Antônio Paulino de Almeida o historiador do Vale do Ribeira e Litoral Paulista

Vulto de destaque nos meios intelectuais e acadêmicos de seu tempo, o Dr. Antônio Paulino de Almeida, nascido em Cananeia (SP), foi responsável por importantes trabalhos históricos já publicados a respeito do Vale do Ribeira e Litoral Paulista. Foi sócio do prestigioso Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e de outras instituições históricas e culturais. Formado em Direito, além de delegado de polícia, foi promotor público em Cananeia. Durante décadas foi chefe da Seção de História do Arquivo do Estado de São Paulo, no qual pesquisou a rica documentação primária preservada naquele arquivo e escreveu importantes trabalhos sobre a história regional e paulista.

Dr. Antônio Paulino de Almeida, quando jovem.
Dr. Antônio Paulino de Almeida, quando jovem.


OS PRIMEIROS ANOS

Antônio Paulino de Almeida nasceu em Cananeia no dia 15 de fevereiro de 1882, filho dos primeiros professores primários da cidade, Agostinho Paulino de Almeida e Geraldina Amália de Oliveira Almeida. A sua família é oriunda dos Açores e teria chegado em Cananeia nos anos de 1600.


Era irmão de Izabel Bona de Almeida Gomes, que foi casada com o professor Lindolpho Procópio Gomes, pais do Dr. Paulo de Almeida Gomes, que trabalhou como médico em Cananeia e Iguape; Zulmira de Almeira Netto, que foi casada com Luiz Antônio Netto; Avelina de Almeida França, que foi casada com José França; além de Joanna Victorina de Almeida e Maria Elisa de Almeida;

Cursou o primário em sua terra natal. Em 1905, matriculou-se no curso de Direito da tradicional Faculdade do Largo de São Francisco, onde se diplomou em 11 de dezembro de 1909. A sua turma era formada por 154 alunos, a maior até então.


A FAMÍLIA


Em 1910, Antônio Paulino de Almeida casou-se com a senhora Lucy Alcoforado de Almeida, filha do Dr. Joaquim Guedes Alcoforado, que foi juiz de direito em Cananeia no final do século XIX, e de dona Maria Coelho Alcoforado, sendo irmã de Joaquim Guedes Alcoforado, funcionário da Companhia City; Oswaldo Guedes Alcoforado, funcionário dos Correios em São Paulo; Eduardo Guedes Alcoforado, major do Exército; e Zélia Alcoforado de Oliveira.

Em 1910, nasceu o seu primeiro filho, Lauro de Almeida, que também se destacou na preservação da memória histórica de Cananeia.

Em 1º de dezembro de 1913 faleceu a sua pequena filha Maria Elisa, sendo sepultada no Cemitério da Consolação, em São Paulo.

“Memória Histórica Sobre Cananéia”, volume I (1963).
“Memória Histórica Sobre Cananéia”, volume I (1963).




O JORNALISTA


Jornalista, Paulino de Almeida fundou, em 23 de janeiro de 1921, “Correio de Cananéia”, que dirigiu por dois anos, até 1923. Era um “orgam dedicado aos interesses do Município”, publicado semanalmente, sempre aos domingos. O diretor era Antônio da Silva Fraga, sendo Antônio Paulino de Almeida o redator.

Meses depois, Paulino de Almeida passou a ser o redator-chefe, ficando como redator-secretário Frederico Trudes da Veiga. Nesse periódico, Paulino de Almeida publicou uma série sob o título “Apontamentos Históricos”, que depois foram utilizados para o seu trabalho “História de Cananeia”, que mereceu elogios de ilustres historiadores paulistas, como Affonso de Taunay, além de sonetos, que demonstraram os seus dons poéticos.


Escreveu também artigos para a “Gazeta do Sul”, “Correio Paulistano” e outros jornais.


DELEGADO E PROMOTOR


Paulino de Almeida exerceu em Cananeia os cargos de delegado de polícia, que assumiu no dia 5 de agosto de 1910, e também de promotor público.


Em julho de 1916, foi nomeado pelo secretário da Justiça e da Segurança Pública para exercer interinamente o cargo de promotor público da comarca de Ubatuba (SP).


Em abril de 1917, o secretário da Justiça e da Segurança Pública nomeou Paulino de Almeida para o cargo de promotor público em Cananeia, removendo para a comarca de Ubatuba o Dr. Eusébio Gomide Reichert.


