ROBERTO FORTES
Ao tomar o poder em 1930, Getúlio Vargas destituiu todas as autoridades do país, substituindo-as por pessoas ligadas ao novo regime. Para os estados, foram nomeados interventores federais, que, por sua vez, nomeavam, por decreto, os prefeitos municipais. O Legislativo foi fechado e o prefeito governava o município sem o auxílio dos vereadores. Apenas em 1936 é que seriam realizadas eleições para o primeiro Legislativo após a Revolução de 1930.
Dois anos após Vargas se instalar no Palácio do Catete, eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, que tinha por objetivo obrigar o presidente a dar uma nova Constituição ao País, pois a que vigorava, de 1891, não estava sendo respeitada.
No dia 23 de maio, um protesto contra o governo federal resultou na morte de quatro jovens: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Com as iniciais desses nomes, dias após, seria formada a sigla MMDC, que virou o logotipo da Revolução Constitucionalista.
E, assim, no dia 9 de julho, tinha início em São
Paulo o movimento constitucionalista, apoiado amplamente pelo povo paulista.
Foram 85 dias muita luta, até 2 de outubro de 1932, quando São Paulo se rendeu.
Centenas de jovens paulistas sucumbiram nas trincheiras, motivados pelo ideal
da constitucionalização do Brasil. Oficialmente teriam morrido 934 pessoas na
chamada “guerra paulista”, embora estimativas não oficiais aumentem esse número
para 2.200 mortos.
A REVOLUÇÃO EM
IGUAPE
Batalhão Redentor Filhos de Iguape Colorizada |
Como todo o efetivo policial das cidades paulistas tinha sido requisitado pelo Governo do Estado, foi criada em cada município uma Guarda Municipal, formada pelos próprios cidadãos locais. Essa corporação era também conhecida pelo nome de Polícia Municipal.
Em Iguape, a Polícia Municipal foi criada no dia 15 de julho de 1932, pouco mais de um mês após a explosão do movimento constitucionalista, e era composta por 222 cidadãos iguapenses, que se apresentaram voluntariamente para o policiamento da cidade.
Assim, essa polícia se encarregava de manter a
ordem, guardar a cadeia e edifícios públicos, cumprindo seus integrantes, para
o perfeito desempenho da tarefa a que se impuseram, todas as ordens que lhes
eram dadas e obedecendo à disciplina a que ficavam sujeitos.
O EMBARQUE DA
FORÇA PÚBLICA
Em 16 de julho, embarcava em Iguape, para se incorporar ao seu batalhão, um contingente da Força Pública local (nome que então se dava à Polícia Militar), acompanhando de um contingente vindo de Cananeia. Antes de embarcarem, os soldados deram uma volta pela cidade, sendo acompanhados por grande massa popular que gritava “vivas” a São Paulo, ao Brasil, aos líderes do movimento constitucionalista, aos soldados revolucionários e à polícia.
O embarque foi assistido por familiares dos policiais e pelo povo. Em nome da população iguapense, discursou o Dr. Cyrillo Freire, conclamando os soldados ao cumprimento de seu dever cívico, sendo muito aplaudido. Novamente se ergueram “vivas” a São Paulo e ao Brasil. Em seguida, o Dr. Cyrilo Freire voltou a discursar, e ofertou, em nome da família iguapense, efígies e medalhas do Bom Jesus de Iguape, que foram colocados nos peitos dos soldados, sob o aplauso popular. O comandante do contingente de Cananeia agradeceu em nome da Força Pública, destacando o valor do soldado paulista, a gratidão e o estímulo do povo iguapense. Reinava grande entusiasmo na cidade.
O semanário “O Iguape” (nº 301, de 19/7/1932), noticiou o embarque dos soldados da Força Pública de Iguape e Cananeia rumo aos campos de combate. O título da manchete era: “O irresistível movimento armado constitucionalista que estalou na lendária e magestosa Paulicéa, para quebrar os grilhões oprobriosos com que a dictadura vem manietando a Nação, está virtualmente victoriso”. Parte do texto dizia:
“Nós, iguapenses, paulistas por excellencia, não podemos nem devemos ficar impassíveis diante do grandioso movimento em pról da restauração do império da lei em nossa Patria. O momento é de reivindicações e nunca se obtem reinvindicações sem sacrifícios [...]. Iguapenses!... Sacudamos o torpôr que tolhe os impulsos espontâneos que acabrunha e embota as consciências. Sejamos paulistas...E todo o paulista nesta hora em que periclitam os altos destinos da nossa nacionalidade, não póde titubear. Levantemo-nos como um só homem e vamos tornar mais compactas as fileiras dos nossos irmãos que, de armas em punho, lutam pela lei, pela ordem, pela grandesa de S. Paulo e glória do Brasil.”
Emocionante foi a manifestação que o povo iguapense prestou aos bravos soldados da Força Pública que compunham os destacamentos da cidade por ocasião do seu embarque com destino à zona de operações. Grande massa popular acompanhou, vivando delirantemente, os soldados de São Paulo, que garbosamente desfilaram pelas ruas da nossa cidade rumo ao porto de embarque. Lá chegados, usou da palavra o advogado Dr. Cyrillo Freite, que, em frases candentes, saudou aquele grupo de patriotas que seguia para o campo de luta em defesa da causa de São Paulo, “que é o supremo ideal dos brasileiros – a immediata reconstitucionalisação do paiz”.
As últimas
palavras do orador foram abafadas por estrondosa salva de palmas, sendo erguidos
muitos “vivas” a São Paulo, à Constituinte e à tropa da milicia paulista. Senhoritas
iguapenses, num gesto que deixou transparecer o patriotismo e a fé religiosa da
mulher brasileira, pregaram à túnica dos milicianos medalhas com a efigie do
Bom Jesus de Iguape. Os soldados constitucionalistas receberam essa demonstração
de carinho da mulher iguapense, com funda emoção e vivo desvanecimento.
Externando
os sentimentos da tropa que partia, falou o cabo comandante do destacamento de
Cananeia, sendo muito aplaudido. Em seguida, procedeu-se o embarque sob delirantes
aclamações dos populares e orações, que só terminaram quando o navio que os
conduzia, singrando as águas do Valo Grande, desapareceu à distância.
UNIÃO POR SÃO
PAULO
O
Partido Democrático de Iguape lançou um manifesto hipotecando apoio ao
movimento de São Paulo e concitando aos seus correligionários e demais pessoas
a se unirem na “causa santa, que é a causa do Brasil, dentro da lei e da
liberdade”.
Também
foi realizada reunião, no Paço Municipal, entre os líderes do Partido Democrático
e Partido Republicano Paulista, quando se decidiu pela criação de uma Frente Única
política no município. A ata foi lavrada pelo Dr. Cyrillo Freire. “Dessa forma,
a exemplo do que se vem praticando em todo o Estado, os políticos locaes, num
gesto nobre e eminentemente patriótico, esquecendo velhas dissenções e quiçá
rancores pessoaes, irmanaram-se, estabelecendo a unificação das correntes partidárias
aqui existentes, para melhor cooperarem em pról da victoria da causa constitucionalista,
que São Paulo pelo seu povo e seus soldados hoje defende de armas na mão.”
O
prefeito de Iguape, capitão Floramante Regino Giglio, tão logo estourou o
movimento constitucionalista, recebeu contínuos protestos de solidariedade,
recebendo em seu gabinete uma comissão formada pelos cidadãos José de Sant´Anna
Ferreira, Antônio Ribeiro Collaço, Augusto Mesquita de Carvalho, Isdêmolo Manfredi,
Bento Pereira da Rocha, Hermelino França Júnior, Waldemiro Athayde, Onofre
Sant´Anna Ferreira, Francisco Giani, Dr. Paulo Barreiros, Joaquim Sant´Anna de
Moraes e Antônio Plácido Barbosa, que oferecem seus serviços ao município.
Esses cidadãos se inscreveram na Guarda Municipal, a cargo da qual ficou todo o
serviço de policiamento da cidade.
A
Prefeitura Municipal, “no louvável intuito de proporcionar facilidades á população”,
tomou medidas junto ao comércio para que fossem mantidos os preços dos gêneros de
primeira necessidade. Tais providencias também foram adotadas em relação aos
distritos iguapenses de Registro, Juquiá, Prainha (Miracatu) e Alecrim (Pedro
de Toledo).
GRANDE
COMÍCIO
No dia
17 de julho, domingo, houve um grande comício, em prol do movimento
constitucionalista, promovido pelo advogado Dr. Cyrillo Freire. Ele explicou a
finalidade do movimento que estava empolgado o Estado de São Paulo e a Nação,
tecendo palavras de louvor “aos pioneiros da causa santa que São Paulo,
pelos seus filhos, defende galhardamente”. Incentivou o povo a formar um
batalhão para entrar na luta, seguindo o exemplo do que se verificava no resto
do Estado.
Em
seguida, discursou o coronel Félix Biallé, que exortou a mocidade iguapense a
se unir e, dessa forma, cooperar com “a sua acção decidida na campanha que
vem se iniciar-se pela constitucionalisação do paiz”.
Na
sequência, discursou o sargento José Nogueira, sargento reservista do Exército,
dizendo que, se entre os presentes houvesse alguém que o quisesse acompanhar,
que se manifestasse imediatamente. Diversos rapazes se alinharam ao lado do
sargento. Ouviu-se uma frenética ovação que aplaudiu o gesto corajoso dos
jovens.
O
Dr. Cyrillo Freire usou novamente da palavra dizendo da surpresa que lhe causou
a demonstração do “inegável patriotismo da mocidade iguapense ali
representada por aquelles bravos rapazes”. Organizou, por fim, uma passeata
que percorreu as ruas da cidade, tendo à frente os voluntários e autoridades
locais.
O CAMPO DE
AVIAÇÃO
Em meados
de julho, foram iniciados os trabalhos para a abertura de um campo de aviação
em Iguape. Em 31 de julho, o prefeito Floramante comunicava aos poderes competentes
a conclusão desse campo. Além de homens adultos, participaram também da construção,
voluntariamente, senhoritas e até crianças.
O
campo foi construído conforme orientações recebidas. Devido ao terreno escolhido
para o campo de aviação ser todo recoberto por mata virgem, foram necessários
12 dias de trabalho para ser ultimado. Seu comprimento era de 480 metros por 50
de largura. O jornal “A Gazeta”, de São
Paulo (nº 7.944, de 22/7/1932), destacou o trabalho do povo de Iguape pela
causa da constitucionalização do País:
“Unido, o povo de Iguape está trabalhando pela causa da constitucionalização do paiz. É grande, naquella cidade, a confiança do povo pela victoria das nossas forças. Alli, nos serviços de construcção de um campo de aviação trabalharam, offerecendo-se para isso, expontaneamente, 150 homens que foram auxiliados por 130 alumnos no Grupo Escolar. O campo mede 600 metros por 50. O batalhão ´Voluntarios Filhos de Iguape´ já conta com bom numero de alistados e está sendo instruido por um sargento reservista. Os funccionarios da policia civil e cidadãos de destaque social policiam a cidade, empenhando-se na manutenção da ordem publica. Senhoras da sociedade de Iguape angariam donativos para as familias dos soldados pobres.”
