Desde meados do século XVII existem registros de mineradores na
localidade de Ivaporunduva, pertencente à então Xiririca. A mineração do ouro
no Vale do Ribeira se manteve até o final desse século, quando foram
descobertas as Minas Gerais.
Igreja de Nossa Senhora da Guia. |
Mas a mineração do ouro na região não acabou de vez. Ao contrário. Em meados do século seguinte, a mineração ainda era intensa no Vale do Ribeira. Muitos garimpeiros, vindos de Iguape, se estabeleceram no local que futuramente seria chamado de Xiririca, atraídos pela ilusão de riquezas que o ouro representava.
Dessa forma, como todo povoado formado nos tempos coloniais, tão
logo se estabeleceram, trataram de levantar uma capela no local conhecido por
Jaguari. No dia 16 de janeiro de 1757 alguns dos principais moradores do
Ribeira acima, então fregueses da Vila de Iguape, passaram a escritura dessa
capela, cuja construção foi autorizada pelo Bispo de São Paulo, D. Antônio da
Madre de Deus Galvão. Logo em seguida, o vigário de Iguape, padre Antonio
Ribeiro, subiu até o local, acompanhados de muitos fregueses, para entronizar
festivamente a imagem de Nossa senhora da Guia.
Xiririca foi elevada à categoria de freguesia em 19 de janeiro de
1763, ficando sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, desvinculando-se então
da igreja de Iguape, mas ainda fazendo parte daquela vila.
IVAPORUNDUVA
Já em 1655, o
escravo negro era utilizado na mineração do ouro na região. O historiador
Ernesto Guilherme Young (1850-1914) transcreveu um documento datado daquele
ano, onde consta que o minerador Domingos Rodrigues Cintra e o seu irmão e
sócio Antônio Rodrigues Cintra, compraram naquele ano uma lavra de ouro em
Ivaporunduva, que pertencia a Antônio Soares de Azevedo.
Nessa lavra,
Domingos trabalhou arduamente durante um ano inteiro, auxiliado por dez
escravos de sua propriedade. O próprio Domingos, ao mesmo tempo em que
garimpava, ainda feitorizava os seus escravos. Foi a citação mais antiga que
encontramos sobre a utilização de africanos na região.
Ivaporunduva
teve os seus dias de glória no tempo do ouro. Contam que, nos anos coloniais,
foi encontrado nessa localidade um pedaço de ouro, uma pepita melhor dizendo,
que tinha o tamanho e o formato de uma cabeça de macaco. As dimensões e o valor
dessa pepita despertaram a cobiça de
um jovem, filho de um dos principais mineradores da região, que roubou o
valioso minério, causando com a sua atitude violentos e dramáticos conflitos.
Diz-se também
que um casal de escravos trouxe dos sertões outro pedaço de ouro em forma de
coração, bem como muito ouro em pó e pedaços de prata.
Em
Ivaporunduva, segundo afiançam as tradições locais, quando havia festa no
arraial, as mulheres compareciam todas com o cabelo dourado pelo ouro em pó.
A TERRÍVEL ENCHENTE
DE 1807
Em princípios de 1807, entre os dias 29 de janeiro e de fevereiro,
uma enchente nunca antes vista destruiu completamente a Freguesia de Xiririca.
Ali existiam, então, perto de 120 casas, que foram todas destruídas e ficaram
enterradas por mais de seis palmos de lodo. Os moradores tiveram que se abrigar
nos lugares mais altos das imediações para se proteger da fúria das águas. Todo
o gado e lavoura foram levados pela correnteza.
O que conseguiram salvar de bens e utilidades levaram às pressas
para guardar na antiga capela de Nossa Senhora da Guia, que, por ficar em lugar
mais alto, não chegou a ser tão atingida pelas águas. O padre José Francisco de
Mendonça e os moradores, depois de orarem diante da santa, embarcaram em canoas
e foram em busca de lugares mais elevados. Na capela ficou apenas o padre
Francico Xavier dos Passos, que por ali se achava, o qual não quis se retirar.