Em janeiro de 1919, o secretário da Justiça e da Segurança Pública concedeu-lhe o título de habilitação para o cargo de juiz de direito.


O MARCO DO ITACURUÇÁ


No início das primeiras expedições portugueses ao Brasil, foram assentados, no pontal do Itacuruçá, em Cananeia, um marco e dois “tenentes” (pedras menores que a principal e geralmente não lavradas). Alguns historiadores acreditam terem sido ali chantados pela expedição de 1501-1502, na qual veio Américo Vespúcio como piloto ou cosmógrafo; outros, pela expedição de 1503, também integrada por Vespúcio; outros ainda por Cristóvão Jaques em 1526; e outros por Martim Afonso de Sousa em 1531.


Estando em Cananeia em 1866, o Barão de Capanema, quando diretor geral do Telégrafo Nacional, foi visitar o marco do Itacuruçá. Anos depois, em 1880, ficou alarmado ao saber que um navegante americano ou inglês tentara remover esse marco do local. Assim, algum tempo depois, com autorização da Câmara local, levou para o Rio de Janeiro, e os entregou ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o marco e um dos “tenentes”. O segundo “tenente”, devido ao descuido dos trabalhadores que fizeram a remoção dos padrões, rolou do alto do pontal ao mar.


Em 18 de junho de 1926, Paulino de Almeida, auxiliado por pescadores da praia de Ipanema, conseguiu resgatar do mar esse “tenente”, sendo a pedra recolhida ao edifício da Câmara Municipal a 24 de junho, dia do padroeiro de Cananeia, São João Batista. O prefeito Emílio de Almeida, sob instâncias de Paulino de Almeida, ofereceu esse padrão ao Governo do Estado para ser exposto no Museu Paulista. Em 1930, esse padrão foi colocado em destaque no hall de entrada do museu.

NO ARQUIVO DO ESTADO



Em dezembro de 1927, o então secretário do Interior Fábio Barreto visitou, inesperadamente, a Repartição de Estatística e do Arquivo do Estado e não ficou nada satisfeito com o que ali observou, em face da desorganização encontrada. Por isso, nomeou uma comissão, formada por Djalma Forjaz e Antônio Paulino de Almeida, então promotor em Cananeia, mas já então reconhecido historiador, para selecionarem, catalogarem, distribuírem e ficharem todos os papéis e livros existentes naquele departamento.

Fábio Barreto afastou o diretor da repartição, Dr. Adolpho Botelho de Abreu Sampaio, comissionando-o junto à Secretaria do Interior, e em seu lugar nomeou, em comissão, o Dr. Djalma Forjaz, lente de História da Escola Normal da Praça da República.

O jornal paulistano “A Gazeta” (nº 6.557, de 10-12-1927) fez uma espirituosa observação sobre essa mudança no Arquivo do Estado: “Os funccionarios daquelle departamento é que devem dar graças a Deus, por não terem de fazer tão complicado serviço.”

Pela Lei nº 2.252, de 28 de dezembro de 1927, Paulino de Almeida foi nomeado arquivista do Arquivo do Estado de São Paulo, chegando mais tarde a ocupar o cargo de chefe da Seção de História, no qual se aposentou após décadas de árduo trabalho dedicado à pesquisa histórica.

Em janeiro de 1928, foi exonerado, a pedido, do cargo de promotor público de Cananeia para exercer o cargo de arquivista do Arquivo do Estado, sendo nomeado em 6 de janeiro.

Segundo Odilon Nogueira de Matos (1916-2008), importante historiador brasileiro, que conheceu Paulino de Almeida por mais de quarenta anos:

“Paulino não era propriamente o diretor do Arquivo, mas era como se o fosse. Era sempre com ele que os consulentes se entendiam e, com sua larga experiência e boa vontade, não houve provavelmente frequentador do Arquivo, naquela época, que não lhe ficasse devendo a iniciação na árdua tarefa e ler e às vezes decifrar os velhos papéis, carinhosamente guardados como testemunhos vivos da história paulista.” (1)
O HISTORIADOR



Dr. Antônio Paulino de Almeida, na maturidade.
Dr. Antônio Paulino de Almeida, na maturidade.


