Francisca Júlia, a musa impassível

Hoje, 1º de novembro de 2020, transcorre o centenário de falecimento da poetisa Francisca Júlia da Silva Munster. Considerada a autora que melhor representou os ideais do Parnasianismo no País, foi alçada, ainda em vida, à condição de a mais importante poetisa das língua portuguesa.

 

Francisca Júlia, por volta de 1895.
Francisca Júlia, por volta de 1895.



Num universo inteiramente dominado por poetas do chamado sexo forte, Francisca Júlia provou que mulher também sabia fazer poesia de qualidade. Como poucos, criou versos perfeitos, e em nada ficou a dever à chamada “trindade parnasiana” (Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira, que foram seus admiradores e principais incentivadores).

A INFÂNCIA EM XIRIRICA

 

Francisca Júlia na maturidade.
Francisca Júlia na maturidade.

Desde a infância, Francisca Júlia já demonstrava pendor para a poesia. O ambiente familiar a isso contribuía: o pai, Miguel Luso da Silva, era advogado provisionado, amigo particular dos livros; a mãe, Cecília Isabel da Silva, professora na escola de Xiririca (hoje Eldorado, no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo). Foi nessa aprazível cidade às margens do rio Ribeira de Iguape que, a 31 de agosto de 1871, nasceu Francisca Júlia da Silva.

O ano de seu nascimento já provocou controvérsias entre alguns autores: uns citam 1874, outros 1875. De acordo com o irmão de Francisca, o também escritor Júlio César da Silva, a quem se deve dar crédito, o ano correto é mesmo 1871. (1) Segundo o historiador Antônio Paulino de Almeida (“Memórias Histórias de Xiririca”, pág. 163, 1955), Francisca Júlia foi batizada no dia 5 de maio de 1873; enquanto o poeta J. Mendes (“Homenagem a Francisca Júlia”, artigo de jornal datado de 30-9-1973) informa ter sido o batizada no ano de 1872, na Igreja de Nossa Senhora da Guia, pelo padre Agostinho de Santana, data mais aceitável, pois, à época, dificilmente os pais esperavam muito tempo para batizarem os filhos.

Quem talvez tenha semeado a confusão quanto ao verdadeiro ano de nascimento de Francisca Júlia tenha sido o crítico literário João Ribeiro no prefácio de “Mármores”, quando, à página XIV do Prólogo, colocou a seguinte nota de rodapé: “Nasceu em S. Paulo aos 31 de Agosto de 1874 e é filha do sr. Miguel Luso da Silva e da exma. Sra. D. Cecília Izabel da Silva.” É de se observar que, nessa nota, consta ter nascido Francisca Júlia em São Paulo, e não em Xiririca. Por outro lado, não acreditamos que João Ribeiro fosse falsear propositalmente a data de nascimento da poetisa. Conforme o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, era comum as mulheres “reduzirem” a própria idade, então. Certamente, a própria Francisca deve ter informado a Ribeiro ter nascido em 1874, tendo, portanto, e indevidamente, apenas 21 anos quando do lançamento de seu livro.

Xiririca era, nesse tempo, uma pacata vila, onde a principal atividade econômica era a lavoura do arroz. Teve seus dias de glórias nos tempos coloniais, quando ali se descobriu muito ouro de aluvião. Levas de mineiros para lá se dirigiram e fundaram, em fins do Século XVIII, a Freguesia de Nossa Senhora da Guia de Xiririca. Ali se localizavam minas das mais ricas do Ribeira. A abastança das famílias e os costumes requintados faziam-se notar por ocasião das festas, quando as damas adornavam as bastas cabeleiras com muitas gramas de ouro em pó.

A vida da menina Francisca Júlia transcorreu calma e serena, como as águas imutáveis do rio Ribeira de Iguape, que certamente jamais deixaram o imaginário da poetisa, e não seria despropósito aceitar-se o rio como fonte de inspiração para alguns de seus sonetos. A vida simples e de poucos recursos, apesar da segurança oferecida pelos pais, que possuíam certo cabedal, marcou a infância de Francisca Júlia. Como toda menina da época, foi criada para ser esposa: aprendeu a ler com a mãe professora, de quem também adquiriu os conhecimentos culinários e de corte e costura. Do pai advogado, herdou o gosto pelos livros e pela língua portuguesa. Talvez esse diferencial tenha evitado que Francisca Júlia fosse mais uma menina como todas as outras, cujo único objetivo na vida era tornar-se moça prendada para conseguir bom casamento, ter muitos filhos, constituir, enfim, uma família. O destino seria mais camarada com a menina de Xiririca e lhe reservaria um lugar de destaque no cenário da literatura brasileira.

Francisca Júlia transferiu-se ainda menina, com os pais, para São Paulo – uns dizem que aos oito anos (1879-1880), entre eles o historiador Antônio Paulino de Almeida; outros, aos doze anos (1883-1884) – onde pretendia estudar.

 

A ESTREIA LITERÁRIA

 

Estátua da Musa Impassível, na Pinacoteca
Estátua da Musa Impassível, na Pinacoteca

Francisca Júlia, de acordo com algumas fontes, começou a escrever poesias aos 14 anos, mas só começaria a publicar aos 20 anos. Sua estreia literária deu-se nas páginas de “O Estado de S. Paulo”, na edição do dia 6 de setembro de 1891, com o soneto “Quadro Incompleto”:

 

Foi um rico painel. Traço por traço,

Nele notava-se a paixão do artista.

Via-se, ao fundo, a tortuosa crista

De altas montanhas a beijar o espaço.

 

No centro, um rio, a distender o braço.

Selvas banhava em triunfal conquista.

Ao longo, dois amantes, pela lista

De um carreiro, seguiam, passo a passo,

 

Foi um rico painel. Uma obra finda

A primor, que, apesar de velha, ainda

Conservava das cores a frescura.

 

Hoje, porém, não é como era dantes:

Pois no ponto onde estavam os amantes,

Existe apenas uma nódoa escura.

 

Essa poesia mereceu irônico comentário do polêmico padre Severiano de Rezende (1871-1931), que aconselhou: “Minha senhora, há ocupações mais úteis: dedique-se aos trabalhos de agulha.” Felizmente, Francisca Júlia não levou a sério essa crítica mordaz; afinal, conforme ela escreveu a Max Fleiuss, alguns anos mais tarde, o padre literato “nunca fez bons versos”; portanto, não aceitou o “gentilíssimo conselho”.

 

A partir de então, Francisca Júlia deu início a uma intensa colaboração com jornais e revistas. No “Correio Paulistano”, então o mais respeitável diário do país, publicou, em 6 de novembro de 1892, o soneto “As Duas Irmãs”:

 

Vem a primeira e fala-lhe em segredo:

“Amiga, vê (nem sei como isto conte!)

Como correm as águas desta fonte:

Tal corre a vida, e acaba-se tão cedo!

 

Ama, pois!” A segunda, em cuja fronte

Brilha um raio de luz, murmura, a medo,

Apontando-lhe o chão: “Este é o degredo

Perpétuo e atroz do teu amor insonte.

 

Contudo, espera.” E somem-se a Esperança

E a Saudade. E ela fica, como douda,

A olhar o rastro dessas deusas belas...

 

E ela fica esperando-as. Cansa, cansa

De esperá-las assim a vida toda,

Sem jamais receber notícias delas!...

