As nuances na vida e na poesia de Miê Liriá

As nuances na vida e na poesia de Miê Liriá




Livro da poeta registrense será lançado durante inédito sarau feminino no domingo, 11 de junho, às 19 horas, no espaço Caixa Preta



Um livro de poemas deve ser saudado com alegria, principalmente nesse tempo em que quando inteligência artificial tenta se sobrepor ao humano. Poesia é emoção e nasce no coração da gente. É nesse contexto que “Nuances”, primeiro livro de Miê Liriá, será lançado no espaço Caixa Preta de Teatro, dia 11 de junho, com um inédito sarau que reúne autoras, cantoras e dançarinas do Vale do Ribeira. O livro tornou-se possível por intermédio do PROAC Editais, Secretaria da Cultura e Economia Criativa e Governo do Estado de São Paulo.

Como a maioria dos poetas, Miê começou a escrever muito cedo, porém, descartou boa parte de sua produção literária quando, ao revisitá-la, avaliava que não fazia mais sentido. “Com a maturidade, isso mudou”, afirma a poeta, revelando que é portadora de Transtorno Afetivo Bipolar e foi num extenso período de crise que se deu a composição de seu primeiro livro. “Quando eu me dei conta, tinha uma série de poemas que retratam justamente essas nuances”, diz. “Daí que nasceu a ideia de concretizar esse livro e colocar no papel um compilado de todos esses sentimentos que me invadiam e que me invadem ainda, o tempo todo”, completa.

Selecionar poemas para a edição do livro não foi tarefa fácil porque excluiu alguns que remetiam a sentimentos que ela não queria presentes na obra. “Por outro lado, foi libertador porque a vida é assim. Todos nós temos altos e baixos e quando a gente fala de arte, isso fica muito claro. A arte é projetiva”, afirma.

Miê reflete que a sociedade espera que todos vivam na caixinha. “Eu me libertei disso. Não estou preocupada com a caixinha. Estou preocupada com o que eu sinto agora e com o que eu senti quando escrevi. Obviamente, eu quero tocar outras pessoas mas, nesse caso, talvez por ser o primeiro livro, estou pensando na minha realização”, revela.

A poeta tem a expectativa de que o livro sirva para amplificar o debate sobre transtorno mental e arte, contribuindo para jogar luz sobre o tema e reduzir o preconceito. “A psicofobia é muito forte e eu sinto isso na pele, especialmente pela minha profissão – sou psicóloga – e é uma tragédia para a vida de quem sofre de transtorno mental”, explica. “A maioria das pessoas com transtorno mental tem vergonha de revelar porque é apontado como louco. Acho que a gente precisa desmistificar isso e trazer a discussão que é tão importante como todas as outras discussões em relação ao preconceito”.

Outro tema que Miê quer abordar nessa nova jornada é a visibilidade das mulheres. “As mulheres ainda são muito invisíveis. Com exceção do teatro, as mulheres representam um universo de 10% nas demais artes. É muito difícil ainda elas saírem do espaço da casa para ir para um espaço maior, onde se pode colocar como artista”, reflete.

Michele Mostafá adotou o nome de Miê Liriá juntando o jeito que era chamada pelo filho de amigos, de quatro anos, e uma referência aos lírios, que simbolizam a paz. Enquanto se prepara para atender convites de lançamento de “Nuances” em Salvador, Rio de Janeiro, Campos de Jordão e Ilhabela, Miê Liriá também organiza oficinas de escrita criativa, que fará em escolas públicas como contrapartida ao edital PROAC e continua escrevendo novos poemas. Ela também participará de uma mesa sobre literatura no Festival Literário Vale do Ribeira, em 26 de junho.

A poeta ressalta a arte como refúgio. Em 2014, quando teve uma crise muito forte, Miê passou a pintar, cantar e escrever com intensidade. “Eram conteúdos que eu só conseguia expressar através das artes”, relembra a poeta que, nessa época, aderiu ao Grupo Neomarginais, movimento literário liderado pelo poeta paulistano Vitor Miranda. Foi no grupo que Miê Liriá começou a se enxergar como poeta que tem “apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, como define Carlos Drummond de Andrade. Aliás, Miê cita seu companheiro Zeca Alencar Junior e os poetas Vitor Miranda e Henrique Pitt entre seus principais incentivadores nessa arte em que é possível fingir que é dor a dor que deveras se sente.

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