Desde os tempos de redator do “Correio de Cananeia”, Paulino de Almeida já demonstrava os seus dotes de investigador do passado de sua cidade natal e também do Vale do Ribeira. Naquele periódico, publicou uma série histórica sobre a “Cidade Ilustre do Brasil”, que mais tarde seriam aproveitados para a sua monografia “História de Cananeia”.


Em fevereiro de 1927, o ilustre historiador Affonso D´Escragnolle Taunay leu os originais desse manuscrito, e em artigo publicado no “Correio Paulistano” (nº 22.844, de 24 de fevereiro daquele ano), assim se manifestou:

“Representam taes páginas um esforço real, longo e pertinazmente realizado, obedecendo a investigação insopitável do espírito e do coração. Também foram os resultados colhidos dignos do labor despendido e os mais apreciáveis, sobretudo para ´officiaes de officio´, os que conhecem o trabalho que dão as pesquisas originaes em nosso paiz. [...] Não se poupou a trabalhos nem a incommodos e despesas. Visitou demoradamente os archivos de São Paulo e do Paraná e conseguiu descobrir muita cousa inédita e valiosa [...].

Ainda em fevereiro de 1928, a convite de Paulino de Almeida, o historiador Affonso de Taunay, compôs o escudo de Cananeia, com todo o seu simbologismo evocando os anos quinhentistas e com a divisa: “Urbs Brasiliae Clara” (“Cidade Ilustre do Brasil”).

Em 1939, Paulino de Almeida já tinha escrito, mas ainda não publicado, as duas memórias sobre Cananeia e São Sebastião. Em artigo veiculado no Correio Paulistano (nº 25.556, de 29-6-1939), o conceituado genealogista Carlos da Silva escreveu sobre ele:

“Antônio Paulino de Almeida, outro collega de turma, alto funccionário do Archivo do Estado, especializou-se em coisas do litoral paulista e escreveu duas collectaneas históricas, ainda inéditas, sobre São Sebastião e sobre sua terra natal – Cananéa. Quando forem impressas taes páginas de Antônio Paulino de Almeida, dahi provirão, de certo, seguros informes, quanto à genealogia da orla marítima de São Paulo.”

Em 1948, Paulino de Almeida participou de série de debates, sob os auspícios do Instituto de Administração, com o fim de estabelecer, de maneira didática, as fontes primárias da história de São Paulo no século XVI. Esses debates foram orientados por Maria Conceição Martins Ribeiro e dele participaram ilustres pensadores como J. F. de Almeida Prado, que analisou as fontes primárias para o estudo das explorações e reconhecimento geográfico no século XVI; Florestan Fernandes, que estudou o povoamento; Luís Saia estudou as habitações e as estradas; Alice Canabrava comentou as fontes referentes ao estudo das moedas e do crédito; cônego Paulo Florêncio da Silveira Camargo analisou as fontes primárias relativas à vida religiosa; Ernesto de Souza Campos discorreu sobre a educação e a saúde pública; Nícia Vilela Luz sobre a organização administrativa; Herbet Baldus sobre a situação dos índios; Sérgio Buarque de Holanda sobre a expansão paulista. Antônio Paulino de Almeida palestrou sobre o Arquivo do Estado.

Em 1952, publicou na Revista do Arquivo do Estado (volumes CL) o trabalho “Bacharel de Cananeia”. A esse respeito, noticiou o Correio Paulistano (nº 29.657, de 12-12-1952):

“É autor dessa crônica sobre o famoso Bacharel, que tanto contribuiu para a colonização do Brasil, o sr. Antônio Paulino de Almeida, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.”

Fez parte da consultoria técnica da Exposição Histórica realizada por ocasião do Quarto Centenário de São Paulo, em 1954, cuja comissão foi presidida pelo historiador português Jaime Cortesão, então residente no Brasil fugido da perseguição do regime salazarista, e da qual também participaram, notáveis vultos da historiografia paulista, como Washington Luís Pereira de Sousa, Aureliano Leite, Alfredo Ellis Júnior, Affonso d´Escragnolle Taunay, Paulo Duarte, Júlio de Mesquita Filho, Sérgio Buarque de Hollanda, Yan de Almeida Prado, João de Scatimburgo, Rodrigo Melo Franco Andrade, Tomaz Oscar Marcondes de Sousa, Nuto Santana, Tito Lívio Ferreira entre outros.