 

Nesse jornal, colabora até 20 de julho de 1895, com o soneto “Pranto ao luar” (“Ao luar”):

 

Ainda no início de sua carreira, a Francisca Júlia tentou introduzir na poesia brasileira a forma lied, bastante popular na Alemanha, de temática simples e inspirada no amor. Em carta remetida a Valentim Magalhães, editor da prestigiosa revista A Semana”, do Rio de Janeiro, Francisca Júlia comentou a respeito: O lirismo profundo morre, pois, falto de condições sociais que o impulsionem e fecundem. E aclimar o ´lied´ no Brasil, principalmente nesta época, é uma utopia. Mas, para que não se diga que eu nunca tentei alguma coisa, aí vai um. Mais tarde lhe hei de mandar outros da minguada coleção que tenho”.      

 

Francisca Júlia logo passou a colaborar com os jornais mais importantes da época. Depois da estréia em “O Estado de S. Paulo”, onde publicou os seus primeiros sonetos, começou a colaborar assiduamente para o “Correio Paulistano” e “Diário Popular”. Colaborou também com revistas do Rio de Janeiro, entre elas, “O Álbum”, de Arthur Azevedo e, especialmente, “A Semana”, de Max Fleiuss e Valentim Magalhães. Para a primeira revista, publicou as poesias “Paisagem”, “Noturno” e “No boudoir”, respectivamente nas edições de fevereiro, abril e junho de 1893.

 

“A SEMANA” E O “MITO” FRANCISCA JÚLIA

 

A Semana era uma das revistas mais conceituadas que então se editava no Rio. Dirigida por Valentim Magalhães e Max Fleiuss, tinha como redatores ilustres escritores da época: João Ribeiro, Araripe Júnior e Lúcio de Mendonça. A estreia de Francisca Júlia, na edição de 9 de setembro de 1893, com o soneto “Musa Impassível”, provocou grande alvoroço: os redatores não acreditavam que uma mulher pudesse escrever versos tão perfeitos. Não foi sem razão que João Ribeiro exclamou: “Isto não é verso de mulher! Deve ser uma brincadeira do Raimundo Correa!...” (3)

 

Araripe Júnior e Lúcio de Mendonça “riram-se e confirmaram a suspeita de João Ribeiro”. Mas logo chegaram outras poesias, “todas revelando belíssimo talento, ficando então provado que se tratava duma estreante de grande valor.”

 

Sobre a estréia de Francisca Júlia nas páginas de A Semana” escreveu Max Fleiuss: “Certa vez recebíamos na A Semana uns versos primorosos e assinados Francisca Júlia da Silva. Tão perfeitos eram que João Ribeiro considerou-os uma mistificação, chegando mesmo a atribuí-los a Raimundo Correia. Todo o bonde concordou. Essa Francisca Júlia era um mito...”

 

Na edição de 13 de janeiro de 1894, “A Semana” publica o lied “D. Alda”, um dos vários que a poetisa vinha compondo “à imitação de Goethe”. Não existem informações de que Francisca Júlia lesse em alemão; é mais provável que lesse Goethe na tradução francesa, em especial as feitas por Henri Blaze. Juntamente com esse lied, Francisca Júlia encaminhou a seguinte carta a Max Fleiuss:

 

Sr. Diretor da A Semana,

 

“Aí vai um lied. Sei de mais que nestes tempos em que o espírito já se não compraz com o perfume campesino, com o ingênuo lirismo da poesia antiga, tão singela e tocante na sua simplicidade, mormente no Brasil, onde a poesia alemã nunca exerceu uma influencia apreciável, os lieds que tenho composto, à imitação dos de Goethe, vão passar despercebidos. O lied é a poesia popular da Alemanha. Inspirado no amor, ora expansivo e alegre, ora terno e íntimo, tocado dessa melancolia mórbida, desse vago e inefável langor a que os alemães deram o nome suave de Sehnsucht, o lied é o espelho onde refletem todas as tradições, todos os sonhos, toda a alma, enfim essencialmente romântica, daquele povo. Henri Blaze, o exímio tradutor de Goethe, tentou debalde aclimá-lo na França. Fialho de Almeida já escreveu com muito critério: ´Como generalizar uma tal poesia, quando o espírito não tem mais o perfume da adolescência e a frescura das idades primaveris?´ O lirismo profundo morre, pois, falto de condições sociais que o impulsionem e fecundem.

 

E aclimar o lied no Brasil, principalmente nesta época, é uma utopia. Mas, para que não se diga que eu nunca tentei alguma coisa, aí vai um. Mais tarde lhe hei-de mandar outros da minguada coleção que tenho.

Francisca Júlia da Silva”

 

João Ribeiro, desconfiado dessa carta, exclamou: “Eu respondo a esta imaginária poetisa”, e escreveu a pitoresca poesia “Jazigo”, publicada na edição de 24 de março de 1894, assinando com o pseudônimo de Maria de Azevedo:

 

Climas das terras extraordinárias

         De ares brancos e tiritantes,

         Cheios de verdes araucárias

                   Crucificadas

                   Pelas estradas

Extraordinárias, brancas, tiritantes.

 

Caia a chuva, pois, tempestuosa

         Risque em jaula toda a paisagem.

Eu fico a desfolhar a rosa

                   Da tua boca

                   Mordendo, louca,

A jaula tempestuosa da paisagem.

 

Oh a Friagem! Oh as Misérias!

         Oh os cristais desse banquete!

         Iguais a vidro e mais etéreas

                   As neves soltas

                   Sobre recoltas

Pairam brancas e frias de misérias.

 

Arfem ofegantes pulmões d´aço

         Dos lobos ávidos de sangue.

         Que nosso amor – eterno laço

                   D´almas armadas –

                   Morra às dentadas

Do sanguinoso lobo ávido em sangue.

 

E que por sinal, extraordinárias

         Semeiam cruzes tiritantes

         Ao pé das verdes araucárias

                   Pelas estradas

                   Brancas, nevadas,

Extraordinárias, brancas, tiritantes.

 

Observou Max Fleiuss: “Mais tarde verificamos que existia a poetisa e foi exatamente João Ribeiro quem lhe prefaciou o primeiro e magistral livro – Mármores.” Em outra carta Fleiuss, datada de 9 de abril de 1894, Francisca Júlia fala um pouco mais de sua condição de poetisa, além de destacar a sua estreia e uma crítica desfavorável do padre José Severiano de Rezende:

 

“Sr. Max Fleiuss,

 

"Devo à A Semana (e creio que especialmente a V.) algum nome que tenho. Até há pouco tempo eu não tinha provado, a não ser muito de leve, o sabor delicado de um elogio. Às vezes, muito raramente, um cronista cá da terra [São Paulo] se lembrava de arriscar, com timidez, algumas palavras de encômios. Quase sempre não passavam de ´poetisa esperançosa se bem que pouco inspirada, mas sem pretensões artísticas...´ E eu devorava essas palavras, com avidez, saboreando-as longamente. Quando publiquei a minha primeira poesia, uma balada à antiga, um dos nossos poetas, Severiano de Rezende, que, falemos a verdade, nunca fez bons versos, dedicou-me algumas linhas pela imprensa, em que me aconselhava que não escrevesse mais versos, e terminava assim, se me não falha a memória: ´Minha senhora, há ocupações mais úteis, dedique-se aos trabalhos de agulha´. É inútil dizer que não aceitei o gentilíssimo conselho... Depois tive ocasião de ler um artigo de Valentim Magalhães em que se citavam, com profusão, nomes femininos. O meu passou em branco. Fiquei triste. Foi essa a razão porque, acostumada a não me julgar nada, mesmo entre os versejadores da última plana, sempre me conservei arredia de todos os certames.

