Vapor “Vicente de Carvalho”. Foto colorizada, possivelmente por volta da década de 1920. Arquivo do Autor. |
Mas
nem sempre foi assim.
Houve
época em que inexistiam estradas intermunicipais, e o jeito era se utilizar os
vapores disponibilizados pela Companhia de Navegação Fluvial Sul Paulista, da
qual o jurista e poeta Vicente de Carvalho era um dos sócios.
Com
a inauguração da Estrada de Ferro Santos-Juquiá em 5 de janeiro de 1914, houve
uma expressiva melhora no que diz respeito aos transportes na região. Um velho
jornal editado em Iguape nas primeiras décadas do século XX nos dá uma ideia de
como era uma viagem de Santos a Iguape, passando por Juquiá e Registro.
A
estação do trem da Southern São Paulo Railway, a concessionária da linha
Santos-Juquiá, na avenida Ana Costa, em Santos, era pequena e acanhada.
Chegando
à estação de Juquiá, os passageiros embarcavam num vapor da Companhia Fluvial,
que poderia ser o “Vicente de Carvalho”, o “Bento Martins” ou o “Cândido
Rodrigues”. A primeira etapa da viagem era por volta das 10h. O vapor descia
pelo rio Juquiá até a barra desse rio, de onde seguia para a colônia de
Registro.
Por
volta das 19h, a embarcação aportava no Carapiranga (hoje pertencente a
Registro), onde se pernoitava. Os passageiros comiam no refeitório e dormiam
nos camarotes dos vapores.
Por
volta das 7h do dia seguinte, a viagem recomeçava. Deixando o pequeno rio
Juquiá, agora o vapor entrava no rio Ribeira de Iguape, mais pitoresco, vivo e
alegre.
Em
marcha uniforme e relativamente rápida, horas depois se atingia o Guaviruva
(hoje pertencente a Registro) e o Jipovura, já em Iguape, onde, em 1913, seria
instalada a primeira colônia japonesa do Brasil – Katsura.
Por
volta das 15h, eram avistados os cumes das torres da Igreja do Bom Jesus. Os
casarões, pouco a pouco, surgiam aos olhos dos passageiros. Desde o Porto do
Ribeira até o porto do Valo Grande descortinavam-se, a cada passo, o topo das casas
altas. Passava-se o Valo Grande e, em breve tempo, se contornava a cidade em
direção ao cais de desembarque da Companhia Fluvial.
Em
1915, o coronel Jeremias Júnior, chefe político do Vale do Ribeira na época, e
seu sócio, capitão Anthero Gomes, fundaram a Empresa de Transportes
Iguape-Juquiá. O novo empreendimento contava com várias lanchas à gasolina para
transporte de passageiros e de malas postais, entre a cidade de Iguape e o seu
distrito de Santo Antônio do Juquiá, que era o ponto terminal da Estrada de
Ferro. Entre as embarcações dessa empresa destacava-se a lancha “Iguape”.
Em
1916, essa empresa criou uma nova linha de navegação, de Xiririca a Cananeia,
com escala no bairro de Subauma, em Iguape. A empresa também adquiriu chatas
para executar o serviço de embarque e desembarque de cargas dos navios que
tocavam o porto de Iguape. Após a morte do coronel Jeremias Júnior em 1929, a
empresa passou para as mãos do capitão Anthero Alves de Moura, que residia em
São Vicente, onde era chefe político.
O
leitor observou que uma viagem de Santos a Iguape, nas primeiras décadas do
século XX, primeiramente por trem e depois por vapor, não demorava menos do que
dois dias!
ROBERTO FORTES, escritor, poeta e jornalista, é autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (Inteligência Editora, 2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. É sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br