Morro do Pogoçá









Roberto Fortes

O Morro do Pogoçá é um dos pontos encantados da Jureia. Nele se localiza a misteriosa pedra de igual nome, pelo qual os caiçaras daquelas paragens tem grande respeito. O morro situa-se nas margens do rio Una do Prelado e em seu sopé ainda podem ser observadas ruínas de algumas antigas fazendas de arroz.

Morro do Pogoçá
Morro do Pogoçá

Dois caminhos conduzem até o morro. Por terra, pode ser atingido através da Trilha do Pogoçá, a partir de um caminho que sai da Estrada da Nuclebrás, que se inicia nas proximidades do Morro do Grajaúna. Segundo a tradição local, parte da trilha, que passa por manguezais, foi aterrada no passado pelos escravos.

Outro meio de se chegar ao Pogoçá – talvez até mais “fácil” do que andar pelo mato – é através do rio Comprido, partindo-se do Porto do Prelado e vencendo-se a muito custo as incontáveis curvas que, com justiça, deram esse nome de “guerra” ao rio, cujo nome correto é Una do Prelado. Em virtude das curvas do rio, o Morro do Pogoçá, que se alça sobre a serrania circundante, parece dançar à vista do viajante, apresentando-se ora a frente, ora por detrás, ora à esquerda, ora à direita daquele que singra aquelas águas. Não é a toa que os caiçaras dali também chamam o Pogoçá de Morro Mágico.

O Morro do Pogoçá guarda a fascinante lenda do “Tucano de Ouro”. Devido a sua formação rochosa estranha, e por ser bastante lisa, a Pedra do Pogoçá possui um significado quase místico para os praianos da Jureia, que não se atravessem a escalá-la, ainda porque, segundo afirmam, o sopé do morro é protegido por ferozes “mamangavas”. Diz a lenda que, a cada sete anos, na primavera, um tucano de ouro sai, através de uma janela natural na rocha, do “Dedo de Deus” – que é como os caiçaras chamam a Pedra do Pogoçá, em virtude de sua curiosa formação geológica – e voa até a serra dos Itatins, a uns 30 quilômetros dali, alçando-se a uma altura que nenhum outro tucano poderia alcançar. Quem consegue avistar a ave dourada, garante a lenda, recebe, como dádiva, sete anos de felicidade. Contam também que, do topo do Pogoçá, de vez em quando, sai uma gigantesca bola de fogo, que rola pelo morro abaixo e assusta aos que tem a ocasião de vê-la. Essa bola de fogo é chamada de “Mãe do Ouro” e, segundo a crença, ela sai do morro para indicar a existência de um fantástico tesouro que se encontra escondidos nas matas da Jureia. Depois de cruzar os céus da região, a “Mãe do Ouro” finalmente desaparece lá para as bandas da Serra dos Itatins, levando consigo, todo o seu mistério e só tornando a reaparecer sabe-se Deus quando.

Outro local encantado na Jureia é o Morro do Grajaúna, que se lança de encontro ao oceano e é uma espécie de divisor natural das praias do rio Verde e do Una. Nesse morro, encontra-se a enigmática Pedra do Itacolomi, pela qual os caiçaras também tem grande respeito e admiração. Itacolomi, em tupi, significa: Ita = pedra e curumi = menino, de onde temos a tradução: “menino de pedra”, “filho da pedra” ou a “pedra e seu filho”.

Contam que por ali, de vez em quando, aparece um sábio pescador, de uns 70 anos, que deixa sua choupana no meio do mato. Traz ao ombro sua rede de pesca e na mão o inseparável cajado de madeira. Caminha pela praia durante algum tempo, e depois, inexplicavelmente, sem dizer qualquer palavra, desaparece. Os pescadores falam que o misterioso homem vem com os bons ventos da maré, e acreditam que ele mora no Itacolomi. Segundo a crença, o dia de seu aparecimento por ali é dia de sorte e encanta a região por sete luas.

Uma outra lenda sobre a Pedra do Itacolomi conta que, nessa pedra quase submersa nas encostas do Morro do Grajaúna, o legendário pirata francês Lafite teria escondido um formidável tesouro em pedras preciosas, durante uma de suas aventuras pelo litoral do país. Até hoje, no entanto, ninguém ainda encontrou qualquer vestígio desse tesouro lendário.

Foi nas proximidades do Morro do Grajaúna que, nos anos de 1980, o governo brasileiro pretendeu construir algumas usinas nucleares, mas de concreto apenas foi aberta a Estrada da Nuclebrás. Felizmente, até hoje os morros do Pogoçá e do Grajaúna ainda se encontram preservados em toda a sua magia e esplendor natural.













Postagem Anterior Próxima Postagem