Os
primórdios de Eldorado (SP), a antiga Xiririca, confundem-se com o início da
mineração do ouro no Brasil. Desde meados do século XVII já havia cata de ouro
na localidade de Ivaporunduva, conforme verificou o historiador anglo-brasileiro
Ernesto Guilherme Young (1850-1914). A incipiente povoação, no entanto, somente
foi oficializada em 19 de janeiro de 1763 quando se criou a Freguesia de
Xiririca (uma jurisdição eclesiástica, modernamente equivalente a paróquia), mas
administrativamente ainda pertencente à Vila de Nossa Senhora das Neves de
Iguape, da qual se emancipou em 10 de março de 1842.
Ao
lado das vilas de Iguape e Cananeia, Xiririca formava a “tríplice aliança” das
vilas mais importantes do Vale do Ribeira. Em Xiririca, viveu o abastado
português (ou seria espanhol?), depois naturalizado brasileiro, Miguel Antônio
Jorge, que pode ser considerado o “rei do arroz” do Vale do Ribeira em seu
tempo. Sobre esse vulto regional, senhor da fazenda Caiacanga, consumida por
incêndio em 1878, a imaginação popular criou histórias fantásticas, o que faz
despertar ainda mais o interesse por esse controvertido personagem.
Já
outro Miguel, este nascido em São Miguel Arcanjo (SP), mas com as suas raízes
familiares em Eldorado e Iguape, oriundo das antigas linhagens Veras e França,
brindou o leitor com livros de real importância para a história regional.
Miguel França de Mattos é autor de “Cinema
Paraíso - o Cine Teatro São Miguel”, lançado em 2003; “A Lagoa do Cedro e o Turvo da Lagoa - História e Genealogia da Família
França de São Miguel Arcanjo (SP)”, de 2006; e “Histórias da Paróquia de São Miguel Arcanjo - 130 anos - Cronologia
1886-2016”, publicado em comemoração aos 130 anos da paróquia desse progressista
município localizado na região metropolitana de Sorocaba (SP).
Só
pela importância desses três trabalhos o seu autor já merecia entrar para a
historiografia de São Miguel Arcanjo, Eldorado e região do Vale do Ribeira como
um de seus historiadores mais importantes. E, agora, para coroar o seu
incansável trabalho de pesquisador meticuloso, Miguel França de Mattos lança a
monumental obra que leva o sugestivo título de “Eldorado, SP. A antiga Xiririca”, na qual resgata, com a
competência que lhe é característica, a história da velha localidade que, como
frisamos no início desta apresentação, nasceu nos primórdios da mineração do
ouro em nosso país.
E
Miguel vai mais além: na segunda parte do livro, fruto de fatigante pesquisa
genealógica em velhos documentos carcomidos pelos cupins, livros antigos,
jornais e antigos alfarrábios, traz à luz a gênese dos Veras, dos Franças e de
antigas famílias valerribeirenses. É uma obra para ler com grande satisfação,
saboreando cada página, cada informação, cada fato curioso, o que nos
possibilita conhecer toda essa rica história regional como se a estivéssemos
revivendo a cada página virada.
Tenho
certeza que o leitor encontrará neste livro mais uma prova inegável do talento
estilístico e historiográfico de Miguel França de Mattos, meu dileto amigo,
leitor assíduo e assinante da “Tribuna de
Iguape”, periódico mensal, histórico e cultural, que edito em Iguape (SP)
desde 1995.
Boa
leitura!
(Apresentação
de Roberto Fortes ao livro “Eldorado-SP,
a antiga Xiririca”, de Miguel França de Mattos, lançado em janeiro de
2020).
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br |