A fúria das águas carregou duas reses até a casa do tenente
Antonio Gonçalves Fontes, onde ficaram “ilhadas” até que foram resgatadas pelos
moradores, que as levaram para o alto da capela, onde estava o resto do pouco
gado que se salvou. Como tudo foi destruído, principalmente a lavoura, grande
fome atormentou os flagelados xiririquenses.
O furor das águas carregou os destroços até a praia da Jureia, em
Iguape, onde os caiçaras retiraram troncos enormes de arvores, com os quais
fizeram canoas com mais de três palmos de boca. Também na praia se viam
despojadas portas e janelas, paredes de casas com os paus ainda amarrados
(pau-a-pique), engenhos da cana, prensas de fazer farinha, laranjeiras,
bananeiras – enfim, tudo o que a enchente pode carregar.
ILHA DO MAR SOCORRE
XIRIRICA
Essa formidável enchente do rio Ribeira de
Iguape castigou não somente a Freguesia de Xiririca, bem como outros povoados
de Ribeira-abaixo até as fronteiras da região. De acordo com o segundo vereador
Felipe Pinto de Almeida, encarregado pela Câmara de Iguape de registrar os
fatos ocorridos naquele ano (1807) na Vila de Iguape, ficamos sabendo de alguns
detalhes incríveis dessa terrível cheia do Ribeira:
“(...) quis Deos Nosso Senhor mostrar o
castigo da sua cólera contra os habitantes desta Pais (especialmente contra os
da Freguesia de Xiririca e Ribeira abaixo the a fronteira desta Villa) com huma
cheia que houve na dita Ribeira tam grande e tam terrível que nunca se vio e
nem as pessoas mais antigas se lembrão que ouvesse outra igoal e tam funesta
como foi esta (...).”
Em três dias e duas noites, as águas do rio Ribeira cresceram cerca de
sessenta palmos acima do nível normal. Todas as 120 casas da freguesia de
Xiririca acabaram soterradas sob mais de seis palmos de lodo. Tudo se perdeu:
casas, lavouras, propriedades. A fome começou a grassar.
A Vila de Iguape não hesitou em auxiliar os moradores da sua freguesia,
enviando para Xiririca muitas sacas de farinha, que então era a base da
alimentação popular. Essa farinha veio da Ilha do Mar (hoje Ilha Comprida), e
também da Jureia. Houve carestia e falta da farinha por causa dessa terrível
cheia. O relato do vereador nos dá maiores informações:
“Passados os dias mais tristes deste infeliz acontecimento forão
aquelles moradores ver as suas rosas [roças],
nas quais não axarão [acharam] coiza alguma com que pudessem ao menos
remediar sua fome e das suas familias por estarem razas, humas sem couza de
planta, outras podres e outras interradas seis e oito palmos debaixo do lodo
que as agoas trazião: e que por este modo the hoje estão experimentando grande
fome expecialmente na farinha, e por conseqüência os moradores desta Villa, que
para remediarem a necessidade daquelles que se decorrião a providenciar-se das
lavouras dos moradores da Ilha do Mar e Praia da Jureya, fazia que ouvisse
carestia e falta de farinha por todo este anno (...).”
Por essa referência, ficamos sabendo que na Ilha Comprida – que então era
conhecida como Ilha do Mar –
existiam, naquele começo do século XIX, alguns lavradores, muitos dos quais se
dedicavam ao plantio da mandioca, para posterior fabrico da farinha. Levando-se
em conta que essa farinha foi usada para socorrer aos habitantes da Freguesia
de Xiririca, é de se concluir que a sua produção fosse bastante significativa.
A MUDANÇA DA
FREGUESIA
A pequena freguesia passou a se desenvolver rapidamente. Tanto é
que, em 1807, existiam cerca de 120 casas no povoado. Porém, a escolha do local
não fora das mais felizes. Nos anos de 1807, 1808, 1809 e 1810, enchentes
consecutivas destruíram completamente a vila, que se viu obrigada a se
transferir para o lugar atual.