 

“E, entretanto, nestes últimos tempos, o meu nome já é citado nas rodas literárias com certo respeito e deferência. A quem o devo? Quero crer que à A Semana e particularmente a V. Quanto aos lieds, que devi à A Semana, mais tarde mandarei. Temo porém, que se torne desagradável a assiduidade da minha colaboração.”

 

Em 1894, o poeta Vítor Silva dedicou o soneto “Fogo Fátuo”, publicado em “A Semana”, “à primeira poetisa brasileira, D. Francisca Júlia da Silva”. O soneto foi reproduzido no Correio Paulistano de 6 de março de 1894. Segundo Péricles Eugênio da Silva Ramos, essa dedicatória “sensibilizou os arraiais literários da Paulicéia. Note-se que Francisca Júlia ainda não publicara o seu primeiro livro, mas apenas cerca de duas dezenas de poesias espalhadas pelas páginas de “O Estado de S. Paulo”, “Correio Paulistano”, “Diário Popular”, “O Álbum” e “A Semana”.

 

"MÁRMORES": A CONSAGRAÇÃO

 

“Mármores” e “Esfinges”

Em princípios de 1895, aparece seu primeiro livro, “Mármores”, reunindo sonetos publicados em “A Semana” de 1893 até aquele ano, obra custeada pelo editor Horácio Belfort Sabino. Já então Francisca Júlia era uma poetisa bem conhecida. Prefaciado por João Ribeiro, conceituado crítico da época, o livro causou sensação nas rodas culturais de São Paulo e Rio de Janeiro. Francisca Júlia, no verdor dos seus 24 anos, realizava o grande sonho de infância. Olavo Bilac, festejado poeta, numa crônica emocionada, destacou:

 

“Em Francisca Júlia surpreendeu-me o respeito da língua portuguesa, não que ela transporte para a sua estrofe brasileira a dura construção clássica: mas a língua doce de Camões, trabalhada pela pena dessa meridional, que traz para a arte escrita todas as suas delicadezas de mulher, toda a sua faceirice de moça, nada perde da sua pureza fidalga de linhas. O português de Francisca Júlia é o mesmo antigo português, remoçado por um banho maravilhoso de novidade e frescura.” (2) 

 

Encantado com esse talento literário que emergia, João Ribeiro, prefaciador de Mármores, ombreou Francisca Júlia à “trindade parnasiana”:

 

“Nem aqui, nem no sul nem no norte, onde agora floresce uma escola literária, encontro um nome que se possa opor ao de Francisca Júlia. Todos lhe são positivamente inferiores no estro, na composição e fatura do verso, nenhum possui em tal grau o talento de reproduzir as belezas clássicas com essa fria severidade de forma e de epítetos que Heredia e Leconte deram o exemplo na literatura francesa.” (4)

 

João Ribeiro não poupa elogios, recordando a estréia da poetisa em “A Semana”:

 

“Foi, pois, principalmente nas páginas de ´A Semana´ que a reputação de Francisca Júlia da Silva se tornou durável, válida e indestrutível. E quando ela vinha todos os sábados com o fulgor e a pontualidade de um planeta, era logo cercada da admiração e do aplauso com que todos nós a recebíamos. A sua poesia enérgica, vibrante, trazia a veemência de sonoridades estranhas, nunca ouvidas, uma música nova que as cítaras banais do nosso Olimpo nos haviam desacostumado.” (5)

 

Tanto confete lançado em torno de sua estreia literária parece não ter subido a cabeça da jovem e já consagrada poetisa. Ao contrário, cada vez mais incentivada por amigos de peso, dedica-se integralmente à atividade poética, traduzindo para o português versos do poeta alemão Heine. A leitura dos românticos alemães, principalmente Goethe e Heine, marcaram a juventude de Francisca Júlia. A professora Maria de Lourdes Eleutério sintetiza muito bem essa sua predileção:

 

“Francisca lia versos, muitos versos, gostava dos românticos, dando preferência a Goethe e Heine, os quais traduzia, possivelmente do francês, e os publicava. Ela não copiava os versos do irmão. Na verdade, mesmo tendo publicado alguns livros, ele não era um bom poeta. Mas era jornalista e ajudou Francisca a lançar seus próprios poemas pela imprensa. Depois escreveram juntos um volume para crianças.

 

“Traduzir como fazia Francisca era um expediente muito usado e consentido. Uma atividade que ficava na penumbra, que nunca se divulgava, podia-se fazer no mais recôndito do lar.” (in Vidas de Romance”, de Maria de Lourdes Eleutério, doutora em Sociologia pela USP)

 

Apesar de parnasiana na forma, Francisca Júlia também teve passagem pelo simbolismo, introduzido no Brasil nessa última década do século XIX e que teve no catarinense Cruz e Souza o seu mais destacado representante.

 

“SOIRÉE” E CONCURSO LITERÁRIO

 

Em fevereiro de 1895, Francisca Júlia participa de uma “soirée” no aristocrático clube Germânia, em São Paulo, num evento em benefício às famílias necessitadas dos que morreram na catástrofe da barca Terceira, organizado pelo secretário do Interior, Cesário Mota.

 

Levada pelo braço do poeta Filinto de Almeida – esposo da escritora Júlia Lopes de Almeida –, Francisca Júlia, timidamente subiu ao tablado. Esbelta e distinta, como descrita numa notícia de jornal, Francisca Júlia começou a recitar os seus versos. Declamou os dois sonetos chamados “Musa Impassível”. Silencio absoluto, religioso, na sala. A princípio, com uma vez fraca, baixa. Gradualmente, foi elevando a voz. Fez uma declamação esplendida, dando-lhes a marca “de sua musa tersa e vigorosa”.

 

Estavam presentes o presidente do Estado de São Paulo, Dr. Bernardino de Campos, secretários e respectivas famílias, além do “público mais refinado e culto de São Paulo”. Também recitaram a poetisa Zalina Rolim e o poeta Júlio César da Silva, irmão de Francisca Júlia.

 

Em fevereiro de 1898, Francisca Júlia foi convidada pelo jornal “Correio Paulistano” para participar do júri de um concurso de poesia, juntamente com a escritora Ibrantina Cardona (autora de “Plectos”). Zalina Rolim também faria parte da comissão julgadora, mas não participou. Francisca Júlia e Ibrantina apresentaram laudos divergentes, sendo então convocado João Monteiro como “desempatador”, que concordou com Francisca Júlia, dando a vitória ao poeta Adolfo Araújo, ficando Baptista Cepellos em segundo lugar.

 

Em 1899, Francisca Júlia publica o “Livro da Infância”, obra didática logo adotada pelo Governo de São Paulo em escolas do primeiro grau, e que teve o prefácio escrito por seu irmão Júlio César da Silva.

 

“BRANCA, MUITO BRANCA, FRIA, MUITO FRIA”

 

Poucas fotografias ou gravuras ficaram de Francisca Júlia, não chegando a uma dezena. É de se supor que todo o seu material bibliográfico – incluindo aqui fotografias, recortes de jornais, documentos etc – tenham ficado, após a sua morte, de posse de seu irmão Júlio César da Silva. O poeta e crítico literário Péricles Eugênio da Silva Ramos, um dos maiores estudiosos da vida e da obra de Francisca Júlia, emprestou da filha de Júlio César, dona Flora da Silva Aquino, um valioso álbum contendo inúmeros recortes sobre Francisca Júlia, criteriosamente catalogados pelo irmão. Muito desse material foi publicado na segunda edição de “Esfinges”, a título de fortuna crítica.

