Alguns exegetas destacam a
índole vingativa e colérica d´Aquele que criou o Céu e a Terra, que não hesitou
em expulsar Adão e Eva do Paraíso, obrigando-os a ganhar o pão de cada dia com
o próprio suor; ou em reduzir às cinzas as libidinosas Sodoma e Gomorra; ou em
testar a obediência de Abraão, obrigando-o a imolar o próprio filho. Mas quem
somos nós, míseros mortais, para questionar os altos desígnios d´Aquele que, simplesmente,
é?
Naqueles tempos selvagens,
os códigos tinham que ser duros, inquebrantáveis, senão a coisa virava bagunça
e o mundo se transformaria numa Casa da Mãe Joana. Falando nesta
caridosa mãe, fiquei sabendo que a Mãe Joana realmente existiu. Segundo Eduardo
Martins (“História Viva”, nº 15, janeiro/2005), a famosa Mãe Joana não
era outra senão a rainha de Nápoles, protetora dos poetas e intelectuais.
Quando Luiz I, da Hungria,
invadiu o reino de Nápoles, em 1348, a rainha Joana foi obrigada a se refugiar
em Avignon, na França. Passado um ano de sua chegada, a rainha Joana resolveu
botar ordem na atividade representada pela mais antiga das profissões,
regulamentando os bordéis (também conhecidos por “lupanares”, “casas
de mulheres-damas”, “casas de mulheres-de-má-fama” etc, para
ficarmos apenas por aqui).
Entre as várias
regulamentações, ficou decidido que as vendeiras do amor atenderiam os seus
fregueses em casas que teriam uma porta, por onde os buscadores dos prazeres
proibidos entrariam.
Como a regulamentadora da
moral e dos bons costumes era uma rainha, todos passaram a chamar os lupanares
de Paço (palácio). A moda pegou, e até em Portugal as “casas de
mulheres-de-má-índole” eram chamadas de Paço da Mãe Joana. Aqui no
Brasil, a expressão foi adaptada para Casa da Mãe Joana – e passou a
significar o local onde todos mandam, onde cada um faz o que bem entende e que
seja o que Deus quiser.
Bem, já usamos em vão o
nome do Supremo Criador e ainda não entramos no tema de nossa crônica de hoje: as
tragédias naturais. Alguns céticos, alegando a morte de tantos inocentes,
inclusive crianças – milhares de crianças –, bradam aos quatro cantos que a
tese de que Deus não existe foi confirmada.
Alguns religiosos afiançam
que a tragédia nada mais é do que um aviso d´Ele para que repensemos nossos
atos. Outros, mais apocalípticos, acreditam que é um sinal de que o fim se
avizinha. Ecologistas radicais garantem que a Mãe Natureza (que é bem
mais poderosa do que a Mãe Joana) estaria se vingando do homem, depois
de séculos de degradação ambiental. Alguns filósofos niilistas bradam a máxima
de Ivan Karamázov, segundo a qual, se Deus não existe, tudo é permitido.
Em minha insignificância,
prefiro acreditar que tragédias naturais, como a da Indonésia em 2004, sempre
aconteceram desde que a Terra é Terra. Na China, em 1887, uma inundação
diluviana matou 1.0000.000 de pessoas. Na mesma China, em 1556, um terremoto
exterminou 830.000. Em 1970, no Paquistão, um terrível ciclone ceifou as vidas
de 300.000. Novamente na China, em 1976 e em 1920, dois terremotos tiraram as
vidas de 255.000 e 200.000 pessoas, respectivamente.
Isso sem falarmos de outras
hecatombes menos apocalípticas, porém mais conhecidas, como o terremoto de
Lisboa, em 1755, que exterminou 60.000 lusitanos, ou a erupção, seguida de tsunami,
em Krakatoa, na mesma Indonésia, que não teve piedade de 36.000 asiáticos.
E paramos por aqui.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
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