento completo sobre a
biologia de um animal tão raro, é um reforço importante da necessidade de
conservação e interligação entre as áreas naturais remanescentes de Mata
Atlântica do Vale do Ribeira”, afirma Lívia.
“O projeto também mostrou que a
parceria entre a ciência e a sociedade funciona e traz benefícios para a
produção de conhecimento científico, para a comunidade local e também para a
preservação de espécies ameaçadas de extinção”, reforça a bióloga.
Estudo e Conservação
Pesquisadores
do Instituto Butantan, do Museu de Zoologia da USP e do Grupo de especialistas
em Boideos e Pitonídeos da IUCN (International Union for Conservation of
Nature) desenvolveram um projeto que propõe criar uma estratégia para a
conservação da jiboia-do-Ribeira.
O projeto conta também com o apoio
governamental do RAN-ICMBio (Centro Nacional de pesquisa e conservação de
Répteis e Anfíbios) e financiamento de The Mohamed Bin Zayed
Species Conservation Fund e do Boa & Pythons Specialist
Group.
A
estratégia prevê obter informações da biologia da jiboia-do-Ribeira, pois o
animal encontrado receberá um equipamento de radiotelemetria que vai
acompanhá-lo no ambiente natural.
A jiboia será solta e monitorada no mesmo
local em que foi encontrada, com o auxílio dos moradores responsáveis pelo
achado. Os rapazes da comunidade parceira receberão treinamento técnico e
remuneração pelo trabalho desenvolvido com os pesquisadores.
Sobre o Instituto Butantan
Vinculado
à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, o Instituto Butantan é um dos
principais produtores de imunobiológicos do Brasil, responsável por grande
parte da produção nacional de soros antivenenos, antitoxinas bacterianas e
viral, além de grande volume da produção nacional de vacinas utilizadas no
Programa Nacional de Imunizações - PNI, do Ministério da Saúde.
A instituição
se destaca pelo desenvolvimento de estudos e pesquisas, básicas e aplicadas,
relacionados direta ou indiretamente com a saúde pública nas áreas da Biologia,
Biomedicina e Biotecnologia.
O Butantan mantém importantes coleções zoológicas
e também promove atividades culturais e de ensino, relacionadas à educação
formal e não formal, com foco na difusão do conhecimento científico.