Juquiá - uma história

AS ORIGENS

Pelo que se depreende da leitura dos documentos históricos pesquisados, Juquiá começou a ser povoado em princípios do século XIX. Já em 1813, conforme lemos no Livro do Tombo da Paróquia de Iguape (1), existiam moradores no rio Juquiá, que podem ser considerados os pioneiros no processo de povoamento da localidade.


Juquiá - uma história
Juquiá - uma história

Entre esses moradores estavam João Martins da Silva, Bento Lopes, José Correia, Antônio Garcia, Catharina França, Anna França, Gertrudes Pereira, Felipe Garcia e Lourenço Fernandes. Esse local – o rio Juquiá – pertencia à Freguesia de Xiririca, que por sua vez pertencia à Vila de Iguape. Contudo, esses moradores tinham que se desobrigar (ou seja, receber os sacramentos da Igreja) em Xiririca, o que para eles era inviável devido à grande distância e à dificuldade de acesso.

Sendo assim, em maio de 1813, em atendimento ao solicitado pelos moradores, o bispo de São Paulo, D. Mateus de Abreu Pereira, autorizou que eles passassem a ser fregueses da Vila de Iguape, onde seria mais fácil receberem os socorros espirituais. Além do mais, o fato de serem fregueses de Xiririca impedia o povoamento do rio Juquiá, pois ninguém queria ali se estabelecer.

No que diz respeito ao significado da palavra Juquiá, os estudiosos divergem em suas interpretações. Várias são as possíveis “traduções”, como, por exemplo: “espinho sujo”, “água suja” ou, o que é geralmente aceito, ‘covo para apanhar peixe”.

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A CAPELA CURADA

Aos poucos, o lugar passou a ser povoado, com os moradores agora fregueses de Iguape. Porém, ainda assim, era difícil a locomoção até àquela vila. Por isso, os moradores do rio Juquiá decidiram levantar a sua própria capela.

Em 9 de janeiro de 1829, o bispo de São Paulo, D. Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, ordenava que o padre de Iguape fosse até o local para verificar se a capela tinha condições de ali serem celebrados os ofícios religiosos. Mas foi somente no dia 10 de outubro de 1830 é que o padre de Iguape, João Crisóstomo de Oliveira Salgado Bueno, celebraria a primeira missa na capela, que foi construída no lugar denominado Pouso Alto.

A imagem de Santo Antônio, que ficou sendo o padroeiro, foi doada pelo morador João Correia de Meira, sendo a imagem conduzida com grande acompanhamento desde o sítio do doador até a capela. Dessa primeira missa, além do povo em geral, participaram as pessoas mais qualificadas do povoado, como João Martins da Silva, João Martins da Costa, Jeremias José de Gusmão, Fernando José Gomes e Gastão José da Mota Stokler.

O padre João Crisóstomo benzeu a capela, dando-lhe a invocação de Santo Antônio do Juquiá. No dia seguinte, foi realizada a festa do padroeiro, com missa cantada e grande participação dos moradores.

A capela, no entanto, ainda não se achava de todo terminada, faltando construir a capela-mor e a sacristia. Do humilde patrimônio da capela, além da imagem do padroeiro, existia outra do Senhor Crucificado, quatro toalhas de bertanha (ou bretanha: tecido branco muito fino, de linho ou de algodão), manustérgios (pequena toalha de linho branco utilizada pelo padre para enxugar os dedos durante a missa), um cálice dourado e seus pertences, duas bolsas, quatro véus coloridos, uma casula (veste litúrgica que pode ser confeccionada em seda ou damasco) e seus pertences de damasco branco e encarnado, uma casula roxa e verde, um missal (livro usado nas missas de rito romano para as leituras próprias do celebrante) e um ritual (livro que contém os ritos estabelecidos pela religião católica a forma de executar as cerimônias).

Essa primeira capela, com toda a certeza, deveria ser bem acanhada, e logo, com o crescimento do povoado, já não comportava mais o número de fiéis. Assim, em sessão do dia 12 de maio de 1852 da Assembleia Provincial (atualmente Assembleia Legislativa), foi lido ofício de um representação dos moradores de Juquiá pedindo “uma quota para a construcção de uma capella”. O pedido foi enviado à Comissão Eclesiástica da Assembleia Provincial.

