Rita Francisca Galdino foi uma mulher
valente, destemida, que soube se fazer respeitar numa época em que as mulheres
eram frágeis e sem vontade própria. Nasceu na então Vila de Nossa Senhora das
Neves de Iguape no dia 1º de novembro de 1804, mais exatamente no Rio de Una,
no hoje mundialmente conhecido santuário ecológico da Juréia. Era filha do
casal Vicente Pinto e Francisca Galdino.
Rita Galdino, na imaginação do artista iguapense José Galvão. |
Rita Galdino se casou, em Iguape, com Francisco José Ribeiro, em 21 de janeiro de 1822. De seu casamento, nasceram dois filhos, Margarida, em 1822, que faleceu ainda pequena, e João Francisco Belarmino Galdino, nascido a 20 de abril de 1826.
Por volta de década de 1830, a família
de Rita Galdino decidiu se mudar para a vizinha cidade de Cananeia, onde até
hoje vivem muitos de seus descendentes. Seu filho, João Galdino se casou, em 23
de outubro de 1850, com Carmelinda Maria das Dores, nascida por volta de 1832,
filha de José Dionísio Sanches e Anna Maria Sanches. Desse casamento, nasceram
dois filhos: Anna Margarida e João Izídio.
Carmelinda exercia a atividade de
parteira em Cananeia, que aprendeu com sua sogra. João Galdino faleceu em 22 de
abril de 1889, aos 63 anos, sendo enterrado em Cananeia; sua esposa faleceu em
13 de julho de 1900, aos 68 anos de idade.
Anna Margarida, por sua vez, se casou
com Domingos de Almeida Santos, português originário de Ericeira; desse
casamento, nasceram quatro filhos, entre eles, Domingos de Almeida Santos
Júnior (o legendário “Major Mingute”, que editou jornais em Iguape por mais de
trinta anos).
Muitos dos descendentes de Rita Galdino
ainda hoje residem em Iguape.
Rita Galdino faleceu em Cananeia no dia
27 de março de 1882, aos 77 anos.
RITA GALDINO NA CORTE DE D. PEDRO II
Tendo enviuvado, Rita Galdino ficou
morando com seu único filho, João Galdino, que, mesmo casado e pai de família,
foi recrutado para a Guerra do Paraguai (1865-1870). Rita Galdino não se
conformou com o recrutamento de seu filho e decidiu ir até o Rio de Janeiro,
então a Capital do Império, para tentar convencer o Imperador D. Pedro II a
libertá-lo.
Seguiu a pé, decididamente, pelo Caminho
do Imperador, na Jureia, passou por Itanhaém, São Vicente e Santos e, depois de
muitos dias de exaustiva viagem, chegou até o Rio de Janeiro. Enquanto esperava
ser atendida pelo Imperador, ficou ajudando na cozinha, onde preparava
deliciosos pratos caiçaras, para o deleite dos nobres do palácio.
Nesse meio tempo, uma baronesa passou
muito mal, sentindo as dores do parto. Rita Galdino, que era parteira em
Cananeia, atendeu a dama e realizou um parto perfeito. Todos ficaram admirados.
O Imperador chamou-a à sua presença e autorizou a libertação de seu filho. Os
nobres do palácio a presentearam com muitas peças de roupas finas e outros
mimos.
Assim, a valente iguapense pegou um
vapor que ia para Iguape, pois não havia linha para Cananeia, e, desembarcando
em Iguape, comprou várias caixas de foguetes. Em seguida, alugou um barco e
partiu para Cananeia. Ao chegar perto do porto, começou a soltar foguetes. Todo
o povo de Cananeia foi até o cais e presenciaram a valente Rita Galdino que
voltava de viagem, vestida feito uma dama da corte.
Em virtude de sua valentia e
determinação, a brava valerribeirense conseguiu evitar que seu filho único
fosse para a Guerra do Paraguai, a mais sangrenta de toda a história da América
Latina.
(Caso verídico, narrado em 1983 pelo Sr.
Sebastião Fortes, antigo conhecedor da História do Vale do Ribeira).
ROBERTO FORTES,
historiador e jornalista, é sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São
Paulo.
E-mail: robertofortes@uol.com.br