O Vale do Ribeira sempre foi um celeiro de escritores, poetas, jornalistas e outros artífices da palavra. No rol desses talentos valerribeirenses, salienta-se a figura inconfundível da poetisa Adélia Victória Ferreira, que teve respeitável projeção nos meios culturais da Capital do Estado.
Nascida
na cidade de Sete
Barras (SP), Vale do Ribeira, no dia 17 de novembro de 1929, Adélia era filha do
casal João Lucas Ferreira e Olinda de Souza Ferreira, sendo irmã de Lília Maria
Ferreira Costa, Judith E. Ferreira Reis e Maurício Lucas Ferreira.
Por volta
de 1937, quando Adélia tinha 7 anos de idade, a sua família se transferiu para
a cidade de Mairinque (SP), onde a futura poetisa fez o curso primário.
Adélia começou a trabalhar aos 10 anos de
idade. Aos 14 anos, já demonstrando o seu talento para as letras, foi
correspondente do jornal “Cidade de S.
Paulo”.
Em 1948, aos 17 anos, residindo em
Mairinque com a família, tendo apenas o primeiro grau escolar, Adélia decidiu
fugir de casa, motivada pelo desejo de
estudar Direito, com o que o pai não concordava. Tabelião, ele
queria a filha no cartório,
trabalhando a seu lado. Sem auxílio de quem quer que fosse, Adélia venceu, com
muito esforço e dedicação, as vicissitudes que se colocaram em seu
caminho.
A ADVOGADA
Estudando por conta própria,
desde a adolescência, Adélia fez o Curso Clássico no Colégio São Joaquim, em
São Paulo, formando-se em Latim, Grego, Espanhol, Inglês e Francês.
Cursou o Ginásio e o Colégio também em São
Paulo. Depois de muito estudo, conseguiu passar no vestibular de Direito da
Faculdade do Largo de São Francisco (Universidade de São Paulo), realizando,
assim, o grande sonho de sua vida. Iniciando
o curso em 1952, aos 23 anos de idade, Adélia bacharelou-se em Direito, num dos
primeiros lugares, com a turma de 1956, colando grau no dia 23 de janeiro de
1957.
Entre os
colegas de Adélia elencavam-se alguns jovens que, mais tarde, teriam grande
destaque nos cenários paulista e nacional: Luiz Carlos Santos (1932-2013),
advogado, ministro e articulador político; Rubens Approbato Machado
(1933-2016), advogado tributarista; Mário Chamie (1933-2011), advogado e poeta,
criador da poesia práxis; Umberto Luiz D´Urso (1925-2014), advogado e
professor, pai de Luiz Flávio Borges D´Urso, ex-presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil - OAB-São Paulo.
Por seu destaque na Academia, Adélia foi
contemplada com uma bolsa de estudos de três meses na Alemanha Ocidental, com visitas às universidades das
cidades de Colônia, Bonn, Frankfurt, Darmenstad e Hidelberg.
Ao mesmo tempo em que estudava, Adélia se desdobrava em vários empregos. Por dez
anos, trabalhou na televisão e no teatro como atriz dramática, apresentadora,
locutora etc.
Trabalhou também na Aeronáutica e no Jockey
Club de São Paulo, como secretária da diretoria, e depois como procuradora
jurídica.
Em 1969, numa volta ao mundo, conheceu vários
países: França,
Tchecoslováquia, Rússia. Estados Unidos, Japão, China, Hong Kong, Tailândia,
Índia, Irã, Turquia, Grécia e Itália. Viajou também à Argentina e Uruguai. Na Rússia, dançou
dentro do Kremlim.
EMANCIPAÇÃO DE
MAIRINQUE
Adélia
Victória Ferreira participou ativamente da emancipação de Mairinque (SP),
cidade onde viveu a infância e adolescência. A primeira comissão pró-emancipação foi criada em
1950, presidida pelo cidadão Victorino Viliotti. Faziam parte dessa comissão,
entre outros Gastão Bussamara, Maurílio Pereira de Araújo, João Chesine, João
Lucas Ferreira (pai de Adélia) e Arganauto Ortolani.
O
deputado Lino Matos, ligado politicamente a São Roque (SP), trabalhou junto à
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, mas, apesar do empenho realizado
pela Comissão de Emancipação, da qual participava ativamente Adélia Victória
Ferreira, a pretensão mairinquense foi derrotada, com 22 votos a favor e 32
contrários. Somente em 27 de dezembro de 1958 foi aprovado o projeto que criava
67 novos municípios, inclusive o de Mairinque.
Finalmente,
com a Lei Estadual nº 5.285, de 18 de fevereiro de 1959, Mairinque foi elevada
à categoria de município. Em 4 de outubro daquele mesmo ano ocorreram as
eleições municipais para o mandato de 1960 a 1963. Para prefeito elegeu-se
Arganauto Ortolani, tendo como vice José Francisco dos Santos (Zé Enfermeiro).
Para
vereadores, os eleitores do novo município escolheram: João Lucas Ferreira (pai
de Adélia Victória Ferreira), Luiz Zaparolli, Severino Simões de Almeida,
Waldemar Pereira, Abel Souto, Antonio Cesar Netto, Ataliba da Silva, João
Chesini, José Angelini, Orlando Silva e Raul Cavalheiro. O vereador João Lucas
Ferreira foi eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de Mairinque,
para o biênio de 1960-1961.
TEATRO
Quando ainda fazia faculdade, Adélia trabalhava em quatro canais de TV: Paulista
(hoje Globo), Tupi, Record e Cultura. Como atriz dramática, estreou em
“A Bela e a Fera”, com o conhecido ator Dionísio Azevedo (1922-1994).
Adélia
teve atuante participação no Departamento de Teatro do Centro Acadêmico XII de
Agosto, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que encenou várias
peças teatrais.
Em
13 de junho de 1953, estreava a pela “Eu
já estive lá”, do dramaturgo americano John Boynton Priestley (1894-1984),
com tradução de Daniel Rocha. Do elenco, participavam, além de Adélia Victória
Ferreira, também Angélica Milena, Gildásio Pereira, J. J. Tanus, Paulo
Hildebrando Barbosa e Rodrigo Rodrigues de Moraes. Direção de Evaristo Ribeiro,
com cenários de Clóvis Garcia.
Em
abril de 1955, era encenada a peça “Rosmersholm”,
do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), no Teatro Leopoldo Fróes, em
São Paulo. A produção foi do Departamento Teatral da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, com direção de Evaristo Ribeiro. No elenco, Adélia
Vitória Ferreira (que interpretou a personagem Rebeca West), Ophélia de
Almeida, José Carlos Viegas, Sérgio Salém, Amim Abujamra e José Pacheco.