A COMISSÃO MUNICIPAL
No dia 23 de julho, foi criada a Comissão da Guarda
Paulista do MMDC, ou Comissão Municipal, como era conhecida, constituída
pela Frente Única Paulista no Município, cujo propósito era trabalhar pela
organização dos batalhões civis que deveriam permanecer de prontidão,
aguardando o momento de entrar em combate. Essa comissão era formada por
destacados cidadãos da época: o prefeito de Iguape, capitão Floramante Regino
Giglio, Luiz Gonzaga Muniz, Paulo Barreiros, Álvaro Martins de Freitas e
Hermelino França Júnior. Foram também criadas comissões idênticas nas subprefeituras
dos então distritos iguapenses (hoje emancipados): Registro, Juquiá, Miracatu e
Pedro de Toledo.
Essa comissão, apelando ao patriotismo das mães
iguapenses, pedia que elas autorizassem seus filhos a se empenharem na
luta “pela honra de São Paulo e do Brasil”. Segundo os
inflamados slogans da comissão, o momento era de ação: “São
Paulo é um só homem, um só pensamento. Levantou-se o Brasil em armas desde as
chapadas do Amazonas às coxilhas do Rio Grande!” Cartazes com os
dizeres – “Às armas! Viva Iguape! Viva São Paulo! Viva o Brasil uno e
varonil!” – eram afixados por toda a cidade. Iguape
fervilhava. A emoção, o amor à Pátria, e em especial ao Estado de São Paulo,
eram bradados aos quatro cantos.
Foram também nomeadas subcomissões distritais: para
Registro, Manoel Honório Fortes e Luiz Pires; Juquiá, Uriel Marques e João
Adorno Vassão; Miracatu, coronel Diogo Martins Ribeiro Júnior e Roldão Constâncio
Ferreira; e Pedro de Toledo, Joaquim Fernandes e J. Regino Vasconcelos. Essas
subcomissões, de acordo com as instruções da Comissão Municipal de Iguape,
teriam a colaboração dos subprefeitos dos respectivos distritos.
Também em obediência às instruções
oriundas do Governo do Estado, foi organizada na cidade uma Comissão Municipal
de Alistamento dos Voluntários para a Guarda Paulista. A comissão foi composta
por representantes dos partidos Democrático e Republicano Paulista, entre os
quais, Dr. Paulo Barreiros, Álvaro Martins de Freitas, Luiz Gonzaga Muniz e
Hermelino França Júnior, e funcionava numa sala do Paço Municipal.
Para a defesa do Litoral Sul, o Governo
do Estado enviou a Iguape o major Henrique Franzoi, tendo como ajudante de
ordem o tenente Gutermayer, que seguiu para Cananeia afim de inspecionar as
fronteiras com o Estado do Paraná e, em sendo o caso, preparar as linhas
defensivas para salvaguardar o solo paulista de qualquer invasão de tropas
federais.
Por
determinação do Governo do Estado, foi expressamente proibida a saída, do Estado
de qualquer quantidade de veículos, materiais, gêneros alimentícios,
combustíveis, gasolina e quaisquer outras espécies de produtos ou objetos. No
caso de não cumprimento, a Prefeitura procederia à respectiva apreensão.
A
Prefeitura organizou a Intendência Geral dos Mercados encarregada de levantar a
estatística dos gêneros de primeira necessidade na sede e distritos deste
município. Foram encarregados os
senhores Augusto Mesquita de Carvalho, Francisco Giani e Joaquim Sant´Anna de
Moraes para angariarem no município donativos destinados à manutenção das forças
constitucionalistas.
Doações
feitas pelo povo de Iguape eram remetidas ao seu destino. Em fins de julho,
foram doados 1 boi, 10 sacos de feijão, 155 sacos de arroz, 10 sacos de
farinha, 5 sacos de açúcar, 1 saco de café, 21 camisas de brim cáqui e mais 1:425$000
réis em dinheiro.
A
CRUZ VERMELHA IGUAPENSE
Cruz Vermelha Iguapense |
Atendendo
a insistentes pedidos de diversas senhoritas pertencentes à sociedade
iguapense, o prefeito Floramante Giglio, com o médico Dr. David Coda, resolveu
organizar a Cruz Vermelha Iguapense para “em caso de necessidade soccorrer os
nossos voluntários que em breves dias partirão para as cumeadas do Itapitanguy,
afim de salvaguardar a intangibilidade do sólo bandeirante e pugnar, pela acção
decisiva e destruidora das armas, em pról da victoria dos exércitos constitucionalistas.”
(“O Iguape”, nº 302, de 26/7/1932).
As
primeiras voluntárias a se inscreverem para fazerem parte da Cruz Vermelha
Iguapense foram as senhoras Joanna Collaço, Nomésia Lopes de Andrade Rebello,
Yara Lopes Rebello, Yolanda Lopes Rebello, Maria Isabel de Aguiar, Irene Grossi
Fortes, Maria Ignacia Veiga, Anna Coutinho, Benedicta Pereira, Gabriella
Saldanha, Bellila de Andrade, Djanira Moraes Manfredi, Ditinha Giglio, Analia
Sant´Anna, Marina Isidro Oliveira, Angelina Louzada, Nair Louzada e Maria
Vieira.
A
diretoria da Cruz Vermelha Iguapense ficou assim constituída: Presidente: Ana Cândida
Sandoval Trigo; Vice-Presidente: Maria do Carmo Toledo Giglio; Secretária:
Maria Sant´Anna; Tesoureira: Nomésia Rebello; Almoxarife: Rita de Oliveira.
A
cidade foi dividida em quatro quarteirões e designadas comissões para verificar
o número de necessitados, sendo apurada a existência de 171 famílias, com um
total de 925 pessoas, as quais, mediante cartões, receberam da Cruz Vermelha gêneros
comestíveis para uma semana.
Muitas
senhoras abandonavam os serviços domésticos para se entregarem, por muitos dias,
à confecção de fardas para os soldados, não só da cidade como os que chegavam
destacados ou a passeio.
Até o
início de agosto, essa comissão de senhoras já tinha conseguido angariar a
importância de 2:055$000 reis. Diversas famílias foram socorridas pela comissão
e outros auxílios foram distribuídos aos soldados que já tinham partido.
O “BATALHÃO
REDENTOR”
Batalhão Redentor no Rio Una |
O Batalhão
Patriótico foi organizado em 18 de julho de 1932. Até então tinham se alistado:
sargento reservista José Nogueira, Antônio de Campos Collaço, João Santiago de
Carvalho, Aristobolo Lima, Manoel Paulino da Silva, Sizenando Carvalho, Oswaldo
Freitas, Carlos de Campos Collaço, Lucílio Carneiro, Benedicto Pereira, Celso
Veiga, Américo Amâncio, Antônio Andrade, João Rocha, Alcides Cardoso e José
Silva de Lima
Em 23 de julho, foi recrutado expressivo número de
voluntários, que passaram a integrar o Batalhão Patriótico da cidade, que seria
chamado de Batalhão Redentor Filhos de Iguape (ou Redemptor,
na grafia da época) , nome escolhido em virtude da “grandiosa
cruzada da redenção” que os seus componentes empreenderiam para a
defesa de São Paulo.
Os voluntários
inscritos achavam-se aquartelados desde o dia 24 de julho nos prédios da Cadeia
pública (Cadeia Velha) e nas dependências do Fórum, que foram cedidas
pelo juiz de direito Phydias de Barros Monteiro. O comandante do batalhão,
sargento José Nogueira, que tomou a inciativa de inscrição de voluntários, ficou
a cargo da instrução dos rapazes.
Em
fins de julho ou início de agosto, esteve na cidade, acompanhado de seu estado
maior, o tenente Moupyr Monteiro, comandante do Exército Nacional em operação
no setor Sul da fronteira do Paraná.
Em
28 de julho, quinta-feira, às 21h, foi celebrada uma comovente missa votiva
pela vitória das forças constitucionalistas e pela restauração da paz “no
seio da família brasileira”. O templo ficou completamente lotado, numa
demonstração viva que bem demonstrou os anseios do povo iguapense pela paz do
Brasil e pela vitória de São Paulo.
Em
31 de julho, à noite, mais um comício era realizado “em favor da magna causa
esposada por São Paulo, que é o retorno imediato do paiz ao império da Lei, dentro
dos sagrados princípios da Liberdade e do Direito.” Mais uma vez, o povo
iguapense compareceu em massa para aclamar os oradores que se sucederam, dando “vivas”
aos principais líderes da revolução paulista.
A 1º de agosto, a Comissão do MMDC de São
Paulo, Seção do Interior, solicitava o encaminhamento para a Capital dos
voluntários já apresentados, para serem devidamente treinados, pedindo ainda
que a Comissão Municipal prosseguisse com o alistamento de voluntários. A
Comissão decidiu telegrafar ao MMDC comunicando que o serviço de
alistamento continuava a ser feito com todo o entusiasmo e que alguns
reservistas do município já haviam seguido para a Capital. Resolveu,
ainda, telegrafar às subcomissões distritais, por intermédio dos subprefeitos,
transmitindo-lhes os dizeres do MMDC da Capital. Foi providenciada a
confecção de fardamentos para uniformizar os voluntários alistados.
Em 4 de agosto, o prefeito Floramante
comunicava a criação do Correio Militar, nas dependências da Prefeitura Municipal,
“para o fim de facilitar a entrega das correspondências e pequenos volumes
endereçados aos soldados voluntários.” Os envelopes deveriam ser abertos e
isentos de selos, e no endereço era necessário declarar nome, batalhão,
companhia e número do soldado ou voluntário.
O Governo do Estado ordenou a construção
de uma linha telefônica ligando Registro a Juquiá e a Pariquera-Açu. Os trabalhos
foram rapidamente executados, com ligações também para Iguape.
COMPANHIA DE
SANTO AMARO
Em fins de julho, chegava a Iguape
oficiais da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro (C.I.E.S.A), que
ficaram acantonados em diversos pontos do município, recebendo demonstrações de
apreço e simpatia por parte da população.
Na noite de 27 de julho, no Paço
Municipal, foi realizada homenagem aos oficiais, com o comparecimento de
autoridades locais e de pessoas gradas. Discursou o Dr. Cyrillo Freire, que
destacou o sentimento do povo iguapense e de suas autoridades diante do movimento
armado que vinha sacudindo a alma paulista. O orador exaltou o exército
nacional ali representado pelos oficiais, destacando que o povo iguapense acompanhava
“com vivo entusiasmo” o desenrolar dos acontecimentos e que lutaria com
ardor para a completa vitória “da santa causa de S. Paulo, que é repor o
paiz no regime da Ordem e da Lei.”
Em nome dos oficiais, agradeceu a homenagem
o oficial Oscar Stewenson, que fez um discurso inflamado que empolgou os
presentes. Tanto Freire como Stewenson foram calorosamente aplaudidos. Após a homenagem,
saiu uma passeata cívica pelas principais ruas da cidade, com a participação da
banda musical Santa Cecília, ocasião em que discursaram ainda diversos
oradores, entusiasticamente aplaudidos pela imensa massa popular que participou
das homenagens “aos destemidos defensores dos elevantados ideaes da nossa
nacionalidade.”
