Apesar de muitos o considerarem francês,
Albert Camus nasceu em 7 de dezembro de 1913, na Argélia, país que durante
muito tempo foi colônia da França. Bem jovem, lutou pela emancipação de seu
país e, quando morava em Paris, se engajou na Resistência. Como jornalista,
nesse período, trabalhou no polemico jornal “Combat”,
periódico que teve brilhante atuação contra o nazifascismo.
Logo Camus firmou-se como escritor
reconhecido em todo o mundo. Seu primeiro romance, “O Estrangeiro”, publicado em 1940, quando estava com 26 anos,
projetou-o nos meios intelectuais parisienses. Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi
o prefaciador do livro e tornou-se o seu grande amigo. Durante muitos anos
foram os principais representantes do existencialismo francês, apesar de que Camus
nunca se considerou um escritor existencialista, titulo que transferia a
Sartre. No entanto, a amizade não durou para sempre. Polêmicos como eram, um
dia brigaram (devido a critica de Sartre ao livro de Camus, “O homem revoltado”, de 1951) e nunca
mais se reconciliaram.
Em “O
Estrangeiro”, Camus, que recebeu o Nobel em 1957, narra a história de um
homem e de sua impassibilidade diante da morte da mãe. A aparente
“insensibilidade” da personagem camusiana não deve ser entendida em sua
definição literal. Mersault não chorou a perda da mãe porque achava que o
choro, naquele momento, não tinha razão alguma de ser. Para que chorar,
pensava, se ela já estava morta e não voltaria mais ao mundo? Com o seu estilo
breve e direto, Camus conduz a narrativa até o final, quando Mersault é
condenado à guilhotina por ter morto um homem aparentemente a sangue frio.
Durante o julgamento, que é emocionante, o promotor insiste no fato da “insensibilidade” do réu, que, inclusive, não vertera uma
única lagrima quando do falecimento da própria mãe.
O absurdo da condição humana, segundo a
filosofia camusiana, pode ser comparada à história de Sísifo, personagem da
mitologia grega que desafiou os deuses do Olimpo e foi condenado a arrastar
eternamente uma pedra até o topo de um monte, onde tornava a cair para ser
arrastada de novo. Em “O Mito de Sísifo”,
de 1942, Camus reflete que a personagem mitológica, ao descer continuamente
para apanhar a pedra, tem consciência de seu destino. Por isso, Sísifo é
superior ao seu destino e, dessa forma, realizando o seu trabalho absurdo e
inútil, nega os deuses e a montanha. Seu esforço para levar a pedra até o topo
do monte enche o seu peito de felicidade e coloca-o acima dos deuses. Com isso,
Camus quer dizer que o homem pode ser feliz na medida em que ele é consciente
de sua condição. A partir do momento em que se conscientiza do absurdo da vida,
o homem se torna feliz.
Como se para confirmar a sua filosofia do
absurdo, Camus faleceu num acidente automobilístico no dia 4 de janeiro de
1960, nas proximidades de Paris. Segundo o laudo policial, a força do choque
projetou-o na mala traseira, onde foi encontrado com ar calmo e admirado.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é
licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da
Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa
do Vale do Ribeira. E-mail:
robertofortes@uol.com.br
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