Paulino de Almeida teve uma vida inteiramente dedicada à pesquisa e à edição de livros. Pelo Arquivo do Estado, publicou 30 volumes da coleção “Documentos Interessantes Para a História e Costumes de São Paulo”, tendo deixado outros 15 prontos para publicação; 3 volumes da série “Sesmarias” e alguns volumes da coleção “Inventários e Testamentos”. Preparou também edições da “Organização Judiciária” e do “Boletim do Arquivo”.

Publicou a maior parte de suas investigações históricas na “Revista do Arquivo Municipal”. Escreveu para a “Revista de História”, da USP, fundada em 1950 por Eurípedes Simões de Paula, onde publicou a sua “Memória Histórica de Cananeia”, em vários capítulos, e também a “Memória História de Sebastião”, que mais tarde seriam publicados em livros.

Deixou os inéditos: “Efemérides Cananeenses”; os livros de poesias “Auroras e Crepúsculos” e “Saudade”; “Nós, Nossa Casa, Nossa Gente” (confronto entre o passado e o presente de Cananeia, com a genealogia de seus habitantes); “IV Centenário de Cananéia”; e os poemas e versos “A Pastora”, “Ironias de Ouro”, “A Passarada” e “Minha Terra”.

NO INSTITUTO HISTÓRICO


Foi eleito como sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) em sessão de 20 de junho de 1928. Como membro desse instituto, fundado em 1894 e uma das mais importantes instituições culturais do país, Paulino de Almeida ocupou vários cargos e publicou na Revista do Instituto alguns de seus trabalhos históricos.

Em sessão do IHGSP de 20 de outubro de 1928, Paulino de Almeida procedeu à leitura de seu trabalho “Ariry, histórico de sua fundação”, que trata da fundação da nova cidade de Ariri, durante o governo do presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís, em substituição a Ararapira, que passou a pertencer ao Estado do Paraná. Paulino de Almeida era então “nome já de sobejo conhecido como um dos nossos mais acatados historiadores.”

Na sessão de 5 de fevereiro de 1929 do IHGSP, Paulino de Almeida fez a leitura do primeiro capítulo de seu trabalho “História de Cananéia”. O autor destacou que “os dados haviam sido colhidos em quinze anos de trabalhos árduos, percorrendo os cartórios de Cananéia, os archivos e bibliothecas da capital, mosteiros do interior.”

Em sessão de 20 de agosto de 1934 do IHGSP, Paulino de Almeida fez a leitura de seu trabalho “A cidade de São Sebastião, do litoral paulista, através da história”.

O sambaquis existentes na região de Cananeia sempre despertaram o interesse e o cuidado da parte do historiador. Por isso, em sessão de 20 de setembro de 1934 do IHGSP, Paulino de Almeida sugeriu que o instituto se interessasse pelos sambaquis existentes em Cananeia considerando o grande valor para os estudos que o instituto se propunha a realizar.

Em sessão de 20 de março de 1935 do IHGSP, Paulino de Almeida fez a leitura de seu trabalho “Itinerário da bandeira de Pero Lobo Pinheiro”.

Paulino de Almeida integrou a comissão do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, juntamente com o Dr. Edmundo Krug e Manoel Hyppolito do Rego, para representarem a instituição nos festejos comemorativos do III Centenário de São Sebastião, ocorrido em 16 de março de 1936.

Fez também parte da comissão organizadora das comemorações do III Centenário de Ubatuba, ocorrido em 28 de outubro de 1937, ao lado de Affonso de Taunay, Paulo Duarte, Plínio Ayrosa e Félix Guizard Filho, comissão essa presidida pelo Dr. José Torres de Oliveira, então presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Paulino de Almeida, em “incisivo discurso”, no dia 29 de outubro, no Grupo Escolar local, fez o histórico da origem da cidade e a razão de ser da decadência do litoral paulista em proveito do planalto. Falou sobre a vinda de Martim Afonso de Sousa, a vida de Pero Correia e a partida da primeira bandeira dizimada nas mãos dos ferozes carijós. Destacou também a luta entre índios e povoadores, entre outros assuntos.

Participou ainda das comemorações do IV Centenário de Iguape, ocorrido em 3 de dezembro de 1938, tendo sido convidado pelo prefeito Manoel Honório Fortes para a reorganização do arquivo municipal, em cuja seleção de papeis Paulino de Almeida encontrou muitos documentos interessantes, entre os quais a “Memória da Câmara de Vila de Iguape”, que ele copiou e publicou na Revista do Arquivo Municipal.