“Rosmersholm”, escrita e
publicada em 1886, foi representada pela primeira vez em 17 de janeiro de 1887,
no Den Nationale Scene, em Bergen, Noruega. Em 1893, voltou a ser representada
no Théâtre de l’Oeuvre de Lugné-Poe, em Paris, transformando-se em
representante do movimento simbolista francês. A encenação de 1955 foi a
primeira apresentação dessa peça no Brasil.
O
crítico teatral Mattos Pacheco, em sua coluna “Ronda”, do “Diário da Noite”, de São Paulo, em sua edição nº 9.290, de
27/4/1955, mesmo reconhecendo as deficiências da montagem da peça e das
interpretações, escreveu que é “forçoso
reconhecer que o fato de estudantes de Direito se animarem a fazer teatro,
fazer logo Ibsen, mostra coragem, decisão, interesse por um Teatro de verdade,
com T maiúsculo.”
Mattos
Pacheco reconheceu a performance de Adélia: “Dos
intérpretes, pelo menos uma, merece destaque especial, Adelia Victória foi quem
mais se aproximou da sua personagem.” E concluiu: “Os estudantes de Direito estão de parabéns, não pelo ´Rosmersholm´ que
fizeram, mas pela coragem, quase audácia, de montar Ibsen e se disporem a fazer
Teatro. Devem continuar.”
A POETISA
Desde a infância Adélia escreveu poesias. Durante
muitos anos publicou a sua produção poética nos jornais “Gazeta de Pinheiros”, “Gazeta
do Butantã”, “O Dia”, “Diário Popular”, “Voz da Poesia” (do Movimento Poético Nacional) e “Fanal” (da Casa do Poeta de São Paulo,
que dirigiu por vários anos).
Em 1978, publicou o seu primeiro livro, “Cantos de Amor à vida”, no qual reuniu
todos os poemas que escreveu desde aos dez anos de idade. Não fez questão de que
o seu livro de estreia fosse prefaciado por um notório poeta, por considerar
ser constrangedor um pedido de tal natureza. Preferiu o julgamento “dos que, lendo a sua mensagem, venham a
encontrar ou não alguma similaridade com seus próprios sentimentos e com a
maneira com que os traduziram por escrito”, conforme lê-se na orelha do livro.
Após se
aposentar em 1977, Adélia passou a dedicar-se inteiramente à poesia, arte que
cultivava desde a mais tenra idade.
Em 1973,
escreveu o “Hino à Lapa”, com música do maestro
Victor Barbieri.
Em 1980, ao conhecer o poeta e trovador Izo
Goldman (1932-2013), a poetisa estendeu
o seu amor pelo soneto também à trova. Adélia é
considerada uma das maiores sonetistas brasileiras, além de exímia
trovadora.
Em 1983,
escreveu o “Hino da Universidade Federal
de Uberaba” (MG). Do concurso, participaram onze concorrentes, não havendo,
no entanto, premiação.
Adélia pertenceu a inúmeras
academias de letras nacionais e estrangeiras, sendo laureada com comendas,
medalhas, troféus e diplomas honoríficos, além de centenas de prêmios
literários. Foi
uma figura de destaque em muitas antologias poéticas, jornais, sites e blogs.
Fez parte da Casa de Francisca Júlia e da Academia Eldoradense de Letras,
entidades culturais fundada em 1978 pelo poeta João Mendes em Eldorado (SP). Na
ocasião, Adélia declamou a fantasia poética “Reportagem
sobre Francisca Júlia e sua terra” na inauguração da Casa de Francisca
Júlia; e, também, o poema “À terra de
Francisca Júlia” na inauguração da Academia Eldoradense de Letras.
CASA DO POETA
Presidentes da Casa do Poeta “Lampião de Gás” de São Paulo: Da esquerda para a direita: Aristóteles Lacerda Jr, Wilson de Oliveira Jasa, Adélia Victória Ferreira e Antônio Lafayette Natividade Silva. |
Em
7 de novembro de 1948, a poetisa Colombina, pseudônimo de Yde (Adelaide)
Schloenbach Blumenschein (1882-1963) e um grupo de poetas, fundaram a Casa do
Poeta “Lampião de Gás”, considerada a mais antiga associação de poetas das Américas.
A entidade teve como presidentes desde então: Yde
(Adelaide) Schloenbach Blumenschein (1948-1963); Bernardo Pedroso (1965-1971);
Antônio Lafayette Natividade Silva (1972-1977); Benevides Beraldo (1977-1979);
Adélia Victória Ferreira (1979-1987); Aristóteles de Lacerda Júnior
(1987-1989); Walter Rossi (1989 -2001); e Wilson de Oliveira Jasa (desde 2001).
Adélia
presidiu a Casa do Poeta de 1979 a 1987. Após quatro mandatos sucessivos,
renunciou ao cargo, sendo eleita presidente emérita e de honra da entidade.
CINQUENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1932
Em comemoração ao cinquentenário da Revolução
Constitucionalista de 1932, o Museu da Imagem e do Som (MIS), de São Paulo, em
21 de julho de 1982, convidou várias personalidades para prestarem depoimento
sobre o evento. Entrevistados pelo jornalista Augusto Benedito Galvão Bueno
Trigueirinho, além de Adélia Victória Ferreira, participaram também Arnaldo
Caleiro Sandoval, Pedro Oliveira Ribeiro neto e Léa Surian.
Adélia falou de sua infância em Sete Barras, de onde
saiu com a família aos 7 anos de idade para irem morar em Mairinque (SP). Neta
de agricultores de arroz, banana e cana-de-açúcar, filha de um pai que desistiu
de sua herança para se transformar em um tabelião, que era o sonho da vida
dele.
Adélia recordou-se de quando, aos três anos de idade,
esvaziaram a igreja matriz de todos os seus santos para os guardarem em sua
casa, a maior da cidade, para que os revolucionários fossem abrigados no
templo. Em frente à sua casa, havia trincheiras, e essas imagens foram tão
fortes que, apesar de sua pouca idade, ficaram gravadas em sua mente.
Aos cinco anos, quando o pai lhe perguntava o que ela
queria ser quando crescer, a menina respondia: “Papai, eu quero ser advogada, eu quero ser doutora em Direito!”,
apesar de não saber o que era isso. Ao que o pai voltava a perguntar: “Mas por que, minha filha?”. Adélia
respondia: “Para defender o pobre contra
o rico!”. E defender o pobre contra o rico era algo que ia contra a sua
família, a mais abastada da cidade. Mas não era isso que Adélia queria dizer:
ela queria defender os que não tinham forças contra aqueles que têm o poder,
referindo-se, simbolicamente, aos revolucionários, que eram destituídos de
armas e munições e de condições para lutar contra o governo de Getúlio Vargas,
usando a sua inventividade para assustar o inimigo, que possuía todas as armas,
“para vencer uma revolução que foi feita
pelo coração e pela alma”.
