Eternos grilhões

Os desacertos da política econômica brasileira mexem com os nervos mais fortes. O impasse criado diante do aumento recente do salário mínimo nos dá uma ideia precisa a esse respeito. O salário mínimo é um dos mais baixos do mundo e nem precisaria ter esse nome, já que não consegue satisfazer as necessidades básicas do trabalhador. Talvez devesse se chamar, com mais propriedade, salário da fome ou algo parecido.

Eternos grilhões 

O governo e certos seguimentos do empresariado nacional ficaram relutantes em aumentar o salário mínimo para o “exagero” de Cr$ 230 mil cruzeiros. Como sempre, criou-se acirrada polemica e, fazendo jus à regra, alertou-se quanto aos perigos para a economia que esse aumento provocaria – velho artifício que vem sendo empregado há muito tempo, à custa da espoliação do trabalhador.

 

A classe dirigente – entenda-se o governo e meia dúzia de políticos e mais alguns capitalistas de vulto – sempre transferiu ao salário a culpa da inflação. Tanto que, desde a sua criação, o salário mínimo, de maneira infame, vem sendo cada vez mais achatado, a ponto de hoje a chamada a oitava economia do mundo pagar salário mínimo típico de um país de Quarto Mundo. Contrastes a parte, o nível de vida no Brasil vai sendo rebaixado paulatinamente. A prova disto é o alarmante crescimento das favelas e, pior, o drama de famílias inteiras jogadas debaixo de pontes, sem condições mínimas de moradia.

 

O Brasil está à beira do caos social. Ou já estaria dentro do caos? Os repetidos saques a supermercados, praticados nas grandes cidades, não podem nos deixar indiferentes. O inchaço populacional, acarretado pela carência de saneamento básico e pelo baixo (para não dizer inexistente) poder aquisitivo da maior parcela de nosso povo, atira o País frente a uma problemática social difícil de ser equacionada. E nos leva a concluir que a solução só vira a longo prazo. Por outro lado, não é sensato se jogar a culpa das agruras do Brasil em cima do atual Governo, apenas. A questão é histórica, herança dos desgovernos anteriores, que pouco ou nada investiram no plano social.

 

(Crônica publicada em “A Tribuna do Ribeira”, de 7 de julho de 1992).

 

 

ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira.  E-mail: robertofortes@uol.com.br

 

(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

 

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