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ESCRAVO PRESO

Conforme lemos no jornal O Farol Paulistano (nº 482, de 3/5/1831), o juiz de paz da Vila de Iguape informou que no dia 23 de abril de 1831, foi entregue preso um “escravo novo de nação”, remetido pelo oficial de quarteirão do rio Juquiá, Jeremias José de Gusmão, “por andar roubando nas roças dos moradores alli visinhos”.

O escravo foi questionado a respeito de sua origem, de que lugar era, quem era o seu senhor, mas nada se conseguiu devido ao escravo “ser muito manhoso”. O juiz de paz determinou que “quem for o seu dono, dando todos os signaes, e pagando as despezas feitas, pode mandar recebê-lo n´aquelle logar.”

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RECRUTAMENTO FORÇADO

Naquele tempo, o Império do Brasil recrutava “na marra” jovens para compor o seu efetivo militar. Com data de 6 de agosto de 1835, o juiz de paz da Vila de Iguape comunicava o envio dos recrutas Filizardo Dias Baptista e Francisco Teixeira, e informava também que o recruta Firmiano da Silva, remetido pelo juiz de paz do distrito de Juquiá, conseguiu se evadir da escolta que o conduzia antes de chegar ao local a que era destinado.

O presidente da Província de São Paulo, Tobias de Aguiar, ordenou que o juiz de paz de Juquiá fizesse toda a diligência possível “a fim de que seja novamente preso o mesmo recruta, e caso isso não se possa verificar, que envie outro, procedendo contra os indivíduos que formavam a escola, caso fosse por omissão ou negligência, advertindo-o de que quando enviar seja sempre com as necessárias cautellas, aliás com fiança idônea  a fim de não augmentar o trabalho, e ir recahir n´outro indivíduo que talvez ficasse [de] exemplo.”

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INDÍGENAS EM JUQUIÁ

Em 1835, ainda existiam indígenas selvagens vagando pelas matas de Juquiá. Para “catequizá-los” (como se dizia na época), naquele ano foi organizada uma expedição comandada por Agostinho José da Silva Doria, de Iguape.

Esse grupo embrenhou-se pelas florestas e rios inóspitos e teve algumas escaramuças com os índios, sendo flechados três dos sertanistas, um dos quais morreu.

Logo depois, o Governo da Província criou uma reserva no rio do Peixe, braço do rio Itariri, para abrigar os indígenas.

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DILÚVIO

Em seu livro “A Vila de Prainha” (2ª edição, 1984), o historiador Paulo de Castro Laragnoit resgatou a história de um “dilúvio” que castigou Juquiá no ano de 1850. As informações foram registradas pelo engenheiro Carlos Rath, que fez explorações em várias vilas e rios do Vale do Ribeira:

“Os terrenos de Juquiá abaixo do Fernandes Gomes são baixos e sujeitos a inundações grandes. Uma inundação que houve em 1850 no Juquiá fez o povo chamar ali o Dilúvio Novo; a água levou casas situadas a 4 braças acima do nível ordinário e inundou o território de 8 e mais léguas, formando um mar imenso, cujos estragos ainda não se pode reparar.”

Carlos Rath registrou que essa grande enchente ceifou muitas vidas, perecendo famílias inteiras. O engenheiro também deixou registrada a sua opinião contrária ao local onde estava estabelecido o povoado de Juquiá:

“O outeiro é íngreme e cheio de pedras. [...] Em roda dele acham-se charcos e lagoas e o mesmo porto é pantanoso e sujeito a cheias que chegam ao pé do outeiro; por trás são morros altos e muitos próximos.”

Por outro lado, sugeria que o povoado fosse transferido para um terreno mais adequado, pertencente ao senhor João Martins da Costa:

“Ao pé da picada acha-se um lugar próprio e como todas as propriedades, livre de inundações, com proporções e cômodos para ruas e tudo quanto necessário para uma Freguesia, onde se pode estender para o futuro. O lugar pertence ao sr. João Martins da Costa. É na frente da barra do S. Lourenço que forma um meio círculo com o Juquiá. Abaixo, tem por detrás deste local, altos ou subidas brandas ainda cobertas de matos. Este lugar é franco, espaçoso, com bonitas e pitorescas vistas para o rio.”