 

Quem fez uma razoável descrição do tipo físico de Francisca Júlia foi o escritor Wenceslau de Queiroz, que publicava a coluna “Berlinda” no “Correio Paulistano”. Na edição de 4 de abril de 1893, Queiroz assim descrevia a poetisa: “uma ´jeune fille´ clara, de olhos negros, tez e fronte da alvura cetinosa das camélias, na frase de um poeta. Rosto oval, cabelos castanhos, estatura mediana. Mãos brancas, nervosas, finas e delicadas”.

 

Na edição de 20 de fevereiro de 1898, Wenceslau de Queiroz destacava a decantada “frieza” (ou impassibilidade) de Francisca Júlia: “branca, muito branca, fria, muito fria”.

 

"ESFINGES": ARTÍFICE DE VERSOS

 

Seu segundo, “Esfinges” – ou, conforme a ortografia da época, Esphinges” –, só apareceria em 1903, com o mesmo prefácio do amigo e admirador João Ribeiro, sendo editado pela firma Bentley Júnior & Cia. Nele, Francisca Júlia reuniu grande parte dos sonetos publicados em seu primeiro livro, acrescentando outros inéditos. A exemplo de “Mármores”, seu novo livro mereceu a atenção da crítica. Aristeu Seixas não poupou elogios: “Nenhuma pena manejada por mão feminina, seja qual for o período que remontemos, jamais esculpiu, em nossa língua, versos que atinjam a perfeição sem par e a beleza estonteante dos concebidos pelo raro gênio da peregrina artista.”(6)

 

Outros poetas famosos não deixaram de manifestar, em crônicas emocionadas, vibrantes elogios à mais nova produção literária de Francisca Júlia, entre eles, Vicente de Carvalho e Coelho Neto.

 

Francisca Júlia, pelo pouco que se pode investigar sobre a sua vida, sempre foi alheia à publicidade, sendo reclusa e dedicada aos serviços domésticos. Aqui não se pode evitar a comparação com a poetisa goiana Cora Coralina ou a mineira Adélia Prado, que dividiram a sua vida entre a poesia e a vida doméstica.

 

Em 1904, o poeta Péthion de Villar (na verdade, o Dr. Egar Moniz Barreto de Aragão) comunica a Francisca Júlia que ela fora proclamada membro efetivo do Comitê Central Brasileiro da Societé Internacional Elleno-Latina, de Roma.

 

O crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos não tem dúvidas em considerar Francisca Júlia como a única representante do Parnasianismo no Brasil que conseguiu atingir todos os objetivos desse movimento, como o ideal de beleza e impassibilidade, já que outros poetas parnasianos, Bilac inclusive, não obtiveram êxito semelhante: “(...) com efeito, [Francisca Júlia] é plástica e sonora; a poetisa professou a arte pela arte, conheceu o “Mot juste”, desejou a austeridade formal e sobretudo timbrou em ser impassível, coisa de que os outros parnasianos brasileiros não fizeram questão”.

 

A professora Nádia Battella Gotlib salienta esse interesse de Francisca Júlia pela busca da perfeição poética:

 

Na linha da tradição herdada do final do século XIX e que persistem, em alguns casos, até os anos 20 do século seguinte, persiste a poesia que prima pelo acabamento nos moldes parnasianos, na trilha de um dos líderes desse movimento: o poeta Olavo Bilac. É o caso da escritora Francisca Júlia, por exemplo, que mantém repertório temático de gosto greco-latino e cultiva sonetos imitados dos poetas-homens que considerava mestres. Até nos próprios títulos nota-se o aplacamento de ânsias e emoções, que são praticamente domesticadas em favor da objetividade e dos rigorosos compromissos formais. (i “A Literatura Feita por Mulheres no Brasil”, de Nádia Battella Gotlib).

 

É natural que Francisca Júlia também tivesse os seus críticos. O mais destacado foi, sem dúvida, Mário de Andrade. Em 1921, publicou no “Jornal do Commercio”, de São Paulo, a série de artigos “Mestres do Passado”, onde critica os poetas parnasianos Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira e, de quebra, também coloca nessa relação Francisca Júlia, que considerava didática, “gelada”, pois sacrificava a poesia à arte de “fazer belos versos”.

 

Francisca Júlia é considerada umas das precursoras da literatura feminina no Brasil, ao lado de Júlia Lopes de Almeida. A professora Cristina Ferreira Pinto faz uma comparação entre as duas:

 

“Considera-se que Francisca Júlia e Júlia Lopes de Almeida são duas precursoras da literatura feminina no Brasil, pois elas se encontram incluídas no cânon literário e sob muitos aspectos abrem caminho para outras escritoras que virão depois e para quem servirão de modelo. No entanto, falar dessas duas autoras como precursoras da literatura brasileira escrita por mulheres exige que se considere, primeiro que tudo, a posição que tanto Francisca Júlia como Júlia Lopes mantinham em relação a suas próprias obras e ao seu papel como escritora, ou seja, sujeito feminino que escreve. Francisca Júlia ´se escreve´ como poeta no sentido tradicional, ´masculino´ da palavra. Sua poesia, de caráter parnasiano, obedece padrões de impessoalidade e impassibilidade, seguindo a orientação dominante naquele período literário da ´arte pela arte´. Quanto ao seu papel de mulher que escreve, é bastante significativo o fato de que Francisca Júlia abandona a literatura quando se casa, passando a dedicar-se exclusivamente à vida no lar. Por sua vez, Júlia Lopes de Almeida segue, apoia e promove a ideologia segundo a qual o primeiro dever da mulher é para com a família. Pode-se ver assim que, enquanto Francisca Júlia não chega a assumir-se como sujeito feminino que escreve, Júlia Lopes, sim, se assume como tal, mas segundo a ordem dominante que define (e limita) o sujeito feminino como aquele que vive por e para o outro.” (in “A mulher e o cânon poético brasileiro”, de Cristina Ferreira Pinto, Universidade do Texas).

 

A VIDA EM CABREÚVA

 

Já “balzaquiana”, Francisca Júlia continuava morando com os pais. Por motivo de transferência de sua mãe, através de ato de 16 de dezembro de 1905, para uma escola de Cabreúva (SP), a poetisa acompanha os pais. A família deve ter se transferido para essa cidade ainda em dezembro de 1905, ou em janeiro de 1906. Neste ano, Francisca Júlia publica na imprensa algumas cartas comunicando que ajudava a sua mãe, ensinando versos às alunas, como preparação para o exame escolar. Em sua casa, era ela quem executava os serviços domésticos, inclusive a cozinha. Sua vida era simples e sem luxo. Tomava banho no rio, usava roupas simples, e, quando desejava coisa melhor, viajava até a cidade de Itu (SP) para adquiri-la.

 

A vida íntima da poetisa, antes de seu casamento, está envolta em névoas. Francisca Júlia era discreta e não consta que tenha deixado um diário onde anotasse as suas intimidades amorosas. Mas é fato que, em 1906, teria se enamorado por um belo rapaz, em Cabreúva. A história adquire requintes de melodrama, levando-se em conta que diziam que o jovem, formado em farmácia no Rio, não era muito certo das ideias. Conta-se que, certa ocasião, Francisca Júlia ouviu uma conversa no portão onde falavam que seu amado era “doido”. Ela ficou de sobreaviso. O rapaz jurou-lhe que tinha suas faculdades mentais em plena ordem. Mas não surtiu efeito. A poetisa preferiu evitá-lo e ficar sozinha, preterindo essa que teria sido a sua grande paixão.