A PARTIDA DO
BATALHÃO REDENTOR
Às vésperas da partida do Batalhão Patriótico, o prefeito Floramante transmitiu aos prefeitos de Jacupiranga e Cananeia o seguinte telegrama: “Fazendo seguir dia 4 para S. Paulo voluntários Guarda Paulista em numero 40, nos seria agradável que rapazes inscritos na vossa localidade aproveitassem mesma condução afim seguirem juntos formando uma só companhia.”
De
Cananeia, veio a resposta: “Agradecendo lembrança comunico que sahindo daqui
amanhã dez ou mais voluntários afim seguirem juntos aos dahi. a) Nino Cavagna –
Prefeito.”
E de
Jacupiranga: “Jacupiranga, 1 – Respondo o vosso aviso de hoje. Por enquanto
não se apresentou nesta voluntario ou reservista algum. Publiquei aviso
inscrição e assim que alguém se apresente até dia 4 comunicarei. Saudações. (a)
Gaspar P. Mayer – Prefeito Municipal.”
Esse primeiro destacamento do Batalhão
Redentor Filhos de Iguape partiu para o front no dia
4 de agosto, com destino a Juquiá para combater as forças federais ali
instaladas. Para a partida desse batalhão, organizou-se uma grande comemoração,
a fim de se homenagear aqueles bravos e destemidos jovens que partiriam rumo
aos campos de batalhas, arriscando as próprias vidas para a defesa da honra de
São Paulo.
O
embarque dos voluntários do Batalhão Redentor Filhos de Iguape ocorreu na manhã
do dia 4 de agosto. A partida do vapor “Rio de Una” deu-se às 10h horas
com destino à Vila de Santo Antônio do Juquiá. Além do sargento José Nogueira e
do professor Bento Pereira da Rocha, diretor do Grupo Escolar, faziam parte desse
batalhão os seguintes jovens: João Rocha, Manoel Paulino da Silva, Américo
Amâncio (ou Mâncio), João Santiago Carvalho, Carlos Campos Collaço, Adélio
Fortes, Celso Veiga, Antônio Andrade, Lucílio Carneiro, Andrelino Nicolau
Slindvain, Aristóbulo Lima, Oswaldo Freitas, José Silva de Lima, Benedicto
Pereira, Raphael Gonçalves Archanjo, Antônio Campos Collaço, Sizenando
Carvalho, Domingos Júlio de Ramos, Francisco Giglio Júnior, Mário Mendes dos Santos,
Henrique Gonçalves, Florivaldo Conceição, Lúcio dos Santos, Theophilo Fortes,
Antônio Ribeiro, João Pedro da Cruz, Horácio Gaudêncio Catira, Silvino
Silvestre, Lavene França Carneiro, Antônio Torquato, Júlio Neves, João Leandro Souza,
Onofre Sant´Anna Ferreira, Oswaldo Rollo, Ary Moraes Giani, Ernestino Rocha, Francisco
Souza, Paulo Adarico Brasil e Francisco Ribeiro.
No cais, discursaram os senhores João
Bonifácio da Silva, Joaquim de Souza Oliveira e a professora Amância Alves
Muniz, que dirigiram palavras de conforto e encorajamento aos que embarcavam
para levar a colaboração de Iguape à causa que São Paulo defendia pelas armas.
Também discursou o menino Luiz Gonzaga Trigo Muniz, que saudou o professor
Bento Pereira da Rocha em nome dos alunos do Grupo Escolar, do qual era
diretor. Coroando a cerimônia de despedida, duas moças da
sociedade, num gesto que deixou transparecer o patriotismo e a fé da mulher
iguapense, pregaram às fardas dos voluntários medalhas com a efígie do Senhor
Bom Jesus de Iguape.
Quando
o vapor começava a zarpar, de bordo, falaram os voluntários Bento Pereira da
Rocha, Francisco Giglio Júnior e o sargento José Nogueira. Juntamente com os
voluntários iguapenses, seguiram também 17 jovens de Cananeia, que chegaram à
cidade na véspera.
OS
REVOLUCIONÁRIOS
Oficialmente, de acordo com o Livro de
Inscripção de Voluntários Para o Batalhão de Iguape, foram alistados
76 jovens, no período de 23 de julho a 26 de setembro de 1932, que integraram
o Batalhão Redentor Filhos de Iguape. Contudo, muitos outros jovens
também arriscaram suas vidas por São Paulo sem terem assinado seus nomes no
mencionado livro de alistamento. Dessa maneira, publicamos abaixo a relação dos
76 voluntários que se alistaram oficialmente, discriminando suas idades e
profissões.
NOME IDADE PROFISSÃO
RESIDÊNCIA
1. José
Nogueira
24 Comércio Iguape
2. Alcides Cardoso
22
Mecânico Iguape
3. Amaro
Serrador
24
Operário
Iguape
4. João
Rocha
24
Operário
Iguape
5. Manoel Paulino da Silva 23
Pescador
Iguape
7. João Santiago de
Carvalho 20
Ajud. Pol. Iguape
8. Carlos de Campos Collaço 23
Comércio
Iguape
9. Adélio
Fortes
18
Comércio Iguape
10. Celso
Veiga 20
Operário
Iguape
11. Antônio Andrade 27
Enfermeiro
Iguape
12. Lucilio Carneiro 27
Operário Iguape
13. Andrelino Nicolau Slindvain 21
Sapateiro
Iguape
14. Aristóbulo
Lima
23
Operário Iguape
15. Oswaldo
Freitas
18
Comércio Iguape
16. José Silva de
Lima
19
Operário Iguape
17. Benedicto Pereira 22
Comércio
Iguape
18. Raphael Gonçalves Archanjo 18
Operário
Iguape
19. Antônio de Campos Collaço 25
Comércio
Iguape
20. Sisenando
Carvalho 29
Func. Munic.
Iguape
21. Domingos Júlio de
Ramos 17
Operário
Iguape
22. Francisco Giglio
Júnior 28 Comércio Iguape
23. Mário Mendes dos
Santos --
Operário
Iguape
24. Henrique
Gonçalves 19
Carvoeiro
Iguape
25. Romualdo de
Medeiros 18
Jornaleiro Iguape
26. Florisval Conceição 25
Viajante São Paulo
27. Lúcio dos
Santos 20
-- Iguape
28. Theophilo
Fortes 20
Comércio Iguape
29. Antônio Ribeiro
19
Lavrador Iguape
30. João Pedro da
Cruz 22
Operário Iguape
31. Horácio Gaudêncio
Catira 22
Motorista
Iguape
32. Silvino
Silvestre
21
Marítimo Iguape
33. Lavene França
Carneiro 19
Tipógrafo Iguape
34. Antônio
Torquato
21
Foguista
Iguape
35. Júlio Neves
19
Foguista Iguape
36. João Leandro
Souza 19
Operário Iguape
37. Mário Mendes
Santos 26 Operário Iguape
38. Bento Pereira da
Rocha 36
Func.
Publ. Iguape
39. Onofre Santanna
Ferreira 23
Estudante
Iguape
40. Oswaldo Rollo
23
Comércio
Iguape
41. Antônio Giani Foz
23
Comércio Iguape
42. Ary de Moraes
Giani
19
Comércio Iguape
43. Antônio Ambrósio de Souza 18
Operário
Iguape
44. Ernestino
Rocha 30
Operário
Iguape
45. Francisco
Souza 28
Jornaleiro
Iguape
46. Paulo Adarico
Brazil 31
Operário Iguape
47. Francisco Ribeiro 25
Operário Iguape
48. Antônio Martins
Olympio 27
Lavrador
Iguape
49. Alfredo
Alves 22 Lavrador Iguape
50. João Olívio
Ribeiro 21
Lavrador Iguape
51. Antônio Fortes Filho --
Comércio Iguape
52. Brazil
Simões
29
Comércio Iguape
53. Antônio
Pedroso 22
Operário Iguape
54. Moacyr
Bruno
--
Operário Iguape
55. Joaquim Marques de Moraes 30
Comércio Xiririca
56. Bolívar da Silva
Prado
31
Comércio
Iguape
57. José Izidro de Oliveira
Júnior 19
Comércio Iguape
58. Elípio
Cordeiro
37
Comércio Iguape
59. Hildebrando de
Morais 20
Operário Iguape
60. Benedito Rodrigues
Lisboa 18
Operário Iguape
61. Ruy
Louzada
--
Operário
Iguape
62. João Antônio da
Cruz 20
Operário Iguape
63. Emílio
Franco
19
Operário Iguape
64. Mário
Rocha
22
Operário Iguape
65. Lauro Gatto
24
Chauffeur
Iguape
66. Assuero
Lima
21
Comércio Iguape
67. Joaquim
Duarte 20
Comércio Iguape
68. Antônio
Collaço 36
Jornaleiro Iguape
69. Benedicto
Ribeiro 17
Jornaleiro
Iguape
70. Carmo Ribeiro
Almeida 18
Jornaleiro
Iguape
71. Salvador
Sousa
17
Jornaleiro
Iguape
72. Aurélio Miguel
Rodrigues 17
Jornaleiro
Iguape
73. Jorge Brazileiro de
Freitas --
Sapateiro
Iguape
74. Almando
Camillo 18
Jornaleiro
Iguape
75. Antônio Neves
Camargo 30
Operário
Iguape
76. João
Torquato 18
Operário
Iguape
HINO DO
BATALHÃO DE IGUAPE
O sargento José Nogueira, comandante do Batalhão Redentor
Filhos de Iguape, foi o autor do hino do batalhão, cantado a plenos
pulmões pelos voluntários rumo aos campos de batalha:
De São Paulo
Partiu o heroico grito
Que reboou no céu
Cortando os ares.
Nós queremos a lei e a justiça
Que na terra é a liberdade.
De Iguape
Seguiremos irmanados
Tendo em mira
Conquistar a glória.
Lutaremos com todo o denodo
Até ganharmos os loiros da vitória.
(Estribilho)
Constituinte...
Constituinte...
Nós queremos vezes mil
Ou vencermos nesta luta
Ou morrer pelo Brasil.”
A REVOLUÇÃO
MOBILIZA A CIDADE
Tão logo eclodiu, a Revolução polarizou as atenções
do povo iguapense. Muitas comissões, destinadas a amparar a causa revolucionária,
foram criadas na cidade. A Comissão Pró-Donativos às Famílias dos Voluntários
Iguapenses, formada por senhoras da sociedade local, tinha por objetivo amparar
as famílias dos revolucionários que partiram para o front e
que eram arrimo de família. A Prefeitura Municipal organizou a Comissão Para Angariar
Donativos, também formada por senhoras iguapenses, cujo propósito era arrecadar
dinheiro e mantimentos para o êxito da Revolução.