Essa mudança, contudo, não se deu de imediato e os ânimos dos
pioneiros xiririquenses se exaltaram. Formaram-se dois partidos, um que lutava
pela mudança e o outro que era contrário, sendo que este, perdendo, retirou-se,
levando muitos habitantes, que fundaram diversos bairros no rio Juquiá e também
no rio Ribeira.
O novo local para o estabelecimento da freguesia foi doado
oficialmente pelo cidadão Romão de França Lisboa no dia 9 de setembro de 1816,
terras que se localizavam acima da Ilha Formosa, para ali serem construídas a
nova igreja e as casas dos moradores.
Desse ato de doação participaram o padre Joaquim Júlio da
Ressurreição Leal, vigário colado e da vara da Vila de Paranaguá, que estava
visitando a Freguesia de Xiririca; o padre do local, José Francisco de
Mendonça; o capitão-mor de Iguape, José Antônio Peniche; o capitão comandante
Francisco de Paula França; o capitão Joaquim Pupo Teixeira; o capitão Gregório
Felix de Almeida; o tenente Antônio Gonçalves Fontes; o alferes Inácio da Costa
França; e o alferes Brás da Cunha Ramos. Segundo se lê no Livro do Tombo da
Paróquia de Xiririca, Romão de França Lisboa fez essa doação “não só pela devoção que tributa à Virgem
Nossa Senhora da Guia, como pela desconsolação que vinha de ver as casas dos ditos
moradores arruinadas com as cheias da Ribeira”.
Porém, a questão da mudança ainda iria se desenrolar por mais
alguns anos. No dia 19 de maio de 1827, o cidadão Manoel Bento Dias entregava
na Câmara de Iguape uma representação do povo de Xiririca, informando que a
população estava pronta para iniciar o levantamento da nova matriz, pedindo que
o templo fosse edificado no mesmo local (no Jaguari). A Câmara enviou essa
representação ao presidente da Província, informando ser prejudicial a mudança
da freguesia. O tempo passa até que, finalmente, no dia 10 de setembro de 1833,
o Governo da Província ordenou a mudança da freguesia para o local atual.
A COMPANHIA
XIRIRIQUENSE
Vapor “Iguapense” passando por Xiririca. |
Até o ano de 1857, ainda não existia um serviço regular de
navegação fluvial entre Xiririca e Iguape, o que era um dificultador ao comércio
entre as duas localidades. Naquele ano, o comerciante Manoel Caetano Baptista
fundou a legendária Companhia
Xiririquense, que durante muitos anos realizou a navegação pelos rios da
região. O vapor da companhia era o “Estrela”, que fez sua viajem inaugural no dia 26
de fevereiro daquele ano, saindo do porto de Iguape com destino a Xiririca.
Vapor “Estrella”, em 1857. |
Devido à falta de combustível, o que obrigou o vapor a parar em
vários pontos para conseguir lenha, o “Estrela”
só chegou ao seu destino no dia 2 de março, onde o povo em massa se
comprimia às margens do rio Ribeira.
Durante três dias houve grande festa na vila, com banda de musica,
girândolas e o espocar de milhares de foguetes, ficando iluminadas as frentes
das casas durante a noite.
A BRIGA ENTRE O
CORONEL E O PADRE
No passado, as eleições em Xiririca eram bem agitadas. Célebre foi
a briga entre o ilustre coronel Joaquim Brasileiro Ferreira, chefe político da
época, e o pitoresco padre francês Leon Blondet.
Esse fato aconteceu no dia 1º de março de 1898, conforme lemos
numa edição do “Commercio de Iguape”.
Era dia de eleição e os ânimos estavam exaltados. Pela manhã, o padre Blondet
dirigiu-se até a sala da Câmara, onde se realizaria a eleição, e disse que as
mesas não seriam instaladas, pois deveriam ser presididas pelo juiz de direito.
Diante do olhar assustado do mesário, que não sabia o que fazer,
apareceram o coronel Bento França, que era o delegado de policia, e o coronel Joaquim
Brasileiro. O primeiro tentou acalmar o padre, enquanto o segundo conversava
com os mesários e disse que tudo estava se procedendo conforme a lei.