 

Há indícios de que Francisca Júlia teria tido um romance com um famoso intelectual. Mas não teria durado muito e ele devolveu-lhe as cartas que ela escrevera, dentro de uma caixa de sapato, e, depois, casou-se no Rio. Aqui existe dúvida se o farmacêutico e o intelectual eram duas pessoas distintas ou, na verdade, seriam a mesma pessoa. Essa dúvida foi ressaltada pelo sobrinho de Francisca Júlia, Paulo César da Silva, filho do poeta Júlio César da Silva, irmão da poetisa, que uma vez ouviu o seu pai comentar sobre o caso, mas não conseguiu se lembrar se eram a mesma pessoa ou não.

 

Para o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, o “intelectual” seria o escritor João Luso, pseudônimo de Armando Erse de Figueiredo, português nascido em Louzã em 1875 que, vindo para o Brasil em 1893, naturalizou-se em 1939. Em São Paulo, João Luso trabalhou no comércio, escrevendo para a imprensa paulistana. A partir de 1898 foi secretário do Diário de Santos”, mudando-se em 1900 para o Rio de Janeiro, continuando no jornalismo e na literatura. Em 1932, tornou-se membro correspondente da Academia Brasileira de Letras. Péricles Eugênio acreditava que esse “romance” teria se dado entre 1893 e 1900. (Págs. 190-191).

 

A respeito dos “namoros” ou “pretendentes” de Francisca Júlia, escreveu o escritor Raimundo de Menezes, em seu delicioso livro “Escritores na Intimidade”: “Moça bonita, inteligente, por essa época lhe apareceram apaixonados admiradores que quiseram desposá-la. Mas a poetisa como que temia as tramas do amor... (...) Andou de noivado ajustado com um brilhante jornalista, mas logo, por motivo desconhecido, o compromisso foi desfeito.”

 

Já nesse mesmo ano de 1906, a família da poetisa manifestava vontade de deixar a cidade. O jornal “Correio de Salto”, em sua edição de 16 de dezembro de 1906, faz um apelo aos intelectuais daquela cidade, então vila, para que conseguissem a transferência de dona Cecília para uma das escolas locais. Francisca Júlia, por sua vez, tem interesse em voltar a São Paulo. O jornalista desse jornal visitara Francisca Júlia duas vezes, nos dois dias em que passou em Cabreúva, chamando-a de “Deusa da Arte”. Para o jornalista, Francisca Júlia possuía “uma beleza singela, voz educada e maviosa; mostrava-se também cândida e afável.”

 

Defendendo a ideia da vinda de Francisca Júlia para Salto, o jornal escreveu: “Sabemos que o Sr. Miguel Luso, idoso e cansado, não deseja mudar-se; compete, portanto, aos intelectuais de Salto conseguirem sua anuência. (...) Uma vez aqui residindo os seus progenitores, teríamos frequentemente a visita da distinta poetisa, que só proveitos traria à nossa população, concorrendo para o nosso progresso artístico e intelectual.”

 

Quando ainda morava em Cabreúva, Francisca Júlia foi convidada para ingressar na Academia Paulista de Letras, que alguns literatos tentavam fundar em São Paulo. A princípio, a poetisa teria aceitado o convite, conforme se dá a entender pela carta abaixo; mas consta que, depois, não o aceitou, pois desejava que o seu irmão, o poeta Júlio César da Silva, também fosse convidado. Eis a carta:

 

“Cabreúva, 17 de junho de 1907

 

Sr. Dr. Alfredo de Toledo:

 

Para preenchimento das duas cadeiras, na Academia Paulista de Letras, dou o meu voto aos Drs. Adolfo Araújo e Jacomino Freire. Não sabendo quais os patronos escolhidos pelos meus caros colegas da Academia, peço a V. Exa. escrever-me os que já o foram, para que eu possa escolher o meu.

Criada e admiradora,

Francisca Júlia” (in “Revista da Academia Paulista de Letras”, ano II, nº 5, 12/3/1939, pág. 148)

 

Em 3 de julho de 1908, realizou-se em Itu, no salão da Câmara Municipal, uma concorrida conferência literária. Francisca Júlia foi convidada para esse evento, que contou com um público seleto de, aproximadamente, oitenta pessoas. Escolheu o tema “A feitiçaria sob o ponto de vista científico”, destacando o ceticismo do mundo que torna os homens descrentes de tudo: “(...) nossos sentimentos iludem-nos; por eles não percebemos o movimento da Terra, nem com eles podemos provar ou negar a existência de Deus.”

 

Faz até mesmo citações da Cabala: “Nada há no mundo, nem mesmo um broto de erva, sobre o qual um espírito não reine.” Fala de lobisomem, bruxaria. Percebe-se que, nesse período, Francisca Júlia demonstrava estar envolvida pelo misticismo e sobrenatural.

 

CASAMENTO E AFASTAMENTO DA POESIA

 

Por decreto de 5 de outubro de 1908, a mãe de Francisca Júlia, a professora Cecília, foi removida para a escola de Lajeado, na Capital. A família deve ter se estabelecido nesse subúrbio paulistano – depois chamado de Carvalho de Araújo e, atualmente, Guaianazes – nesse final de 1908, provavelmente entre outubro e novembro. Nesse curto espaço de tempo, Francisca Júlia deve ter conhecido aquele que, alguns meses depois, seria o seu futuro esposo. O namoro não deve ter durado mais do que três meses.

 

Em 27 de fevereiro de 1909, na Igreja de São Miguel, no Lajeado, aos 37 anos, Francisca Júlia contrai matrimônio com Filadelfo Edmundo Munster, telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Filho de Filadelfo de Oliveira Rophesia e Mariana de Oliveira Rophesia, Filadelfo Munster era natural de Barra Mansa (RJ), de poucas posses e limitada bagagem intelectual. A bela cerimônia, celebrada pelo padre Otto Boehm, teve como testemunhas Vicente de Carvalho, Júlio César da Silva, Antônio Tolosa, Salvador Santos e a presença do padre Martins Forner. Curiosamente, no registro do casamento, Francisca Júlia declarou a idade de 29 anos, quando já tinha 37 anos.

 

A notícia do casamento-relâmpago de Francisca Júlia foi publicada nos jornais “O Estado de S. Paulo”, “Correio Paulistano” e “Diário Popular”, nas edições do dia 1º de março, e no “Commercio de S. Paulo”, na edição de 2 de março.

 

A partir desse ano, Francisca Júlia decide deixar a poesia de lado e dedicar-se apenas ao esposo e ao lar. A sua casa era modesta, mas muito bem cuidada. O esposo era homem de poucas palavras, mas elogiava a sua “Chiquinha”, que ele considerava uma grande poetisa. Francisca Júlia sempre viveu bem com o marido, por quem tinha respeito e amor.

 

Depoimento verbal do desembargador Manoel Carlos, também conhecido poeta em seu tempo, ao crítico Péricles Eugênio patenteia o pouco aparato intelectual do consorte de Francisca Júlia: “A casa de Francisca Júlia, embora modesta, era muito bem arranjada. Pouco falou o esposo de Francisca Júlia, e em certo momento observou: ´Dizem que a Chiquinha é uma grande poetisa. Eu não sei, não sou poeta´.”