Foi criada a Cruz Vermelha iguapense, composta por
senhoras da cidade, para prestar auxílio aos feridos e dar assistência
médico-hospitalar aos revolucionários e a seus parentes. A cidade foi dividida
em quatro quarteirões, sendo designadas comissões para verificar o número de
necessitados. Até o dia 31 de agosto havia sido apurada a existência de 171
famílias, num total de 925 pessoas, as quais receberam gêneros alimentícios e
atendimento médico. Deve-se ser destacado o trabalho do Dr. David Coda, que não
mediu esforços no sentido de amparar as famílias carentes.
A exemplo do que acontecia em outros municípios, em
Iguape também foi instituída, pela Prefeitura, a Campanha do Ouro para
a Vitória, para arrecadar peças de ouro, prata, cobre e outros metais e
pedras preciosas, destinadas à causa revolucionária. Aos doadores, o prefeito
fornecia recibos, sendo depois enviados diplomas de São Paulo. A Coletoria
Estadual local também angariava metais destinados a essa campanha, sendo que,
até 31 de agosto, haviam sido arrecadados donativos efetuados por 61 pessoas em
ouro, cobre e outros metais. O doador também recebia como comprovante um anel
de ferro, onde se lia a legenda: “Dei ouro para o bem de São Paulo”.
Sobre essa campanha, o mesmo jornal escreveu as seguintes linhas:
"Se os ricos offerecem o seu dinheiro, os pobres dão-lhe o seu trabalho; os agricultores o fruto do seu labor constante; as mães os seus filhos queridos, que sem hesitar animam-se a seguir para a linha de frente, dando a sua vida em holocausto á santa causa nacional."
As mulheres iguapenses – mães, esposas, filhas,
noivas e namoradas – reuniam-se diariamente nas dependências do Grupo Escolar
ou em seus próprios lares, para confeccionarem fardamentos, agasalhos, meias de
lã e, segundo se lê num jornal da época, chapéus de pano (“misto de capuz e
capacete de explorador”), produtos que seriam remetidos aos soldados não só
da cidade como também aos que eventualmente passassem por Iguape, destacados ou
a passeio. Para a realização dessa tarefa, as mulheres da cidade abandonavam
seus afazeres domésticos e se entregavam de corpo e alma à causa paulista.
Por iniciativa das professoras do Grupo
Escolar, foi organizada uma lista para a aquisição de capacetes de aço
destinados aos soldados revolucionários. Foram arrecadados 611$400 réis, dos
quais 600$000 destinados à compra de 40 capacetes remetidos a São Paulo por intermédio
da filial das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, e o restante entregue à
diretoria da Cruz Vermelha Iguapense.
A REVOLUÇÃO
CONTINUA
Por esse período, várias lutas sangrentas se
desenrolavam em São Paulo. Das duas partes, tombavam centenas de mortos,
banhando de sangue o Estado. O mês de agosto chegou ao fim, iniciou-se o mês de
setembro e a revolução, já próxima do final, ainda polarizava as atenções de
todos.
Chegou o dia 7 de setembro e a Comissão Municipal
empenhou-se ao máximo para que a data da Independência do Brasil fosse
comemorada condignamente. Pela manhã daquele dia, foi celebrada missa pelo
padre Pedro Gomes, capelão da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro, companhia
à qual estava incorporado o Batalhão Redentor, que contou com a presença
da Guarda Municipal e do batalhão comandado pelo tenente Campos. À tarde, sob o
olhar atento da população, saiu pelas ruas o desfile escolar realizado pelos
alunos e professores do Grupo Escolar, sendo a festividade abrilhantada pela
banda musical Santa Cecília, dirigida pelo maestro Paulo Massa.
Passou a empolgação do dia 7 de setembro, mas não o
fascínio pela Revolução. No dia 9 de setembro, um telegrama expedido pelo
sargento José Nogueira comunicava estar suspensa a remessa de voluntários para
Registro até segunda ordem, devido ao excesso de legionários aquartelados no
distrito, sendo que os voluntários futuramente alistados deveriam permanecer em
Iguape aguardando novas instruções.
No dia 12 de setembro, em telegrama enviado ao
comandante Campos, da praça de Posto de Linha, a Comissão Municipal manifestou
o seu contentamento pela vitória alcançada pelo destacamento do comandante na
luta que travou contra os federais naquela localidade, expressando, ainda, a
sua satisfação pela maneira exemplar como se comportou um dos seus
subordinados, o iguapense Antônio de Campos Collaço.
No total, até o final da Revolução foram alistados,
segundo o Livro de Alistamento da Comissão Municipal, um número de 76
voluntários, inscritos no período de 23 de julho a 26 de setembro de 1932, e
que incorporaram o Batalhão Redentor Filhos de Iguape. É preciso
levar em conta que muitos revolucionários, cujos nomes não constam do
mencionado livro, também participaram da Revolução. Portanto, o número de
voluntários iguapenses foi superior aos 76 soldados oficialmente inscritos.
Esse número, somado aos 222 cidadãos que formaram a Polícia Municipal, perfazem
um total oficial de 298 iguapenses que, direta ou indiretamente, prestaram a
sua colaboração à causa de São Paulo.
Segundo vários depoimentos, apenas cinco
voluntários iguapenses, integrantes do Batalhão Redentor, saíram
feridos dos campos de batalha, não havendo, felizmente, qualquer baixa.
No total, foram 87 dias de combates – de
9 de julho a 4 de outubro de 1932 –, com um saldo oficial de 934
mortos, embora estimativas, não oficiais, reportem até 2.200 mortos.
A
REVOLUÇÃO EM CANANEIA
Cananeia
teve participação na Revolução de 1932 quando foi invadida por tropas do Rio
Grande do Sul, lideradas pelo tenente Gumercindo Saraiva, que vieram por terra
pela trilha do telegrafo (Guaraqueçaba/Batuva/Santa Maria), estrada do Ariri
até o Itapitangui, e por mar, pela Barra Grande, com o navio “Itajubá”,
auxiliado pelo rebocador “Carioca”, ficando as tropas sulistas em Cananeia por
dois meses.
Existia um barracão em Santa Maria, do imigrante Walter Stainer, onde houve o
primeiro entrevero, quando o senhor Alcides Marques, sendo interpelado pela tropa
inimiga, vendo-os famintos, negociou a busca de mantimentos, o que, na verdade,
foi um pretexto para fugir e avisar os seus conterrâneos, que prepararam a
primeira resistência na Casa de Pedra do Tabatinguera.
Antes de sua fuga, Alcides Marques preparou armadilha, em sua casa, no cinzel
da fornalha, enchendo-a de balas de fuzil, esperando que as tropas sulistas,
esfomeadas, acendendo a fornalha, tivessem sérias baixas, dando tempo, com isso,
para que a principal defesa se organizasse na Casa de Pedra do capitão do mato
do Mandira. Houve violento combate com várias baixas das tropas invasoras na
localidade chamada de Banhado do Porto do Meio.
Recebendo reforços, e bem equipadas, as tropas invasoras venceram mais essa
defesa, requisitaram quarenta canoas e rumaram, por terra e por mar, para o
bairro do Itapitangui. Lá cercaram a casa do telégrafo, administrado pelo senhor
Arcendino Fraga que, mesmo sabendo da invasão e recebendo ordem de rendição,
recusou-se a abandonar o posto. Pediu e obteve salvo conduto para a sua família,
enquanto cavava no chão de terra batida uma pequena cova rasa na qual tentou se
proteger.
Após a saída de sua família, a casa foi metralhada, ficando gravemente ferido.
Fingindo-se de morto, enganou os seus inimigos e, mais tarde, foi resgatado por
amigos e vizinhos. (Seu Arcendino trabalhou nos Correios até sua morte. Faleceu
em 1965, tendo um funeral de verdadeiro herói.)
Logo após esse incidente, as tropas sulistas invadiram Cananeia usando três
caminhões da firma Ivo Zanella, de Pariquera-Açu, e as canoas requisitadas no Porto
do Meio.
Tropas paulistas, lideradas pelo coronel da Força Pública, Pedro Arbues,
juntamente com os irmãos tenentes Lobo, da Companhia de Santo Amaro, invadiram
Cananeia, vindos por Iguape, chegando pelo caminho da Brocuanha, até o sítio
dos Paiva, onde organizaram a retomada da cidade.
O padre Joaquim Agra atraiu as tropas inimigas à Igreja para uma missa de
confraternização, quando, no meio do ofício religioso, soldados
constitucionalistas, escondidos atras do altar-mor, deram voz de prisão aos
soldados sulistas, que reagiram, dando início a um tremendo tiroteio, no qual é
ferido e preso o tenente Gumercindo Saraiva, logo depois transferido para ser
tratado em Iguape.
Com reforços vindos do Sul, as tropas federais retomaram Cananeia e, em combate,
cercaram as tropas paulistas no Itapitangui, que receberam ordem de rendição.
O coronel
Pedro Arbues reuniu as tropas e declarou que, apesar de saber que a sua causa
era justa, pediu para que seus homens se rendessem, e ao inimigo que seus
homens fossem poupados, mas ele mesmo recusou-se a se render. Estando sozinho,
entrincheirado, recebeu intimação para se render. Alegou não o poder fazer,
pois “um Oficial da Força Pública de São Paulo não se rende jamais”, no
que, então, foi fuzilado pelas tropas sulistas.
O tenente Gumercindo Saraiva, ao saber da morte de Arbues, ficou consternado, e
disse do desperdício da morte de um oficial de tal valor, pois havia sido
tratado com dignidade pelo coronel Arbues quando foi ferido no ataque na igreja
e removido em segurança para Iguape.
O padre Joaquim, pela sua ousadia e lealdade aos paulistas, foi surrado à ponta
de baioneta.
Partiu para Juquiá o destacamento do Batalhão Redentor Filhos de Iguape em 4 de
agosto para combater as forças getulistas lá instaladas. Embarcaram no vapor “Rio
Una”, sob aclamação cívica dos que ficavam em terra. O grupamento era composto
por 41 voluntários iguapenses e 17 jovens voluntários da cidade de Cananeia,
incorporados à Companhia Isolada de Exército de Santo Amaro (C.I.E.S.A),
responsável pelo comando da região.
(Dados
extraídos da página do Facebook de “Cananet”. Link acessado em 8/7/1932.
Endereço: http://www.cananet.com.br/historia/database/artigo/artigo_23.html)
Em
meados de agosto foi abandonado na praia da ilha do Bom Abrigo um avião “Savoia
Marchetti”, pertencente à flotilha federal. Esse avião sofreu avarias
inflingidas pela aviação paulista.
Em
princípio de setembro, forças paranaenses sob o comando do tenente Pedro Trompowsky,
com mais de 500 homens, marcharam na direção da colônia Santa Maria, em
Cananeia. Em 9 de setembro, o comandante do Batalhão Patriótico também rumou
para Santa Maria, tendo feito a viagem em lancha, canoa e mais 13 km a pé,
chegando naquela localidade às 18h.
