Hoje,
31 de agosto, transcorre o 149º aniversário de nascimento da notável poetisa
Francisca Júlia (1871-1920). Apesar de considerada a autora que mais se
aproximou do ideal parnasiano – a arte pela arte –, e de ser, em seu tempo, reconhecida
como a maior poetisa da Língua Portuguesa, a filha de Xiririca (hoje Eldorado)
amargou décadas de esquecimento. Enquanto nos livros escolares e nas antologias
literárias sempre pontificou a chamada “Trindade Parnasiana” – formada por Olavo Bilac, Raimundo
Correa e Alberto de Oliveira –, a tímida e reclusa Francisca Júlia caiu no mais
injusto ostracismo.
Poetisa Francisca Júlia (1871-1920) |
Mas
as coisas, nos últimos anos, vêm mudando, e a poetisa está sendo colocada no
lugar que sempre lhe foi devido. Estudioso de sua obra desde a adolescência,
fico orgulhoso em ter uma modesta participação na reabilitação da maior
representante feminina nas letras em nossa região e uma das mais célebres de
nossa língua. Em 1999, escrevi um estudo sobre a vida e obra de Francisca Júlia
e publiquei no site Blocos, dirigido
por Leila Miccolis, um dos mais conceituados que tratavam de literatura.
A
partir daí, comecei um amplo trabalho para a divulgação de Francisca Júlia.
Publiquei esse mesmo texto nos sites Weblivros,
Folhetim e outros. Hoje, navegando
pela internet, constato, com satisfação, que esse estudo vem sendo reproduzido
por uma infinidade de sites pelo país e mundo afora. Muitos estudantes e
professores de Letras desenvolveram, e alguns estão a desenvolver, teses acadêmicas
sobre a vida e obra de nossa poetisa. Muitos deles mantêm contato comigo, e
dentro de minhas limitações, sempre procuro colaborar, pois dessa maneira dou a
minha modesta contribuição para a reabilitação de Francisca Júlia.
Têm
estudiosos, hoje, da nossa poetisa no Nordeste, no Sul, no Norte, no Sudeste,
enfim, em todos os recantos do país. Francisca Júlia vem sendo tema do estudo e
da admiração de estudantes, pesquisadores e críticos literários!
Há
alguns anos, consegui, num sebo virtual, algumas obras dela. Comecei pelo seu
primeiro livro, “Mármores”, edição
original de 1895, pelo qual paguei módicos R$ 50,00. O leitor não pode imaginar
a emoção que senti ao abrir o pacote entregue pelo carteiro! Ao folhear esse
pequeno livro, senti o mesmo prazer que sentiram Olavo Bilac, Raimundo Correa,
João Ribeiro, Machado de Assis e tantos outros, que se renderam ao talento da
“peregrina artista”, como a chamavam. Muitos não acreditavam que aqueles versos
perfeitos, marmóreos, eram escritos por mulher. Olavo Bilac chegou a dizer:
“Isso deve ser uma brincadeira do Raimundo Correa!”. Mas não. Eram versos de
mulher, sim, não outra senão Francisca Júlia!
Depois,
consegui a primeira e a segunda edições de “Esphinges”
(1903 e 1921), o seu segundo livro. Na sequência, comprei o excelente “Poesias de Francisca Júlia”, no qual o crítico
literário Péricles Eugenio da Silva Ramos (1919-1992) reuniu toda a obra
poética da poetisa, com a sua biografia e análise crítica. De quebra, também
comprei no sebo o livro “A Arte de Amar”
(1921), de Júlio César da Silva (1872-1936), irmão de Francisca Júlia, também
considerado em seu tempo um dos maiores poetas brasileiros. E era de Xiririca,
era do Vale do Ribeira!
Como
sonhar não custa nada, ainda sonho que alguma grande editora se renda ao
talento e importância de Francisca Júlia e reedite a sua obra completa.
Enquanto isso, continuo pesquisando o pouco que se sabe sobre a sua vida, um
jornal aqui, um livro ali, uma referência escondida acolá. Talvez um dia
resulte num livro sobre a sua vida. Quem viver verá.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em
Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia”
(2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale
do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição
total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).
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