Sobre essa grande enchente, encontramos maiores informações no jornal “O Conservador” (nº 12, de 21/6/1850):

“Uma grande calamidade acaba ainda de soffrer os habitantes das visinhanças do rio Juquiá. A abundancia de agoas despejadas pelo rio S. Lourenço no Juquiá foi tão considerável que no dia 18 produzio este uma terrível innundação tendo subido, segundo consta, 60 palmos sobre o seu leito natural, reduzindo os terrenos visinhos a um immenso lago, em que foi submergido um grande estabelecimento de João Mauricio Chaves, com casas, engenhos, e o mais que ahi existia.

“Não menos de 23 casas foram submergidas com suas fabricas. Grandes foram os prejuízos, porque os moradores apenas escaparam com a roupa do corpo.

“Principiou a encher o rio ao escurecer, e a meia-noite estavam as casas cobertas d´agua. Felizmente supõem-se não ter perecido pessoa alguma nesse transe.”

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NOTÍCIAS DE JORNAIS

Regresso – A 4 do mez fluente [abril] retirou-se para a sua fazenda na barra do Juquiá o amigo Sr. Jacob Vilardo que aqui veio fazer sortimento para a sua casa de negocio.” (“Commercio de Iguape”, nº 1.111, de 10/4/1898, p. 1)

Chegada - De sua viagem a Portugal aqui chegou a 24 do mês próximo findo [setembro] o Sr. Manoel Augusto Borges, commerciante e laborioso agricultor residente na barra do Juquiá, termo desta cidade, seguindo no dia immediato á sua fazenda.” (“Commercio de Iguape”, nº 1.134, de 2/10/1898, p. 1)

Hospede illustre - De passagem para a fazenda do dr. Lane, no Juquiá, esteve nesta cidade o Sr. Dr. Modesto Carvalhosa, illustrado professor da Escola Americana, da Capital, e digno Ministro Evangelico. Em seu regresso ao Poço Grande, o illustre viajante demorará alguns dias nesta cidade [Iguape], onde, segundo consta, fará uma conferência. Saudamol-o”. (“Comarca de Iguape”, nº 69, de 31/8/1901, p. 4)

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ESTRADA DE FERRO SANTOS-JUQUIÁ

Juquiá: uma história


A história da Estrada de Ferro Santos-Juquiá começa em 1906, quando o Governo do Estado autorizou a primeira de duas concessões para a construção de duas estradas de ferro com destino a Juquiá, partindo a primeira de São Paulo, e a segunda de Santos.

A primeira concessão foi autorizada pela Lei nº 1.034, de 17 de dezembro de 1906, sendo concessionária a Empresa de Colonização Sul Paulista, para a linha São Paulo-Juquiá. A segunda, em 24 de dezembro de 1907, ao engenheiro Felippe Nery Ewbank da Câmara, para a linha Santos-Juquiá (esta concessão passou, depois, para a Brazilian Railway Construction). Ambas as concessões gozavam de garantia de juros, cessão gratuita de terras devolutas e outros favores.

Para evitar os encargos do Tesouro com o pagamento de garantias de juros (ou seja, cobrir o prejuízo) a duas estradas com o mesmo fim, o Governo do Estado promoveu um acordo entre as duas concessionárias: a Sul Paulista desistiria de sua concessão mediante indenização de 100 mil libras esterlinas, paga pela Brazilian. Estabelecido o acordo, foi assinado o contrato, em 26 de julho de 1910, aprovado pela Lei nº 1.219-A, de 24 de novembro daquele ano. A garantia de juros à Estrada de Juquiá foi fixada sobre o capital de 72:000$000 (setenta e dois contos de réis) por quilômetro, incluído nesse preço todas as obras, aquisições e despesas necessárias tanto à construção da via férrea quanto para a abertura ao tráfego. O prazo da garantia de juros foi prorrogado por mais dez anos.

Pela leitura de algumas edições do semanário Tribuna de Iguape do ano de 1913, conseguimos obter importantes informações sobre os trabalhos de construção dessa ferrovia. Com data de 2 de março de 1913, o correspondente do jornal em Juquiá enviou a seguinte nota, publicada na edição nº 21, de 17-3-1913:

“Com a aproximação da ponta dos trilhos da Estrada de Ferro de Santos a Santo Antônio do Juquiá, nota-se grande animação nesta villa, que será o ponto terminal dessa estrada. Vários e importantes terrenos já tem sido adquiridos aqui e nos arredores da villa, estando em construcção vários prédios, entre os quais, um que está sendo levantado pelo cap. Sylvio da Costa e Silva, especialmente para a installação de um hotel.”

