Vulto
dos mais ilustres nos meios científicos no Brasil e no exterior em seu tempo, o
Dr. Henrique Ernesto Bauer nasceu em 13 de janeiro de 1841 na Baviera,
Alemanha, mais exatamente na cidade de Erlhammer, perto de Kemnath. (1)
Henrique Ernesto Bauer |
Formou-se
em engenharia pela Escola de Minas de Karlsruhe, uma
cidade independente da Alemanha, capital do distrito homônimo e da região
administrativa de Karlsruhe, estado de Baden-Württemberg. A Universidade de Karlsruhe
foi a primeira universidade tecnológica da Alemanha.
Em
1861, Henrique Bauer cursou a Universidade de Munique, onde foi assistente de
Lieby na análise química. Fez estudos práticos nas fábricas de prata, chumbo,
cobre e estanho em Leoben e Friburgo.
Após
formado em mecânica e mineralogia, Bauer trabalhou durante algum tempo num alto
forno em Maxhütte-Haidhof,
cidade alemã localizada no distrito de Schwandorf, região administrativa de
Oberpfalz, na Baviera. Em seguida, resolveu emigrar para a América do
Norte, onde morou por alguns anos.
A VINDA AO
BRASIL
Vindo
ao Brasil na década de 1860, Bauer obteve, no Rio de Janeiro, carta de
agrimensor, atividade na qual realizou vários trabalhos na região do Vale do
Ribeira e em outras partes do Estado de São Paulo. Em 1867, estabeleceu-se
definitivamente no Brasil.
Em
1872, Henrique Bauer casou-se, em Iporanga (SP), com Joana Dias Bauer, filha de
João Paulo Dias, de tradicional família daquela cidade. O sogro era dono de
minas de chumbo em Iporanga, tendo falecido de febre amarela no Rio de Janeiro
em 1873 quando encontrava-se na Corte para tratar de assuntos referentes a
essas minas.
Ao
decidir transferir-se ao Vale do Ribeira, Henrique Bauer se estabeleceu
inicialmente em Jaguari (depois Itauna e atualmente Itapeuna), em Xiririca,
primitivo nome do município de Eldorado (SP). Naquela modesta povoação, rodeado
por cerca de uma dúzia de pequenos ranchos, Henrique Bauer viveu isolado do
mundo, dedicando todo o seu tempo livre a estudos científicos. (2)
Casa de Henrique Bauer no Jurumirim. |
Mais
tarde, retirou-se de Jaguari, estabelecendo-se rio-acima em Jurumirim, no atual
município de Registro (SP), onde construiu uma casa completamente isolada, com
algumas milhas de distância do vizinho mais próximo. Preferia viver isolado do
resto do mundo. Mesmo quando lhe ofereciam uma boa colocação na cidade, Bauer
gentilmente a declinava, pois dizia não querer ser “um criado do governo”.
Preferia viver sozinho e morrer pobre, alheio à riqueza material.
No
Vale do Ribeira, Bauer dedicou-se aos trabalhos mineralogia, agrimensura e
também à lavoura. Nas horas vagas, envolvia-se com o estudo da região do
Ribeira de Iguape. Realizou importantes trabalhos profissionais na exploração
das minas de Iporanga e Jacupiranga, e também nos estudos da estrada de ferro
projetada pelo comendador Vergueiro.
Esses
trabalhos, juntamente com a medição de grande número de fazendas da região,
deram ao engenheiro o conhecimento necessário para a elaboração de um mapa
preciso, e até então inédito, de toda a bacia do rio Ribeira. Esse mapa foi
considerado o melhor que existia de qualquer parte do território do Estado de
São Paulo, “excepto os trabalhos
propriamente geodésicos feitos, à custa dos cofres públicos, pela Comissão
Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo.” (3)
UM SÁBIO HUMILDE
Sábio
por excelência, Bauer também ocupou-se com meteorologia, fauna e flora,
especialmente com a geologia e a mineralogia da região, oferecendo, com o maior
desinteresse, as suas valiosas coleções a quem lhe fosse pedir. Mas o seu maior
prazer era mesmo o estudo da geologia e da mineralogia, que ele desempenhou sob
as condições mais adversas.