Em 9
de setembro, revolucionários de Iguape, Cananeia, Santo Amaro e da Força
Pública, comandados pelo sargento do Exército, Sebastião Rodrigues Campos,
travaram combate com tropas getulistas, sob o comando do tenente Pedro Trompowsky,
em Itapitangui. As forças revolucionárias, em número muito inferior às tropas
federais, conseguiram desbaratar os adversários, que fugiram e foram
perseguidos. A população do Paraná recebeu as tropas paulistas debaixo de
aclamação popular.
Na
noite desse mesmo dia, às 23h, o contingente foi dividido em dois grupos, sendo
um comandado pelo sargento Nogueira, levando como guia Antônio Mandira, que seguiu
pelo caminho velho afim de dar cerco pela retaguarda inimiga. Infelizmente, esse
grupo não conseguiu chegar ao seu destino, pois o guia errou o caminho, o que propiciou
a fuga do inimigo.
O
outro grupo foi confiado ao sargento Oscar Stewenson, que marchou na mesma hora
pela estrada da linha telegráfica, com 18 homens, número bem inferior às forças
adversárias. Às 2h do dia 11 de setembro, o grupo encontrou-se com duas
sentinelas inimigas, sendo um preso, e o outro conseguiu fugir, dando alarme
aos seus companheiros. Em seguida, foi travado renhido combate, que só terminou
às 9h com a fuga dos adversários, que foram perseguidos por mais de 4 km,
deixando na fuga duas armas automáticas F. M., muitos fuzis, grande quantidade
de munições, barracas de campanha, mantimentos e cozinha. Do lado paulista, houve três feridos
levemente, sendo dois saldados da Companhia de Santo Amaro, e outro o iguapense
Américo Mâncio, ferido no pé.
Na
perseguição que se deu, foram presos mais dois inimigos, sendo um soldado e o respectivo
comandante, que foi ferido, além de seis mortos. Os prisioneiros confessaram
que seus companheiros, apavorados, levaram na fuga quatro feridos, sendo um
sargento e um cabo em estado de coma. Dos paulistas, houve ferimentos leves em
um soldado e um cabo. A trincheira inimiga foi tomada de assalto pelo
comandante Campos, sendo apreendida uma das metralhadoras.
Em
11 de setembro, uma patrulha comandada pelo sargento José Nogueira, a 10 km,
chocou-se com uma patrulha inimiga, ocorrendo pequeno combate que terminou com
a fuga dos adversários que levaram um soldado gravemente ferido. Os paulistas
nada sofreram. Todos os revolucionários estavam entusiasmados com o feito do
comandante Campos. O combate deu-se em Porto da Linha (depois Porto Campos),
próximo a Guaraqueçaba (PR). O voluntário Nenê Collaço portou-se heroicamente. O
batalhão paulista era composto por apenas 13 jovens contra 60 soldados
adversários.
Em
29 de setembro, as forças federais do coronel Fidêncio de Melo tomavam
Itapitangui. Em 1º de outubro, o destacamento do tenente-coronel Trotta, ocupou
Cananeia, libertando o porto de mesmo nome, então em poder dos revolucionários.
O tenente-coronel Trotta ocupou, sem resistência, a garganta do Brejo, a dois quilômetros
do rio das Minas, tendo os revolucionários paulistas fugido na direção do Itapitangui.
A
REVOLUÇÃO EM PARIQUERA-AÇU
Pariquera-Açu,
situada próxima aos estados do Sul, teve também participação em impedir que as
tropas inimigas (paranaenses, catarinenses, gaúchas) invadissem o Estado de São
Paulo. Para isso, foram intimados caminhões e motoristas de Pariquera-Açu como:
Anacleto Zanella, que dirigia o caminhão de seus irmãos Jorge e Cândido
Zanella; Alexandre Buckel, Nenê Simonetti e Abílio Prévidi, que dirigiam
caminhão de Máximo Zanella, que revisavam; Luiz Kozikoski e João Siedlarczyki (“João
Valentim”), cada um com seu caminhão. E os de Jacupiranga: Eduardo Macedo, Francisco
Zanella, Shandico e Miguel Abu-Yagui.
Muitos
soldados paulistas se alojaram em Pariquera-Açu, em diversos locais, como a casa
velha na avenida Carlos Botelho (hoje cadeia feminina); e na Procuradoria de
Terras, também na avenida Carlos Botelho.
Antigos
moradores contaram suas recordações sobre a Revolução em Pariquera-Açu. O comandante
dos revolucionários era o sargento Campos. Era ele que determinava o lugar onde
os motoristas iriam buscar ou levar os soldados (Xiririca, Cananeia, Itapitangui).
Em Itapitangui, houve combate onde morreram seis soldados, todos de fora. Os
motoristas requisitados não tinham horário de trabalho; geralmente dirigiam
durante o dia.
Como
sumiu uma pasta de um major, entre Pariquera e Itapitangui, denunciaram que foi
o carro 17 que perdeu a tal pasta. Como era Abílio Prévidi quem dirigia o carro
17, quando ele, em frente a hoje delegacia feminina, na avenida Carlos Botelho,
recebeu ordem de prisão de dois soldados gaúchos, foi a pé entre os soldados
até onde hoje é a Escola Getúlio Vargas (onde morou Guilherme Reder). Entregaram
Abílio para o chefe que lhe perguntou: “Onde você pôs a basta do major?”. Ao
que respondeu Abílio: “Que pasta? Quem me entregou esta pasta? Eu não recebi
nada!”. Nesse momento, apareceu um gaúcho negro com a pasta, e Abílio, em
seguida, foi dispensado.
Os
gaúchos faziam emboscadas nos morros e atacavam com fuzil quando os paulistas
passavam. Um soldado morreu em cima de um dos caminhões.
O
comandante sargento Campos mandou Abílio e vários outros caminhões levarem
soldados para Xiririca. Na ida, na ponte do rio Canha, em Jacupiranga, os
soldados gaúchos atiravam do morro do cemitério em direção à igreja, que era
passagem para Xiririca. Neste local, no meio do tiroteio, Abílio passou com o
caminhão em alta velocidade, quase capotando, o caminhão cheio de soldados
paulistas. Chegando em Xiririca, Abílio recebeu ordem para voltar com alguns
soldados para o Lajeado e reparar os fios do telégrafo que os gaúchos haviam
danificado. Abílio não veio, deu o caminhão para o Pedro Telegrafista para
colocar o telégrafo em funcionamento. Nessa viagem de Pedro, uma emboscada
estava acontecendo. Um soldado foi baleado e os outros fugiram para o mato.
Pedro
Telegrafista ficou prisioneiro, e era ele que estava levando a notícia de que a
revolução havia terminado. Os gaúchos se surpreenderam com a notícia do fim da
revolução. Em Xiririca, ainda não tinham a confirmação oficial do término do
conflito. Através dos telefonemas entre os comandantes de Xiririca e Registro
(major Lisandro) houve a confirmação. Em consequência, o comandante gaúcho
exigiu que os soldados paulistas ficassem desarmados para que a tropa gaúcha
pudesse entrar na cidade. E assim foi feito. Só que os gaúchos não respeitaram
a ordem e batiam no capacete de aço dos soldados paulistas e derrubavam no
chão. Um soldado negro, corajoso e resoluto, os enfrentou. Levaram ao
conhecimento do comandante gaúcho a má atitude de seus soldados e ele
imediatamente os repreendeu.
Aproveitando
a ocasião do desarmamento dos paulistas, o comandante gaúcho prendeu muitos dos
soldados revolucionários e caminhões. O mesmo aconteceu em Pariquera-Açu: os caminhões
de Máximo Zanella, de Pariquera-Açu, e de Miguel Abu-Ýagui, de Jacupiranga. Abílio
Prévidi e Eduardo Macedo estavam na janela, ouviram a conversa do comandante e
fugiram pelo mato com a ideia de pegar uma canoa e descer o rio Ribeira. Abílio
contou que Aristóbolo ensinou o caminho para chegar no Tashiro, mas se perderam
e não encontraram nem canoa. Seguiram a pé, debaixo de chuva. À noite, chegaram
no Capinzal e jantaram na casa de Olegário Lima, casado com Santina Gibertoni (pais
da Zila, Zélia e outros). Por estarem molhados, dormiram no chão forrado com o ponche
de Abílio.
No
dia seguinte, Eduardo Macedo foi a pé para Jacupiranga. Abílio vinha a pé para
Pariquera quando apareceu na estrada um automóvel Ford 29. Era o seu irmão
Meraldo, trazendo o tio Carlim e a tia Iride, e Abílio aproveitou a carona no
seu próprio carro e dirigiu, porque Meraldo, seu irmão, estava cansado.
Chegando em Pariquera-Açu, Abílio foi contar para Guilherme Reder que tinha
fugido de Xiririca, e junto estava o chefe gaúcho, e deu ordem de prisão por
ser Abílio um fugitivo e desertor. Sendo Guilherme Reder uma autoridade, não
houve a prisão.
Em Pariquera-Açu,
as histórias sobre a revolução eram contadas por Oscar Stewenson, soldado.
Fazia comício aonde chegasse, falando alto, com seu português correto. Abílio
Prévidi o admirava muito e o considerava um grande orador.
O
senhor Carlos “Carlim” Martins contou os seguintes episódios: Na revolução, João
Valentim foi preso na Procuradoria, que era cadeia, e só foi solto quando
acabou a luta. Luiz Kosikoski também tinha caminhão, mas, para não fazer essas
viagens, ele procurava desmontar o caminhão e, quando ia, tentava jogar o
caminhão na valeta. Carlim contou dos combates em Itapitangui. Os gaúchos
chegaram em Cubatão. Pessoas de Pariquera-Açu, com medo, iam se esconder no
sítio de Cristiano, seu pai, em Pariquera-Mirim, como Bernardino Lino Vieira.
Na
estrada que vai para Casa da Pedra tinha trincheira. Paulistas, esperando os
gaúchos, ouviram barulho, atiraram e acertaram na égua de Carlos Ribeiro, avô
do “Mudinho”.
Lico
Rossini lembra que, na revolução de 1.932, soldados ficavam acampados na avenida
Carlos Botelho, em uma casa desocupada. João Rossini (Lico) fazia a barba dos
soldados. Um dia, o capitão quis frango, e Lico levou o galináceo. O capitão
mandou buscar carrinho de mão e deu para o Lico um fardo de carne seca de 90
quilos e um saco de batata de 50 quilos.
Paranaenses
vieram por Cananeia e se encontraram com os paulistas em Itapitangui, onde teve
combate, morrendo de seis a oito soldados. Abílio Prévidi estava lá porque era
motorista.
Zé
Barduco lembra que os soldados sentavam na beira da porta da casa que dava para
a rua e ele, Zé Barduco, jogava água com caneca através da fresta da porta para
molhar a calça dos soldados que ali sentavam. Seu pai ficava bravo. Lembra
também que onde hoje é a casa do Valter Zanella havia muita goiabeira e um
galpão, onde os soldados ficavam.
