Na
“Ilustríssima”, suplemento literário
da “Folha de S. Paulo”, de 10 de
junho último, li que o escritor, poeta e crítico literário Miguel Sanches Neto
participou da antologia “Nova Poesia
Brasileira”, editada em 1985 pela Shogun
Arte. Até aí, nada de anormal. Ocorre que, quase trinta anos depois, ao ler
a biografia “O Mago”, escrita por
Fernando Moraes, Sanches Neto descobriu que o dono daquela editora era nada
menos que o hoje mundialmente conhecido escritor Paulo Coelho!
O
autor de “O Alquimista”, que ainda
não começara a publicar seus livros, editava anualmente quatro edições dessa
antologia poética, cada uma reunindo cem poetas, o que resultava no respeitável
total de quatrocentos poetas a cada ano. Com essas publicações, que eram pagas
em prestações mensais pelos poetas iniciantes, Paulo Coelho conseguia faturar,
em valores atuais, a bagatela de cerca de um milhão de reais por ano.
Sanches
Neto é um dos mais destacados autores da nova geração de escritores
brasileiros, e, além de professor de Literatura na Universidade Estadual de
Ponta Grossa, escreve regularmente para jornais e revistas literárias.
O
que me causou surpresa foi ver, como ilustração do artigo de Sanches Neto, uma
foto na qual se via a capa da antologia. Até aí, repito, nada de extraordinário.
Desde aquela época, e até hoje, é muito comum editoras, ou editores
independentes, publicarem antologias poéticas pelo sistema de cooperativa, ou
seja, o autor estreante adquire uma cota de livros e paga em suaves prestações
mensais.
O
curioso nessa história toda é que eu também participei dessa mesma antologia
poética, e naquele mesmo ano de 1985! Não exatamente na mesma edição em que
saiu o poema de Sanches Neto, mas numa outra, das quatro edições publicadas
naquele ano. Um detalhe: a capa era a mesma para todas as edições, mudando
apenas os nomes dos poetas, que constavam na própria capa. Ao bater os olhos no
jornal, imediatamente me veio à lembrança a capa dessa antologia, da qual eu
guardei alguns dos dez exemplares adquiridos em prestações mensais.
Nessa
antologia, publiquei um de meus “melhores” poemas na época, “À procura do homem”, escrito em 24 de
janeiro daquele ano. Escrito à mão, diga-se de passagem, em folha de caderno.
No canto da página do manuscrito, rascunhei: “Poemas do Ser Desconhecido”, uma série de poemas que pretendia
publicar, mas que nunca tive coragem de tirar da gaveta e trazê-los ao prelo.
Também consta esta outra anotação: “Poema
existencialista? Oh, Camus!”.
Naquele
tempo, Camus era o meu autor preferido. Tomei gosto por seus livros quando, ali
pelos meus 20 anos, li “O Estrangeiro”,
edição portuguesa, da estante de meu pai. Foi um impacto para aquele rapaz mal
saído da adolescência, que publicava as suas crônicas na página 2 de “A Tribuna do Ribeira”, então o maior e
melhor jornal da região, que tinha um seleto time de jornalistas, entre os
quais, Roberto Sassi, Rafael Guelta, Sueli Correa, Maria Inês Alonso Notari, Mônica
Nogueira Lima, Geni Lopes Fernandes, Márcia Cola etc.
Fui
editado por Paulo Coelho e não sabia...
(Crônica
publicada no “Jornal Regional”, de
15/6/2012)
ROBERTO
FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo.
E-mail: robertofortes@uol.com.br
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