Bauer
era um habilidoso microscopista. Manejava o seu microscópio com destreza
impressionante. Quando ficou sabendo dos novos processos de petrografia
microscópica, o curioso engenheiro não perdeu tempo em modificar o seu
microscópio para seguir esses processos, sendo o primeiro cientista no Brasil,
e quem sabe na América do Sul, a dar início a esse poderoso meio de
investigação.
Vivendo
os melhores anos de sua vida no Vale do Ribeira, região que apresentava
incrível variedade de tipos rochosos, Bauer logo se tornou um mestre nesse
assunto, contribuindo com os seus estudos para a Comissão Geográfica e
Geológica do Estado de São Paulo e também aos petrógrafos da Europa. Não sem
motivo o seu nome foi citado várias vezes, e com as devidas honras, no clássico
trabalho de petrografia “Physiographie
der massigen Gesteine”, do professor H. Rosenbusch, de Heidelberg, com o
qual Bauer colaborou remetendo amostras minerais, sem cuja colaboração não
teria sido possível ao professor Rosenbusch realizar um estudo tão completo
sobre as referidas rochas nefelínicas.
(4)
No
estudo da fauna e da flora do Vale do Ribeira, Henrique Bauer merece um
destaque especial. Incansável colecionador, coletou e estudou inúmeras espécies
regionais.
Causava
admiração a paciência e coragem do sábio alemão, no meio das matas de Iporanga,
com o seu laboratório por ele fabricado, realizando os seus experimentos
químicos, que, talvez, outros cientistas, em laboratórios europeus melhor
equipados, não fossem capazes de tal perícia.
Durante
a noite, depois de seus extenuantes trabalhos na oficina ou na roça, na
companhia da esposa Joanna e dos vizinhos que vinham conversar, ocupavam-se em
preparar lâminas microscópicas de rochas e, mesmo entretidos nessa tarefa, não
interrompiam a conversa.
O ENGENHEIRO DE
MINAS
Em
14 de fevereiro de 1870, Henrique Bauer foi nomeado para coadjuvar o engenheiro
Raymundo de Pennaforte Alves Sacramento Blake na comissão de que este se achava
encarregado pelo Ministério da Agricultura com a gratificação mensal de 150$000
(cento e cinqüenta mil réis). (5)
A
partir de 1872, Henrique Bauer, embrenhando-se pelos sertões do Ribeira, passou
a empregar as suas horas de descanso em investigações mineralógicas e
geológicas, sendo o primeiro a empregar no Brasil os métodos modernos de
microscopia aplicada à geologia. O material colecionado era generosamente
cedido a especialistas de dentro e de fora do país, enviando também coleções de
rochas brasileiras ao Museu Nacional e aos museus da Europa. (6)
De
1873 a 1875, Henrique Bauer encontrava-se trabalhando em Iporanga, empenhado em
abrir, na rocha viva, uma galeria de aproximadamente 160 metros de extensão numa
montanha cujas faces em todas as direções era entrecortada de enormes veios de
galena, onde se encontrava chumbo quase puro, do qual já tinham sido enviadas
algumas amostras para a Exposição Universal de Filadélfia, Estados Unidos,
realizada em 1876. (7)
Em
agosto de 1877, Henrique Bauer tinha seguido para as minas de ouro de Guapiara,
pertencentes aos senhores Gavião & Pereira, para levantar a respectiva
planta topográfica e geológica. (8)
Em
1885, Bauer solicitava ao Governo do Império que lhe fosse transferida a
concessão que fora feita ao seu falecido sogro João Paulo Dias relativa à lavra
das minas de chumbo em Apiaí. (9) Essas minas (na verdade, de chumbo, ouro
ferro e outros minerais) tinham sido conseguidas por João Paulo Dias mediante o
Decreto nº 5.151, de 27 de novembro de 1872, pelo prazo de 50 anos. (10) João
Paulo Dias faleceu no Rio de Janeiro em janeiro de 1873 quando se encontrava na
Corte envolvido nas questões das minas de Iporanga, sendo chamado pelo jornal “Correio Paulistano” de “bem conhecido paulista”. (11)
Colecionador
e estudioso dos diferentes tipos de rochas, Henrique Bauer publicou na “Revista de Engenharia” em 1877 este
curioso anúncio:
“O abaixo
assignado, querendo augmentar sua colleção de rochas brazileiras, offerece aos Srs.