Como pretendia deixar o seu cartório para a filha, o
pai não permitiu que Adélia fizesse sequer o curso ginasial, temendo que ela
seguisse o caminho que desejava. Sendo assim, a jovem, com apenas 17 anos, fugiu
de casa e, em São Paulo, fez o curso de madureza, para, depois, frequentar o
Colégio Roosevelt e ingressar na tão sonhada Faculdade de Direito. Assim foi a
sua juventude, sempre baseada no ideal de dignidade humana do povo paulista,
ideal que nasceu quando ela tinha apenas três anos de idade vendo as lutas da
Revolução de 1932.
Por ocasião do depoimento, o jornalista Bueno
Trigueirinho considerou AdéliaVictória Ferreira “a primeira dama declamadora de São Paulo, que aquecia os nossos
corações quando fala, quando põe toda a sua alma dizendo essas coisas tão
bonitas que São Paulo tem, a nossa poesia dos nossos grandes poetas.”
Com a sua voz firme e a dicção perfeita, Adélia
declamou o poema “MMDC”, de sua autoria, em homenagem aos jovens que tombaram
pela defesa dos ideais constitucionalistas:
MMDC
Miragaia, Martins, Dráusio, Camargo.
A história é assim
Não só a nós agora interessa.
É a história paulista escrita em sangue
E em nome de complexos ideais:
Democracia, constituição.
Fanais da liberdade,
únicos trilhos de qualquer paz,
qualquer prosperidade.
Martins, tua seiva corre em nossas veias.
Tu, Miragaia, louros depuseste
sobre a dignidade dos paulistas
Dráusio, implantaste em nossas mentes
a flama das intenções sadias
que baseiam o natural caráter firme e nobre
da brava gente de Piratininga,
que apenas dobra os joelhos reverentes
aos céus e àquele santo,
o padre Anchieta,
que a nossa história e Deus alicerçou.
Gente que aspira sempre ver brilhar,
no supremo concerto das nações,
este Brasil que, graças ao seu sangue,
suor, lágrimas, lutas e bandeiras,
com trépida bravura, transformou
num gigante a abarcar um continente.
Camargo exulta, ainda perseguimos
a mesma meta que nos apontou
o teu espírito audaz e democrático.
A nossa fibra se retesa diuturnamente
num labor constante,
mantendo sempre a aspiração que atua.
Tu, Alvarenga, ergue-te do olvido,
também tu deves repousar
no túmulo do herói reconhecido.
MMDC
A história é assim
E a história paulista, escrita em sangue
e em nomes de complexos ideais:
Democracia, constituição.
E agora vejam, heróis,
ela interessa não só a nós,
mas ao País inteiro quando
o edifício em que acomodou
o resto da nação tende a ruir em súbita implosão.
Mas São Paulo, paternal, estende as mãos,
como sempre estendeu,
para acudir a grandeza da Pátria.
E, agora, finalmente, vai se compreender
que a límpida razão estava com vocês,
e ao bandeirante, é certo, como sempre,
há de caber o peso maior,
mais exaustivo e desgastante
do pesadelo da reconstrução.
(Aplausos)
TURMA DE 1956: JUBILEU DE OURO
Para
comemorar o Jubileu de Ouro da Turma de 1956, a Ordem dos Advogados do Brasil,
de São Paulo, promoveu, em 20 de outubro de 2006, uma confraternização com os
ex-alunos remanescentes.
O evento
solene foi realizado no auditório da CAASP, em São Paulo. Participam da
cerimônia toda a Diretoria da OAB/SP e da CAASP, além do então diretor da
Faculdade de Direito da USP, professor João Grandino Rodas.
“A Turma de 1956 era numerosa,
unida e animada. Resultou em grande número de advogados militantes”, ressaltou Rubens Approbato
Machado, para quem não havia diferença entre advogar com um ou 50 anos de
carreira.
Entre os
homenageados estavam o ex-secretário municipal da Cultura e poeta, Mario
Chamie; o ex-senador Pedro Franco Piva; o ex-deputado federal e ex-secretário
dos Negócios Metropolitanos, da Habitação e Desenvolvimento Urbano e de Energia
e Saneamento do Estado de São Paulo, e ex-ministro da Coordenação de Assuntos
Políticos do presidente FHC, Luiz Carlos Santos; e dois ex-conselheiros
seccionais, Samuel Sinder e Jayme Vita Roso. Os homenageados receberam placas
alusivas à comemoração do Jubileu de Ouro e participaram de um almoço.
Depois de uma vida plena, inteiramente dedicada ao
Direito, às artes e à literatura, Adélia Victória Ferreira faleceu no dia 13 de
março de 2018, aos 88 anos.
LIVROS PUBLICADOS
Durante a sua longa vida, Adélia Victória Ferreira produziu centenas de
sonetos e trovas, dispersos em antologias poéticas e sites literários. Publicou
três livros:
“Cantos de Amor à Vida” (Edição do
Autor, 1978) – Em seu livro de
estreia, Adélia Victória Ferreira reuniu 104 poemas, escritos desde os 10 anos
de idade. O livro é dividido em 6 partes: I - Introito (1 poema); II - Amor (24
poemas); III - Vida (19 poemas); IV - Deus (8 poemas); V - Homem (20 poemas); e
IV - Pátria/Lar (32 poemas). Predominam sonetos, encontrando-se também algumas
trovas e poemas em quartetos. Adélia revela o talento que a projetaria como uma
das melhores sonetistas brasileiras.
“Poesias
ao Sol” (Edição do Autor, 1984) – Neste segundo livro, Adélia Victória Ferreira divide
espaço com o poeta Hélio José Déstro, também membro da Casa do Poeta “Lampião
de Gás”, que publicou o maior número de poemas do livro (102 composições), de
diferentes formas. Adélia participou com 26 poemas, incluindo a seleção “Choque de Antíteses em Campo de Sonetos”,
com o subtítulo “15 sonetos que dialogam
sentimentos humanos, opostos entre si, cabendo, a cada um, um quarteto e um
terceto intercalados; ao final de cada terceto são declaradas as respectivas
identidades.” Essa seleção seria republicada em seu livro seguinte.
“Catálise
- Trovas e Sonetos” (Edição do Autor, 1985) – A primeira parte do livro reúne as trovas
premiadas de Adélia Victória Ferreira. De acordo com o inventário inserido no
início do livro, de 1980 a 1984, a autora foi vencedora de 14 concursos
poéticos; ficando em 2º lugar em 3 concursos; em 3º lugar em 3; em 4º lugar em
1; em 6º lugar em 1; e recebendo 24 menções honrosas, 12 menções especiais e 1
menção temática. A segunda parte reúne uma seleção de sonetos, incluindo 15 sob o título “Coroa de Sonetos”, com o subtítulo “Tema: Redenção pela Vida”. Na terceira parte, são republicados os
sonetos “Choque de Antíteses em Campo de
Sonetos”, do livro anterior. Na quarta parte, o “Rosário de Anchieta”,
composto de 11 sonetos “inteiramente
baseados no livro biográfico ´Anchieta –
O Apóstolo do Brasil´, do padre Hélio Abranches Viotti, S. J., a quem esse
rosário foi dedicado.”