Além de sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, no qual publicou importantes trabalhos históricos, foi ainda membro da Sociedade de Estudos Históricos de São Paulo e da Associação Paulista de Imprensa.

O ORADOR

Antônio Paulino de Almeida, além de historiador e intelectual reconhecido, foi um excelente orador. Era sempre convidado para participar de cerimônias civis, religiosas e mesmo fúnebres, sendo reconhecido pela sua oratória. Vejamos dois exemplos colhidos no “Correio Paulistano”.

Por falecimento, no dia 23 de outubro de 1920, do coronel Silvino de Araujo, pessoa muito estimada em Cananeia na época, Paulino de Almeida, juntamente com os senhores Plácido Ferreira e o farmacêutico Oliveira, fez discurso fúnebre enaltecendo os relevantes serviços prestados à terra pelo ilustre falecido. Silvino Araújo, que faleceu aos 45 anos, era casado com a senhora Adelaide de Araújo e deixou o filho Janguinho, de 12 anos.

Em 3 de setembro de 1934, Paulino de Almeida fez discurso fúnebre por ocasião da exumação dos restos mortais do coronel Pedro Arbues, que tombou heroicamente em 1930 quando defendia São Paulo das tropas getulistas nas trincheiras do Itapitangui. Também discursou na ocasião Antônio César de Oliveira, tendo ambos exaltado as qualidades cívicas e a bravura do soldado que em vida soube dignificar a Força Pública do Estado de São Paulo.

OS BACHARELANDOS DE 1909


A turma de bacharelandos formada em 1909 na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em várias ocasiões, se confraternizou para comemorar as datas jubilares de formatura, conforme lemos em edições do “Correio Paulistano”.

Na tarde de 28 de dezembro de 1929, em almoço realizado nas dependências do Club Commercial, Paulino de Almeida participou da comemoração do 20º aniversário de formatura dos bacharéis de 1909.

Em comemoração ao 25º aniversário, foi realizada confraternização em 29 de dezembro de 1934, contando com a participação de Paulino de Almeida.

No dia 21 de dezembro de 1959, a turma comemorou festivamente o cinquentenário de formatura. Dos 154 formandos, estavam vivos na época 63. Foi celebrada missa na igreja de São Francisco, seguindo-se uma visita à Faculdade de Direito. O almoço foi servido no salão nobre do jornal A Gazeta, da Fundação Cásper Líbero, participando, além dos ex-formandos, os presidentes do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Alçada, o diretor da Faculdade de Direito e o presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito.

Em sua edição de 16 de fevereiro de 1939, o “Correio Paulistano”, então um dos mais influentes jornais brasileiros, noticiou o aniversário de Antônio Paulino de Almeida, chamando-o de “historiador brilhante, autor de diversos e valiosos trabalhos sobre as cidades do litoral paulista”. Destacou ainda o seu “espírito culto” e que gozava “de merecido destaque em nossos meios intellectuaes”. A cada ano esse jornal noticiava o aniversário de Paulino de Almeida, sempre destacando as suas qualidades de reconhecido historiador.


ÚLTIMOS ANOS


Desde a juventude, Paulino de Almeida já apresentava problemas de visão. Moço ainda, perdeu uma das vistas, apesar de ter se tratado com os melhores médicos, ficando a outra com capacidade bastante reduzida.


Em 1964, ficou completamente cego. Após a morte da esposa, dedicou-se exclusivamente à poesia. Seu último poema, bastante melancólico, foi “Sinos da Tarde”.


Faleceu em 14 de agosto de 1969, aos 87 anos.


Por ocasião de seu centenário de nascimento, ocorrido em 1982, mereceu homenagem do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. O acadêmico Odilon Nogueira de Matos publicou, no volume LXXIX (1984) da Revista do IHGSP, o artigo “O historiador do litoral de São Paulo”, pequena mas sincera biografia do grande investigador da História do Vale do Ribeira e Litoral Paulista.


OBRAS


Pela “Revista do Arquivo Municipal”, publicou:


“São Sebastião”, vol. II, julho/1934.


“A Lagoa Dourada”, vol. IX, fevereiro/1935.