 

O casal morava na Travessa Conselheiro Furtado, nº 12. Alguns anos mais tarde, em 1912, em colaboração com o inseparável irmão Júlio César, Francisca Júlia produz o seu último livro, “Alma Infantil (Verso para uso das escolas – Monólogos, diálogos, recitativos, scenas escolares, hymnos e brincos infantis)”, editado pela Livraria Magalhães. O então secretário do interior, Dr. Altino Arantes, adquiriu boa parte da edição, que seria utilizada pelas escolas do Estado.

 

Em 1913, boatos asseguram que Francisca Júlia teria interesse em ingressar na Academia Paulista de Letras. A poetisa negou, pois, para ela, a arte “não se faz por associação”. Neste ano, a revista “O Piralho” publicou, na edição de 25-1-1913, o autógrafo de “Dança de Centauras”.

 

No ano seguinte, Francisca Júlia adoece, sofrendo os incômodos da doença durante os seis últimos anos de vida.

 

O RETORNO À POESIA

 

Em 1915, Francisca Júlia volta a publicar as suas poesias, através das páginas da conceituada revista “A Cigarra”. Nesta revista, ao que pudemos apurar, a poetisa publicou as poesias: “A uma santa” (24/11/1915), “A um velho” (1916), “Outra vida” (1/7/1919), “Alma ansiosa” (1/11/1919); e postumamente: “Esperança” (póstuma, 15/1/1921), “Os argonautas (1/7/1921), traduzida para o italiano por Leopoldo de Rocchi, “Vênus” e “Aurora” (1/3/1922), traduzidas para o castelhano por Enrique Bustamente y Ballivian.

 

Em 16 de dezembro de 1916, o jornalista Correa Júnior, de “A Época”, do Rio de Janeiro, entrevistou a poetisa. Perguntando se ela estava sofrendo com a doença, Francisca Júlia respondeu: “Bastante. Tenho alucinações, provenientes, de certo, da intoxicação do ácido úrico. Há ocasiões que de repente saio da vida real e entro no sonho. Vejo pessoas e seres desconhecidos. A princípio cuidei que me estava tornando médium. Mas não, isto é princípio do fim. Sinto-me feliz ao observar, dia a dia, que esse fim se aproxima. Sabe. É muito bom morrer. Minha vida encurta-se hora a hora. Tenho ambições, oh! muitas ambições, mas são de outra natureza”. Segundo o jornalista, Francisca Júlia levantou “os olhos para o alto, como se aspirasse somente a bem-aventurança da outra vida...”

 

Nessa entrevista, Francisca Júlia manifesta a sua vontade de reunir uma coleção de sonetos decassílabos, inspirados no moral de Pitágoras, comentando-o a seu modo. O título escolhido seria “Versos Áureos”. Mas acreditava que não conseguiria concluí-lo, por causa da falta de saúde. Aqui está uma prova de que Francisca Júlia não abandonou definitivamente a poesia após o casamento, dedicando-se exclusivamente ao lar, conforme muitos acreditam. Sobre o pretendido livro, Francisca Júlia assim se manifestou, na citada entrevista ao jornalista Correia Júnior: “Parece à primeira vista um título pretencioso. Mas não é. Queria traduzir cada conceito de Pitágoras, comentando-o ao meu modo. Acho que conseguiria fazer alguma coisa de sério em arte, alguma coisa de muito sério para ressarcir tanta frivolidade que espalhei em livros e jornais.”

 

Para esse livro, Francisca Júlia já havia selecionado os poemas “Tudo é vaidade” e “Perfeição”. Mas, como “já não tinha saúde”, a poetisa acreditava que os Versos Áureos” não viriam a lume.

 

Na segunda década do século XX, Francisca Júlia já era uma poetisa há muito consagrada. Aos 46 anos, recebeu a maior homenagem que lhe prestaram em vida, quando um grupo de admiradores paulistas organizou, em 1917, uma sessão literária e ofereceu o  seu busto à Academia Brasileira de Letras. Apesar de essa cerimônia não se ter realizado, era a consagração da talentosa artífice de versos, da “Musa Impassível”, como ficou conhecida.

 

A Academia Brasileira de Letras, então presidida pelo poeta Medeiros e Albuquerque, em sessão de 21 de junho de 1917, decidiu aceitar a oferta. Arnaldo Simões Pinto, poeta e jornalista, foi o porta-voz dos poetas paulistas e entregou carta de sua autoria, que foi lida por Filinto de Almeida. Mas o busto não foi enviado, tendo em vista o falecimento do jornalista. No entanto, Francisca Júlia não ficou sem a sua homenagem. A Casa de Machado de Assis aceitou o busto, ainda em vida da autora, para ser colocado em uma de suas salas.

 

Em 1920, por ocasião de suas Bodas de Prata da estreia como poetisa (Mármores”, 1895), a revista “A Vida Moderna” tentou organizar uma sessão literária, onde seriam declamadas exclusivamente poesias de Francisca Júlia. Fariam parte Amadeu Amaral, Ciro Costa, Luiz Carlos, Roberto Moreira, que executariam o programa da festa. A homenagem seria mais do que merecida, afinal a poetisa havia se retirado do meio literário “depois de um fulgor vivo e intenso no mundo d´arte, para o fundo da sua modéstia, para o interior de sua vida de esposa, deixando na admiração dos que a conheceram uma saudade e um abandono”. Porém, essa pretendida homenagem não se concretizou.

 

Em “A Vida Moderna”, Francisca Júlia publicou as poesias “Rústica”, “A um velho”, “A Fonte de Jacó” e “A uma santa”, estas duas últimas na edição de agosto de 1920. E na “Revista do Brasil”, de Monteiro Lobato, vamos encontrar novamente “Rústica” e “A um velho”.

 

A MORTE IMPASSÍVEL

 

Busto de Francisca Júlia, em Eldorado
Busto de Francisca Júlia, em Eldorado

Sobre a vida conjugal de Francisca Júlia escreveu Raimundo de Menezes: “Viveram, assim, como dois autênticos namorados em plena lua de mel, dilatados anos, até que, um dia, a desgraça resolveu acabar com tanta felicidade. (...) Um dia o infortúnio veio bater à porta do lar feliz de Francisca Júlia. Entrou, e destelhou-o...”

 

Acometido de tuberculose, após demorado tratamento, Filadelfo Munster faleceu em 31 de outubro de 1920. A perda do companheiro tão querido foi arrasadora para a sensível poetisa, cuja emoção não pode conter, em nada demonstrando ser a autora daqueles versos frios, impassíveis. Confessou aos amigos que a sua vida não tinha mais sentido sem a companhia do marido e deixou claro que “jamais poria o véu de viúva” (seria uma indicação de suicídio?). Retirou-se para repousar em seu quarto e acredita-se que tenha ingerido excessiva dose de narcóticos. No dia seguinte, de acordo com uma versão muito divulgada, ao abraçar o caixão onde jazia o corpo inerte do esposo, num último e emocionado adeus, Francisca Júlia falecia aos 49 anos. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Araçá, em São Paulo, ao meio-dia de 2 de novembro.

