Baissununga era uma encantadora paragem situada às margens
do majestoso rio Ribeira, hoje pertencente ao município de Registro-SP, perto do
bairro Lagoa Nova, mas que naquele tempo fazia parte do município de Iguape. Antigamente
era grafado como “Baessununga”.
Foto meramente ilustrativa |
Paulo de Avelar (1916-1995), cronista iguapense, eternizou
essa paragem em seu livro “Iguape de
Outrora” (Edição do Autor, 1986), onde relembra, com requintes de alta
literatura, os bons tempos da sua mocidade. Escreve o cronista:
“Baessununga é um
nome indígena e eu não sei o seu significado. Sei apenas que foi um recanto
maravilhoso, cheio de poesia e de paz, numa das margens do rio Ribeira.
Chegava-se ali pelos vapores da Companhia Fluvial.”
Avelar relembra, com saudade, a temporada que passou em
Baessununga. Foram os dias mais felizes de sua vida. Quem puder que leia esse
delicioso livro; certamente ficará encantado.
Mas vamos à nossa história.
Estamos no ano de 1800. O cotidiano calmo e modorrento da
Vila de Iguape, à qual pertencia a localidade de Baissununga, de quando em vez
era quebrado por alguns (raros) acontecimentos.
Em novembro daquele ano, a jovem e inditosa Anna Carvalha
(naquele tempo, o sobrenome costumava se flexionar de acordo com o sexo das
pessoas), filha de João Carvalho, moradores no Baissununga, foi morta em sua
casa por nada menos do que... uma onça!
O juiz ordinário da Vila
de Iguape, João Antônio da Costa Mendonça, no dia 29 de novembro, ordenou a
abertura de um “auto de devassa”,
para apurar a tragédia.
O exame de corpo de
delito foi feito pelo “experiente”
Francisco Garcez de Moraes, “por não
haver nesta villa sirurgião”.
A onça entrou na casa,
atacou a pobre jovem, pegou-a pelo pescoço e carregou-a para o mato,
causando-lhe graves e mortais ferimentos no rosto e na parte de trás do
pescoço.
Os vizinhos acudiram aos
gritos e tentaram socorrer a infeliz donzela. Mas já era tarde demais.
Conseguiram apenas tirar o corpo da jovem da bocarra da onça que, assustada,
fugiu para o mato.
O alcaide da vila,
Antônio dos Passos, que respondia pelo sossego público, fez auto de corpo de
delito, arrolando as testemunhas Antônio Rodrigues da Silva, Bento Coelho e
Bento Antunes da Silva.
Não consta no auto se
conseguiram matar a onça assassina.
E assim Anna Carvalha
teve a sua juventude prematuramente interrompida pelo arroubo selvagem de um
felino.
ROBERTO
FORTES, historiador e
jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br