“O aldeamento dos índios Puris”, vol. XI, abril/1935.


“A tragédia de Caraguatatuba”, vol XII, maio/1935.


“Breves notas sobre os sambaquis de Cananéia”, vol. XVIII, nov/dez/1935.


“O Forte da Ilha Comprida”, vol. XX, fevereiro/1936.


“A idéia da criação de uma universidade”, vol. XXIX, novembro/1936.


“Um paulista ilustre”, vol. XXXIV, abril/1937.


“Tricentenário de Ubatuba”, vol. XL, outubro/1937.


“Memória Histórica de Pariquera-Açu”, 1939.


“História da Navegação a Vapor na Ribeira de Iguape, Seus Afluentes, Mar Pequeno e Canal de Ararapira”, separata, vol. CII, 1945.


“O Ribeira de Iguape”, vol. CII, abr/mai/1945.


“Usos e costumes praianos”, vol. CIV, ago/set/1945.


“Da Decadência do Litoral Paulista”, vol. CVII, mar/abr/1946.


“Da ação dos piratas e fortificações do litoral”, vol, CIX, jul/ago/1946.


“Memória Histórica da Ilha do Cardoso”, vol. CXI, nov/dez/1946.


“O Litoral Norte”, vol. CXII, jan/fev/1947.


“Ereção da Capela de N. S. da Guia de Xiririca”, vol. CXVI, out-nov-dez/1947.


“A Igreja Matriz de S. João Batista de Cananéia”, vol. CXVIII, abr/mai/jun/1948.


“Memórias Memoráveis”, vol. CXX, out-nov-dez/1948.


“Canal do Varadouro”, vol. CXXIII, março/1949.


“Memória História de Jacupiranga”, vol. CXXVII, setembro/1949.


“Incidentes com vigários de Cananéia”, vol. CXXX, janeiro/1950.


“A Ilha Comprida”, vol. CXXXVII, out/nov/dez-1950.


“As grandes enchentes”, vol. CXLII, agosto/1951.


“Formosa da Ribeira”, vol. CXLVI, fev/mar/1952.


“Sabauna, Vila Nova da Lage e Ararapira”, vol. CXLVII, abr-mai/1952.


“O Bacharel de Cananéia”, vol. CL, agosto/1952.


“Memórias da Câmara da Vila de Iguape”, separata, vol. CLI, setembro/1952.


“Fundação de Cananéia”, vol. CLII, outubro/1952.


“História da navegação no litoral paulista”; vol. CLIII, outubro/1952.


“A Ilha de Cananéia”, vol. CLIV, dezembro/1952.


“O livro do tombo de Xiririca”, vol. CLVI, abr/mai/jun/1953.


“Monstros marinhos”, vol. CLIX, jul/1955-mar/1957.


“Memória Histórica Sobre São Sebastião”, vol. XIX, 1959.




Pela “Revista do Instituto Histórico de São Paulo” publicou:


“Ariry, histórico de sua fundação”, vol. 26, 1929.


“Itinerário seguido pela primeira bandeira paulista”, vol. 30, 1931-1932.


“Memorial descritivo das festas comemorativas do 4º centenário e aportamento da frota de Martim Afonso de Sousa ao porto de Cananéia e da partida da bandeira de Pedro Lobo”, vol. 30, 1932-1932.


“3º Centenário da Vila de São Sebastião”, vol. 31, 1933-1934.


“A voz do litoral” (discurso), vol. 33, 1937.


“Bom Abrigo”, vol. 34, 1938.




Pelo Departamento do Arquivo do Estado de São Paulo:


“Memória História de Xiririca”, Vol. 14, 1955




Pela “Revista de História” publicou: “Memória Histórica de Cananeia”, em vários capítulos, que posteriormente deram origem à trilogia “História de Cananéia”:


“História de Cananéia”, vol. I, Revista de História, 1963.


“História de Cananéia”, vol. II, Revista de História,1966.


“História de Cananéia”, vol. III, FFLCH-USP, 1981.


Edição do autor:


“O Tesouro dos Jesuítas”, São Paulo: Tipografia do Globo, 1943.


NOTA


(1) MATOS, Odilon Nogueira de. “O Historiador do Litoral Paulista”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Vol. LXXIX, 1984.


ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  E-mail: robertofortes@uol.com.br

Blog: https://robertofortes.blogspot.com/


(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).


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