Até o princípio do século XX, quem passasse pelas
encostas do Morro da Espia, em Iguape, podia contemplar toda a exuberância da
fazenda Itaguá, com o seu vistoso sobrado de pedra e cal construído nos anos
coloniais, tendo ao lado o engenho de pilar arroz movido à roda de água.
A fazenda pertencia a uma abastada família da
cidade, mais exatamente ao comendador José Jacinto de Toledo (1785-1854), que
foi agricultor, capitalista e deputado provincial pelo distrito de Iguape
(1850-1851), que então abrangia todo o Vale do Ribeira. Hoje, quem se aventura
pelo local ainda avista as impávidas ruínas que resistem à inexorável ação do
tempo.
O Itaguá tem muitas histórias, guardadas em suas
pedras lavradas por habilidosos canteiros vindos do Reino. Vejamos algumas
delas.
O
fantasma do Itaguá
Todas as noites, um pescador saía de sua casa e analisava
as águas do Mar Pequeno para ver se estavam propícias à pesca. Em certa
ocasião, à meia-noite, o pescador estava sentado na calçada de uma fábrica de
manjuba, que ficava bem em frente à maré.
De repente, apareceu, não se sabe de onde, um homem
vestido de preto e com cartola, que perguntou ao pescador se ele já ouvira
falar do Itaguá. O pescador respondeu que conhecia bem o local, que era um
conjunto de ruínas de uma antiga fazenda de arroz e que hoje ninguém morava lá.
Então, o misterioso homem de preto disse-lhe que
ele fora o proprietário do Itaguá e que lá vivera com a sua família há mais de
cem anos. O pescador ficou perplexo. Porém, antes que pudesse falar alguma
coisa, olhou em volta e se deu conta de que o homem de preto desaparecera...
A Dama do
Itaguá
Certa noite, um professor foi caminhar nas
proximidades do Itaguá. Pelas tantas, surgiu uma dama vestida de branco, muito
bela e formosa, que não disse uma palavra sequer, nem fez qualquer gesto.
Espantado, o professor, sem querer saber quem era a bela dama, debandou em
louca disparada...
A Dama do Itaguá já foi avistada várias vezes.
Alguns garantem que ela é a esposa do fantasma do Itaguá. Um casal romântico e
fantasmagórico!
Os
Garimpeiros do Itaguá
Rezam as crônicas da cidade que, às altas da noite,
quando somente o tétrico piar das corujas e os gritos lancinantes dos morcegos
se fazem ouvir, vários vultos vestidos de negro, saídos sabe-se lá de onde,
começam a escavar determinados lugares do Itaguá.
Algumas pessoas afirmam ter visto tais vultos, os
quais, dizem, estariam procurando pelo ouro que está escondido no subsolo do
local. Alguns mais corajosos tentaram se aproximar desses vultos, mas ao chegar
perto deles, os seres misteriosos corriam atrás dos curiosos,
espantando-os...
Os
piratas do Itaguá
Dizem que, nos anos coloniais, ao tempo em que o
casarão do Itaguá era uma importante fazenda, um navio pirata francês teria
atacado o local. O dono, para proteger a sua fortuna, que era considerável,
mandou um escravo enterrar as joias e moedas num lugar determinado. Porém, o
servo foi morto pelos piratas, sem tempo de informar ao seu amo o local exato
onde enterrara o tesouro, que nunca mais foi localizado nem pelo senhor nem por
ninguém.
Choro de
Pagãos
Segundo os antigos, na fazenda Itaguá morava um
fazendeiro muito rico e igualmente malvado. Certa vez, o insensível senhor teve
a cruenta ideia de mandar atirar, nas imediações da Pedra da Paixão, próxima ao
Itaguá, todas as crianças para que as mães escravas trabalhassem mais e não
perdessem tempo cuidando dos filhos. Dizem que, até alguns anos atrás, ouvia-se
pelas bandas da Pedra da Paixão um lamurioso choro de crianças...
São histórias do Itaguá.
O AUTOR
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).