Já com data de 31 de março, o correspondente registrava a presença do Dr. Fernando Paes Leme, engenheiro construtor da Estrada de Ferro no trecho entre a vila e a barra do Juquiá, que veio abastecer de víveres à turma a seu cargo. O Dr. Paes Leme encontrava-se, então, nas proximidades da paragem Pedra Cavalo, à margem do Juquiá. Apesar do mau tempo, o engenheiro morava numa simples barraca, ao lado de seus auxiliares. O Dr. Leme era justo, mas rígido. Mantinha uma aula noturna para ensinar aos seus camaradas.

“Os trabalhos da construcção da estrada no referido trecho vão bastante adiantados”, conforme lemos na Tribuna de Iguape.

Para o trecho entre Juquiá e Prainha, empreitado pelo senhor João Veloso, eram esperados uma turma de cem trabalhadores e vinte toneladas de materiais para construção.

Alguns meses mais tarde, o correspondente, escreveu:

“Acha-se bastante adiantado o leito da Estrada de Ferro de Santos a Santo Antônio do Juquiá, devendo por estes dias ficar concluído o trecho desta villa ao primeiro morro do sítio Pouso Alto, tendo alli diversos cortes que logo serão terminados. O Dr. C. M. Ingledew e seus auxiliares muito tem contribuído para o adiantamento das obras, empregando todos os esforços, e com muita boa vontade remunera os seus operários, fazendo-lhes bons ordenados, que são pagos com muita pontualidade no final de cada mez; pois actualmente os ordenados variam de 4$000 a 5$000 diários.”

A linha Santos-Juquiá foi inaugurada em 5 de janeiro de 1914, quando um pequeno trem da Southern São Paulo Railway, composto de locomotiva a vapor e duas galeras (vagões abertos, tipo gôndola) chegava a Juquiá, inaugurando a Estrada de Ferro Santos-Juquiá. A estrada possuía trilhos com bitola de um metro, numa extensão de 161,5 quilômetros.
Em 1917, foram registrados três descarrilamentos de trens de carga, que resultaram em avaria do material.

Nos dias 27 e 28 de janeiro de 1922, em virtude de inundação no rio Juquiá, o trecho nas proximidades do Km 158,7, numa extensão de 100 metros, ficou sujeito a baldeação. Também devido à inundação pelo rio Itariri, no Km 121, numa extensão de 500 metros, no dia 2 de março daquele ano, o trem M-2 chegou a Santos com atraso. Ainda devido a inundações, correram os trens com irregularidade em março de 1922, em que o tráfego ficou inteiramente normalizado.

Essa ferrovia, a julgar pelas receitas e despesas de seus primeiros anos, era deficitária. Por exemplo, em 1921, a receita foi de 614:140$174 réis contra uma despesa de 896:593$420, o que levou o Governo a pagar uma garantia de juros no valor de 282:453$246. Já em 1922, a situação piorou: para uma receita de 648:950$456, uma despesa de 1:016:126$463, com uma garantia de juros de 367:176$007 réis.

Sobre os 72 anos da inauguração da estrada de ferro, o jornal A Tribuna, de Santos, em 5-1-1986, publicou as seguintes linhas:

“A ferrovia, projetada e construída por engenheiros ingleses, tinha por objetivo o transporte da produção agrícola da região – principalmente banana, mandioca, arroz, café e chá – destinada aos grandes centros consumidores (como a Província de São Paulo) e à exportação via Porto de Santos.”

“Em Juquiá, os trilhos chegavam às margens do rio que dava nome ao lugar, “um grande bananal com alguns milhares de pés da musácea, plantados nas encostas, até onde dava para se ver sem o uso de binóculos”, segundo os cronistas da época. Na outra ponta, em Santos, a ferrovia estava assentada com trilhos de bitola métrica, no Bairro do Macuco, entre as ruas João Guerra e Borges, passando ao lado da Linha Forte Augusto (pequena ferrovia da Cia. Docas que transportava lixo e aterro entre o Morro do Jabaquara e o Bairro do Pau Grande, denominação antiga dada ao Estuário) e do vulcão calado do manguezal da Mortona. Para chegar ao cais e aos navios atracados no Paquetá, ao lado do cemitério dos ingleses, na rampa do mercado, as mercadorias seriam transportadas em carroças puxadas por muares, “numa viagem que durava hora e meia, sem paradas para descanso, que era feita duas vezes por dia, menos nos domingos e dias santos da igreja”.

