Já é tradição fortemente arraigada o
habito característico daqueles que tomam a si as rédeas do Governo brasileiro
fazer pouco caso do povo, que deveria ser governado com respeito e bom senso.
Uma prova dessa falta de respeito à população são esses planos econômicos
fracassados que lhe são impostos autoritariamente.
Se politizado fosse, o povo brasileiro,
com certeza, cobraria daqueles que o dirigem medidas mais apropriadas e
rechaçaria com veemência planos absurdos e irresponsáveis que, após curto
tempo, demonstram toda sua ineficiência, uma vez que, ao invés de sanearem a
economia, como alardeiam aos quatro cantos quando de sua implantação,
empurram-na mais e mais em direção ao caos, que parece irreversível.
Governos cairiam e não teríamos em nossa
história ditadores ignóbeis, tampouco demagogos oportunistas, se o povo desta
terra, que dizem abençoada por Deus, possuísse uma formação política mais
sólida. Mais a quem interessa um povo politizado, cônscio de sua cidadania e de
fiscal das atitudes do governo? Aos ditadores e demagogos é que não, e muito
menos a certa casta de fisiologistas que grassa nos altos escalões da política.
Os governos deste país nunca ousaram
investir de maneira sensata na Educação; jamais procuraram valorizar a
identidade cultural de nosso povo e despertar em cada brasileiro o orgulho por
sua condição de cidadão. A cada governo, a qualidade de ensino chega a índices
humilhantes, dignos de um país de quarto mundo.
A história brasileira é pródiga em
exemplos de governantes que usaram e abusaram da ignorância de nosso povo.
Getulio Vargas, fazendo o povo acreditar
que era o “pai dos pobres”, perpetuou-se no poder durante muitos anos. O
período truculento do Estado Novo jamais deve ser esquecido, pois simboliza uma
fase negra de nossa história. (Não podemos, contudo, negar o pioneirismo do
ditador na assistência trabalhista, inspirada, por ironia, no fascismo de
Mussolini).
Com o período militar, mais do que nunca,
a implosão do sistema educacional foi praticada de forma vergonhosa. Conceitos
ufanistas, como o do “país que vai pra frente”, o ilusório “milagre econômico”
(grande responsável por nossa fantástica dívida externa, que estamos pagando
até hoje), coisas desse tipo fizeram o povo ficar alheio à tirania militar.
(Falo, é evidente, do povão em geral e não daqueles poucos que tinham
consciência de sua cidadania, pois enquanto o Zé da Silva chorava ao ver o
Brasil tricampeão, outros Josés choravam nos cárceres da ditadura).
Consciência, amor próprio, identidade
cultural. É o que falta ao povo brasileiro. Bens inalienáveis que a classe
dirigente do país sempre procurou lhe subtrair.
(Esta
crônica foi publicada em “A Tribuna do Ribeira”, de 27-2-1992).
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a
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