Não é
desconhecido por ninguém que o escritor argelino de expressão francesa Albert
Camus (1913-1960), autor do clássico “O
Estrangeiro” e Premio Nobel de 1957, visitou o Vale do Ribeira em agosto de
1949, acompanhado do escritor Oswald de Andrade, do filho deste, Rudá de
Andrade, e do adido cultural francês Paul
Silvestre.
Muitos já
escreveram sobre essa histórica visita, entre eles o professor Alfredo Bosi (“História Concisa da Literatura Brasileira”),
autor do trabalho “Camus na festa do Bom
Jesus” (in Tempo Social, Revista
de Sociologia da USP, São Paulo, p 49-63, maio de 1998).
Com
satisfação, recebi, tempos atrás, diretamente da França, o livro “Albert Camus - Carte Blanche”, editado
por Editions A. Barthélemy, Avignon, com dez artigos sobre a vida e a obra do
consagrado escritor. Entre esses trabalhos, está o texto “Albert Camus, um étranger au Brésil?”, da pesquisadora e tradutora
Samara Geske, doutora em Letras (Francês)
pela USP.
Nesse
trabalho, a autora descreve a visita de Camus a Iguape e outros aspectos de sua
obra. Sinto-me honrado em ter colaborado com Samara Geske, fornecendo-lhe
informações históricas sobre a célebre visita e fotos para ilustração do
trabalho. Esse livro é mais uma excelente contribuição para a rica bibliografia
camusiana.
Vale
a pena ler Camus.
Em seus Ensaios,
o filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592), em inteligentes
comentários, percorre todos os meandros do conhecimento humano, desde o mais
trivial assunto até o mais erudito. Um dos capítulos mais interessantes é o
intitulado “Dos odores”, no qual o
genial pensador discorre sobre isso mesmo: o cheiro.
Tomando por base costumes antigos, Montaigne diz que a
melhor qualidade que o ser humano pode ter é “não cheirar” e, citando Plauto: “O mais delicioso perfume de uma mulher está
na ausência de qualquer odor”. Afinal, segundo o autor, quem usa perfume é
para disfarçar “algum defeito natural”,
enfatizando: “Quem sempre cheira bem,
póstumo, cheira mal”.
Descrevendo as deslumbrantes (mas fedidas) Veneza e
Paris de seu tempo, Montaigne assim se expressa:
“Meu
principal cuidado, quando tenho de me hospedar, é evitar os bairros onde o ar é
pesado e empestado. Apesar de sua beleza, Veneza e Paris perdem muito de seu
encanto a meus olhos, por causa do mau cheiro. Na primeira dessas cidades são
causa disso os canais e as lagunas que a cercam; na outra a lama das ruas”.
Vale a pena ler Montaigne.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos
Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a
devida citação dos créditos).