Ator, apresentador e humorista, Gerson Ribeiro de Abreu Júnior nasceu em Iguape no dia 11 de agosto de 1964, filho de Gerson Ribeiro de Abreu e Neusa de Abreu. Teve outros três irmãos: Jéferson, Júlio Augusto e Kleber. Desde criança, Gersinho, como era carinhosamente chamado, já demonstrava talento para as artes cênicas, principalmente por sua extroversão e eloquência.
Gerson Ribeiro de Abreu Júnior |
A primeira aparição de Gerson de Abreu na TV foi no extinto “É Proibido Colar”, na Cultura, em 1982. A escola em que o ator estudava participou do programa, apresentado por Antonio Fagundes e Clarice Abujamra. Gerson de Abreu interpretou um cozinheiro e foi tão bem que a emissora o convidou para fazer um teste na emissora. Dois anos depois, em 1984, foi contratado como repórter do programa “Tempo de Verão”. Em seguida, trabalhou no “Caleidoscópio”, no “Sábado Vivo” e no “Som Pop”.
Gerson de Abreu sempre se identificou com as crianças, a ponto de, anos depois, ser considerado o melhor apresentador infantil da televisão brasileira. Seu amor pelas crianças era tanto que Gerson cursou Pedagogia e Psicologia. Possuía o mesmo ritmo das crianças, e sempre dizia que deixaria de fazer programa infantil quando perdesse o ritmo delas. “Tenho medo de virar o tio babaca da TV”, dizia o ator.
Nessa área, iniciou sua carreira manipulando bonecos no programa “Bambalalão”, da Cultura, emissora na qual permaneceu por seis anos. No entanto, o reconhecimento do público e da crítica viria com o programa “X-Tudo”, exibido entre 1992 e 1994. Contracenando com bonecos, o ator ensinava às crianças experiências e receitas, sempre com muito bom humor e extrema paciência.
Em abril de 1995, foi contratado pela Rede Record, onde estrelou o infantil “Agente G”. Durante dois anos, Gerson de Abreu comandou um programa infantil de altíssima qualidade. Na mesma emissora, em 1998, fez “Vila Esperança”, representando o Ti Du, que era proprietário de uma mercearia e que gostava de falar de cinema, teatro, fotografia e literatura. “Vila Esperança” foi considerado o melhor programa infantil de 1998, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. Infelizmente, como programa infantil de qualidade ainda não tem vez em nosso país, a “Vila” saiu do ar em 1999, depois de um ano e meio de exibição. “O ´Vila´ não foi tratado com o devido respeito, o que é uma pena, pois é um programa com algo a dizer”, disse Gérson, na época.
Segundo o diretor Fernando Gomes – de “Ilha Rá-Tim-Bum”, que era amigo pessoal de Gerson de Abreu desde 1986 e que contracenou com o ator em “Bambalalão” e “X-Tudo” – trabalhar com ele sempre foi muito divertido. “Com ele, não havia mau humor nem cansaço. Era tudo muito fácil.”
Com formação no Teatro-Escola Helena, Gerson de Abreu atuou nas peças do Grupo Ornitorrinco (“Ubu-Rei”, “Teledeum”). Em 1993, com o Grupo Circo Grafitti, apresentou a peça “Almanaque Brasil”, um de seus maiores sucessos no palco, ao lado de Rosi Campos, Helen Helene e Roney Facchini. Nessa peça, era revivida a época de ouro do rádio no Brasil. Outra grande atuação de Gerson de Abreu foi na peça “Você Vai Ver o que Você Vai Ver”, com direção de Gabriel Villella.
Além de ótimo ator, Gerson também era dono de uma voz excelente, com timbre de barítono. Admirador do cantor Vicente Celestino, decidiu interpretá-lo em uma peça. Para tanto, ele, que pesava 150 quilos, se dispôs a emagrecer 50 quilos, chegando a se internar num SPA, em Sorocaba. A peça, “Acordes Celestinos”, encenada em 1999, foi escrita por Carlos Alberto Soffredini e teve a participação, entre outros, de José Rubens Chachá, que interpretou Francisco Alves.
Por causa do enorme sucesso com musicais, Gerson de Abreu foi contratado pela Rede Globo para participar da minissérie “Aquarela do Brasil” (2000), onde interpretava um radialista.
A sua última peça foi “Gato Preto”, com a amiga Rosi Campos, que ficou em cartaz até junho de 2002 e estava prevista para voltar em agosto desse ano. Era uma comédia que recriava o clima dos cabarés do final do século XIX e início do XX, com roteiro do próprio grupo.
Gerson de Abreu, artista completo, também fez cinema. Participou do filme “Beijo 23348/72”, em 1990. Em sua filmografia, constam ainda dois curtas-metragens: “A Revolta dos Carnudos” (1999), de Eliana Fonseca, duração 15 minutos, com Edson Celulari, Eliana Fonseca e Gerson de Abreu. E “Mano a Mano” (1991), duração 12 minutos, de Eduardo Caron, com Gersonde Abreu, Imara Reis, Maria LuízaCasteli.
Amigo das crianças, Gerson de Abreu também se aventurou pelas trilhas da literatura. Escreveu a série de livros infantis "A Turma do Gerson”, publicada pela Atual Editora. Foram oito livros: “Cadê o cachorro?”, “O Gordo Invisível”, “O Gordo pelo avesso”, “Um Maestro Batuta”, “Por trás das câmeras”, “Qual é, bicho?”, “Quase um super-herói” e “O Sarcófago da Múmia”. Essas histórias fizeram e ainda fazem muito sucesso entre a garotada.
Apaixonado por TV, Gerson de Abreu estava desenvolvendo o projeto de um novo programa, o “Condomínio da Alegria”, que pretendia negociar com a TV a cabo.
Gerson de Abreu faleceu no dia 18 de julho de 2002, aos 37 anos, em Iguape. Ao seu sepultamento compareceram inúmeros artistas, além do povo iguapense e valerribeirense, que foram prestar as suas últimas homenagens ao grande artista..
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br
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