 

Sobre a morte de Francisca Júlia, criaram-se lendas. Alguns garantem que a poetisa, após a morte do esposo, retirou-se para o quarto, ingeriu narcóticos e não mais acordou. A versão mais difundida é a que teria falecido abraçada ao caixão onde jazia o corpo do falecido. Esta versão é corroborada pelo poeta J. Mendes, que cita o escritor Raimundo Magalhães, que por sua vez relata o que ouviu de Múcio Leão sobre os últimos momentos de Francisca Júlia:

 

“A poetisa veio, debruçou-se sobre o caixão do marido, sem nenhuma emoção aparente, sem sequer uma lágrima nos olhos. Ali ficou alguns minutos, como a segredar coisas carinhosas ao ouvido do morto. Os minutos iam passando. Urgia fechar o caixão. Quando Júlio César da Silva, outro poeta, procura afastar a irmã do cadáver do cunhado, estremece. O que tinha nos braços era um corpo sem vida. Francisca Júlia também tinha morrido” (in “Francisca Júlia”, de J. Mendes, coluna “Crônica de Eldorado”, sem data e sem referência do jornal)

 

Já essa versão é contestada por Raimundo de Menezes: “Correu, então, o boato de que Francisca Júlia havia se suicidado, ingerindo poderoso narcótico. Mas tal não se dera. Pura invencionice, criada pela bisbilhotice popular. Morrera de dor, nos paroxismos do seu grande e imensurável afeto.”

 

O crítico Péricles Eugênio, ouvindo testemunhas oculares, afiança que, no dia da morte do esposo, Francisca Júlia se retirou para repousar e “não mais acordou, apesar dos esforços médicos para reanimá-la, vindo a falecer na manhã do dia do enterro do marido”. O óbito foi atestado pelo Dr. Heitor Maurano, que deu como causa mortis “hemorragia cerebral” (assento nº 409, fls. 9vº, do Livro C-31, do Registro de Óbitos, Registro Civil do 2º Subdistrito da Liberdade, Capital). O corpo de Francisca Júlia foi sepultado no terreno perpétuo nº 9, da quadra 6-A, jazigo comprado pelo irmão Júlio César. O jornalista João Pontes de Moraes, que informou o óbito de Filadelfo Munster, afirmou que Francisca Júlia costumava dizer que “jamais poria o véu de viúva”.

 

Escreveu Andrade Muricy: “A morte deu, assim, epílogo singularmente romântico à recatada existência da Poetisa Impassível. Ao artista vigoroso que nela havia, talvez esse fim causasse horror, se o houvesse previsto; talvez lhe parecesse por demais sentimental, por demais expressivo para a discreta linha afetiva e para a serena contensão do seu sonho de beleza”.

 

Seu corpo foi baixado à campa ao meio-dia de 2 de novembro de 1920, Dia de Finados. Discursou à beira do túmulo o poeta Ciro Costa. Foram prestar o seu último adeus à pranteada poetisa muitos dos futuros modernistas de 1922: Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Di Cavalcanti. Os pais de Francisca Júlia, o irmão Júlio César e esposa mandaram rezar missa de sétimo dia na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, no dia 8 de novembro, às 8h. Outra missa foi mandada rezar às 9h por um grupo de escritores e admiradores da poetisa: Martins Fontes, Paulo Setúbal, Freitas Vale, Menotti del Picchia, Ciro Costa, Valdomiro Silveira, Agenor Silveira, Nilo Costa, Heitor de Moraes, Canto e Melo, Couto Magalhães, João Silveira, Gelásio Pimenta, Cláudio de Souza, Alberto de Souza, Manoel do Carmo, Artur de Cerqueira Mendes e René Thiollier.

 

A “MUSA IMPASSÍVEL”, DE BRECHERET

 

Logo em seguida à morte da poetisa, o deputado José Freitas Vale, um de seus admiradores, apresentou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 44/1920, que autorizava o Governo do Estado a erigir um mausoléu para Francisca Júlia, com a abertura de um crédito de 15 contos de réis. Deram parecer favorável, em 17 de dezembro de 1920, os deputados Mario Tavares, Júlio Prestes e Azevedo Júnior. Já em sessão de 23 de dezembro, a proposição é defendida no Senado paulista por Luiz Pisa, sendo logo aprovado e convertido em lei.

 

A estátua foi burilada pelo cinzel de Victor Brecheret e colocada no túmulo em 1923, durante o governo de Washington Luiz. Sobre essa escultura, as palavras de Menotti del Picchia dizem tudo: “A estátua que se ergue hoje no cemitério do Araçá, a Musa Impassível, é um mármore criado pelo cinzel triunfal de Victor Brecheret. Na augusta expressão dos seus olhos, do seu busto ereto, da suas mãos rítmicas, há toda a grandeza e a beleza daquela musa impassível da formidável parnasiana que concebeu e realizou a ‘Danças das Centauras’. O estatuário é bem digno da poetisa.” (7)

 

Para Péricles Eugênio, a estátua, “apesar de branca, imóvel e impassível, suas linhas, principalmente de perfil, como que fremem angustiadamente sobre os despojos da poetisa que desejou morrer e teve o seu voto atendido para que não ficasse sozinha no mundo.”

 

Nos últimos anos, a vida e a obra de Francisca Júlia vêm sendo reabilitadas por pesquisadores de todo o País, com a publicação de teses e dissertações acadêmicas. Em 2008, Marcia Camargos lançou “Musa Impassível - A poetisa Francisca Júlia no cinzel de Victor Brecheret” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo). E em 2020, cento e vinte e cinco anos após a publicação da edição original, o Senado Federal reeditou “Mármores”, quarto volume da Coleção Escritoras do Brasil.

 

Francisca Júlia vive.

 

SELETA DE SONETOS

 

Musa Impassível

 

Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero

Luto jamais te afeie o cândido semblante!

Diante de Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante

De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

 

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero

Em tua boca o suave e idílico descante.

Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,

Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

 

Dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa;

A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,

Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;

 

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos

Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,

Ora o surdo rumor de mármores partidos.

 

Noturno

 

Pesa o silêncio sobre a terra. Por extenso

Caminho, passo a passo, o cortejo funéreo

Se arrasta em direção ao negro cemitério...

À frente, um vulto agita a caçoula do incenso.

 

E o cortejo caminha. Os cantos do saltério

Ouvem-se. O morto vai numa rede suspenso;

Uma mulher enxuga as lágrimas ao lenço;

Chora no ar o rumor de misticismo aéreo.

 

Uma ave canta; o vento acorda. A ampla mortalha

Da noite se ilumina ao resplendor da lua...

Uma estrige soluça; a folhagem farfalha.

 

E enquanto paira no ar esse rumor das calmas

Noites, acima dele, em silêncio, flutua

O lausperene mudo e súplice das almas.

 

Carlos Gomes

 

Essa que plange, que soluça e pensa,

Amorosa e febril, tímida e casta,

Lira que raiva, lira que devasta,

E que dos próprios sons vive suspensa.

 

Guarda nas costas uma escala imensa,

Que, quando rompe, espaço fora, arrasta

Ora do mar as queixas ora a vasta

Sussurração de uma floresta densa.

 

Ei-la muda, mas tal intensidade

Teve a música enorme do seu choro

O dilúvio orquestral dos seus lamentos.

 

Que muda assim, rotas as cordas há de

Para sempre vibrar o eco sonoro

Que sua alma lançou aos quatro ventos.

 

À noite

 

Eis-me a pensar, enquanto a noite envolve a terra,

Olhos fitos no vácuo, a amiga pena em pouso,

Eis-me, pois, a pensar... De antro em antro, de serra

Em serra, ecoa, longo, um réquiem doloroso.

 

No alto uma estrela triste as pálpebras descerra,

Lançando, noite dentro, o claro olhar piedoso.

A alma das sombras dorme; e pelos ares erra

Um mórbido langor de calma e de repouso...

 

Em noite assim, de repouso e de calma,

É que a alma vive e a dor exulta, ambas unidas,

A alma cheia de dor, a dor cheia de alma...

