Tardes ensolaradas na Jureia


Sentado folgadamente em minha espreguiçadeira, estrategicamente colocada no barranco que domina a praia, deixo-me ficar olhando, distante e reflexivo, para o mar da Jureia, que já começa a encher, e tenta, sem muito êxito, ganhar as dunas do jundu onde, livro à mão, me encontro a cismar.

Tardes ensolaradas na Jureia
Praia da Jureia, na altura da Vila do Prelado, Iguape (SP).

Percebo, que o mar hoje está um pouco escuro, bem diferente do azul cintilante da outra vez em que me pus a admirá-lo. Creio que as fortes chuvas que caíram há pouco – intensas, mas não o suficiente para aplacar o reinado do calor soberano – tenham contribuído com sua parte para torná-lo dessa coloração. Claro ou escuro, a verdade é que o mar sempre conserva seu fascínio e sutileza que, ainda recostado em minha espreguiçadeira a desfrutar estes merecidos momentos de descanso, tanto me encantam ao contemplá-lo.

A brisa do leste me espalha os cabelos e me enche o corpo todo de minúsculos grãos de areia: é presença constante neste belo cenário emoldurado como uma esmerada tela renascentista. Somente a brisa, com a sua constância e providência, para amenizar os dias açoitados pelo sol inclemente.

Os matos do jundu, os enormes abricoteiros copados carregadinhos de frutos ainda verdes, tremulam as suas folhas e parecem agradecer aquela fresca tão agradável, que os livra do sol causticante, sempre a emitir os seus raios implacáveis como se todos fossem obrigados a recebê-los submissos. O que seriam essas tardes calorentas sem a presença da brisa suave e refrescante, que esvoaça os grãos de areia e faz agitar a vegetação rasteira do jundu?

O céu esta sereno. O azul arde na vista: azul que o mar reflete sem a menor cerimônia. Algumas nuvens, incrivelmente brancas, vão lentamente se movendo sabe Deus para onde, empurradas pelo vento amigo e incansável.

É neste momento, agora menos distante e mais reflexivo, que, olhando para o mar bem ali à minha frente, e sentindo a brisa que faz tremular a vegetação em volta do barranco, bem aqui, sob a sombra generosa do fiel abricoteiro, guardião absoluto deste trecho de jundu – agora mais do que nunca percebo o quanto é impressionante a harmonia existente entre todos os elementos, que parecem explodir na Jureia. É fascinante o quanto cada elo se funde, aprisionados no quadro maravilhoso que se nos oferece, pincelado sabe-se lá por que mãos misteriosas, que acredito ser de Deus.

A brisa ainda acaricia o meu rosto. A tarde me abraça e o mar insiste em se aproximar de mim, pretendendo em vão invadir a privacidade do meu jundu inexpugnável. Com os olhos semi-abertos, e um sorriso farto estampado ao rosto, fico olhando para esse belo mar que me extasia a vista, e agradeço a fresca da brisa companheira. São os meus íntimos amigos, com os quais compartilho os momentos únicos propiciados por uma tarde ensolarada. Uma tarde na Jureia.
                                        
ROBERTO FORTES
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  E-mail: robertofortes@uol.com.br


(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

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