Foi então que o padre perdeu o controle e xingou o coronel de
vários nomes não tão delicados. O coronel, insultado, reagiu tempestivamente,
desferindo violenta bofetada no rosto do sacerdote. Nesse ínterim, o capitão
Vicente Giglio se colocou entre os dois, tentando apartá-los, recebendo do
vigário um formidável pontapé na barriga…
É evidente que o Bispado não viu com bons olhos o que aconteceu.
Assim, em maio do mesmo ano, o padre Leon Blondet foi removido para a paróquia
de São Sebastião. Para o seu lugar foi nomeado o padre Francisco Xavier
Costabile.
MAJOR CANTO, GRANDE
EDUCADOR
O major Francisco Pedro do Canto
destacou-se no cenário da Educação na cidade no século XIX. Durante 22 anos
exerceu o cargo de professor público em Xiririca, onde conquistou o respeito e
o reconhecimento da população local.
O major Canto também teve
importante colaboração no antigo Grupo Escolar de Iguape, instalado em 1894. Após
muitos anos dedicados ao ensino local, em março de 1898, o major Canto partia
para São Paulo, onde fora nomeado inspetor literário.
A GRANDE SECA DE 1916
Em agosto de 1916, devido à seca que castigava Xiririca, o nível
das águas do Ribeira baixou sensivelmente, impedindo que os vapores da Empresa
de Navegação Sul Paulista – os
únicos que navegavam entre Xiririca e Iguape – atingissem a cidade, trazendo
mercadorias para o comércio local ou levando o arroz e outros gêneros de
exportação do município.
A situação chegou a tal ponto que os comerciantes não abriam os
seus negócios à noite por falta de querosene. Houve grande alta dos preços dos
produtos de primeira necessidade devido à sua escassez na praça.
Também havia grande quantidade de arroz beneficiado para seguir
aos mercados de Santos e Rio de Janeiro, que só poderia ser exportada após o
Ribeira voltar ao seu nível normal.
A IGREJA MATRIZ
A atual igreja
matriz de Eldorado, depois de muitos anos de construção, foi solenemente
inaugurada no ano de 1857.
Em 23 de dezembro de 1919, era
levantado o novo sino da torre da igreja, sob grande assistência popular.
Paraninfaram esse ato o coronel Joaquim Brasileiro, o major Jordão A. Estevão
de Moraes, o capitão João Satyro de Almeida e as senhoras Izabel Leonor Ferreira,
Maria Aparecida de Moraes e Maria da C. Lisboa.
A solenidade foi abrilhantada pela
banda musical da cidade, dirigida pelo capitão Luiz Antonio Ferreira, havendo
ainda grande queima de fogos.
CAPITÃO JOÃO SATYRO
O capitão João Satyro de Almeida, coletor Estadual, era uma das
pessoas mais estimadas da cidade. Por ocasião do seu aniversario, em 12 de
janeiro de 1920, foi muito felicitado, não só pessoalmente como também por
telegramas e cartas.
À noite, a banda musical local foi até a residência do
aniversariante para saudá-lo, tendo recebido o maestro, capitão Luiz Antônio
Ferreira, em retribuição, um lindo estandarte. Em nome da banda agradeceu o
poeta Domingos Bauer Leite, que salientou os levados dotes do capitão Satyro.
A INAUGURAÇÃO DA LUZ
ELÉTRICA
Durante muitos anos, a cidade foi iluminada exclusivamente pelos
lampiões a querosene, cuja luz fraca e oscilante, com certeza, dava asas à
imaginação do povo e às serestas apaixonadas.
Era figura de destaque o acendedor de lampiões, que todas as
noites percorria os postes da cidade e ascendia os globos, iluminando, com a sua
luz bruxuleante, os contornos antigos da cidade.
Depois de muita luta, no dia 25 de abril de 1927, era inaugurada a
luz elétrica, cujos serviços ficaram a cargo da Empresa de Força e Luz de São
Paulo.