Mineralogistas e Lithologos um grande numero de rochas e mineraes das
Provincias de S. Paulo e Rio de Janeiro alem de alguns da Europa e dos Estados
Unidos, em troca de mineraes de outras províncias. Todas as amostras são
classificadas e pode-se fornecer no mesmo tempo preparações (chapinhas) para o
exame microscópico das rochas. Também quer saber onde ha Zircones e Euklas com
alguma abundancia no Brasil. Tudo mais por cartas que podem ser dirigidas a
Henrique E. Bauer, engenheiro de minas em Iguape, província de S. Paulo. H . E.
BAUER” (12)
Em
sua modéstia e simplicidade, o sábio Henrique Bauer preferia passar as suas
amostras e também as suas valiosas observações a outros do que se exaltar de
seus conhecimentos. Por isso, ele escreveu pouco, sendo conhecidos apenas três
trabalhos enviados à Sociedade dos Naturalistas de Regensburg, o seu distrito
natal, e publicados na revista daquela entidade, além de poucos artigos em
jornais brasileiros.
Devido
ao estudo realizado pelo Dr. Henrique Bauer, o Brasil e o mundo ficaram
conhecendo as ricas jazidas de ferro magnético de Jacupiranga, bem como as
interessantes rochas do grupo dos nepheline-syenitos
(sienito nefelínico), uma série de tipos novos, colaborando também com os
estudos mineralógicos feitos no Vale do Ribeira pelo cientista E. Hussak.
No
Relatório do Ministério da Agricultura
de 1921, lemos sobre as experiências de Henrique Bauer sobre o carvão:
“O engenheiro
Henrique Bauer, que praticava a derribada e o fabrico do carvão com as suas
próprias mãos, diz das mattas da Ribeira de Iguape: Um hectare produz de 400 a
500 metros de lenha, ou 120 metros cúbicos de carvão (24%) que pesam de 20 a 40
toneladas. O peso por metro cúbico de carvão é pois de 150 a 350 kilos. E a
matta refaz-se completamente ao cabo de
50 annos. Numa fabrica de São Paulo que carbonisava lenha em retortas de ferro,
calculavam 180 kilos de carvão por metro cúbico. Parece exagerado e somente
admissível para madeiras de qualidade, ou em toras grossas.” (13)
Trabalhando também como agrimensor,
Henrique Bauer realizou a medição e demarcação da fazenda Caiacanga, localizada
no então município de Xiririca, pertencente ao rico fazendeiro e agricultor
Miguel Antônio Jorge. (14)
Em
seus últimos anos, Bauer ocupava o seu tempo com o estudo dos elementos raros
(cério, dídimo, lantânio etc), no intuito de descobrir reações características
e simples que servissem para o reconhecimento desses elementos, em continuação
aos velhos estudos de G. Rose e Wunder, chegando a resultados muito interessantes.
Infelizmente, a morte o surpreendeu no meio desses valiosos estudos. (15)
A ESTRADA DE
FERRO QUE NÃO VINGOU
Em
1883, o comendador José Pereira de Campos Vergueiro (filho do ilustre senador
Nicolau Pereira de Campos Vergueiro), que recebera a respectiva concessão da
parte do Governo do Império, pretendia construir uma estrada de ferro que
ligasse o porto de Iguape à cidade de Itu, encarregando o engenheiro Henrique
Bauer para fazer os devidos estudos dessa obra.
