Leitores sempre me enviam e-mails comentando este ou aquele texto. Alguns sugerem temas ou pedem explicação de um ou outro fato histórico. Na medida do possível, procuro atender às solicitações.
Serra do Itapitangui. Crédito: Antônio Silveira. |
Um leitor de Sorocaba me enviou a
seguinte missiva:
“Numa dessas raríssimas folgas, poderia o senhor nos enviar o
significado do nome daquele distrito cananeense, Itapitangui. Procurei
relacionar com a frutinha vermelha e o macaquinho minúsculo, mas resultou em
frustração. Destrinchei somente o monossílabo Ita. Por óbvios motivos, hesitei demoradamente em escrever ao
senhor, ´encher o picuá´. Pensei até em dirigir-me a um professor em Jundiaí,
com quem aprendi o significado de pindaíba,
entre outros.”
Antes de mais nada, convém esclarecer ao atento leitor que
Itapitangui é o nome de uma portentosa serra localizada no município de
Cananeia, a velha Cananeia que, segundo alguns historiadores, recebeu Américo
Vespúcio em 1502, e também o donatário Martim Afonso de Sousa em 1531, conforme
é comprovado pelo diário de navegação escrito por Pero Lopes de Sousa.
Parecida com a Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, a
Serra do Itapitangui chega a atingir a altitude máxima de 809 metros acima do
nível do mar. A sua extraordinária beleza emoldura o cenário da cidade de Cananeia,
para a qual serve de pano de fundo.
Vasculhando o meu arquivo, eis
que me vem às mãos a importantíssima obra, em três volumes, “História
de Cananeia”, do sábio historiador Antônio Paulino de Almeida
(1882-1969), o grande cananeiense que resgatou da história do Vale do Ribeira e
Litoral Paulista, sendo chefe do Arquivo do Estado e membro do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo.
Além da descrição da Serra do
Itapitangui, Paulino explica o significado desse vocábulo, citando trabalho do
renomado Dr. João Mendes. Segundo este erudito paulista, Itapitangui vem
de Yta = pedra; pitang = avermelhado; i = ser manchado,
sujo. De onde temos o significado: “morro granítico manchado de vermelho”.
Comentando essa explicação do Dr.
João Mendes, Paulino escreveu: “Realmente, ao por do sol a serrania se
apresenta avermelhada”.
Aproveitando o embalo, vejamos
também o significado do vocábulo Cananeia, na explicação do Dr. João
Mendes: Caá = monte; anã = espesso, grosso, separado, com a
aplicação a corpo, bosque, monte; n, intercalado por ser nasal, para
ligar com é = separado, à parte, resultando em Caé-anã-n-é.
Martim Francisco, em seu “Diário
de uma viagem mineralógica pela Província de São Paulo em 1805”,
assim define o vocábulo Cananeia: Cana = tortuosidade, meneios,
meneiar-se; é = comodidade, facilidade, sem embaraços, sem perigos, com
a intercalação de n por ser nasal à silaba nã.
Por sua vez, Teodoro Sampaio
sugere que essa palavra seja o nome de uma arara.
Paulino de Almeida acreditava que
esse nome já existia desde antes da Descoberta do Brasil, não sendo,
portanto, de origem tupi-guarani, mas sim inspirada no calendário
bíblico, em comemoração do primeiro Domingo da Quaresma e em referência ao
encontro de Jesus com a mulher cananeia, quando o navegante Américo Vespúcio
passou por ali e foi nomeando os principais pontos da costa brasileira com
nomes do calendário litúrgico.
Acredito que a explicação do
mestre Paulino seja uma das mais plausíveis.
ROBERTO FORTES, historiador e
jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a
transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).
Blog: https://robertofortes.blogspot.com/
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