“O traçado da ferrovia, a partir do Macuco, contornava os morros e devido a um litígio de terras com a família Martini, no José Menino, foi feito pequeno desvio junto ao Morro do José Menino, onde foi construído um túnel de cerca de 100 metros, desembocando nas proximidades da Pedra dos Ladrões, já em São Vicente.

“A obra mais demorada, entretanto, foi a construção da ponte sobre o rio Barreiros, estaqueada com eucaliptos vindos do Paraná por via marítima. Esse mesmo tipo de construção de ponte foi adotado na travessia do Rio Itanhaém.

“A Santos-Juquiá operou como ferrovia particular e isolada até o final da década de 1920, quando foi encampada por 600 mil libras esterlinas, incorporando-se à E. F. Sorocabana, hoje Fepasa. Para cobrir a despesa, o então governador da Província de São Paulo, Júlio Prestes, emitiu títulos da Dívida Pública naquele valor.”

Uma tragédia na linha de prainha

Em 23 de maio de 1913, o jornaleiro (que recebia por dias trabalhados) Carlos Casemiro, de nacionalidade polonesa, assassinou a revólver o jovem Eduardo Costa, administrador-chefe dos trabalhos da construção da Estrada de Ferro de Santos a Santo Antônio do Juquiá, no trecho da antiga Prainha (Miracatu).

O empreiteiro das obras era o senhor João Veloso. Logo pela manhã, ao ouvirem os disparos, acorreram ao local o capitão Roldão Constâncio Ferreira, subdelegado de polícia; o alferes Quintiliano de Oliveira, comandante do destacamento local; e muitos populares. Encontraram a vítima tombada no Largo da Matriz, “mortalmente ferido por balas na cabeça e no peito, vindo a falecer meia hora depois”, conforme lemos na Tribuna de Iguape, nº 8, de 24-6-1913.

O criminoso fugiu, sendo perseguido durante seis horas pelo alferes Quintiliano e seus praças, que não encontraram a pista do fugitivo. Auxiliares do escritório dirigido por Eduardo Costa formaram uma escolta, penetraram no sertão e alcançaram o assassino no Porto da Serra, às 22h. Houve resistência armada da parte de Carlos Casemiro. Mas a escolta conseguiu capturá-lo e conduzi-lo à vila, onde foi apresentado à autoridade policial no dia seguinte e recolhido ao xadrez. O capitão Roldão Constâncio Ferreira fez o auto de corpo de delito e abriu o inquérito policial, apurando a autoria do crime.

Carlos Casemiro trabalhava como jornaleiro no serviço de abertura da estrada na paragem denominada Três Irmãos. Viera à Vila de Prainha no dia 22 de maio, “junto com outros jornaleiros para regularizarem seus negócios no escritório”.

Mas o que motivou Carlos Casemiro a assassinar o seu chefe, Eduardo Costa? Vejamos. Os trabalhadores (jornaleiros) foram atendidos pelo administrador e receberam seus pagamentos, “uns, dinheiro corrente e outros, ordens à vista para serem pagas em S. Paulo”.

Todos receberam o pagamento, menos Carlos Casemiro. Por quê? Por não ter “apresentado sua caderneta devidamente visada pelo administrador da secção, não porque este se recusasse a deitar o visto, mas sim porque Casemiro não havia terminado sua tarefa”. Movido por sentimento de vingança, o assassino decidiu tirar a vida de seu chefe.

Lemos na Tribuna de Iguape, nº 8 de 24 de agosto de 1913: “E só por esse motivo, levantou-se o braço do homicida para abater uma vida necessária”.

O assassinato causou revolta e indignação na vila de Prainha e em Iguape, uma vez que Eduardo Costa era uma pessoa muita estimada.

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AUTORIDADES

Conforme dados do Registro Civil, em 1917 ocorreram em Juquiá 165 nascimentos, 17 casamentos e 88 óbitos.

Em 14 de janeiro de 1918, era eleito para o cargo de subprefeito de Juquiá o capitão Joaquim da Glória Leite, que foi reeleito no cargo nos anos seguintes.

Em 1920, o capitão João Adorno Vassão era 1º juiz de paz. Nesse mesmo ano, para evitar a ocorrência de crimes e arruaças, diversos comerciantes de Juquiá suspenderam a venda de bebidas alcoólicas (aguardente), numa campanha iniciada pelo capitão João Adorno Vassão, Henrique Adorno Vassão e outros comerciantes do distrito.