Carlim,
com 4 ou 5 anos, lembra que teve um combate em Itapitangui. Os gaúchos chegaram
em Porto Cubatão. Pessoas de Pariquera-Açu, com medo, se esconderam no sítio do
Cristiano (pai do Carlim) como: Antônio Bernardino Lino Vieira (pai da Nícea,
Mirtes, Cristina, José); a família de Ernesto Ramponi; Guilherme Reder, com a
mulher Irma; Horácio Simonetti, com seu filho Irineu, de 2 anos. Na estrada que
ia para a casa de Pedra tinha trincheira. Os paulistas, esperando ali pelos gaúchos,
ouviram barulho e atiraram. Acertaram na égua de Carlos Ribeiro (avô do “mudinho”
Antônio “Toninho” Ribeiro).
Antônio
“Tonico” Dendeveiz era pequeno (5 anos), os soldados paravam no bairro Braço
Magro (na casa velha coberta com guaricana) e tomavam café lá. O pai de Antonio
“Tonico” ganhou uma potranca que os soldados também montavam. Kasper Dendeveiz,
o pai, não serviu ao governo por não saber ler, sendo dispensado.
Abílio
Prévidi foi condecorado pela Assembleia Legislativa de São Paulo com uma
medalha.
(Relato
da professora Maria Silene Prévidi de Barros, filha de Abílio Prévidi, empresário
e homem público pariquerense).
A
REVOLUÇÃO EM MIRACATU
Voluntários de Miracatu |
Antigamente
chamada de Prainha, Miracatu participou ativamente do movimento
constitucionalista. Por iniciativa do coronel Diogo Martins Ribeiro Júnior, em
14 de julho, foi organizada uma Junta Cívica composta por homens de destaque da
localidade, para incentivar o alistamento de voluntários para a Guarda Paulista.
Até 17 de julho, tinham se apresentado os seguintes cidadãos: Antônio Bianchi,
Diogo Martins Ribeiro Junior, Marcello Sampaio, Pedro de Lara, Benedicto
Ribeiro, Antônio Galdino Leite, João Baptista de Ramos e Antônio Modesto da
Costa. Desses, quatro já tinham seguido para a Capital do Estado.
A
população construiu uma estrada de rodagem na qual trabalharam gratuitamente,
todos os dias, cerca de 400 pessoas, estando, em princípios de setembro,
abertos mais de 25 quilômetros, por onde podiam transitar automóveis.
Entre
os voluntários prainhenses, encontravam-se oito netos do coronel Diogo Martins
Ribeiro, um filho de Luso de Oliveira e um do falecido João Pires de Oliveira,
além de oito rapazes da Capital, proprietários de bananais e residentes naquela
localidade. O engenheiro Dr. Oscar Martins Ribeiro também se encontrava nas
linhas de frente, com quatro filhos, inclusive duas moças, que prestaram seus
serviços na Cruz Vermelha.
Até
o final de agosto, 32 voluntários alistados, entre os quais, Haroldo Dias Ferreira,
João Laragnoit, Celso Eleazar Carneiro, Pedro Carneiro Laragnoit, Augusto
Laragnoit e Moacyr de Castro Oliveira (era estudante de Medicina; terminada a
Revolução, faleceu tragicamente em Itanhaém, aos 22 anos).
Um voluntário
prainhense escreveu estes versos que bem demonstravam o ardor cívico local (“O Iguape”, nº 303, de 5/8/1932):
Rapaz
que não se alista
Que
não pega no fuzil
Nunca
pode ser paulista
Não
é filho do Brasil.
Todo
homem nesta hora
Deve
ser um bom soldado;
Se
tens medo, vá embora
P´ra
lugar bem isolado.
Vá
de saia ou de saiote
Para
os fundos dos sertões;
És
covarde, aqui não volte
Não
há lugar p´ra poltrões.
A
REVOLUÇÃO EM JUQUIÁ
O
subprefeito Diogo Martins Duarte trabalhou ativamente no sentido de conseguir donativos
para a manutenção das forças paulistas, tendo conseguido angariar os seguintes:
10 sacos de arroz beneficiado de primeira qualidade, 4 sacos de farinha, 3
sacos de milho, 2 sacos de feijão, 2 cavalos de sela, 33 aves galináceas, 2
patos, 1 marreco, 2 latas de “Pescada”, 1 lata de leite condensando, 2
abóboras, 2 leitões, além da importância de 160$000 réis. Os donativos foram
entregues ao oficial-comandante das forças acantonadas em Juquiá, tenente Luiz
Martins de Araújo.
Antigos
líderes contrários ao movimento constitucionalistas fugiram quando da chegada
das tropas revolucionárias. “Fugiram!... E como fugiram!... Fugiram cobarde
e desgraçadamente da garbosa e valente tropa constitucionalista, que ali ficou
acantonada”, noticiou “O Iguape” (nº 303, de 5/8/1932). Mas, em a
revolução sendo vitoriosa, chegaria “o instante de o povo juquiaense, fulminando-os
com o seu despreso, atiral-os ao barathro tenebroso de um ostracismo merecido.”
Até
o final de agosto, 3 voluntários haviam sido alistados.
Carta de um voluntario – O capitão Diogo Martins Duarte, subprefeito
de Juquiá, recebeu de seu filho, Nelson (número 393 da Companhia de
Metralhadoras Mistas, 2ª secção, em Cunha), datada de 11 de agosto, dirigida do
setor de Cunha, a seguinte carta (em parte):
“Graças ao nosso bom Deus, até agora tenho sido feliz e tenho fé que em
breve regressarei, depois da victoria, que está por pouco. Sou paulista e bom
brasileiro, nada mais me restando senão derramar o meu sangue em holocausto á
São Paulo. Bom pae, não tenha cuidado de mim, pois estou honrando a minha
farda, a minha dignidade e pessoa a quem devo o meu ser. Espero em breve abraçá-lo,
indo conduzindo em meu coração as cores da bandeira de São Paulo.”
A
REVOLUÇÃO EM PEDRO DE TOLEDO
O município
de Pedro de Toledo, antigamente chamado
de Alecrim, também teve participação na Revolução de 1932. O senhor Albano
Marietto, subprefeito de Alecrim, organizou nessa localidade a Guarda Municipal,
a exemplo do que ocorreu em outras vilas da região.
A
comissão de Alecrim foi assim constituída: Presidente: coronel Raymundo Vasconcellos;
Vice-Presidente: Joaquim Fernandes; Tesoureiro: Albano Marietto; 1º Secretário:
Nélson Benatti; 2º Secretário: Accacio Piedade de Almeida; Membros: J. Regino Vasconcellos
e Cyrillo Aranha.
Até
11 de agosto, Alecrim tinha fornecido 18 voluntários para o exército
constitucionalista.
A
REVOLUÇÃO EM ELDORADO
O prefeito
Alcides Mariano Pereira, que exercia o cargo desde outubro de 1930, pediu a
exoneração, sendo substituído pelo coronel Antônio Avelino da Cunha, antigo
chefe político do município. “A população xiririquense, que venera o seu querido
Chefe, recebeu com vivas demonstrações de regozijo a notícia dessa nomeação”,
escreveu “O Iguape, nº 303, de 5/8/1932.
Em
fins de agosto, tropas avançadas revolucionárias combateram nove cavalerianos
adversários, que resultou na morte de quatro destes, além da apreensão dos
cavalos. Os revolucionários portaram-se com bravura e não sofreram nenhuma
baixa.
Com
a aproximação das forças paulistas em Xiririca, os adversários que se encontravam
na cidade retiraram-se com destino ignorado, seguindo os paulistas em seu encalço.
Os prisioneiros seguiram escoltados para São Paulo. Depois desse embate, o Batalhão
Patriótico foi destacado para Cananeia e Itapitangui, onde permaneceu por
vários dias.
Em
Xiririca, foram angariados 2 cavalos, 45 bois, 10 suínos, 4 carneiros, 52 sacas
de arroz beneficiado, 10 sacas de açúcar, 10 de feijão e 1 de café, destinados
à manutenção dos soldados revolucionários na região.
A
REVOLUÇÃO EM JACUPIRANGA
Jacupiranga: Companhia Santo Amaro |
A
comissão angariadora de donativos era composta pelo prefeito Gaspar Paulo Mayer,
Bernardo Ferreira Machado e Fructuoso Moreira de Lima. Também estavam
encarregados de receberem donativos nos bairros os senhores Alfredo Muniz
Costa, Jose Lúcio Pereira, Vicente de Mattos, Miguel Camargo, Manoel Antunes,
João Alves, João Cypriano, Paulo Alves Rodrigues, Joaquim Anago Trigo e João
Mariano.
Foram
também angariados objetos de ouro e prata (alianças, anéis, moedas, pulseiras, pergaminhos,
brincos, medalhas, relógios etc), coletados pelo prefeito Mayer e entregues ao
coletor estadual Felício Ferreira Machado, para dar o competente destino.
Foram
arrecadados 405$000 réis, que possibilitaram a compra de 27 capacetes de aço. Também
foram angariados: 40 cobertores, 84 metros de brim, 80 metros de algodão, 200
maços de cigarros, 3 quilos de fumo em corda e 6 toalhas de rosto.
Entre
os voluntários jacupiranguenses encontravam-se: Durvalino Martins, Valdo de
Lima, José Vicente, Miguel de Oliveira Muniz e Francisco Collaço.
A
REVOLUÇÃO EM RIBEIRA
Os
combates de “Capella da Ribeira”, atualmente município de Ribeira, no Alto Vale
do Ribeira, ocorreram entre 17 e 31 de julho de 1932, sendo o último dia a data
da queda daquela praça de guerra, por volta das 10 horas da manhã. A localidade, a exemplo de Itararé, já havia
sido palco de terríveis combates. Em outubro de 1930, ali se confrontaram os
rebeldes comandados por João Alberto Lins de Barros e os soldados da Força
Pública de São Paulo comandados pelo tenente-coronel Pedro de Moraes Pinto, que,
em julho de 1932, foi comandante da praça de Itararé.
Em
10 de julho de 1932, Capela da Ribeira começou a ser guarnecida por uma companhia
do 9º B. C. da Força Pública, de efetivo reduzido, dividida em quatro pelotões
e sob o comando do 1º tenente Benedicto da Silva Campos. Por volta do dia 17 de
julho, a posição recebeu como esforço um esquadrão de cavalaria desmontado da
Força Publica sob comando do capitão José de Oliveira França.
Também
no dia 17, o tenente-coronel Azarias Silva (1884-1970), então comandante do
Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo, assumiu o comando daquela
frente de combate. Montando o seu posto de comando a dois quilômetros das
trincheiras. Lá o coronel comandou cerca de 300 homens, o equivalente a uma
companhia, com 200 combatentes concentrados somente em Ribeira.
Faziam
frente às unidades da Força Pública do Paraná e provisórios, que compunham o destacamento
do coronel Ayrton Plaisant. Nos primeiros dias de combate, as forças de Plaisant
eram cerca de 100 homens, porém, ao longo de duas semanas esse número aumentou
em dez vezes.
Em Capela
da Ribeira, os combates foram diários. O inimigo visava principalmente a ponte
limítrofe entre os Estados do Paraná e São Paulo.
