As Musas pouco me ajudaram; aliás, parece mesmo que elas me abandonaram nos últimos tempos. Foi-se a época em que elas me inspiravam e eu escrevia algumas poesias até aceitáveis; como aquele poema onde pergunto no último verso: “Para que as guerras, afinal?”. Acho que o verso era esse. Se não for, também não faz muita diferença, porque até hoje ainda não sei para que servem as guerras.
Relendo as poesias que escrevi ao longo da vida – reunidas sob o título nada sugestivo de “Toda Poesia” e que ainda não tive a coragem de publicar, talvez em respeito ao bom gosto do leitor –, percebo que escrevi apenas uns dois ou três poemas sobre a guerra. E igual numero sobre a paz.
Sempre gostei de temas mais reflexivos, apesar de ter escrito muitos poemas de amor (dedicados a sabe-se lá que Musa), mas também muitos poemas que hoje considero excessivamente pessimistas, que intitulei “Poemas do Ser Desconhecido”.
Escrevi até mesmo alguns poemas sobre a minha cidade e sobre o Vale do Ribeira. Creio que o mais bonito é aquele que fala do rio Ribeira, com as suas águas caudalosas serpenteando pelas curvas, indo desaguar no Oceano Atlântico, depois de percorrer toda a região.
Por falar em poesia, já faz algum tempo que não rabisco nenhuma. Talvez por falta de tempo, ou mesmo por falta absoluta de inspiração. Alguns poetas modernos, muitos dos quais vinculados ao movimento neoconcreto, pelo qual não tenho a menor estima, dizem que para se fazer poesia não é necessária inspiração: basta apenas o tema e a disciplina para escrever.
Como sou daqueles antigos cultores da velha poesia (“As armas e os barões assinalados...”; “Ao pé do leito derradeiro...”; “Vou-me embora pra Pasárgada...”; “No meio do caminho tinha uma pedra...”) não concordo com esses neoconcretos, que dominam o cenário poético atual.
Ainda mais porque não concordo quando eles chamam de “poeta” à mulher que escreve versos. Deveriam empregar – e com maior propriedade – o termo “poetisa”, que sempre foi a denominação das mulheres que escrevem versos (Francisca Júlia, cujo retrato adorna uma das paredes de meu escritório, é um exemplo de poetisa, e não de poeta). Ninguém chama a mulher formada em medicina de médico, mas sim de médica; ou a mulher que escreve livros de escritor, mas sim de escritora; e por aí vai.
Caso me volte a inspiração, se por acaso alguma Musa resolver descer sobre o meu espírito um tanto desinspirado, talvez eu escreva um poema sobre a política brasileira. Mas, tendo certos políticos como personagens, creio que nem a mais inspiradora das Musas conseguirá essa proeza.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
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