ANTOLOGIAS
POÉTICAS
Dentre
as inúmeras antologias que Adélia Victória Ferreira participou, destacam-se:
- “Anuário
de Poetas do Brasil”, 1979, 1980, 1981, 1982 e 1983.
- “O Encanto das Trovas” - Tomo IV -
Estado de São Paulo - Vol. 4.
- “Concurso Nacional de Trovas”, da UBT, Ribeirão
Preto, 1999.
- “Antologia Poética de Pinheiros” - Vol.
VIII, Scortecci Editora, 1990.
- “Trovas
de Velhice” - Editora Guararapes EGM,
2016.
- “Florilégio
de Trovas”, nº 2, maio/2017, organização: José Feldman, Maringá (PR).
- “70
anos da Casa do Poeta Lampião de Gás”,
1948-2018”, Jasa Produções Editora, 2018.
PRÊMIOS
Dentre as
dezenas de prêmios e honrarias conferidos a Adélia Victória Ferreira,
destacam-se:
- 1º
lugar no Concurso Interno da União Brasileira de Trovadores (UBT) - 1982;
- 1º
lugar no III Jogos Florais do Rio de Janeiro (RJ), ganhando também duas menções
honrosas - 1982;
- 1º
lugar no I Concurso Nacional de Trovas de Mauriceia (PE) - 1982;
- 1º
lugar no Concurso Nacional de Macaé (RJ) - 1983;
- 1º
lugar no II Concurso Nacional de Trovas de Tambaú (SP) - 1983;
- 1º
lugar no I Concurso Nacional de Trovas de São Paulo (SP) - 1983;
- 1º
lugar no II Concurso de Trovas de Vila Isabel, Tijuca e Grajaú (RJ) - 1984;
- 1º
lugar no II Concurso Interno da UBT-SP, recebendo também menção especial -
1984;
- 2º
lugar no IV Jogos Florais de Caçapava (SP) - 1983;
- 6º
lugar no V Jogos Florais de Alegre (ES) - 1984;
- 1º
lugar nos Jogos Florais de Campos (RJ) - 1984;
- 3º
lugar no Concurso de Trovas do Grupo Literário e Artístico Antônia de Castro,
Ilha do Governador (RJ) - 1985;
- 5º
lugar no VIII Jogos Florais de Resende (RJ) - 1987.
- Co-vencedora do Concurso de Trovas de Rio Novo (MG)
- 1992.
-
1º lugar no II Concurso Assoc. R. F.
Vilas de Portugal, São Paulo - 1992.
- 3º lugar no Concurso de Trovas de Nova Friburgo
(RJ) - 1993).
- 9º lugar no Concurso Nacional de Trovas da UBT - 1999.
- 1º
lugar no Concurso de Trovas de Nova
Friburgo (RJ) - 2002.
MENÇÕES HONROSAS E ESPECIAIS
- Menção
especial no Concurso de Trovas do Consulado de Portugal em São Paulo e União
Brasileira de Trovadores (UBT) - 1981;
- Menção
especial no I Jogos Florais de S. Bernardo do Campo (SP) - 1981;
- Menção
honrosa no Concurso de Trovas da UBT - Região Sul - Santos (SP) - 1981;
- Menção
honrosa no Concurso de Trovas Esporte, Nova Iguaçu (RJ) - 1981;
- Menção
honrosa nos Jogos Florais de Santos (SP) - 1982;
- Menção
honrosa no III Concurso de Trovas da Associação de Cultura Luso-Brasileira de
Juiz de Fora (MG) - 1982;
- Menção
honrosa no I Concurso Nacional de Trovas de Tambaú (SP) - 1982;
- Menção
honrosa no III Concurso Nacional de Trovas do Clube dos Trovadores de Vila
Velha (ES) - 1982;
- Menção
honrosa do I Concurso de Trovas da Drogazeta e UBT-SP - 1982;
- Menções
honrosas nos IV Jogos Florais de Sete Lagoas (MG) - 1982;
- Menção
especial no XVI Jogos Florais de Niterói (RJ) - 1983;
- Menção
honrosa no Concurso Interno da UBT-SP - 1983;
- Menção
honrosa no I Concurso de Trovas “Artesanato Paulista da SUTACO-SP” - 1984;
- Menção
especial no I Concurso Nacional de Trovas do Elos Club de S. Paulo - 1984;
- Menção
especial no II Concurso Interno da UBT-SP - 1984;
- Menção
honrosa no II Concurso Nacional de Trovas de São Paulo - 1984;
- Menção
especial no III Concurso Nacional de Trovas de Tambaú (SP) - 1984;
- Menção
honrosa no IV Concurso Nacional de Trovas da UBT, Natal (RN) - 1984;
- Menção
especial no Concurso Primavera - Praia Flores, da UBT, Santos (SP) - 1984;
- Menção
honrosa no III Jogos Florais de S. Bernardo do Campo (SP) - 1984;
- Menção
honrosa no I Jogos Florais de S. Jerônimo da Serra (PR) - 1985;
- Menção
honrosa no Concurso Nacional de Trovas da Irmandade Antialcoólica de Niterói
(RJ) - 1985.
- Menção especial no Concurso de Trovas de Niterói
(RJ) - 1986.
- Menção especial no Concurso de Trovas de São Paulo
(SP) - 1986.
- 4ª Menção honrosa no VII Concurso de Trovas de Taubaté (SP) - 1988.
- Menção honrosa no XVI Concurso Nacional de Trovas
do Rio Grande do Norte - 1996.
SONETOS
Adélia
Victória Ferreira cultivou o soneto como forma superior de expressão poética,
sendo considerada uma das melhores sonetistas brasileiras. Selecionamos alguns
sonetos de sua vasta produção:
O tempo e a gente
Senhor,
estrelas nascem na espiral do espaço,
Enquanto,
agonizantes, outras mais se apagam;
Este
universo imenso, em rápido compasso,
Galáxias,
volteando, estuando, circunvagam.
É
imenso teu reinado, fértil teu regaço!
Imersas
no Infinito, estrelas nos afagam
Os
sonhadores olhos num total abraço
E
calam nos mistérios em que eles divagam...
Senhor,
nós, – pobres seres de
espiral tão breve
No tempo de viver, –
que somos nós no acerto
Das contas, afinal? É
tolo o que se atreve
Julgar, sobre os
iguais, pairar na humana estrada
Pois vê que, nesse
eterno e sideral concerto,
Milhoes de sóis no
negro vácuo somam: Nada!
