Períodos
de crises sempre produzem transformações na sociedade. Não vou enumerar os colapsos
pelos quais já passou a humanidade –
e entendamos como tais as guerras, pestes, revoltas, revoluções, fome etc.
Analisando
esses períodos de crises ou de rupturas sociais, religiosas e econômicas,
percebemos que houve, sim, evolução do ser humano em termos quantitativos e
mesmo qualitativos, afinal ninguém sai por aí matando um desafeto a torto e a
direito com a certeza da impunidade; constelações de leis restritivas o levarão
para detrás das grades.
De
igual maneira, hoje raramente alguém morre de alguma doença por inexistir a
cura – geralmente
morre-se por falta de assistência ou de condições financeiras para pagar bons
médicos e bons hospitais.
Também
hoje ninguém precisa acender fogo batendo duas pedras: basta riscar um fósforo,
acender um isqueiro ou apertar o botão do fogão. Estou aqui me referindo às
sociedades organizadas, “civilizadas”, que são contempladas com os benefícios
da ciência, do conhecimento, da medicina etc. Óbvio que existem povos que ainda
vivem como se estivessem –
e de fato estão – na Idade da
Pedra.
Mas
por que toda essa digressão? A humanidade evoluiu, sim, em muitos aspectos,
caso contrário, ainda estaríamos morrendo de peste negra ou sendo chicoteados
por nossos suseranos. Vemos hoje uma pandemia que está a afligir todo o mundo.
Ninguém esperava que ficaríamos privados do direito de sair às ruas, de
frequentar os lugares que desejamos, de fazer o que bem entendemos.
A
última vez que isso ocorreu foi há cem anos, com a fatídica gripe espanhola,
que era espanhola apenas no nome. Na atual pandemia que assola todo o planeta o
que mais se ouvem são palavras de esperança e que sairemos dessa crise como
seres humanos melhores, mais sociáveis, mais amáveis, mais elevados
espiritualmente etc.
Talvez
haja algum exagero nessa previsão. O homem, só para citar algumas crises, já
passou pela guerra do Peloponeso, pela peste negra, pela guerra dos cem anos, pela
gripe espanhola, por duas guerras mundiais e não se tornou um ser humano
melhor. A pergunta que fica é: será diferente desta vez?
ROBERTO FORTES,
escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano
de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos
publicados na imprensa do Vale do Ribeira.
E-mail: robertofortes@uol.com.br
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devida citação dos créditos).