A
sensação que tenho é 2020 ainda não começou. Para ser sincero, parece que esse
ano nem está existindo, como se vivêssemos um sonho (ou um pesadelo).
Quando
somos crianças, o tempo demora para passar, e todos queremos chegar logo à
maioridade. Ao atingi-la, os anos desandam, as décadas se sucedem vorazmente, e,
quando menos esperamos, a terceira idade, eufemisticamente chamada de “melhor
idade”, nos pega de jeito.
Quando
tratamos do tempo, cada um vive a sua própria experiência. O tempo de um não é
o tempo de outro. Para quem está sofrendo, ou esperando por algo, o tempo
parece não passar ou, quando muito, parece arrastar-se. Agora, para quem está
vivendo momentos apaixonados ao lado do ser amado, as horas transcorrem como se
fossem minutos.
Durante
séculos, o homem marcou o tempo baseando-se na natureza: nascer e pôr do sol,
estações de calor, frio ou chuva, dia e noite, contando a passagem dos dias pelo
ciclo lunar. Surgiram, depois, as ampulhetas, os relógios de sol, relógios de
água, relógios analógicos, até chegarmos aos tempos modernos, onde tudo é
regido cronometricamente.
Ao
longo da história humana, muitas datas se destacaram no calendário, sendo
motivo de recordação, e mesmo de comemoração. É curioso que quando dividiram a
história em dois períodos – a.C
(antes de Cristo.) e d.C (depois de Cristo) –, esqueceram de incluir o ano zero: o
ano 1 a.C. foi imediatamente sucedido pelo ano 1 d.C!
E
a coisa não parou por aí. Em 1582, para substituir o calendário juliano, criado
por Júlio Cesar em 46 a.C., e até então vigente, o papa Gregório XIII instituiu,
em 15 de outubro daquele ano, o calendário gregoriano, que levou esse nome em
sua homenagem. Só que, para corrigir a defasagem de dez dias do calendário
anterior, foram suprimidos os dias 5 a 14 de outubro. Ou seja, quem foi dormir em
4 de outubro acordou em 15 de outubro: dez dias que ficaram “perdidos” nos
escaninhos do tempo!
Para
alguns, o tempo é uma ilusão, uma construção social, ou mesmo pessoal. Dizem
que para um astronauta que viaja no espaço sideral o tempo passa mais devagar
do que para quem permanece na terra. A luz de uma estrela captada por olhos
humanos ou por potentes telescópios não significa que ela está ali: vemos
apenas a luz de um astro que “morreu” há milhões de anos.
Contamos
os segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos de acordo com rotação
da Terra em seu próprio eixo e a sua translação ao redor do Sol. Se houvesse
vida inteligente, por exemplo, em Júpiter, um dia naquele planeta teria somente
10 horas, e um ano equivaleria a 11 anos terrestres; enquanto, em Plutão, um
dia plutoniano equivaleria a 6 dias terrestres, e um ano corresponderia a 248
anos!
Qual
seria a noção de tempo nesses planetas? Não tenho ideia. A única coisa que não
me sai da cabeça é que 2020 ainda não começou, e pode nem estar existindo.
ROBERTO FORTES,
escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano
de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos
publicados na imprensa do Vale do Ribeira.
E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos
Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a
devida citação dos créditos).
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