A REVOLUÇÃO DE 1932
Eldorado participou heroicamente da revolução de 1932. Um dos
episódios mais marcantes foi a retomada da cidade das mãos dos soldados de Getúlio
Vargas.
As tropas avançadas de Eldorado, constituídas por sete homens,
combateram bravamente contra nove cavalarianos adversários.
Desse embate, resultou a morte de quatro legalistas, sendo os
demais aprisionados, não havendo nenhuma baixa por parte dos eldorandenses.
Com a notícia da aproximação das forças revolucionarias, os
legalistas que ainda se encontravam na cidade fugiram para local ignorado, indo
ao seu encalço os soldados eldoradenses.
Os prisioneiros, devidamente escoltados, foram enviados para São
Paulo.
O CENTENÁRIO DE
XIRIRICA
No dia 10 de março de 1942, Xiririca comemorou o seu centenário de
emancipação político-administrativa, ocasião em que foi realizada na cidade uma
festa memorável.
Logo pela manhã, às 10h, saiu procissão levando a imagem de Nossa
Senhora da Guia às ruínas da primitiva capela, repetindo o mesmo trajeto como
quando da mudança da santa para a nova matriz, sendo nesse local celebrada uma
missa campal, que deu inicio às festividades.
Usaram da palavra os senhores João Albano Mendes da Silva (J.
Mendes), João Vitorino Ferreira e o padre Primo Vieira, que discursaram sobre a
data. Abrilhantaram a cerimônia o orfeão local, que entocou o hino da cidade,
composto pelo poeta Domingos Bauer Leire, e a banda musical de Sete Barras, que
executou o Hino Nacional.
Às 15h, foi solenemente inaugurado o Obelisco do Centenário,
discursando nessa ocasião a senhora Natália de Freitas Braga e vários
representantes dos distritos.
À noite, realizou-se sessão solene no salão nobre da Prefeitura,
sobre a presidência do juiz de direito Dr. Manoel Carlos da Costa Leite,
tomando parte da mesa, o prefeito da cidade, coronel Antônio Avelino da Cunha,
o padre Primo Vieira, tendo como orador oficial o advogado João Pires Whine. Em
seguida, foi realizado um concorrido baile oferecido pela municipalidade.
A IMPRENSA E OS
FILHOS ILUSTRES
No inicio do século XX, dois importantes jornais se destacaram: a “Cidade de Xiririca” e a “Comarca de Xiririca”,
semanários superiormente dirigidos por jornalistas locais.
Eldorado teve filhos ilustres que se destacaram nas letras e na
política. A maior de todas, sem duvida, foi a poetisa Francisca Júlia da Silva,
cujos sonetos de rara inspiração encantaram Olavo Bilac e outros grandes poetas
da época. Seu irmão, Julio César da Silva, também teve destaque literário.
Nas letras, destacaram-se, também, entre outros, os poetas
Domingos Bauer Leite, Godofredo Viana e João Albano Mendes da Silva – o poeta J. Mendes, que durante décadas colaborou com a imprensa regional e fundou a
Academia Eldoradense de Letras.
Na política, sempre efervescente, políticos de porte se
destacaram. Como o legendário coronel Brasileiro em fins do século passado e no
inicio deste século. Ou o também lendário coronel Avelino Cunha, a partir do
inicio do século até os anos 1940, e ainda o capitão Vicente Luiz Giglio, o coronel
Theodorico Júlio dos Santos, o capitão Gregório Inocêncio de Freitas, o capitão
Francisco Giani, Antonio Rattes de Almeida e muitos outros.
EVOLUÇÃO POLÍTICA
Eldorado foi elevado à categoria de freguesia em 19 de janeiro de
1763, ficando sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, desvinculando-se então
da igreja de Iguape.
A elevação à vila viria através da Lei nº 28, do dia 10 de março
de 1842, quando houve de fato a emancipação político-administrativa,
desmembrando-se definitivamente da Vila de Iguape.
A Comarca foi criada pela Lei nº 5, de 6 de julho de 1875.
Anteriormente, Xiririca pertencera às Comarcas de Paranaguá (1763 a 1833).
