O contato direto com a natureza possui o agradável poder de renovar o espírito humano.
foto ilustrativa. |
O mito do bom selvagem de Rousseau tem a sua
razão de ser, pois a natureza amansa o bicho-homem, tornando-o mais humano.
Poucos são os que, em interação com a natureza, não cedem à sua magia, ao seu
fascínio. Até mesmo um coração aparentemente de pedra se deixa amolecer pela
beleza natural, pelo esplendor que emana das coisas selvagens.
Segundo Rousseau, todo ser humano, em sua
essência, é bom. Pena que a sociedade industrial, racional, cujo único objetivo
é a matéria e o lucro fácil, e onde vence apenas o mais forte, encubra essa
característica humana, deixando exteriorizar apenas o seu oposto. É de se
lamentar. Afinal, como reza a filosofia rousseauna, todo homem nasce tendo o
bem em seu interior, e somente em certas ocasiões e em certos momentos tem
condições de colocar para fora essa sua virtude imanente.
O frescor da selva nos acaricia o rosto e o
espírito. A braveza do mar indomável nos rouba um incontido sentimento de
pequenez e, ao mesmo tempo, de grandeza diante dele. As pedras escarposas, que
se aglomeram ao pé da serra, parecem ir ao encontro do oceano como se para
afrontá-lo; no entanto, querem apenas a sua amizade e a sua proteção. A areia,
sempre solta e alva, berço de infinitas espécimes de microorganismos, recebe,
como uma dádiva, as ondas revoltas do gigante aquoso, como a virgem casta que
recebe com ardor o seu amado, pronto a consumarem uma união pura e apaixonada.
Riscando o céu azul limpo de nuvens, bandos de
gaivotas alvíssimas rondam à procura de algum desprevenido peixe, que saciará a
sua fome. Pode parecer incoerente: a vida subtraindo a vida, mas esse é
justamente o elo que mantém a vida coesa e inextinguível. Cada ser mantém o outro,
e todos, numa perfeita harmonia, se mantem. Essa é a lei da vida. Até os seres
ditos inferiores dependem dos outros para se manter. E a vida depende de todos
para ser perfeita e eterna.
Na Jureia, a vida explode em toda a sua plenitude.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a
transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).