 

É que a alma se abandona ao sabor dos enganos,

Antegozando já quimeras pressentidas

Que mais tarde hão de vir com o decorrer dos anos.

 

Os Argonautas

 

Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano;
Os astros e o luar - amigos sentinelas-
Lançam bênção de cima às largas caravelas
Que rasgam fortemente a vastidão do oceano.

Ei-los que vão buscar noutras paragens belas
Infindos cabedais de algum tesouro arcano...
E o vento austral que passa, em cóleras, ufano,
Faz palpitar o bojo às retesadas velas.

Nos céus querem ver, miríficas belezas;
Querem também possuir tesouros e riquezas
Como essas naus que têm galhardetes e mastros.

Ateiam-lhe a febre essas minas supostas...
E, olhos fitos no vácuo, imploram, de mãos postas,
A áurea bênção dos céus e a proteção dos astros...

 

A ondina

 

Rente ao mar, que soluça e lambe a praia, a ondina,

Solto, às brisas da noite, o áureo cabelo, nua,

Pela praia passeia. A alvacenta neblina

Tem reflexos de prata à refração da lua.

 

Uma velha goleta encalhada, a bolina

Rota, pompeia no ar a vela, que flutua.

E, de onda em onda, o mar, soluçando em surdina,

Empola-se espumante, à praia vem, recua...

 

E surgindo da treva, um monstro negro, fito

O olhar na ondina, avança, embargando-lhe o passo...

Ela tenta fugir, sufoca o choro, o grito...

 

Mas o mar, que, espreitando-a as ondas avoluma,

Roja-se aos pés da ondina e esconde-se no regaço,

Envolvendo-lhe o corpo em turbilhões de espuma.

 

Amphitrite

 

Louco, às doudas, roncando, em látegos, ufano,
O vento o seu furor colérico passeia...
Enruga e torce o manto à prateada areia
Da praia, zune no ar, encarapela o oceano.

 

A seus uivos, o mar chora o seu pranto insano,
Grita, ulula, revolto, e o largo dorso arqueia;
Perdida ao longe, como um pássaro que anseia,
Alva e esguia, uma nau avança a todo pano.

 

Sossega o vento; cala o oceano a sua mágoa;
Surge, esplendida e vem, envolta em áurea bruma,
Amphitrite; e, a sorrir, nadando à tona d'água,

 

Lá vai... mostrando à luz sua formas redondas,
Sua clara nudez salpicada de espuma,
Deslizando no glauco amiculo das ondas.

 

Paisagem

 

Dorme sob o silêncio o parque. Com descanso,

Aos haustos, aspirando o finíssimo extrato
Que evapora a verdura e que deleita o olfato,
Pelas alas sem fim da árvores avanço.

 

Ao fundo do pomar, entre folhas, abstrato
Em cismas, tristemente, um alvíssimo ganso
Escorrega de manso, escorrega de manso
Pelo claro cristal do límpido regato.

 

Nenhuma ave sequer, sobre a macia alfombra,
Pousa. Tudo deserto. Aos poucos escurece
A campina, a rechã sob a noturna sombra.

 

E enquanto o ganso vai, abstrato em cismas, pelas
Selvas a dentro entrando, a noite desce, desce...
E espalham-se no céu camândulas de estrelas...

 

LIVROS PUBLICADOS

 

1895 - “Mármores”, editado por Horácio Belfort Sabino; 1920 - 2º edição.

1899 - “Livro da Infância”, Tipografia do Diário Oficial do Estado.

1903 - “Esfinges”, Bentley Júnior e Cia.

1912 - “Alma Infantil” (em colaboração com Júlio César da Silva), Livraria Magalhães.

1921 - “Esfinges” (2º edição), Monteiro Lobato & Cia.

1961 - “Poesias”, reunidas por Péricles Eugênio, Comissão Estadual de Cultura.

 

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

 

1. João Ribeiro, prefácio de "Mármores";

 

2. Wenceslau de Queiroz, "Francisca Júlia da Silva", Diário Popular, 18/7/1895 a 26/7/1895;

 

3. Andrade Muricy, "Suave Convívio";

 

4. Péricles Eugênio da Silva Ramos, Introdução e Notas in “Poesias”, Comissão Estadual de Cultura, São Paulo, 1962;

 

5. Múcio Leão, "Autores e Livros", volume I, nº 14;

 

6. Raimundo de Menezes, "Escritores na Intimidade";

 

7. Lygia Lemos Torres, "Francisca Júlia da Silva", Revista da Academia Paulista de Letras, junho de 1952;

 

8. Lygia Lemos Torres, "Damas Paulistas", Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume 51, pág. 366.

 

9. Milton de Godoy Campos, "Francisca Júlia da Silva", Correio Paulistano, 7/2/1960;

10. Angel Crespo, "Muestruario de poemas simbolistas brasileños", Revista de Cultura Brasileña, Madrid, nº 22, setembro de 1967.

 

11. Livraria São José, "Francisca Júlia da Silva, Breve Evocativo do Seu Centenário - 1871-1971", Rio de Janeiro, 1972.

 

12. Clube de Letras Sete Lagoas (diversos autores), "Elogio à Poetisa Francisca Júlia (da Silva Munster), Sete Lagoas (MG), 1979, por ocasião da IV Festa da Cultura, promovida pela Academia Eldoradense de Letras.

 

13. Roberto Fortes, "A poetisa do Vale", Tribuna do Ribeira, 7/10/1981.

 

14. Roberto Fortes, "Francisca Júlia, a Musa Impassível", Tribuna do Ribeira, 17/11/1990.

 

15. Roberto Fortes, "A poetisa Francisca Júlia", Tribuna do Ribeira, 17/9/1991.

 

15. Roberto Fortes, "Francisca Júlia, quem diria, acabou na Internet...", Jornal Regional, 16/7/1999.

 

16. Roberto Fortes, "Ainda Francisca Júlia", Jornal Regional, 20/8/1999.

 

17. Roberto Fortes, "Jornais antigos e Francisca Júlia", Jornal Regional, 21/1/2000.

 

18. Roberto Fortes, "80 anos sem Francisca Júlia", Jornal Regional, 1/12/2000.

 

19. Roberto Fortes, "Há 130 anos, Francisca Júlia nascia em Eldorado", Jornal Regional, 21/9/2001.

 

NOTAS

 

(1) O poeta João Mendes (1918-1997), de Eldorado (SP) – que pesquisou exaustivamente a vida e a obra de Francisca Júlia (fundando, inclusive, uma academia de letras na cidade em homenagem à poetisa) – afiança: “Efetivamente ela nasceu em 31 de agosto de 1871 e não 1874. O documento que temos para essa afirmação não comporta dúvidas. É a certidão de seu batismo colhida no arquivo paroquial.” (in Tribuna do Ribeira, de 14/11/1981, pág. 2).

 

(2) “Francisca Júlia da Silva, Breve Evocativo do Seu Centenário, 1871-1971”, Livraria São José, Rio de Janeiro, 1972, pág. 5.

 

(3). Idem, págs. 3 e 4.

 

(4). Ibidem, pág. 5.

 

(5). Ibidem, pág. 5.

 

(6). Ibidem, pág. 6.

 

(7). “Poesias”, de Francisca Júlia, Comissão Estadual de Cultura, com introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos, São Paulo, 1962.

 

 

 

ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira.  E-mail: robertofortes@uol.com.br

 

(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

 

Confira todas as histórias do Vale

 


 


 

Postagem Anterior Próxima Postagem