Nunca
consegui ler até o final “Ulisses”,
de James Joyce (1882-1941).
James Joyce, autor de "Ulisses". |
A
primeira tradução para o português, bem sisuda, do filólogo Antônio Houaiss
(1915-1989), não consegui, a despeito de diversas tentativas, passar das dez
primeiras páginas.
A
segunda tradução, mais amena, da Bernardina da Silveira Pinheiro, consegui a
proeza de chegar até perto das cem páginas, até que a minha mente começou a
embaralhar: eu lia um parágrafo e esquecia o que tinha lido no parágrafo
anterior.
A
terceira tradução, do Caetano Galindo, mais próxima do coloquialismo de Joyce,
até gostei, a leitura foi deslanchando, mas depois apareceram outros livros que
me chamaram a atenção, e o livro voltou à estante junto com os outros dois.
Confesso
que me senti um completo boçal quando li o veredicto do poeta Ezra Pound
(1885-1972): “Todos os homens devem se
unir para saudar ´Ulisses´: aqueles que não o fizerem, contentem-se com um
lugar nas ordens inferiores.”
Mas,
pelo menos Jorge Luis Borges (1899-1986) me fez sentir “normal” quando
pontificou: “Eu, como o resto do
Universo, não li ´Ulisses´. Ninguém ignora que, para os leitores desprevenidos,
o vasto romance de Joyce é indecifravelmente caótico.”
Bem, não sou digno de estar nas “ordens
superiores”, como Pound, mas posso me considerar feliz por estar incluído nas
“ordens inferiores, como Borges...
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
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