O
televisor era em preto e branco; a TV em cores só chegaria anos mais tarde. No
horário vespertino, assistia na TV Tupi, ou na ainda iniciante Globo,
os desenhos de “Tininha”, “Brotoeja”, “Bolinha”, “Flinstones”, “Pernalonga”, “Pica-Pau”,
“Patolino”. Os seriados eram “Roy Rogers”, “Bonanza”, “Perdidos no Espaço”, “Terra
de Gigantes”, “O Túnel do Tempo”, “Missão Impossível”, “Chaparral”, “Tarzan”, “Zorro”.
Dos desenhos animados japoneses tinha predileção por “Speed Racer”.
Lembro
da novela “Pingo de Gente”, exibida pela Tupi, que me emocionava até as
lágrimas. Eu torcia pela Tupi, não gostava muito da Globo;
achava-a um tanto pretensiosa. Certa vez, a Tupi ganhou o prêmio da APCA
(Associação Paulista dos Críticos de Arte). Fiquei feliz com esse título. Logo
em seguida, a Globo ganhou o “Salute”, bem mais importante. Mas
não se pode negar que as novelas da Tupi, nesse período, eram as melhores.
Quem não se lembra de “Mulheres de Areia”, “O Machão”, “O Profeta”, “Aritana”,
e outras, que prendiam todo mundo à frente do televisor? Hoje compreendo que
essas novelas eram bastante artesanais; mas, naquela época, provocavam um
impacto incrível!
O
grande salto da Globo parece que foi mesmo a partir de “Gabriela”.
Tínhamos em casa a coleção completa de Jorge Amado, aquela de capa dura
avermelhada, que meu pai comprara de um amigo. Tão logo começou a ser exibida a
novela, peguei o respectivo livro na estante e passei a devorá-lo. Estava eu
ali por volta dos meus treze anos. Foi quando tive contato, pela primeira
vez, com o universo de Amado, que, por essas ironias do destino, nunca ganhou o
Nobel. Quem sabe porque a Academia Sueca não gostava de comunistas? Ou porque a
literatura brasileira nunca foi suficientemente digna para merecer semelhante
prêmio? Não sei. Só sei que nem Drummond, nem Cabral, nem Rosa, nem qualquer
outro brasileiro, até agora, logrou abiscoitar o Nobel. Quem talvez hoje tenha
condições de consegui-lo seja Paulo Coelho, não necessariamente pela
importância de seus textos, mas por ser um dos escritores mais lidos do mundo,
e tratar em seus romances de temas universais, como o amor, a amizade, o ódio,
a guerra, a busca interior, e coisas do gênero.
As
bebidas da garotada eram “Crush” e “Choco Milk”, que eu apreciava. Quase todos
praticados nas ruas de terra, a molecada se divertia com os jogos do boque,
taco, meia-a-mãe, amarelinha, futebol, empinar pipa (que chamávamos de “papagaio”).
Muitos meninos gostavam de passarinhar; iam buscar barro na Fonte para fazer as
pelotas. Certa vez, meio que sem querer, mirei numa bananeira e derrubei um
sanhaço. Fui ver o resultado da minha malvadeza: o passarinho tinha morrido! Fiquei
triste por vários dias...
Das
revistas em quadrinhos, além da patota Disney, gostava da Turma da Mônica e das
revistas da EBAL (lembram dela?). Agora, o que eu gostava mesmo era de “Tex”,
publicado pela Editora Vecchi. Tinha especial predileção por essa revista,
principalmente quando os desenhos eram feitos por Gallepini, que assinava
simplesmente Gallep. Eu possuía em casa uma grande caixa onde acondicionava
nada menos do que mil gibis, de todos os tipos e gêneros. Numa mudança, não sei
que fim levaram as revistas. Sobrou apenas a coleção de “Tex”, perto de
duzentos gibis, que guardo até hoje como verdadeiras relíquias de minha
infância e adolescência.
Pois
é... Eu era feliz e não sabia!
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