Em 29 de novembro de 1925, eram eleitos para os cargos de primeiro e segundo juízes de paz do distrito de Juquiá, para o triênio de 1926-1928, os capitães Joaquim da Glória Leite e Diogo Martins Duarte. Tomaram posse em 7 de janeiro de 1926.

O capitão Joaquim da Glória Leite faleceu em 8 de dezembro de 1928, quando ocupava o cargo de 1º juiz de paz. Era casado com Izaltina Banks Leite.

Em 1932, era subprefeito de Juquiá o capitão Diogo Martins Duarte.

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ESPORTE E MÚSICA

Desde o princípio do século XX o esporte bretão já era praticado em Juquiá. Os jovens apreciavam disputar partidas varzeanas. Não pudemos saber qual foi o primeiro time de futebol fundado na vila. Sabemos, pela leitura da “Tribuna de Iguape”, nº 260, de 18/1/1920, que naquele ano existia na vila o time Juquiá Foot-Ball Club, que reunia os jovens futebolistas da localidade. Também nesse ano existia a existia a Associação Athletica de Foot-Ball, que possuía dois times em sua equipe, o Vermelho e o Branco.

De igual modo, a juventude juquiaense muito valorizava a arte musical. Vários conjuntos musicais e bandas foram organizados na vila. Não temos condições de saber quais foram os primeiros. Mas, conforme lemos na “Tribuna de Iguape”, nº 312, de 30/1/1921, em janeiro daquele ano era inaugurada a banda musical “Philarmonica Juquiense”, que atuou na vila por alguns anos.

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COMERCIANTES EM 1919

Pela leitura da “Tribuna de Iguape”, nº 219, de 31/3/1919, naquele ano eram comerciantes, em Juquiá, entre outros: Henrique Adorno Vassão, do ramo de fazendas a varejo; João Adorno Vassão, proprietário do engenho Floresta, no qual beneficiava arroz; e João Baptista Martins, do ramo de fazendas a varejo, na barra do Juquiá. Evidentemente, existiam outros comerciantes no lugar, apenas não foram referidos pelo jornal.

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O CRIME QUE ABALOU JUQUIÁ

Conforme lemos na “Tribuna de Iguape”, nº 165, de 17/3/1918, no dia 8 de dezembro de 1917, a bordo do vapor “Bento Martins”, aconteceu horrível tragédia. Viajavam na embarcação o funcionário público Sérgio de Moraes, de 32 anos, e sua mulher Maria do Carmo Duante de Moraes, junto com seus quatro filhos.

A viagem corria tranquilamente até que, recolhidos a seu camarote, Sérgio desferiu na esposa violenta navalhada, quase degolando-a. A mulher faleceu pouco depois, enquanto Sérgio tentou se suicidar com várias navalhadas no pescoço, o que, não conseguindo, atirou-se ao rio. Foi capturado, mas recusou-se a esclarecer o motivo do crime.

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JÚLIO PRESTES

Em 11 de julho de 1928, o presidente (hoje seria chamado de governador) do Estado de São Paulo, Dr. Júlio Prestes, esteve no então distrito de Juquiá, acompanhado do Dr. Oliveira de Barros, secretário da Viação.

Júlio Prestes veio conhecer as condições da Estrada de Ferro Santos-Juquiá, então encampada pelo Estado. Em seguida, Prestes foi numa lancha até a barra do Assungui, regressando a Santos no mesmo dia. Prestes pretendia fazer uma breve excursão ao Vale do Ribeira, o que não veio a ocorrer.

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ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA

Em 3 de outubro de 1936, o governador do Estado de São Paulo, Armando de Salles Oliveira, esteve em Juquiá. Foi o primeiro governador (com esse nome) a visitar a localidade. A chegada da comitiva oficial foi precedida de salvas de morteiro e pela banda musical.

Ao desembarcar, Salles Oliveira foi recebido pelas pessoas importantes da vila e pelo prefeito de Iguape, coronel Diogo Martins Ribeiro Júnior, e pelo juiz da Comarca de Iguape, além de autoridades das localidades vizinhas de Cananeia, Xiririca e Jacupiranga.