Em
junho desse ano, Bauer publicou uma série de artigos no “Diário do Brasil”, do Rio de Janeiro, intitulado “Apontamentos sobre a estrada de ferro
projectada entre o porto de Iguape e a cidade de Itú, ligando-se assim a
estrada de ferro Paulista”. (16)
Ainda
nesse ano, lemos na “Revista de
Engenharia”, que estiveram na vila de Campo Largo, seguindo em direção a
Iguape por diversos bairros de Sorocaba, Henrique Bauer e Otto Drudde,
engenheiros encarregados pelo concessionário, comendador José Vergueiro, da
exploração da projetada estrada de ferro da cidade de Itu a Iguape, passando
pela fábrica de São João de Ipanema, no atual município de Iperó (SP). (17)
Em
março de 1884, Henrique Bauer tinha chegado a Santos, de onde partiria para
Iguape para, junto com o pessoal para isso contratado, encetar os estudos
definitivos da estrada de ferro sul-paulista. (18) De Iguape, com o seu
pessoal, Bauer partiu para Juquiá. (19)
Nesse
ano, Bauer trabalhou em Juquiá como encarregado da exploração da 1ª e 2ª
secções da projetada linha férrea. Nessa ocasião, Bauer teve que ir para Iguape,
pois fora acometido de “febres palustres”, possivelmente malária. No local, com
uma turma de camaradas, continuaram trabalhando o engenheiro Drudde e o
condutor Carlos de Held. (20)
Em
1885, Bauer continuava como engenheiro responsável pelos estudos da projetada
via férrea sul-paulista. Nesse ano, foi também encarregado de levantar a planta
e dividir em lotes a área de cafezal da fazenda Purunga, no Oeste paulista, que
possuía cerca de 500 alqueires e aproximadamente 70 mil cafezais novos. (21)
Pelas
pesquisas que realizamos, não encontramos maiores informações sobre essa
estrada de ferro nos anos posteriores, o que nos leva a concluir que não tenha
saído do papel.
O MACHADO DE
BRONZE
Em
1886 aconteceu um fato bem curioso. O engenheiro Henrique Bauer recebeu uma
machadinha de bronze em perfeito estado, que fora encontrada a um metro debaixo
do solo na localidade de Primeira Ilha, em Xiririca, quando se cavava a terra
para fincar o esteio de uma casa. Segundo lemos no “Diário de Notícias”, do Rio de Janeiro: “A machadinha reúne perfeição de arte, é de bronze endurecido e
afinado, presta-se ao corte de qualquer corpo duro.” (22)
De
posse desse achado, Bauer levou o fato ao conhecimento da diretoria geral do
Museu Nacional do Rio de Janeiro, que, respondendo em carta ao engenheiro,
informou-o que a machadinha “representava
uma idade remotíssima, e o facto de ser ella de bronze dava-lhe enorme valor,
pois liga aos artefactos da civilisação astek, maya e inca, confirmando, assim, uma das suas
hypotheses de que vieram ter ao Brazil algumas facções d´aquellas nações.” Essa
notícia também foi publicada no prestigioso jornal carioca “O Paiz”. (23)
Em
setembro de 1887, estando Bauer na vila de Piedade (SP), escreveu um texto para
a “Revista de Engenharia” sobre as
minas de Jacupiranga, cujos trabalhos de extração eram dirigidos pelo
engenheiro de minas Dr. Dupré, que era também engenheiro ajudante da fábrica de
ferro de Ipanema. (24)
O INVENTOR
Henrique
Bauer era uma espécie de “professor Pardal”. Como vivia isolado em seu sítio
incrustado nas matas do Ribeira, primeiramente em Jaguari e depois em
Jurumirim, devido aos seus poucos recursos financeiros, Bauer fabricava ele
mesmo o que lhe faltava. A sua casa, que fazia parte de um pequeno grupo de
choupanas à margem do Ribeira, tinha um bem montado laboratório químico que
contava com aparelhos delicados, em grande parte fabricados pelo próprio Bauer
em sua forja, na qual também, e com a maior boa vontade, concertava as armas e os
rudimentares instrumentos de lavoura de seus vizinhos sitiantes.