Santos (1833 a 1852), Itapetininga (1852 a 1858) e Iguape (1858 a 1875).
O município seria criado através da Lei nº 10, de 24 de maio de
1895.
O nome de Xiririca foi usado até meados do século XX. A lei nº 233,
de 24 de dezembro de 1948, mudou o nome para Eldorado, numa alusão ao período
de riquezas representado pelo ciclo do ouro.
APONTAMENTOS
HISTÓRICOS
O historiador iguapense Waldemiro
Fortes (1873-1932) publicou no semanário “O
Iguape”, nº 87, de 22-8-1926, sob
o título “Xiririca”, estes
interessantes apontamentos históricos sobre Eldorado, conforme transcrevemos
abaixo:
Encontrando entre documentos antigos diversos fatos que se relacionam com o
glorioso passado dessa florescente e graciosa cidade, os quais poderão ser
aproveitados como subsídios à história local, venho trazê-los à publicidade,
afim de que não desapareçam pela ação do tempo, visto se acharem os documentos
quase totalmente estragados e já um tanto difícil a sua leitura:
1803: Foram nomeados para a 3ª Companhia das Ordenanças, em primeiro lugar,
o capitão Joaquim Pereira do Canto; em segundo, o ajudante Joaquim Antônio da
Silva; e, em terceiro, o sargento Ignacio da Costa França.
10 de julho de 1805: Prestou juramento do cargo de juiz vintenário, da
freguesia e todo distrito, o senhor José Pedro Coutinho.
24 de julho de 1805: Prestou juramento do cargo de capitão do mato o senhor
João Gomes Moreira.
10 de janeiro de 1807: A Câmara de Iguape atestou um requerimento dos
moradores de Paranapanema, da abertura do caminho de Xiririca àquela
localidade.
10 de maio de 1807: Os vigários de Iguape e de Xiririca receberam cópia da
provisão do Conselho Ultramarino, concedendo licença para casarem os naturais
do país e escravos.
4 de julho de 1807: Prestou juramento do cargo de almotacel o capitão
Joaquim Pereira do Canto, sendo depois substituído por Francisco de Paula e
Souza.
6 de julho de 1807: Prestou juramento do cargo de juiz de vintena o senhor
Thomaz da Silva, em substituição a José Pedro Coutinho.
26 de setembro de 1807: A Câmara de Iguape atestou uma representação dos
moradores de Xiririca sobre o pagamento de ônus no Registro do Ribeira.
11 de setembro de 1824: Foram nomeados oficiais milicianos, para a 1ª
Companhia, o alferes Braz da Cunha Ramos, por falecimento do capitão Joaquim
Pereira do Canto; o alferes Ignacio da Costa França, por ter-se reformado
capitão o alferes da extinta Companhia de Milícias, Bento Pupo Ferreira; e, em
terceiro lugar, ao sargento da mesma Companhia, Miguel Francisco Lisboa.
19 de maio de 1827: Manoel Bento Dias entregou à Câmara de Iguape uma
representação do povo de Xiririca, que se achava pronto para encetar o
levantamento da nova Matriz da Freguesia e que a mesma fosse edificada no mesmo
lugar, distante poucas braças mais para o centro e não abaixo da Freguesia,
como pretendiam, por não ser lugar apropriado para a Matriz e nem para a fundação
da Freguesia, a cuja mudança o povo se opunha. A Câmara enviou-a ao presidente
da Província, informando ser prejudicial a mudança da Freguesia.
25 de maio de 1828: Foram eleitos juizes de paz o capitão Braz da Cunha
Ramos e suplente Francisco José Ferreira Braga.
AVISO AO LEITOR
Não pretendemos com este modesto
trabalho ter escrito a história completa do município de Eldorado. Em nossas
pesquisas ao longo dos anos feitas em jornais da região e em outras fontes,
coletamos dados que julgamos interessantes para subsidiarem outros
pesquisadores que porventura se dedicarem a levantar a história geral da antiga
Xiririca.
ROBERTO FORTES, historiador e
jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br