Chegando ao então distrito, Salles Oliveira, secretários do Governo e comitiva dirigiram-se para o prédio onde funcionavam as escolas reunidas. Ali o esperavam o Dr. Mario Souto, diretor da Estrada de Ferro Sorocabana, e o comandante Esculápio Cesar de Paiva, capitão dos Portos do Estado.

No salão de aulas da escola foi oferecido ao governador e comitiva um refinado almoço. O prefeito de Iguape saudou o governador com eloquente discurso. Salles Oliveira veio inaugurar a estrada de Iguape à Juquiá e à estrada de Biguá, bem como a ligação de Biguá à Registro e a ponte sobre o rio Juquiá. Em discurso, Salles Oliveira disse:

“Sei que o povo não gosta de promessas, mas sim de fatos. A estrada que ora acabo de inaugurar, a ligação de Iguape a Juquiá e à estrada de Biguá, bem como a ligação de Biguá a Registro e a ponte sobre o rio Juquiá, são as notícias que o governo de São Paulo voz traz. Bebo pela prosperidade desta magnífica região.”

Armando de Salles Oliveira (1887-1945) fundou a Universidade de São Paulo, em 1934. Foi diretor do jornal “O Estado de São Paulo” em 1915, e candidato da oposição à Presidência da República em 1937, que não chegou a ser realizada por causa do golpe do Estado Novo. Preso e exilado em 1937. Foi casado com uma filha de Júlio de Mesquita.

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A PRIMEIRA ELEIÇÃO DIRETA

A primeira eleição do município de Juquiá foi realizada no dia 13 de março de 1949. Dos 548 eleitores inscritos, compareceram somente 355. Para prefeito foi eleito Olympio Adordo Vassão (PTB), com 254 votos, contra 102 votos dados a Mário Segante (PSP). Para a Câmara Municipal, foram eleitos, pelo PTB: Abel Oliveira Vassão, Belmiro do Vale, Geraldo Filgueiras, Isaías Martins de Oliveira, Joaquim Alves Carneiro Júnior, José Miadaira, Liberato Lino Muniz, Mario Tamada e Willys Banks Leite. O PSP elegeu três vereadores: Amaro Veiga Martins, Valter de Brito Rangel e Otaviano Constante de Oliveira.

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EVOLUÇÃO POLÍTICA

Juquiá passou a ser Capela Curada em 4 de novembro de 1831.

Foi elevado à categoria de Freguesia pela Lei nº 11, de 16 de abril de 1853.

Passou a denominar-se simplesmente Juquiá pelo Decreto nº 9.073, de 31 de março de 1938.

Foi incorporado ao novo município de Miracatu pelo Decreto nº 9.775, de 30 de novembro de 1938.

Finalmente, foi elevado a município pela Lei nº 233, de 24 de dezembro de 1948.

A sua data de aniversário é comemorada anualmente no dia 10 de abril. (2)

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A COMARCA

Judiciariamente, Juquiá pertenceu às comarcas de: Itapetininga (1853 a 1854); Santos (1854-1858); Iguape (1858 a 1949); e Santos (1949 a 1963).

Pela Lei nº 8.050, de 31 de dezembro de 1963 passou a ser sede de Comarca, que foi instalada em 11 de maio de 1968, tendo como primeiro juiz o Dr. Adelindo Mendes e como primeiro promotor o Dr. André Luiz Mesquita.

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APONTAMENTOS HISTÓRICOS

Em 1858, estava sendo aberto um picadão entre Juquiá e Pirapora. No mês anterior, faleceu em consequência da mordedura de uma cobra o cidadão José Antônio Gomes, que era o encarregado da abertura dessa estrada. O delegado de Polícia de Iguape, João Manuel Junqueira, ficou encarregado de comparecer pessoalmente ao local a fim de “activar os respectivos trabalhos, e procurar outra pessoa que com o mesmo zelo se encarregasse daquella obra.”  (“O Publicador Paulista”, nº 47, de 16/1/1858, p. 3)

Como em todas as localidades, vez ou outras ocorriam algumas brigas entre os moradores. Em janeiro de 1858, na subdelegacia de Juquiá, fez-se corpo de delito em João Baptista Pupo e Cypriano José de Oliveira, seu camarada, que se feriram reciprocamente numa briga que tiveram. Foi instaurado o sumário, sendo preso em flagrante o dito Cypriano. (“O Publicador Paulista”, nº 59, de 24/2/1858, p. 4)