(De “Cantos de Amor à Vida”, 1978)
***
O rosário de Anchieta (I)
Era
uma vez... Trajando uma batina preta,
Arcado
o torso magro, em curva atestatória
Da
prece... um jesuíta, um padre... era Anchieta;
Surgiu
logo no albor da brasileira história.
Viveu
fugindo, sempre, aos toques de trombeta
Que,
em sua milagrosa e humana trajetória,
Devia
receber dos homens. A faceta
Mais
radiante nele era furtar-se à glória.
Foi
piedoso e santo e foi, também, o filho
De
Deus, cuja mansão, edênica, inefável,
Aos
índios descerrou. Quem da Virgem o brilho
Em
versos exaltou... Mas, servo da humildade,
Insistia
em fazer calar, irrecusável,
Os
testemunhos mil de sua santidade...
(De “Catálise”, 1985)
***
Amor que não tem preço
Depois
que te perdi, só depois, mãe querida,
Notei
que me fugira um bem que não tem preço,
O
maior bem do mundo, o melhor desta vida,
E,
se um dia existiu igual, não o conheço.
Ternura
ardente e casta, oculta em manto espesso
De
preocupações, quando não, diluída
Nesse
olhar, cujo certo e único endereço
É seu
filho, que a fez vaidosa ou mais sofrida.
Depois
que te perdi, só depois... (como forço
O
espírito a afastar a constante tortura!...)
É
que a mente me invade um dorido remorso
De
não ter, junto a ti, quando então me fitavas,
Com
mil beijos provado esta minha ternura,
Num
reflexo do amor imenso que me davas!
(Blog O Secular Soneto)
***
A grande dúvida
Levado
pela vida aos trancos e barrancos,
A
defrontar um vento eterno a desfavor,
Tentando,
desde a infância a meus cabelos brancos,
Tirar
do mal um bem, do frio algum calor;
Numa
existência dura, a duros solavancos,
Levado
à frente só por íntimo valor
Para
enfrentar marés contrárias e aos arrancos
Que
imprimem atração a tração ao passo vencedor,
Indago-me
ao deixar para trás este mundo,
Ao
despir-me do corpo, ao fim, perdido o alento,
Para
enfrentar, lá em cima, aquele olhar profundo
A
prometer-me paz, à luz da eternidade,
Eu
que, senti prazer nos vãos do sofrimento,
Será
que tendo paz, terei felicidade?...
(Fanal)
***
A Árvore e o Homem
...E
Deus me disse: Nascerás primeiro,
Serás
o ar, o teto, o alimento
Daquele
que – meu filho
verdadeiro –
Receberá
de ti todo o sustento!
E
tu vieste e que contentamento
Em
te ofertar, pelo planeta inteiro,
Calor,
pão, vinho, teto e desse alento
De
que és, para viver, prisioneiro!
Porém...
trocaste a vida natural,
Que
me ligava a ti, pelo veneno
Da
vida poluída artificial . . .
E,
hoje... destruidos, os meus restos somem
Por
toda a terra . . . E meu adeus te aceno.
Mas...
que será de ti, sem mim, pobre Homem...?
(De “Poesias ao Sol”, 1984)
***
Tempo Presente
–
Discutir o Presente? É falar de utopia!
Ele é
simples bocal de acanhada abertura
Que a
matéria do Tempo, em veloz travessia,
Do Futuro
ao Passado, esfaimada perfura!
O lampejo
fugaz de uma luz fugidia
É esse
vulto que passa e passando fulgura,
Ao
tomar-se um “já fui” na roldana macia
Que
impulsiona ao Passado a existência futura.
Ao
dizeres “eu sou!”, já não és! Terás sido!
O que
foste partiu nos embalos da voz,
Mero “z”
de um corisco entre o antes e o após...
Na
ampulheta, é o gargalo, o funil reduzido
Que as
areias do Instante, ansiando viver,
Atravessam
fulgindo e... deixando de ser.
(Blog Singrando Horizontes, 2019)
***
Até um dia, Rute!
À memória de Rute Miranda Sirilo
Repousaste,
querida, e Deus te abriu os braços
E
disse: – Rute, vem! Tua taça de dor
Esgotaste.
Da Terra solta, agora, os laços,
E
vem provar, nos céus, do meu imenso amor!
Foste
pura e bondosa e meiga. Nos teus passos,
Por
todo teu viver, teu fraternal calor
Fluindo,
em outras almas, espalhou seus traços,
Banhando
teu redor de encanto e dulçor.
Sofreste
muito, eu sei, no terminal da estrada.
É
a dívida terrena. E é paga pelo justo
Para
alcançar depressa a celestial morada.
Aquele
que a um sofrer acerbo, assim confranjo
É
o que há de se instalar junto a teu rosto augusto.
Vem
filha! Foste santa. Aqui, serás um anjo!
(Jornal “Alto Madeira” [de Rondônia], nº
14.463, 6/3/1983)
HINO À LAPA
Em
1973, Adélia Victória Ferreira escreveu a letras do “Hino da Lapa”, com música do maestro Victor Barbieri:
Sou a Lapa, guardiã do passado
Onde o tempo parece parar.
Num presente ele é aqui transformado
Nas lembranças que o fazem voltar
Onde o tempo parece parar.
Num presente ele é aqui transformado
Nas lembranças que o fazem voltar
Solo:
Eu sou a Lapa
de encantos mil
Honro São Paulo
Honro São Paulo
Honro o Brasil;
Ontem fui grande
Ontem fui grande
Hoje maior.
E no futuro
E no futuro
Ainda melhor.
Sou também do presente apressado
Alinhada aos mais novos pendores
Em indústria, em comércio, em mercado,
Arte e ciência, tenho altos valores.
Alinhada aos mais novos pendores
Em indústria, em comércio, em mercado,
Arte e ciência, tenho altos valores.
Solo: Eu sou a Lapa...
Do porvir nada temo, pois forte
Sempre foi o meu povo operoso
Sei que bela será minha sorte
E o amanhã promissor e grandioso.
Sempre foi o meu povo operoso
Sei que bela será minha sorte
E o amanhã promissor e grandioso.
Solo: Eu sou a Lapa...
HOMENAGENS
Em 2017, Wilson de Oliveira Jasa, poeta, escritor,
jornalista, sonetista e trovador, escreveu um poema em homenagem a Adélia
Victória Ferreira. Wilson Jasa fundou
diversas entidades poéticas; também é membro e presidente do Movimento Poético
em São Paulo, Casa do Poeta “Lampião de Gás”, de São Paulo etc.
Adélia Victoria Ferreira
Querida Adélia Victória
Ferreira, grande mulher;
tem marcante trajetória,
e sabe bem o que quer.