Em
1880, conseguiu patentear duas engenhocas por ele inventadas: o “Carborador
Brianthe”, cuja utilidade era produzir gás de iluminação por meio do ar e do
nafta e também para a carburação do gás extraído do carvão de pedra,
conseguindo um privilégio por 20 anos, pois o invento distinguia-se “de
todos os outros até hoje privilegiados”.
Bauer
patenteou também um “suflador” ou “fole aperfeiçoado”. Neste último, a Secção de Machinas e Apparelhos da
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional reconheceu que “há realmente idéas novas nos desenhos apresentados e é, por isso, de
parecer que deve ser concedido a Henrique Ernesto Bauer privilegio por quinze
annos para os suffladores ou foles aperfeiçoados que afirma ter inventado
[...].
Os
inventos foram analisados por não
outro que o engenheiro André Rebouças (1838-1898), ilustre abolicionista
brasileiro, junto com o também engenheiro H. E. Hardgraves. (25)
Pelo
Decreto nº 7.749, de 30-06-1880, Bauer recebeu privilégio para fabricar e
vender foles de sua invenção.
OS TRABALHOS
CIENTÍFICOS
Henrique
Bauer fez frequentes remessas de minerais e insetos para a Sociedade de
História Natural de Regensburg (cidade independente situada no leste do estado
da Baviera), da qual era sócio-correspondente, tendo também publicado no jornal
daquela cidade um importante trabalho, em três partes, sobre a geologia do Vale
do Ribeira. Entre os seus principais trabalhos, destacam-se:
“As Minas de
Ferro de Jacupiranga”
- Revista de Engenharia, nº 170, 1887, pág. 213. (Republicado no “Correio Paulistano”, nº 215, de
4-10-1887, pág. 2),
“As Minas de
Yporanga”
- Revista de Engenharia, nº 232, 1890, págs. 85-87.
“Mineralogische
und petrographische Nachrichten aus dem Thale der Ribeira de Iguape in
Subbrasilien”.
Publicado em tres partes no “Berichte des
Naturwissenschaftlichen Vereines Zu Regensburg”: a primeira parte no volume II, 1890, págs. 22-40 (esse artigo foi
acompanhado de figuras e de um mapa da região do Ribeira, contendo indicações
da distribuição geográfica das pedras de cal, mármore e piroxenite); a segunda
parte no volume III, 1892, páginas 25-35; e a terceira parte, no volume IV,
1894, págs. 64-82 (acompanhado do mapa das cabeceiras do rio Ribeira com as
indicações da altura sobre o mar e da distribuição de granito, xistos, cal e
grés). Existia uma edição desse estudo em português, mas que infelizmente se
extraviou.
“Estudos
e projecto de uma estrada de ferro de Ytú a Iguape por Juquiá” - Diário do Brazil, nº 92, de 22-6-1883;
nº 93, de 23-6-1883; nº 94, de 24-6-1883; nº 95, de 26-6-1883; e nº 96, de
27-6-1883)
“Mappa
geographico da bacia da Ribeira” (trabalho este que só o grande sábio
alemão estava capacitado para realizar, por ter durante muitos anos viajado e
feito medições por todo o Vale do Ribeira, região à época quase completamente
coberta de mata virgem).
“Termo de
medição e demarcação da fazenda denominada Caiacanga, situada no município de
Xiririca, província de São Paulo” - Transcrito por Edmundo Krug em “A Ribeira de Iguape” (Secretaria da
Agricultura do Estado de São Paulo, 1939)
A MORTE
O
Dr. Henrique Ernesto Bauer faleceu no dia 21 de fevereiro de 1896, em sua
residência em Itauna, Xiririca, aos 55 anos. Por ocasião de sua morte, o amigo
e admirador Dr. Orville Derby (1851-1915), respeitado geólogo e geógrafo,
publicou o necrológio de Bauer no “Jornal
do Commercio”, do Rio de Janeiro, (edição nº 79, de 19 de março de 1896,
pag. 1), e também na “Revista do Museu
Paulista” (edição de 1897, volume II, págs. 16-20), na qual também foi
publicada homenagem feita pelo geólogo Eugene Hussak (1856-1911).
