Cananeia também teve importante participação na história da
mineração do ouro no Vale do Ribeira. Ao que consta, as minas de ouro de Cananeia foram descobertas no ano de
1667 por Luiz Lopes de Carvalho, quando este era administrador das minas de
Itanhaém e São Vicente. Essas minas foram encontradas ao acaso e se
localizavam na serra do Itapitangui, majestosa montanha que se eleva no
continente da cidade de Cananeia.
Praça Martim Afonso de Souza, Cananeia. Foto: Natália Bastos. |
A notícia do
encontro dessas minas se espalhou rapidamente no pequeno povoado. Contudo,
quando tentaram novamente localizá-las, não lograram êxito. Elas só foram
redescobertas, em 1792, pelo sargento-mor Leandro de Freitas Sobral. Segundo os
registros históricos, Sobral voltou posteriormente ao local, desta feita com um
guia e vários mineiros. A exploração dessas minas foi praticada por muitos
anos.
Rezam os
anais da velha cidade quinhentista que foi encontrado muito ouro nas fraldas da
serra do Cadeado, próximo às antigas minas ali descobertas, e também em dois
ribeirões, que hoje são chamados de Cadeado e Cintra. O ribeirão Cadeado assim
foi denominado porque em seu leito foram encontradas duas folhetas de ouro
semelhantes a um cadeado; e o ribeirão Cintra em virtude de seu descobridor
chamar-se Francisco Cintra.
As minas de Cananeia, de acordo com o historiador Antônio Paulino de
Almeida (1882-1969), foram regularmente exploradas até o início de 1800, após o
que a mineração do ouro na vila, devido à escassez do metal, foi finalmente
encerrada.
A vida dos mineiros
que faiscavam ouro pelos sertões do Ribeira não era nada fácil. Apesar de os
proprietários das lavras – que quase sempre residiam nas sedes das vilas, onde
eram donos de sólidos palacetes –, terem uma vida mais confortável, o mineiro
que buscava o ouro de aluvião nos rios da região, ou então nas minas de Apiaí,
Iporanga, Xiririca e Cananeia, levava uma vida toda cheia de privações.
Tudo girava
em função do ouro e cada mineiro tinha a esperança de encontrar uma enorme
pepita ou descobrir um rico aluvião para poder assegurar um futuro tranquilo e
seguro. Mas nem todos conseguiam. Muitos trabalhavam durante longos anos
bateando ouro nos rios e só conseguiam juntar algumas gramas do chamado vil
metal. Alguns poucos, no entanto, se enriqueciam da noite para o dia.
Diversão não
existia e o cotidiano dos mineiros era, dia após dia, vasculhar os rios ou o
interior das minas à cata de ouro. Era uma vida bastante sacrificada, e muitos
morreram movidos pela ilusão de se enriquecerem facilmente. Os sacramentos
religiosos, então, nem é bom falar: somente existia padre na Vila de Iguape
ou, às vezes, em Cananeia, que distavam léguas dos locais onde os mineiros
trabalhavam.
Foi apenas no
dia 8 de agosto de 1691 que o provedor de Paranaguá, Gaspar Teixeira de
Azevedo, nomeou ao frei Antônio de Assumpção para ser o capelão das minas de
ouro do distrito de Iguape (entenda-se por Iguape todo o Vale do Ribeira,
naquele tempo). Frei Assumpção pertencia à Ordem de São Francisco e veio da
Índia Oriental para a região de Iguape.
Como os
mineiros ficavam embrenhados nos sertões do Ribeira, em lugares onde não
existiam povoados próximos, a não ser as vilas de Iguape e Cananeia, era quase
impossível para eles receberem os sacramentos da Igreja e participar de
missas. Por outro lado, a permanência de um padre entre os mineiros tinha
também outro objetivo da parte da Metrópole: concorria até mesmo para o
aumento dos “quintos reais” (ou “quintos dos infernos”).
ROBERTO
FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo.
E-mail: robertofortes@uol.com.br
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