A
exemplo da defesa paulista no Túnel da Mantiqueira, Ribeira possuía grande
vantagem do terreno: trincheiras distribuídas de forma inteligente por 15 km ao
longo da fronteira, bem fortificadas e localizadas em encostas ou posições
superiores nos morros que margeiam o rio Ribeira; terreno ligeiramente mais
elevado do que o do lado paranaense e ainda com a proteção natural de um rio de
difícil travessia.
O
valor tático de Ribeira era enorme. Caso preservada a posição, e tivesse sido a
tempo reforçado o destacamento atuante em Apiaí e Ribeirão Branco, seria
possível atacar o flanco direito das forças ditatoriais, na altura de Faxina
(Itapeva). Assim, seria possível cortar a retaguarda do inimigo e obrigá-lo a
refluir para a fronteira com o Paraná, de modo a retomar as posições perdidas
em Itararé. Essa manobra era tão importante que, no mês de agosto, os paulistas
tentariam sucessivas ofensivas nesse sentido, inclusive pelo flanco esquerdo
ditatorial, a partir de Caputera (localidade situada 40 km ao norte de
Itapeva), mas todas foram frustradas.
Foi
somente em 31 de julho, justamente a data da queda de Ribeira, que o destacamento
do major Luiz Tenório de Brito chegou na região (o atraso se deu por conta do difícil
acesso e das chuvas torrenciais ocorridas na véspera). A tropa foi enviada como
reforço, com o objetivo de ocupar Apiaí, atacar Ribeirão Branco e conter o
avanço do destacamento Boanerges à oeste. Porém, este chegou primeiro a região
e as tropas do major Tenório de Brito ainda foram surpreendidas pelo avanço ao
sul das tropas de Plaisant, que já haviam tomado Ribeira e rumavam na mesma
data para cercar Apiaí, fazendo ligação com o destacamento Boanerges, numa
atuação coordenada.
Naquela
altura, Ribeirão Branco já estava ocupado e Apiaí completamente cercada pelos
dois destacamentos governistas. Eram mais de 3.000 soldados governistas: as
tropas do coronel Ayrton Plaisant (polícia paranaense e provisórios) somadas às
do coronel Boanerges (13º R.I., 7º R.I., 13º B.C., 5º R.A.M., Esquadrão 5º C.D.
e Brigada Militar gaúcha), contra apenas 600 soldados paulistas, na maioria
voluntários sem efetivo adestramento militar. Cercados em Apiaí, os paulistas
foram intimados a rendição, porém, apesar disso, conseguiram, a muito custo,
escapar em marcha a pé, rumando pela mata para Xiririca (atual Eldorado), via
Iporanga, sob implacável perseguição da cavalaria paranaense.
DIÁRIO
DO CORONEL AZARIAS SILVA
Dia
18 – Às 12 horas, transpuseram a ponte São Paulo-Paraná dois reconhecimentos de
oficiais, dirigindo-se ao encontro do adversário em território paranaense,
encontrando-o no sítio denominado “Pinhalzinho”. Caindo de surpresa sobre o
adversário em descanso, e sem segurança, dispersaram-no após ligeira
resistência, apoderando-se de 15 cavalos arreados e aprisionando um soldado.
Tivemos apenas um soldado extraviado.
Dia
19 – Cerca de 200 adversários inquietaram nossas tropas, das 13 às 13 1/2
horas, com tiroteio ininterrupto de metralhadoras. Foram repelidos sem nada
conseguir. Cerca de 40 praças adversárias e um oficial feridos foram
transportados para a retaguarda de suas linhas, conforme pudemos observar de
nossas posições.
Dia
20 – Um reconhecimento mandado para o local onde se feriu o combate de 18,
encontrou copioso material bélico, inclusive metralhadoras, fuzis,
metralhadoras, fuzis Mauser, mosquetões, etc, além de 6.600 cartuchos Mauser,
abandonados pelo adversário que recuou. Sepultamos em Ribeira o cadáver de um
soldado adversário ali encontrado, com as honras fúnebres pragmática.
Dia
21 – Este comando resolveu transferir o seu P.C. que estava a 2 1/2 quilômetros
à retaguarda, para junto das linhas em abrigo subterrâneo, afim de estar em
contacto direto com as tropas entrincheiradas.
Dia
22 – Às 16 horas e 45 minutos de hoje, o adversário desencadeou formidável
ataque às nossas posições utilizando canhão, inúmeras metralhadoras e fuzis
metralhadores. Apesar de tudo, foram repelidos com a mesma energia, nada
conseguindo. Conservamos integralmente as nossas posições. Não houve perdas de
nossa parte.
Dia
23 – O adversário atacou hoje as nossas linhas das 11 horas às 11,40 e reiniciou
o ataque às 12 horas até às 14 horas e meia. As nossas tropas sempre firmes e
entusiasmadas. Às 17 horas e 25 minutos nova tentativa do adversário para se
apossar da ponte S. Paulo- Paraná, sem nada conseguir. Retirou-se às 18 horas e
45 minutos.
Dia
24 – Às 2 horas e meia da madrugada de hoje, o adversário atacou violentamente
com fuzilaria e metralhadora em toda a nossa frente de combate. Às 3 horas e 50
minutos cessou o ataque. Não tivemos baixa nem cedemos um palmo do terreno.
Ribeira continua intransponível.
Dia
25 – Às 22 horas e 45 minutos o adversário atacou fortemente as nossas
posições, suspendendo às 23 horas e 35 minutos. Mais uma vez falhou o golpe.
Estamos firmes.
Dia
26 – Às 4 horas da madrugada o inimigo iniciou cerrada fuzilaria ás nossas
posições, prolongando-se até 1 hora e cinquenta; às duas horas reiniciou o fogo
que suspendeu vinte minutos depois. Não correspondemos a esse tiroteio do
adversário com o fito de o desmoralizar. Às 6 horas e cinquenta minutos, uma
centena de adversários descendo a encosta do monte “Corumbé”, atacou as nossas
fortificações próximas à ponte São Paulo-Paraná sendo vigorosamente repelida,
retirando-se em debandada, apesar de apoiada por metralhadoras. Falhou mais
essa tentativa para a posse da referida ponte e tomada de Ribeira, que só
entregaremos quando for detonado o último cartucho. Ribeira, 27/7/1932.” (Extraído do jornal “A
Gazeta”, de 16/8/1932, p. 4).
TELEGRAMAS
O
comando da Força Pública recebeu ontem o seguinte telegrama: “Capela Ribeira
20-7-1932 – Comandante Alfieri, Quartel da Luz, São Paulo. – Estou Ribeira
assumi comando tropa. Moral elevada. Situação boa. Ontem 260 adversarios
aproximadamente inquietaram as nossas tropas das 13 ás 18 horas e meia. Foram
repelidos. Nada conseguiram. Tivemos um ferido no pulso. Adversarios cerca 40
praças e um oficial ferido que transportaram para retaguarda suas linhas, em
caminhão. Informação de um aprisionado, efetivo adversários 900 homens policia
Paraná, Exército, cavalaria, infantaria, metralhadora e duas peças montanha.
Nada nos falta, homens, armamento, viveres, sobretudo formidável entusiasmo,
que é um dos fatores da vitoria. Pretorianos do Catête murchos e desiludidos.
População civil aconselhada retirou-se Apiai. Viva São Paulo! Viva o Brasil!
Saudações. Comandante Azarias.’ Saudações – Capitão Heliodoro Tenorio, chefe do
Gabinete.”
Mais
tarde, o sr. comandante Alfieri recebeu o seguinte telegrama, também do
comandante Azarias: “Comandante Alfieri – Quartel General da Luz – S. Paulo
– Ribeira n. 15 – Urgente. – Mandei reconhecer o local em território
paranaense, ocupado pelos adversários, nos combates travados ontem. Os adversários
abandonaram as posições, deixando grande numero de cadáveres, inclusive 2
oficias, duas metralhadoras pesadas, 2 fusis metralhadoras, 10 fusis Mauser, 9
mosquetões Mauser, 5 caixa de acessórios de metralhadoras, canos sobresalentes,
12 cofres com carregadores, 10 mochilas, bolsas e outros materiais bélicos,
além de 17 cunhetes de munições. Quando nosso reconhecimento procurava recolher
os caraveres afim de dar-lhes sepultura com as devidas honras, foi impedido de
prosseguir nesse dever de humanidade por ter sido hostilizado pelo adversário,
todavia, conseguiu transportar o cadáver de um soldado em poder do qual foi
encontrado o seguinte endereço: Ester Costa, rua Dr. Melo, 39, Antonina. –
Saudações. Comandante Azarias.” (Extraído do “Correio
de S. Paulo”, de 21/7/1932, p. 1).
A
QUEDA DE RIBEIRA
Contudo,
a frente de Ribeirão caiu às 10 horas manhã de 31 de julho de 1932, após
traição sorrateira encabeçada pelos irmãos Agostinho e Antônio Navarro Munhoz,
então tenentes do Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo, que
lideraram um grupo de 20 amotinados, composto por praças e oficiais. No dia
anterior, 30 de julho, abandonaram suas posições, atravessaram o rio Ribeira
rumo a margem paranaense e se entregaram às forças governistas, manifestando o desejo
de desertar e de ainda colaborar com o inimigo.
Com
a ajuda dos irmãos Navarro, entre os dias 30 e 31 de julho, os governistas se
dividiram em dois grupos e atravessaram o rio Ribeira em dois pontos
estratégicos (pontos cegos para as guarnições paulistas, e previamente
indicadas pelos oficiais desertores), a alguns quilômetros rio acima e rio
abaixo a partir da ponte fronteiriça, realizando a travessia por meio de cordas
e canoas improvisadas. Uma vez transposto o rio, rumaram cerca de 6 quilômetros
para a retaguarda paulista em movimento de pinça, até o ponto de encontro
combinado entre os dois grupos de governistas. Uma vez cortada a retaguarda
paulista, garantiram o cerco e, por fim, intimaram o comandante Azarias Silva a
se render.
Assim,
após 18 dias de luta renhida e encarniçada em terreno acidentado contra as
tropas governistas compostas por um destacamento da polícia paranaense
comandado pelo coronel. Ayrton Plaisant, cujo efetivo chegou a cerca de 1.500
homens, o tenente-coronel Azarias Silva foi cercado e feito prisioneiro junto
do capitão Benedicto da Silva Campos, do capitão José de Oliveira França e do
2º tenente Liberato Vianna, além de 56 praças. O seu genro, Iracy Teixeira, que
na ocasião estava integrado ao grupo, também foi preso. Porém, houve alguma
resistência e uma tropa remanescente conseguiu fugir rumo a Apiaí.
IMPRENSA
PARANAENSE
O
que foi o noticiado pela imprensa paranaense logo após a queda de Ribeira:
.
“O
sr. Interventor Federal recebeu hontem o seguinte telegramma: “Capela Ribeira,
31 – 15,55H – Remeti essa Capital seguintes Oficiais Força Pública aprisionado
Ribeira: Tenente Coronel Azarias Silva, cap. José Oliveira França, capitão
Benedito Silva Campos, 2os tenentes Liberato Viana, Waldemar S. Braga, João
Oliveira Melo e Antonio Navarro Munhoz [este] que se apresentou expontaneamente
hontem mais vinte e poucas praças. Peço seja o Tenente Navarro e as praças
acima referidas numericamente tratados não como prisioneiros. Eles manifestaram
desejo incorporarem-se minha força. (a) Cel. Plaisant.” (Extraído do jornal
“O Dia”, de 2/8/1932, p. 1).