Orville
Derby destacou a modéstia extrema de Bauer, que era bastante afável e até
jovial, com um gosto pronunciado para a solidão. No Ribeira de Iguape, Bauer
era uma espécie de pioneer, “fugindo sempre das povoações e indo se
estabelecer e plantar a sua pequena roça no meio do deserto.”
Quando
começava a aparecer alguns vizinhos a se estabelecer nas proximidades, Bauer, “apesar de não ser misantropo, já cuidava
em mudar-se para mais longe.” Escreveu Derby: “De uma honradez a toda prova e completamente destituído da ambição do
dinheiro, vivia mui parcamente e
morreu pobre, quando podia quase sem esforço ter accumulado uma bella fortuna.”
Em
1904, a viúva de Henrique Bauer, através do naturalista Ricardo Krone, fez a
doação de uma coleção de 1.851 amostras de lâminas com preparações
mineralógicas para microscópio, em seis caixas, material que foi doado à
Sociedade Científica, então dirigida pelo Dr. Edmundo Krug. A despeito de essa
coleção ter sido descurada após o falecimento de Bauer, as amostras estavam em
bom estado, e seriam expostas à venda pela referida Sociedade Científica. (26)
Joanna
Dias Bauer, após o falecimento do esposo, passou a residir em sua terra natal,
Iporanga, onde veio a falecer em abril de 1922. (27)
NOTAS
(1)
LARAGNOIT, Paulo de Castro. A Vila de
Prainha. 2ª Ed. revista e ampliada. São Paulo: Edição do Autor, 1984.
(2)
DERBY, Orville. Dr. Henrique Bauer
(necrológio). Revista do Museu Paulista, vol. II. São Paulo: 1897.
(3)
Idem.
(4)
Ibidem.
(5)
“Correio Paulistano”, nº 4.094, de 18-2-1870, pág. 2.
(6)
“Revista Brasileira” (abril/junho de
1895, pág. 155, em matéria sobre “as investigações
geológicas no Brazi”.
(7)
“Gazeta de Notícias”, do Rio de
Janeiro, edição nº 103, de 12-11-1875, pág. 1.
(8)
“O Globo” (do Rio de Janeiro), nº
201, de 18-8-1877, pág. 2.
(9)
“Correio Paulistano”, nº 8.800, de
20-12-1885, pág. 2.
(10)
“O Vinte e Dous de Maio”, nº 39, de
11-12-1872, pág. 3.
(11)
“Correio Paulistano”, nº 4.929, de
23-1-1873, pág. 2.
(12)
“Revista de Engenharia”, edição nº
153, de 1887, pág. 12.
(13)
“Relatório do Ministério da Agricultura”
de 1921, à pág 344.
(14)
KRUG, Edmundo. “A Ribeira de Iguape”.
São Paulo: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, 1939.
(15)
DERBY, Orville. Obra citada.
(16)
“Diario do Brazil”, em 5 edições de
junho de 1883.
(17)
“Revista de Engenharia”, de 1883, sob
o título “Estrada de ferro de Iguape a
Ytú”, referindo-se a matéria publicada no “Diário de Sorocaba”.
(18)
“Diario do Brazil,” nº 59, de
14-3-1884, pág. 2.
(19)
“Correio do Brazil”, nº 66, de
22-3-1884, pág. 2.
(20)
“Diário do Brazil”, nº 184, de
8-8-1884, pág. 2.
(21)
“A Imigração”, nº 12, julho/agosto de
1885, pág. 7.
(22)
“Diário de Notícias”, nº 230, de
22-1-1886, pág. 2.
(23)
“O Paiz”, nº 21, de 22-1-1886, pag. 2.
(24)
“Revista de Engenharia”, nº 232, 1890.
(25)
“O Auxiliador da Industria Nacional: Ou
Colleção de memórias e Notícias Interessantes - 1833 a 1896”, pág. 100,
edição nº 48, 1883.
(26)
“Correio Paulistano”, de 30-8-1904, pág. 2.
(27)
“Correio Paulistano”, nº 21.107, de 9-4-1922, pág. 5.
O AUTOR
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br