A história revisitada

 

O revisionismo histórico vez ou outra dá os ares de sua graça. Historiadores de toda a parte estudam e reescrevem a história mundial, levados pela certeza de que muitos conceitos e fatos que temos como incontestáveis, na realidade, nada mais seriam do que formidáveis embustes.

 

Colombo chega à América.
Colombo chega à América.

Não é de hoje que a corrente revisionista vem garimpando os anais da história, na tentativa de escrever a verdadeira História e, assim, colocar por terra a história oficial que, no decorrer dos milênios, nos foi imposta pelos vencedores e recheada por disparates históricos.

 

Muito se poderia citar a cerca do trabalho nada agradável desses pesquisadores. Fatos que hoje consideramos sagrados, se recuarmos no passado à luz de documentos fidedignos, talvez se nos apresentem bastante diferentes daquilo que sempre imaginamos.

 

Tomemos como exemplos as Cruzadas. A ideia que temos delas é que cristãos bem intencionados deslocaram-se até o Oriente, à custa de muito sacrifício, para resgatarem aos mouros os lugares sagrados pisados por Jesus Cristo. Ou seja, tudo que os cruzados fizeram foram atos abençoados por Deus. Como a história é escrita pelos vencedores, as cruzadas são mostradas como a grande luta dos discípulos de Cristo contra os inimigos da fé. O que pouca gente sabe é que os “cristãos”, na defesa de sua fé, muitas vezes, e com requintado sadismo, cozinhavam milhares de muçulmanos em grandes tachos de óleo fervente!

 

Cristóvão Colombo, o grande navegador genovês, teria sido o descobridor do Novo Mundo, ou o responsável pelo extermínio de milhões de ameríndios? Quando se comemorou o 500° aniversario da “descoberta” da América, a figura decantada de Colombo foi contestada por grande numero de respeitáveis pesquisadores. O Colombo sensato, justo, magnânimo, que os livros escolares sempre nos pintaram, teria sido, na realidade, um grande tirano, déspota sanguinário, cruel assassino de índios americanos?

 

As novas evidências a respeito do grande genovês estão dando ao mundo uma visão diferente de quem foi realmente o “descobridor” do Novo Mundo. Colombo, segundo os adeptos do revisionismo, teria apenas redescoberto o que os vikings – Leif Ericson que o diga – já haviam descoberto séculos antes, por sinal o mesmo continente para o qual, há milhares de anos, os primitivos ameríndios imigraram (estes sim, os verdadeiros descobridores da América!).

 

Não precisamos ir muito longe para nos admirar com essas novas versões dadas a fatos consagrados. A história brasileira é um prato cheio para o pesquisador serio que queira escrever a verdadeira história do País. Tiradentes é um exemplo clássico, até hoje considerado o mártir da liberdade pátria. Só que poucos sabem que essa imagem foi forjada no início da República, que precisava de um símbolo (de preferência heróico e cristão), e foi buscá-lo no mineiro enforcado cem anos antes.

 

Teria sido Joaquim José da Silva Xavier o “cabeça” da Inconfidência Mineira – eis aqui outro equívoco chamar de inconfidentes aos conspiradores, pois inconfidente (aquele que não guarda confidência, ou seja, um delator) foi apenas Joaquim Silvério dos Reis – ou serviu Tiradentes apenas de bode expiatório para livrar da morte os “inconfidentes” bem mais situados socialmente do que ele, simples alferes?

 

A própria imagem de que temos dele em seus derradeiros momentos seria falsa: Tiradentes, sendo alferes, não podia usar barba ou cabelos compridos, e também, naquele tempo, não era uso comum os prisioneiros usarem barba ou cabelos compridos. Quer dizer, o Tiradentes real, nos seus últimos momentos, jamais teve a imagem que, erroneamente, temos dele!

 

Quanta história escondida ainda esta à espera de ser resgatada pelos pesquisadores!

 

 

ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira.  E-mail: robertofortes@uol.com.br

 

(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

 

 

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