Ferreira, grande mulher;
tem marcante trajetória,
e sabe bem o que quer.
Na Poesia faz história,
pois num momento qualquer;
cria na sua memória,
melhor verso que puder.
pois num momento qualquer;
cria na sua memória,
melhor verso que puder.
Muitos concursos venceu,
de Poesia e mereceu;
porque Adélia é sumidade.
de Poesia e mereceu;
porque Adélia é sumidade.
Foi presidente da Casa
do Poeta e mantém a brasa,
com versos de qualidade.
do Poeta e mantém a brasa,
com versos de qualidade.
(1/5/2017)
O poeta e trovador matogrossense do sul Renato Baéz,
numa coleção de trovas que escreveu homenageando os principais trovadores do
país com os quais tinha amizade, também incluiu Adélia Victória Ferreira:
São autores de obra prima:
Antônio Urbano Ferreira,
Brandina da Rocha Lima
ou Adélia V. Ferreira.
TROVAS SELECIONADAS
Esta seleção de 33 trovas de Adélia Victória Ferreira
foi publicada no site “Florilégio de Trovas”, em 2017:
A
fantasia é um brinquedo
para
instantes enfadonhos:
nos
porões – varrendo o medo,
na torre – embalando os sonhos...
Ao sofrer
uma agressão
a terra
não choraminga
nem
esboça reação,
mas...
cedo ou tarde, se vinga…
Circo de
lona... de estacas,
pobre, no
mundo a vagar...
E nessas
bases tão fracas
o riso
escolheu morar...
Com a
lembrança marcada
por
sofrimentos de outrora,
igual à
pomba assustada
eu fujo
aos sonhos de agora.
Esperança
é a caminhante
que, ora
animada, ora triste,
vai,
teimosa, mais adiante,
quando a
Certeza desiste.
Lago
imóvel, preguiçoso,
que se
espera repousante,
o sempre
é um sonho enganoso
que só na
perda é constante.
Meu olhar
é um girassol,
avidamente
a buscar
entre a
aurora e o arrebol
o
astro-rei do teu olhar!
Minha
vizinha é tão feia
que,
aparecendo à janela,
o furacão
a rodeia
com medo
de tocar nela!
Na pinga
e de pito aceso,
pega a
bela, o Serafim,
que no outro
dia vai preso
nos
braços de... um manequim,..
Na sala,
a rica exibida
mostra o
vaso e a amiga exclama:
– Mas...
esse vaso, querida,
se
usava... embaixo da cama!…
No amor
não raro acontece
estranha
feitiçaria:
quando a
vontade aparece
desaparece
a energia…
No
entrechocar das espadas,
que a
ambição maneja a fundo,
como
esperar alvoradas,
se a luz
é expulsa do mundo?...
No
mistério de seus planos
vai, o
futuro inclemente,
burilando
os desenganos
que irá
nos dar de presente!
O grande,
na trajetória
que
palmilha passo a passo,
recebe em
silêncio a glória
como
recebe o fracasso.
O pato, à
pata, zangado:
– Qualquer
um pode notá-lo!
Aumentas
teu rebolado
quando
passas pelo galo!
O Sábio
avança e recua
sobre um
mistério esquisito,
onde um
termo continua
termo sem
termo... Infinito!…
O sol,
filetando o olhar,
pelo
arvoredo introduz
agulhas
para bordar
bailados
de sombra e luz.
Para a
saudade que anela
voltar à
ventura morta,
o passado
abre a janela,
mas nunca
destranca a porta...
Pelos
gênios fascinado,
me
indago, com inquietude,
se a
inveja será pecado;
se o que
se inveja é... virtude..
Por nosso
irmão não se conta
quem
apenas nos exalta
e, sim,
quem também aponta,
censurando
a nossa falta.
“Pra que
rouge?” – indaga a Tita,
à mãe
vaidosa que o aplica.
“Pra que
eu fique mais bonita!”
E a
filha: “Por que não fica?...”
Quando,
mãe, o tempo ingrato
em bruma
a lembrança envolve,
bendigo o
velho retrato
que teu
rosto me devolve!
Quem só
conhece negrume
por onde
os passos conduz,
no piscar
de um vagalume
pode
aprender o que é luz.
– Raio de
bicho malandro! –
o
astronauta geme e sua
e a
pulga, em seu escafandro,
vai de
carona pra lua…
Recorre
ao bom-senso e ordena
teu
viver, pelo vivido.
O que o
passado condena
não deve
ser repetido.
Se era às
crianças que um vulto
no escuro
punha assustadas,
hoje o
temor é do adulto
que anda
à noite nas calçadas…
Sem o
amor, que é fantasia,
a vida,
que é realidade,
transporta
mala vazia
no rumo
da eternidade.
Se os
meus juízes confundo
com falsa
argumentação,
recebo o
perdão do mundo,
mas não
meu próprio perdão.
– Se te
vais, por gentileza,
deixa a
porta sem trancar!
Não me
roubes a certeza
de que
logo irás voltar!
Silencioso,
palmo a palmo,
irreversível,
tirano,
o tempo
devora, calmo,
todo e
qualquer sonho humano...
Sol e
sombra na floresta
e uma
brisa, erguendo a mão,
rege os
compassos da festa
de sombra
e luz, pelo chão.
Torna um
sonho em realidade
e verás,
com ironia,
que, por
mais que ele te agrade,
foi mais
bela a fantasia.
Vivo a
sonhar: Quem me dera
que eu, no
amor sempre frustrado,
em vez de
ficar à espera,
um dia
fosse o esperado.
PREFÁCIOS E
COMENTÁRIOS
Adélia
Victória Ferreira, entre outros, prefaciou os livros:
“Florações da Primavera”,
da sonetista Noemise Machado de França Carvalho (1906-2008), destacando [...] “sua
cultura lhe permite manejar as riquezas da língua pátria com arte e maestria” e [...] “seu conhecimento musical transmite ao verso
cadência perfeita e cativante, eterna em sua poesia. E sua inspiração colhe
seixos brutos pelo caminho e os lapida transformando-os em gemas ofuscantes que
ela incrusta no diadema dos versos. Noemise é perfeita, é única, é inimitável.”
“Poemas” (Shogun Editora, 1986), de Wanderlino
Teixeira [...] "Wanderlino é um
poeta filósofo, completamente fora de série ou de escolas. Não copia ninguém,
não se submete a formalismos. Tem sua própria e magnífica musicalidade; trata
as ideias de forma tão original e graciosa que não pode sequer ser imitado!
Isso porque penetra na essência das ideias. Modela-as, lustra-as, e as torna
obras de arte com seu raro conhecimento da língua pátria e com seu espírito
perspicaz, arteiro, evocando-nos o dos gnomos das antigas lendas." [...]