Em fevereiro de 1858, a Câmara de Iguape representava ao Governo da Província sobre que necessidade que tinha a Freguesia de Santo Antônio do Juquiá de um sacerdote que administrasse os sacramentos da Igreja a sua numerosa população. (“O Publicador Paulista”, nº 60 de 27/2/1858, p. 2)

Pela Lei nº 7, de 10 de março de 1858, o Governo da Província criava na Freguesia de Juquiá uma cadeira de primeiras letras para o sexo masculino. (“O Publicador Paulista”, nº 71, de 10/4/1858, p. 1)

Mesmo tendo uma capela na freguesia, não havia um padre que ali ficasse efetivamente. Por muito tempo, os juquiaenses reivindicavam a vinda de um padre para a localidade. Assim, em julho de 1861, o Governo da Província autorizava que o vigário de Piedade (SP) fosse a Juquiá a cada três meses para administrar todos os sacramentos, matrimônios, homilias, considerando a paróquia de Juquiá anexa à de Piedade. (“O Constitucional”, nº 14, de 5/6/1861, p. 2)

Em 1867, chegaram à freguesia de Juquiá americanos confederados, que passaram necessidade. Segundo comentavam, os imigrantes chegaram ao ponto de vender a roupa para comprar gêneros alimentícios para não morrerem de fome. Em virtude de ordem do ministro da Agricultura, o delegado passou a fornecer mantimentos aos imigrantes. (“O Ypiranga”, nº 74, de 27/10/1867, p. 2)

Em 1867, era vigário encomendado da Freguesia de Juquiá o padre Domingos José Dias. (“O Ypiranga”, nº 80, de 5/11/1867, p. 1)

Por portaria de 24 de dezembro de 1867, era nomeado para o cargo de subdelegado de polícia da Freguesia de Juquiá o cidadão Manoel Alves Carneiro. (“O Ypiranga”, nº 122, de 25/12/1867, p. 2)

Em janeiro de 1862, o padre Adelino Jorge Monte Alegre abandonou a igreja da freguesia, o que motivou o subdelegado primeiro suplente fez a devida comunicação do Governo da Província.

Em 1869, era padre da Freguesia de Juquiá Christophoro Lapulla. Mas parece que esse sacerdote não estava muito satisfeito com a sua freguesia e decidiu abandonar o seu rebanho e mudar-se para Iguape, onde tinha uma “vida folgada e prasenteira”. Isso porque os seus paroquianos eram pobres e não tinham condições de lhe pagar o ordenado anual de 1:200$000 réis e também porque os rendimentos do paroquiato davam “apenas para passar parcamente”.  (“Radical Paulistano”, nº 19, de 2/9/1869, p. 1)

Em dezembro de 1869, era nomeado suplente de subdelegado de polícia da Freguesia de Juquiá o cidadão Diogo Martins Ribeiro. (“Gazeta de Campinas”, nº 11, de 5/12/1869, pg. 2)

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ETIMOLOGIA

Juquiá - É um grande balaio raso, de taquaras, tendo uma pequena porta ao lado. Posto de boca para baixo, coloca-se na porta uma esteira de taquarinhas flexíveis, preparadas a canivete, e trançada ou amarrada a barbante em duas travessas de taquara mais resistente. (in “Revista “Fauna”, nº 4, abril de 1951)

Covo - Aparelho de pesca, feito de arame, varas, vergas ou talas. O mesmo que côfo, covú, juqui, juquiá, munzúa, nassa. (in “Vocabulário de ictiologia e pesca”, pelo tenente Alberto Vasconcelos, Revista “Fauna”, nº 8, agosto de 1944).

Cuvú - O mesmo que juquiá. Cóvo, covú. (in “Vocabulário de ictiologia e pesca”, pelo tenente Alberto Vasconcelos, Revista “Fauna”, nº 10, outubro de 1944).

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NOTAS

(1) Livro do Tombo da Paróquia de Iguape, pág. 19.

(2) “Origem dos Municípios do Estado de São Paulo” - Nova Divisão Territorial do Brasil - Quiquênio 1954-1958”, 1ª edição, S. Paulo, 1955. 

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EXPLICAÇÃO

Este trabalho objetivou tão somente a divulgação de anotações históricas referentes ao município de Juquiá coletadas ao longo de vários anos, que poderão servir de subsídios a outras pesquisas mais aprofundadas sobre a localidade

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O AUTOR
ROBERTO FORTES,

ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  E-mail: robertofortes@uol.com.br


(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

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