No mês de agosto de 1875, Vicente Lourenço Trant visitou a
cidade de Iguape. Excelente músico que era, pretendia prestar seus serviços na
Festa do Senhor Bom Jesus. Ao chegar, ficou sabendo que o tenente José Antônio
Peniche e Rozo Lucas Lagoa pretendiam comprar, da firma carioca Bouchard &
Aubertie, uma máquina tipográfica, tendo sido já contratado Antônio Sérgio de
Macedo, iguapense que se achava radicado em São Paulo, para ser o diretor dos
serviços tipográficos.
"O Iguapense", nº 15, de 23/7/1876. |
Interessando-se pelo assunto, Trant solicitou a Joaquim José de Oliveira, amigo de Peniche e Lagoa, para que contatasse com eles no sentido de que desistissem da ideia de comprar a tipografia, uma vez que ele se comprometia a trazer de São Vicente uma máquina tipográfica que ali possuía e na qual editava o jornal "O Clarin".
Trant cumpriu sua promessa. Em princípios de abril do ano
seguinte, desembarcou, no cais do antigo Porto Grande, todo o material que
possibilitaria, exatamente no dia 16 de abril de 1876, o nascimento da imprensa
iguapense. Vinha à luz naquele dia o primeiro número do semanário "O
Iguapense", que era impresso na "Tipographia d´O
Iguapense", situada na rua das Neves, no antigo número 25.
Surgia assim o primeiro jornal do Vale do Ribeira.
Em vibrante editorial, o pioneiro jornal assim se
manifestou à respeito de seu aparecimento:
O IGUAPENSE
"Iguape, 16 de Abril de 1876
"(...) É mais um amigo do progresso que pede um logar
entre os seus collegas da imprensa.
"O ‘Iguapense’ é publicado com o único intuito
de satisfazer a necessidade de um jornal já há muito sentida nesta localidade.
"Um jornal é quase tão necessário a uma cidade
civilisada como a palavra escripta ou falada é necessária ao homem,
porque aquele pode ser considerado a voz dessa cidade; ao mesmo tempo é um
signal evidente do seu progresso.
"O Iguapense"não visa a defesa e sustentação de
uma idéa politica; não apparece como o órgão de um partido ou de uma
facção.
"Neste ponto de vista elle oferece columnas aonde cada
um pode manifestar comedidamente seu pensamento, respeitando o dos outros, a
manifestal-o sem descer a questões individuais.
"Promover quanto possível o desenvolvimento moral,
intellectual e material deste municipio e dos circunvizinhos banhados pela
Ribeira de Iguape, patenteando suas necessidades, pedindo a satisfação dellas,
ou sugerindo os meios de satisfazel-as; tornar mais conhecidos os elementos de
que dispõem para o engrandecimento local, afim de que sejam aproveitados por
aquelles, aos quaes, por dever ou amor à terra natal ou ao solo que
pisão, cumpre descurar desses elementos; offerecer aos talentos da mocidade
Iguapense um meio de apresentar suas producções literarias, e assim trazer
estimulo para seu adiantamento; registrar em suas páginas os factos e noticias
dignas de menção, e ser assim a história contemporanea da localidade, dar a
maior publicidade áquelles actos officiaes que necessitam ser bem conhecidos no
interesse geral ou particular, tais são as vistas desta folha.
“Apresentando-se ao publico com estas ideas em que
procurará manter-se, este jornal espera encontrar o appoio que as emprezas
uteis necessitão para que dellas nasção os beneficios que se devem esperar.”
"O Iguapense" se
intitulava o "orgam das Comarcas de Iguape e Xiririca".
Nos primeiros anos, seu editor era o tenente José Antônio Peniche. Em
princípios da década de 1880, Antônio Francisco Pereira ficou sendo o
proprietário do jornal, e no final da década a direção do semanário passou para
Antônio José Ferreira.
"O Iguapense" interrompeu
a sua circulação em princípios de 1877, retornando em agosto do mesmo
ano, sob os auspícios de uma associação formada por moços da cidade. Era um
semanário editado aos domingos, sendo muito prestigiado pelos leitores.
Anos mais tarde, em 1895, talvez por dificuldades
econômicas, "O Iguapense" interrompeu, novamente, a sua
publicação, voltando a circular no dia 20 de março de 1898, sendo publicado
regularmente até princípios do século XX.
(Do livro "Iguape: Nossa História",
de Roberto Fortes).
ROBERTO FORTES,
historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico
e Geográfico de São Paulo. E-mail:
robertofortes@uol.com.br
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Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a
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