“Poesias ao Sol” (Edição do
Autor, 1984), de Hélio José Déstro, cirurgião-dentista e poeta – “Ao iniciar a leitura dos poemas de Hélio José Déstro, não imaginei o
que iria encontrar. À medida que avancei, mais e mais me empolguei com a
descoberta – nos dias de hoje – de um espírito poético fantasticamente puro.
[...] Hélio deve ser um poeta que para seu carro em meio à maior confusão de
trânsito, e, sob impertinentes buzinadas, gritos, imprecações, apitos de
guardas, abre a porta e, calmamente, de pé, do lado de fora, escre seus poemas
num guardanapo de papel, sobre o capô do carro; ou que para, em meio a um
tratamento de canal de dente, para transferir ao papel a poesia que lhe vai na
mente, sobre o tipo de reação do paciente... [...].
“Reticências”, do professor Sebas Sundfeld
(1924-2015) – “Seus trabalhos são de uma
versatilidade tal, que, se você, Sebas, fosse mais audaz e multiplicasse as
edições, espalhando-as pelo País, estou certa que teriam repercussão
internacional.”
Sobre a poetisa e trovadora Vanda Fagundes Queiroz
(autora de “Uma luz no caminho”, “Trajetória”, “Descortinando Poesia”, “Conversa
Calada” e “Uma candeia na janela”)
– “Vanda não precisa de apresentações ou
apologistas. Sua arte fala por si. Basta conhecê-la para se constatar que ali
se desvenda uma das maiores poetisas brasileiras da atualidade”.
TROVAS DISPERSAS
Além
das trovas publicadas no livro “Catálise – Trovas e
Sonetos” (1985),
muito da produção poética de Adélia Victória Ferreira está espalhada por dezenas
de sites e blogs literários. Conseguimos garimpar as trovas abaixo, com os
respectivos créditos:
De
madrugada, em surdina,
filha da noite fechada,
surge, faminta, a neblina
e engole as curvas da estrada!
filha da noite fechada,
surge, faminta, a neblina
e engole as curvas da estrada!
(Menção Honrosa - XVI Concurso Nacional de Trovas do
RN, 1996 - Blog Falando de
Trova, 1996)
***
No
amor não raro acontece
estranha
feitiçaria:
quando
a vontade aparece,
desaparece
a energia...
(Blog Singrando Horizontes, 2016)
***
Saudade
é tarde chorando
um
tempo em que foi aurora,
ao
ver a noite levando
o
brilho do sol embora.
(“Trovia”, Revista Virtual de
Trovas, nº 147, março/2012)
***
Ao
sofrer uma agressão
a
terra não choraminga
nem
esboça reação,
mas…
cedo ou tarde, se vinga…
(Antologia Poética de Pinheiros - Vol.
VIII)
***
Dia da Bandeira - 19 de novembro
Ama,
criança, a Bandeira,
e,
por onde quer que vás,
toda
a Terra brasileira
no
teu peito encontrarás!
(“Tribuna do Norte”,
Pindamonhangaba, nº 8.444, de 13/11/2014)
***
Dá,
mãe, calça comprida
e,
num trauma repentino,
vê
que a pessoa crescida,
lhe
roubou o seu menino...
(9º lugar, Concurso Nacional de Trovas
da UBT, 1999)
***
Tiradentes (Liberdade)
Sem
laços, independentes,
os
seus elos, à vontade,
mão
se submete a correntes,
a
essência da Liberdade!
(“Adepom News”, nº 126, abril/2013).
***
Lutemos
pela defesa
Das
matas e de ar mais puro!
Só
o respeito à Natureza
Pode
nos dar um futuro!
(“Seleções em Folha”, nº 2,
fevereiro/2002)
***
Se
a velhice tem direito
de,
ao sonho e às forças, dar fim,
por
que não mata, em meu peito,
o
jovem que existe em mim?...
O grande,
na trajetória
que
palmilha passo a passo,
recebe em
silêncio a glória
como
recebe o fracasso.
(Revista Trovar, nº 145, janeiro/2017)
***
Já
o cantei pra nós dois
Mas
isso foi no passado
Já
que assim é, seja assim
Já
me esqueceste depois
Já
cada qual tem seu fado
O
mais feliz é o teu, tenho a certeza
É
o fado da pobreza
Que
nos leva à felicidade
Se
Deus o quis
Não
te invejo essa conquista
Porque
o meu é mais fadista
É
o fado da saudade
(Folhetim Literário Desiderata, nº 4)
***
Sedenta
do teu carinho,
imagino em sonhos vãos,
tuas mãos tecendo um ninho
para aninhar minhas mãos...
imagino em sonhos vãos,
tuas mãos tecendo um ninho
para aninhar minhas mãos...
(Blog de Airton Soares)
***
Saudade é tarde chorando
um tempo em que foi aurora,
ao ver a noite levando
o brilho do sol embora.
um tempo em que foi aurora,
ao ver a noite levando
o brilho do sol embora.
(Balaio de Trovas)
***
Em
jogo triste ou risonho
e
sempre em contrapartida,
a
vida alimenta o sonho
e
o sonho alimenta a vida.
(Blog Filemon Martins, 2016)
***
Certeza
Se te vais, por gentileza,
deixa a porta sem trancar...
Não me roubes a certeza
de que logo irás voltar!
(Blog
Pedro Melo)
***
Julguei-me
livre da cobra,
qual não foi a decepção
vendo, ilesa, minha sogra
no olho do furacão!...
qual não foi a decepção
vendo, ilesa, minha sogra
no olho do furacão!...
Minha
vizinha é tão feia
que, aparecendo à janela,
o furacão a rodeia
com medo de tocar nela!
que, aparecendo à janela,
o furacão a rodeia
com medo de tocar nela!
(Menções honrosas no XVI Jogos Florais de Bandeirantes/PR)
***
Minha
mulher tanto embirra
que os vizinhos ao porão
se recolhem se ela espirra,
com medo de furacão!
que os vizinhos ao porão
se recolhem se ela espirra,
com medo de furacão!
(Falando de Trova, 1999)
***
Esperança é a caminhante
que, ora animada, ora triste,
vai, teimosa, mais adiante,
quando a Certeza desiste.
que, ora animada, ora triste,
vai, teimosa, mais adiante,
quando a Certeza desiste.
(Conc.
Elos Club ABC 2000)
***
Para a
saudade que
anela
voltar à ventura morta,
o passado abre a janela,
mas nunca destranca a porta...
voltar à ventura morta,
o passado abre a janela,
mas nunca destranca a porta...
(Pindamonhangaba,
2000)
***
O auxílio
cristão atua
com a maior discrição,
indo da concha da tua
para a concha de outra mão.
com a maior discrição,
indo da concha da tua
para a concha de outra mão.
