Em
junho de 1911, o ministro plenipotenciário da Rússia no Brasil, conde Pedro (ou
Pierre) Maximow, acompanhado de Oscar Löfgren, inspetor de Imigração de Santos,
visitaram o Vale do Ribeira, em especial a cidade de Iguape e a colônia de
Pariquera-Açu, onde haviam se estabelecido imigrantes russos.
Curiosamente,
a imprensa paulista e cariosa não deu destaque a essa visita à nossa região,
nada publicando a respeito. Por isso, não conseguimos localizar a data exata
que o ministro russo veio ao Vale do Ribeira. Mas foi possível estabelecer um
período aceitável. Pela leitura dos jornais, ficamos sabendo que, no dia 5 de
junho, o ministro Maximow chegava a São Paulo, sendo recebido pelo presidente
do Estado (cargo hoje equivalente a governador) Albuquerque Lins. A 9 de junho,
seguia para o núcleo colonial de Nova Odessa (SP) afim de conhecer a situação
dos colonos. A 15 de junho, o ministro chegava a Santos, “procedente de Iguape”; e a 16 de junho, chegava a São Paulo, “vindo de Iguape”. Com base nessas
informações veiculadas pela imprensa da época, é lícito aceitar-se que o
ministro russo veio a Iguape e Pariquera-Açu entre os dias 10 e 14 de junho.
Gravura do ministro Maximow, em 1915. (Foto: “A Noite” (RJ), nº 1.404, de 18/11/1915). |
Primeiramente,
o ministro Maximow visitou a cidade de São Paulo, onde permaneceu por alguns
dias e assistiu aos exercícios realizados pela Força Pública do Estado,
dirigidos por instrutores franceses contratados pelo governo do Estado. Em
seguida, seguiu para Santos, de onde partiu para Iguape, com a intenção de
visitar o núcleo colonial de Pariquera-Açu.
A
excursão a Iguape foi feita no rebocador “São
Paulo”, da Alfândega santista, que foi gentilmente cedido pelo inspetor
dessa repartição, Oscar Löfgren, que acompanhou o ministro. Pedro Maximow
agradeceu o “fino trato que lhe foi
dispensado pelo comandante e guarnição dessa elegante embarcação, durante a
viagem”. (1)
Antes
da chegada do ministro Maximow à colônia de Pariquera-Açu, cerca de 60 famílias
russas haviam saído dali. O ministro conversou com elas, mas não conseguiu convencê-las
a retornarem aos seus lotes. Com certeza, o motivo da evasão desses russos foi
a falta de condições que oferecia a colônia, devido ao descaso das autoridades
estaduais, e mesmo iguapenses, considerando que a colônia de Pariquera-Açu
então pertencia ao município de Iguape.
Em
setembro desse ano, um memorando publicado em São Petersburgo, Rússia, sobre
essa visita, certamente redigido pelo ministro Maximow, dava as suas impressões
a respeito da colônia de Pariquera-Alu:
“As terras
marginaes do rio Ribeira são brejosas, cobertas de mattas ou pedregosas. Os
colonos, não acostumados ao clima das vastas baixadas cobertas de brejaes,
adoecem com febres e outras moléstias, não conhecidas na terra de sua origem.
Os lotes cobertos de mattas não servem para a lavoura. Em geral não se presta o
terreno em São Paulo para a cultura de gramíneas, com excepção do arroz, sendo
unicamente approveitavel para batatas. Em São Paulo não há terra preta,
predominando o barro cinzento-azul, areia e pedras. Os immigrantes encontram na
sua chegada em São Paulo circunstancias estranhas aos seus hábitos e soffrem
prejuízos na sua saúde, causados pelo clima e pela diversidade da alimentação.
Não existem estradas no valle do rio Ribeira. O trafego pelos vapores, tanto
marítimo como fluvial, é irregular e caro; mesmo os brasileiros alli se queixam
constantemente disso. A colônia de Pariquera-assú é uma das mais miseráveis e,
a respeito do clima, uma das peiores de todo o Brasil. Nos annos de 1890 a 1910
já foram localizadas alli numerosas famílias de Plock e a 10 annos atráz muitos
emigrantes da Galizia; mas quasi todas abandonaram a colônia e mudaram-se para
o Paraná. Em vista do exposto, officialmente deve ser prohibida a emigração
para aquella zona.” (2)
O
jornal oposicionista “Correio de Iguape” (nº
25, de 5/11/1911) atribuiu essa péssima impressão do ministro russo à má
direção da colônia e também à facção situacionista de Iguape, então chefiada
pelo coronel Jeremias Júnior:
“A facção
situacionista de Iguape, que até agasalho negara aos infelizes immigrantes
russos, coisa até então nunca vista nesta hospitaleira terra, mudou de táctica
e procurando por todos os meios cercar o sr. ministro para evitar que elle
tratasse com os opposicionistas que dizem o ´diabo´ da alludida colônia, levou
o sr. Maximoff com festanças e banquetes á Pariquera-assú. E s. excia.
Agradeceu, como lhe cumpria, elogiando até o seu digníssimo director!
“Difficultem,
embora, uma futura immigração russa, não teremos com isso grandes prejuízos. As
boas terras de Pariquera-assú ninguém nos tirará e não faltarão braços
laboriosos para as tornar úteis! As vias de communicação ainda são
insufficientes, mas serão bastantes dentro em breve.
“O clima não
deixa nada a desejar: é optimo; e qualquer immigrante das zonas temperadas do
velho mundo se aclima sem difficuldade! O azar da colônia de Pariquera-assú é a
má administração; e está será melhorada com toda a brevidade.”
Durante
a excursão, foram tiradas diversas fotografias. Antes de regressar a Petrópolis
(RJ), onde residia, o ministro Maximow dirigiu carta ao presidente do Estado de
São Paulo, Albuquerque Lins, que transcrevemos em parte:
“Permita-me
ainda v. exa. a satisfação de lhe poder dizer uma palavra de minha admiração
muito especial pelo estado, de todo o ponto brilhante, da força pública, cujas
manobras, executadas na minha presença sob a metódica direção do
tenente-coronel Forzinetti, me deixaram uma das mais belas e vivazes
recordações. A precisão, a rapidez que presidiram à execução de todos os
exercícios, bem como a perfeita ordem que observei, são dignos de todo o
elogio, e não se sabe, positivamente, que mais admirar, se os oficiais ou os
soldados.
“Nesses
últimos dias, visitei, em companhia do sr. O. Löfgren, inspetor do serviço de
imigração, em Santos, duas colônias do Estado e teria faltado a um dever do
coração se não tivesse notado o perfeito trato e amabilidade do meu companheiro
de viagem, assim como o acolhimento e dos mais hospitaleiros, por parte das
autoridades de Iguape e da colônia de Pariquera-Açu, a qual se acha, a meu ver,
em plena via de desenvolvimento”.
Pedro Maximow assumiu o cargo de
ministro plenipotenciário da Rússia no Brasil em 6 de maio de 1910. Faleceu em
Petrópolis (RJ) em 20 de novembro de 1915, onde foi sepultado. (3)
NOTAS
(1)
Novo Milênio (http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0182w4.htm).
Acesso em 4/6/2020.
(2)
Correio de Iguape, nº 25, de 5/11/1911, pág. 1
(3)
A Noite (RJ), nº 1.404, de
18/11/1915.
O AUTOR
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br
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