O 2º
tenente Antônio Navarro Munhoz, junto de seu irmão, Agostinho Navarro Munhoz,
liderando cerca de duas dezenas de praças e oficiais – apresentadas em lista
separada anexa àquele telegrama – aderiram ao Destacamento Plaisant e passaram
a combater os próprios paulistas na frente sul, em um grande ato de desonra
contra a terra bandeirante e a própria corporação da qual faziam parte.
Infelizmente, o episódio lamentável de traição em Ribeira não foi o único no
conflito.
Em
São Paulo, já em liberdade, o capitão da Força Pública Paulista, José Oliveira
França, um dos prisioneiros de Ribeira, lamentou o fato ocorrido em Ribeira:
.
“S.
Paulo, 24 (União) – Fallando á imprensa, o capitão José França, da Força
Pública Paulista, declarou que as forças governistas apoderaram-se da Capella
da Ribeira, logo no inicio do movimento revolucionário, porque houve trahição
de vários officiaes rebeldes [paulistas].” (Extraído do jornal “Correio do Paraná”, de 24/10/1932, p. 1).
Conforme
declarou o então Comandante Geral da Força Pública de São Paulo, o coronel
Herculano, sobre a queda de Ribeira: “(...) Não fosse um dos vários atos
individuais que macularam a nobreza da causa de São Paulo e a dignidade da
farda, dificilmente aquele passo seria transposto.” (in “A Revolução Constitucionalista (1932)”,
H. C. Silva, p. 158).
Segundo
o coronel Azarias Silva, em declaração dada à imprensa em 2 de novembro de
1932:
“(...)
Ribeira caiu com 3 officiaes e 56 praças apenas. Não passei por Xiririca, da
qual estive a 200 kilometros de distancia. O effectivo da minha tropa nunca
excedeu de 300 homens, dos quaes 200 na praça de Ribeira. E’ preciso não
confundir a minha acção com a de quem se retirou com 900 homens para Xiririca,
perseguido apenas por 40 federaes! [o coronel aqui faz referência ao
Destacamento do major Luiz Tenório de Brito que precisou recuar de Apiaí para
Xiririca, para evitar o cerco da unidade, no início de agosto de 1932]. (...) Á
Ribeira não chegou uma única peça de artilharia, apesar de meu ardente desejo
de a ter. (...) Sempre escoltado, iniciei a minha ´via crucis´ deixando Ribeira
com destino a Curityba, Paranaguá e Rio de Janeiro (Quartel General do
Exército, 1ª Região Militar, Ilha Grande e Casa de Correcção).” (Extraído do
jornal “Noite”, de 2/11/1932, p. 1).
O tenente-coronel
Azarias deixou a Casa de Correção do Rio de Janeiro em 28 de outubro de 1932,
chegando a São Paulo somente em 3 de novembro e nesta mesma data pediu a sua
reforma da Força Pública de São Paulo, por discordar dos termos da rendição bem
como a Intervenção da ditadura no Estado e na sua própria corporação. Na
reserva, recebeu a patente de coronel.
Azarias
Silva, em sua carta sobre as razões de sua reforma da Força Pública, – peça que
precisou distribuir por conta própria aos amigos e demais pessoas, pois foi
imposta censura à imprensa paulista pelo então Interventor Valdomiro Lima –,
atribuiu a queda de Ribeira à traição dos irmãos Navarro, embora Ribeira já
estivesse condenada a cair nas mãos governistas, uma vez que, no final de julho,
as tropas do Destacamento do tenente-coronel Boanerges Lopes de Souza já haviam
cercado Apiaí e obrigado o recuo do destacamento do major Luís Tenório de Brito
e, assim, fatalmente cortariam a retaguarda das tropas do coronel Azarias Silva
e o deixaria cercado, na hipótese dos paulistas ainda resistirem naquela
posição à princípio de agosto. A referida carta está disponível entre as
páginas 266 a 268 do livro “A Nossa Guerra” (1933), de Alfredo Ellis Jr.
(Este
material sobre a Revolução em Ribeira foi extraído da página do Facebook de “Guardiões
de 1932”. Link acessado em 8/7/2022: https://www.facebook.com/1952696811651969/posts/2149737725281209/).
A
REVOLUÇÃO EM APIAÍ
Telegrama
datado de 8 de agosto informava que 37 prisioneiros, dentre os quais 4
capitães, haviam chegado de Iporanga. Os prisioneiros paulistas contaram que grande
parte dos fugitivos de Apiaí, não tendo como pagar a condução em canoa para
Xiririca e Iguape, aventuraram-se sozinhos pelo rio Ribeira abaixo, tendo
muitos deles naufragados nas correntezas ali existentes.
Um
pelotão de cavalarianos federais prendeu, assim, mais de duzentos revolucionários.
Chegou a Faxina (Itapeva) mais um batalhão da polícia catarinense, disciplinado,
com entusiasmo de entrar em fogo. Estavam marchando mais cinco pelotões, vindos
do Rio Grande do Sul. De Apiaí, chegaram mais três caminhões, que ali foram
apreendidos pelo comandante Ayrton Plaisant.
Telegrama
remetido de Apiaí em 17 de agosto à Interventoria de Santa Catarina, informava
que soldados federais, entrando pelo Porto das Mulatas, atingiram Iporanga em
11 de agosto e fizeram reconhecimento nas localidades de Batatal, Itauna,
Xiririca e Sete Barras. De 11 para 12 de agosto atingiram Itauna, onde
desligaram o telefone, atingindo Xiririca às 4 horas da manhã, de onde, pouco
antes, havia partido um vapor conduzindo tropas paulistas, que deixaram em
Xiririca um destacamento ocupando o Telégrafo Nacional, composto de um
sargento, um anspeçada e cinco praças, que foram aprisionados.
O
telégrafo local mantinha constante comunicação com as tropas paulistas de Sete
Barras e com a colônia japonesa de Registro. Essas comunicações foram
interrompidas por um oficial das forças federais, que cortou as linhas telegráficas.
Esse mesmo oficial prosseguiu o reconhecimento sobre Sete Barras e Registro. Em
Sete Barras, verificou que o número de simpatizantes à causa paulista atingia o
montante de 700 homens, mais ou menos, não podendo precisar o número em Registro,
mas observou que a colônia estava ocupada por forças paulistas.
O trânsito
de pessoas para São Paulo estava sendo feito via Xiririca, Sete Barras e Santo
Antônio do Juquiá. Os federais desconfiam que as forças paulistas recebiam materiais
de Iguape e Cananeia. As tropas federais estavam prontas para partir, estando
apenas no aguardo de receberem mais gasolina.
A
REVOLUÇÃO EM IPORANGA
Em
18 de agosto, forças federais comandadas pelo tenente João Doms capturaram em
Iporanga quatro praças pertencentes às tropas paulistas: 2º sargento do
Batalhão Patriótico 9 de Julho, Antônio Ferreira Gomes; anspençada do 8º Batalhão
da Força Pública de São Paulo, Francisco Lavras; e os soldados Lafredo Rosa
Pereira e Procópio Alves.
Os
prisioneiros foram remetidos para Apiaí, onde ficaram aguardando condução para Faxina
(Itapeva). Pelo mesmo tenente Doms foram apreendidos seis fuzis sem ferrolhos.
Em Xiririca, existiam outros prisioneiros, que também seriam enviados pelo tenente
Doms ao destacamento do comandante Ayrton Plaisant.
REVOLUÇÃO
EM REGISTRO
A
revolução terminou oficialmente em 2 de outubro, quando São Paulo se rendeu.
Aconteceram, porém, conflitos, em várias regiões do Estado. No Vale do Ribeira
não foi diferente.
Em 7
de outubro, em Registro, houve conflito entre elementos extremistas e soldados
voluntários, que resultou em uma morte e em vários feridos. Os causadores dos conflitos
foram dois soldados paranaenses, que foram presos.
A
Santa Casa de Iguape recebeu os soldados Manuel Bernardes, de 42 anos de idade,
alagoano, Maximiano Bernardino, de 30 anos, ambos do Batalhão Reserva de Santos,
e Oscar Miranda, de 29 anos, do 6º B. C. P.
Jornais
“A Gazeta”, nº 7.944, de 22/7/1932.
“A Gazeta”, de 16/8/1932.
“A Noite”, n° 7.438, de 9/8/1932.
“A Noite”, de 2/11/1932.
“Correio de S. Paulo”, de 21/7/1932.
“Correio de S. Paulo”, nº 38, de 29/7/1932.
“Correio de S. Paulo”, nº 59, de 23/8/1932.
“Correio de S. Paulo”, nº 98, de 7/10/1932).
“Correio do Paraná”, de 24/10/1932.
“Diário Nacional” (SP), nº 1.518, de 19/7/1932.
“Diário Nacional”, n° 1.525, de 27/7/1932.
“Diário Nacional”, nº 1.528, de 30/7/1932).
“Diário Nacional”, nº 1.533, de 5/8/1932.
“Diário Nacional”, nº 17/9/1932).
“Jornal do Brasil” (RJ), nº 234, de 1/10/1932).
“Notícia” (SC), nº 1.215, de 18/8/1932.
“O Dia” (PR), de 2/8/1932.
“O Dia” (PR), nº 2.638, de 19/8/1932).
“O Iguape”, nº 301, de 19/7/1932.
“O Iguape”, nº 302, de 26/7/1932
“O Iguape”, nº 303, de 5/8/1932.
“O Iguape”, nº 304, de 21/8/1932.
“O Iguape”, nº 305, de 31/8/1932.
“O Iguape”, nº 306, de 16/9/1932.
“O Radical” (RJ), nº 114, de 29/9/1932).
Livros
COSTA, Emília Viotti da. 1932: Imagens
Contraditórias. São Paulo: Edições Arquivo do Estado, 1982.
DIVERSOS Autores. Cinquentenário da Revolução
Constitucionalista de 1932. São Paulo: Secretaria de Estado da Educação, 1982.
DONATO, Hernâni. História da Revolução
de 1932. São Paulo: Ibrasa, 2002.
FORTES, Roberto. Iguape: Nossa História. 2
volumes. Iguape: Gráfica Soset, 2000.
LARAGNOIT, Paulo de Castro. A Vila de
Prainha. 2ª edição ampliada. São Carlos: Editora Jabutu, 1984.
LIMA, Luiz Octavio de. 1932: São Paulo
em Chamas. São Paulo: Planeta, 2018.
SILVA, Hélio. A Revolução Paulista
1931-1932. São Paulo: Editora Três, 1998.
Revistas
A Revolução Constitucionalista de
1932. São Paulo:
Editora Minuano, 2012.
Revolução de 1932. São Paulo: Editora Escala, sem data.
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br |
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial
deste texto com a devida citação dos créditos).