(Itanhaém/SP,
1999)
***
Torna um
sonho em
realidade
e verás, com ironia,
que, por mais que ele te agrade,
foi mais bela a fantasia.
e verás, com ironia,
que, por mais que ele te agrade,
foi mais bela a fantasia.
(Barra do
Piraí, 1999)
***
No
entrechocar das espadas,
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?...
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?...
Por nosso
irmão não se conta
quem apenas nos exalta
e, sim, quem também aponta,
censurando a nossa falta.
quem apenas nos exalta
e, sim, quem também aponta,
censurando a nossa falta.
(Vencedora Pouso Alegre, 1995)
***
Quando,
mãe, o tempo
ingrato
em bruma a lembrança envolve,
bendigo o velho retrato
que teu rosto me devolve!
em bruma a lembrança envolve,
bendigo o velho retrato
que teu rosto me devolve!
(3º lugar
Nova Friburgo, 1993)
***
Circo de lona... de
estacas,
pobre, no mundo a vagar...
E nessas bases tão fracas
o riso escolheu morar...
pobre, no mundo a vagar...
E nessas bases tão fracas
o riso escolheu morar...
(Co-vencedora
em Rio Novo/MG - 1992)
***
Silencioso,
palmo a palmo,
irreversível, tirano,
o tempo devora, calmo,
todo e qualquer sonho humano...
irreversível, tirano,
o tempo devora, calmo,
todo e qualquer sonho humano...
(“Calma” - Menção honrosa em Rio Novo (MG), 1988)
***
A fantasia é um brinquedo
para instantes enfadonhos:
nos porões – varrendo o medo,
na torre – embalando os sonhos...
para instantes enfadonhos:
nos porões – varrendo o medo,
na torre – embalando os sonhos...
Sol e
sombra na floresta
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os compassos da festa
de sombra e luz, pelo chão.
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os compassos da festa
de sombra e luz, pelo chão.
O grande,
na trajetória
que palmilha passo a passo,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso.
que palmilha passo a passo,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso.
Lago
imóvel, preguiçoso,
que se espera repousante,
o sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.
que se espera repousante,
o sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.
Se
te vais, por gentileza,
deixa a porta sem trancar.
deixa a porta sem trancar.
Não
me roubes a certeza
de que um dia irás voltar!
de que um dia irás voltar!
(Menção
Especial em Niterói, 1986)
***
O iludido não se cansa
de aceitar gostosamente,
os convites da esperança,
mesmo ao saber que ela mente...
No
entrechocar das espadas,
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?
(1º lugar Nova Friburgo, 2002)
***
O
sol, filetando o olhar,
pelo arvoredo introduz
agulhas para bordar
bailados de sombra e luz.
pelo arvoredo introduz
agulhas para bordar
bailados de sombra e luz.
Se os meus juízes confundo
com falsa argumentação,
recebo o perdão do mundo,
mas não meu próprio perdão.
com falsa argumentação,
recebo o perdão do mundo,
mas não meu próprio perdão.
Sol e sombra na floresta
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os compassos da festa
de sombra e luz, pelo chão.
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os compassos da festa
de sombra e luz, pelo chão.
O grande, na trajetória
que palmilha passo a passo,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso.
que palmilha passo a passo,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso.
Lago imóvel, preguiçoso,
que se espera repousante,
sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.
que se espera repousante,
sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.
(Menção
especial São Paulo, 1986)
***
Se
te vais, por gentileza,
deixa a porta sem trancar.
Não me roubes a certeza
de que um dia irás voltar!
deixa a porta sem trancar.
Não me roubes a certeza
de que um dia irás voltar!
(1º lugar - Nova Friburgo 2002)
***
O
iludido não se cansa
de aceitar gostosamente,
os convites da esperança,
mesmo ao saber que ela mente...
de aceitar gostosamente,
os convites da esperança,
mesmo ao saber que ela mente...
No
entrechocar das espadas,
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?
que a ambição maneja a fundo,
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?
O
sol, filetando o olhar,
pelo arvoredo introduz
agulhas para bordar
bailados de sombra e luz.
pelo arvoredo introduz
agulhas para bordar
bailados de sombra e luz.
Se os meus juízes confundo
com falsa argumentação,
recebo o perdão do mundo,
mas não meu próprio perdão.
com falsa argumentação,
recebo o perdão do mundo,
mas não meu próprio perdão.
Sol e sombra na floresta
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os compassos da festa
de sombra e luz, pelo chão.
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os compassos da festa
de sombra e luz, pelo chão.
O grande, na trajetória
que palmilha passo a passo,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso.
que palmilha passo a passo,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso.
Lago imóvel, preguiçoso,
que se espera repousante,
sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.
que se espera repousante,
sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.
(Menção
Especial - São Paulo 1986)
***
Por
uma estranha ironia,
difícil
de se explicar
não
há maior alegria
que
aquela que faz chorar.
(Blog de
Lavras de Palavras, 2016)
***
Com
a plangência de um sino
que anima a oferta da prece,
Fêgo Camargo é o violino
que Taubaté não esquece!
que anima a oferta da prece,
Fêgo Camargo é o violino
que Taubaté não esquece!
(4ª Menção
honrosa - VII Concurso de Trovas de Taubaté, 1988 - Blog Falando de Trova)
***
É
nas horas de fraqueza,
quando
o medo em mim flutua,
que
a minha mão sem firmeza
navega,
buscando a tua.
(1º lugar II
Concurso Assoc. R. F. Vilas de Portugal-SP, 1992 - Blog Falando de Trova)
***
Carona
Formiga, evite a carona
que lhe oferece o elefante!
Sabe lá o que ele ambiciona
quando chegar adiante?...
que lhe oferece o elefante!
Sabe lá o que ele ambiciona
quando chegar adiante?...
(5º lugar
VIII Jogos Florais de Resende-RJ, 1987) - Blog Falando de Trova)
***
Meigo animal, sob a canga,
lavra o campo e, em vai-e-vem,
leva um sino que se zanga,
na zanga que o boi não tem...
lavra o campo e, em vai-e-vem,
leva um sino que se zanga,
na zanga que o boi não tem...
(Menção
especial - XIV Jogos Florais de Niterói-RJ, 1984 - Blog Falando de Trova).
Sobre o dilúvio,
a boiar,
o Mal entre as ondas erra
e, antes da barca atracar,
repõe as garras na Terra.
o Mal entre as ondas erra
e, antes da barca atracar,
repõe as garras na Terra.
(21º lugar II
Concurso de Trovas da ABT, 1992 - Blog As Memórias de Dimas)
Bendiz
teu chão, de mãos posta,
por
ser terra boa e sã,
se
ele te traz, em resposta,
de
uma semente – a
maça!
(Jornal O Pioneiro de Caxias do Sul,
117, 19-4-1986)
O AUTOR
ROBERTO
FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo.
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