*A independência dos passarinhos*
Até parece que os pássaros contrariaram o poeta quando este falou que os sabiás cantavam no campo, nas palmeiras. Hoje, os sabiás cantam em nossos quintais, logo de manhã. E não chegam sós. Acompanham orquestra de outros plumados e enfeitam feriados nacionais como o desta semana, pois estão presentes nas praças e encantam. Por isso, esta ave canora recebeu homenagem cívica.
A volta dos Sabiás |
O sabiá é referido como ave símbolo do Brasil. Mereceu até um decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002. Juntou-se oficialmente aos outros quatro símbolos nacionais – a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo, passando a ter a mesma importância deles na representação do Brasil.
Segundo o ornitólogo Johan Dalgas Frisch (mentor do decreto presidencial), são 12 as espécies de sabiás no Brasil, sendo que o pássaro assume outras denominações em regiões diferentes. Assim, ele tanto pode ser caraxué (Amazonas), sabiá-coca (Bahia), sabiá-laranja (Rio Grande do Sul) e ainda sabiá-de-barriga-vermelha, sabiá-ponga e sabiá-piranga em lugares diferentes.
É ave de canto muito apreciado, que se assemelha ao som de uma flauta. Canta principalmente ao alvorecer e à tarde. O canto serve para demarcar território e, no caso dos machos, para atrair a fêmea. A fêmea também canta, mas numa frequência bem menor que o macho.
Enquanto a fêmea choca no ninho o macho canta distante, noutro galho ou árvore. Isso desvia os predadores da prole e a protege. Dizem os entendidos que o canto do macho é captado pelo embrião ainda dentro do ovo, o que garante o aprendizado precoce da pureza melódica desses pássaros canoros.
Essa riqueza encanta e foi imortalizada na “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias ( Maranhão, 1823 – 1864, em naufrágio fatídico para o poeta ):
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.( ...)”
O passarinho, cantando, manteve sua independência. O poeta, sonhando, viu o Brasil afundar à sua frente...
Ah, não queria falar do nosso sofrido país. Só dos sabiás... !