Descontentes com a anexação da Vila de
Ararapira ao Estado do Paraná, em 1920, a maior parte dos ararapirenses
atravessou o Canal do Varadouro e se estabeleceu em território paulista, mais
exatamente em terras do município de Cananeia. (Atualmente, a Vila de Ararapira
está localizada no município de Guaraqueçaba, Litoral Norte do Paraná).
Já no dia 12 de julho desse ano –
escreve o historiador cananeense Antônio Paulino de Almeida (em “Ariry – histórico de sua fundação”) –,
chegavam à cidade de Cananeia “diversos
araripirenses, levando a notícia da resolução tomada por muitos deles e
solicitando o amparo dos poderes municipais, para designar-lhes um novo local
onde pudessem construir suas casas”. Tinha início aí a futura Vila do
Ariri.
Visita do presidente do Estado, Washington Luiz, ao Ariri, em 1921. Foto: Revista “A Vida Moderna”, nº 41, de 29-9-1921) |
Foi o próprio Antônio Paulino de Almeida que acompanhou os retirantes ararapirenses à presença do presidente da Câmara, Ernesto Martins Simões, que prontamente telegrafou ao coronel Juvenal Fraga, chefe político de Cananeia, que se encontrava em São Paulo, para “entender-se pessoalmente com o Sr. Dr. Washington Luiz [presidente do Estado], enquanto que, de nossa parte, levaríamos o fato ao conhecimento da imprensa paulistana”.
Os reclamos dos ararapirenses não foram
em vão. Logo o Governo do Estado apresentou ao Congresso do Estado projeto de
lei que autorizava o Governo “a prestar o
auxílio necessário”. Pelo Projeto de Lei nº 40, de 25 de outubro de 1920, o
Distrito de Paz de Ararapira passava a denominar-se Ariri e teria por sede a povoação deste nome. Pela emenda do dia 29
de outubro, ficava o Governo autorizado a mandar construir na sede do Distrito
de Paz de Ariri “um posto policial e um
prédio para escola, abrindo para esse fim o crédito necessário”. Enquanto o
projeto era apreciado no Congresso do Estado, a Câmara de Cananeia tomava
providências quanto à aquisição da área onde seria construída a futura Vila do
Ariri.
Uma comissão, tendo à frente Antônio
Paulino de Almeida – e composta pelo capitão Ernesto Martins Simões, presidente
da Câmara; pelos vereadores João Cypriano dos Santos e Frederico Trudes da
Veiga; Paulo Porfírio Paiva, vice-prefeito; e Antônio Benedicto de Paiva,
oficial do Cartório de Registro Civil local –, foi encarregada para esse fim.
Essa comissão partiu de Cananeia no dia
12 de novembro de 1920, às 11h15, a bordo do vapor “João Martins”, da Companhia de Navegação Fluvial Sul Paulista, com
destino à Vila de Ararapira, ali chegando às 16h. No Porto de Ararapira, Samuel
Marques, comerciante do Rio de Janeiro, que atravessara o Istmo do Varadouro no
dia anterior, incorporou-se à caravana. Partiram, então, em demanda do Morro
das Pedras, “lugar pitoresco e amplo”.
Escreveu Paulino de Almeida: “Num rápido olhar reconhecíamos as vantagens
desse ponto sobre os demais, e, tomando as canoas que havíamos conduzido de
Ararapira, desembarcamos. Recebidos pelo proprietário das terras, passamos a
examinar detalhadamente a topografia local, facilidades para uma estrada de penetração,
de águas, altitude e tudo mais que nos pareceu necessário”.
Sendo aprovado o local, o prefeito foi
autorizado a adquirir uma parte da referida propriedade. Quanto ao Projeto de
Lei nº 40, foi aprovado e transformado na Lei nº 1.757, promulgada em 27 de
dezembro de 1920.
“Estava, pois – escreve
Paulino de Almeida –, transferida a sede
do Distrito de Paz de Ararapira, para a margem oposta do rio do mesmo nome, em
território paulista, sob a denominação de – ARIRY – denominação essa proposta
pela Comissão de Estatística”.
Entrada da Vila do Ariri: Foto: André Pimentel. |
Curiosamente, a nova Vila do Ariri quase
não se chamou “Orizópolis”, sugestão do próprio Paulino de Almeida, em
homenagem ao seu principal produto agrícola, o arroz, mas essa sugestão não foi
aceita pela Comissão de Estatística da Câmara Municipal.
No ano seguinte, em 19 de setembro de
1921, a Vila do Ariri receberia a honrosa visita do presidente do Estado de São
Paulo, Dr. Washington Luiz Pereira de Souza. O presidente tratou os
ararapirenses com tanto carinho e atenção, que surgiu a ideia de chamarem a
vila de “Nova Washington”, em homenagem “ao
seu benemérito fundador, com o que entretanto, não quis s. exa. concordar,
declinando, num requinte de delicadeza, da homenagem que não somente a Câmara,
porém toda a população cananeense desejava prestar-lhe”.
Nesse mesmo dia, Washington Luiz
assinava a ata de criação da Villa de
Ariry, documento também assinado, por Heitor Penteado, secretário da
Agricultura; Américo de Campos, deputado; Juvenal Fraga, presidente da Câmara
de Cananeia; Ernesto Martins Simões, prefeito; Cícero Marques, do “Jornal do Commercio”; Paulo Duarte, de “O Estado de S. Paulo”; João de Sá
Rocha, do “Correio Paulistano”;
Antônio Paulino de Almeida, promotor público de Cananeia; Vicente de Carvalho,
jurista e poeta, presidente da Companhia Fluvial; João Anastácio Xavier,
sub-delegado de Ararapira; Augusto Marinangeli, vice-presidente da Companhia
Fluvial; Augusto Mesquita de Carvalho (Tareco),
filho de Vicente de Carvalho e gerente da Companhia Fluvial; entre outros.
A área destinada à Vila do Ariri,
composta por várias glebas, foi adquirida de Evaristo Francisco Xavier e sua
mulher; Antônia Lourença Alves e Hypolita Maria do Espírito Santo. As
escrituras de compra e venda foram lavradas no dia 4 de março de 1921. Já no
dia 23 de março de 1922, essa área era aumentada com a aquisição de outra
parte, adquirida de Júlio Alves Dias e sua mulher Anna Felipe Dias. A
inauguração dos prédios destinados ao Posto Policial e escolas deu-se no dia 24
de abril de 1925.
Eis as origens da Vila do Ariri, hoje um
dos mais procurados pólos turísticos da região do Vale do Ribeira e Baixada
Santista.
ROBERTO FORTES, historiador e
jornalista, é licenciado em Letras sócio do Instituto Histórico e Geográfico de
São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br