Equipe da Embrapa avalia ações para o desenvolvimento da bananicultura em reuniões no Vale do Ribeira
No Vale do Ribeira, cerca de 90% da economia direta e indiretamente vivem da bananicultura
Nos dias 17 e 18 de outubro, equipe da Embrapa — Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) —, formada por pesquisadores de três Unidades, esteve no Vale do Ribeira (SP) em reuniões para avaliar as ações realizadas para o desenvolvimento e sustentabilidade da bananicultura da região e do País.
No primeiro dia, na sede da Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira (Abavar), em Registro-SP, Alberto Vilarinhos (Embrapa Mandioca e Fruticultura, BA) fez uma apresentação com um apanhado do trabalho desenvolvido — principalmente as ações relacionadas à prevenção da raça 4 tropical de Fusarium (Foc R4T), praga ainda quarentenária no Brasil, mas que ameaça os nossos bananais —, incluindo o já realizado com recursos da emenda parlamentar da deputada federal Rosana Valle.
Vilarinhos iniciou com um panorama sobre o Foc R4T no mundo e os dados específicos da Colômbia — destacando o trabalho conjunto realizado entre a Embrapa e instituições daquele país —, além de pontuar os casos identificados no Peru e Venezuela.
“Variedades desenvolvidas pela Embrapa, e que estão em produção aqui no Vale do Ribeira, como a BRS Princesa e a BRS Platina, foram enviadas para a Colômbia, com recursos de projetos de colaboração internacional com a Agrosavia [Corporación Colombiana de Investigación Agropecuária] e Augura [Asociación de Bananeros de Colombia], para testar contra o Foc R4T.
Obviamente, como ainda não existe no Brasil, não podemos testar aqui. Os resultados terão impacto direto na produção sustentável do Vale do Ribeira, se confirmada a resistência desses materiais à praga”, informou o pesquisador.
O diretor técnico da Abavar, Felipe Trigo, ressaltou a grande preocupação com o Foc R4T. “Aqui, no Vale do Ribeira, cerca de 90% da economia direta e indiretamente vivem da bananicultura.
É algo que realmente preocupa a gente. Sou filho de produtor, trabalho também com isso, então hoje não nos vemos fazendo outra coisa e sempre ficamos naquela expectativa: se chegar, o que a gente vai fazer?
Então a Abavar tem brigado por isso, pra não deixar entrar, mas sabemos que uma hora pode chegar, e a Embrapa traz essa segurança pra gente poder no mínimo conviver com isso, garantindo que as próximas gerações possam continuar na produção.”
Além de Trigo, os representantes da Abavar que recepcionaram o grupo da Embrapa foram Jeferson Magario (vice-presidente), Silvio Romão (diretor de Relações Internacionais e Exportação), Elouir Freire (diretor), Ézio Borges (ex-presidente e diretor comercial) e Rafael Peniche (coordenador).
Junto às tecnologias relacionadas a variedades resistentes às principais doenças da bananicultura, Vilarinhos abordou os trabalhos realizados para o controle biológico de pragas e doenças com o desenvolvimento de bioinsumos.
“Todos os bioinsumos desenvolvidos por mais de uma década serão trabalhados no Vale do Ribeira com o ajuste de parcerias para isso.
Os bioinsumos são também utilizados na substituição da adubação química de plantas, como nos casos do nitrogênio e fósforo”, destacou.
Segundo o diretor de Relações Internacionais e Exportação da Abavar, Silvio Romão, o detalhamento das informações sobre o uso de bioinsumos por bananicultores de outras regiões produtoras foi “muito útil”.
“Isso nos deixou bastante confortáveis para também implementarmos na nossa bananicultura aqui no Vale do Ribeira.
Alguns produtores têm já interesse determinado de agregar o trabalho da Embrapa para desenvolvimento dessas novas tecnologias”, disse o produtor, que acrescentou:
“A indústria de fertilizantes está caríssima, e podemos ter uma banana mais protegida, mais sustentável e com custo menor com o uso de bioinsumos”.
Ações com foco na Sigatoka-negra e broca-do-rizoma
As pesquisadoras Sonia Nogueira (Embrapa Pecuária Sudeste, SP) e Jeanne Prado (Embrapa Meio Ambiente, SP) também pontuaram os trabalhos realizados para controle, respectivamente, de outra doença da bananeira, a Sigatoka-negra, e da broca-do-rizoma ou moleque-da-bananeira, inseto que causa danos aos bananais. Sonia acrescentou que, com parte do recurso da emenda da deputada Rosana Valle, foi construído um laboratório de fitopatologia na Unidade, localizada em São Carlos. “Foi importantíssimo.
Conseguimos fazer a reforma predial toda, adquirimos os móveis planejados para guardar todos os reagentes, vidraria e adquirimos os equipamentos.
Tem também a casa de vegetação. Agora temos condições de atender às demandas do Vale do Ribeira.
Estamos com tudo pronto para efetivamente começar a executar as atividades aqui, conforme os planos de trabalho que teremos daqui em diante.”
No caso da broca, Jeanne relembrou que a Embrapa Meio Ambiente começou a trabalhar mais com a cultura da banana e no Vale do Ribeira a partir do projeto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em que se avaliavam os fatores que contribuíam para maior incidência da murcha de Fusarium na planta, entre eles, a broca.
"O projeto analisava também outros fatores tais como os aspectos nutricionais, trabalhados pelo pesquisador Luiz Teixeira [Instituto Agronômico], e a questão do microbioma da rizosfera das plantas, trabalhados pela pesquisadora Poliana Giachetto [Embrapa Agricultura Digital].
O projeto acabou no início de 2022, e demos continuidade às atividades com recursos da emenda. Agora estamos contrastando os resultados entre áreas em que havia fusariose e áreas em que não havia fusariose para correlacionarmos os fatores com a doença", disse Jeanne.
Segundo ela, há uma outra linha de pesquisa que investiga a capacidade de a broca ser um vetor da doença, além da investigação realizada acerca da virulência de uma espécie de fungo entomopatogênico isolada a partir de insetos coletados no Vale do Ribeira, a Beauveria caledonica.
"Nossa equipe tem elaborado propostas a diferentes fontes de fomento para dar continuidade aos estudos com o controle biológico da broca. Enquanto isso, os recursos da emenda serviram para darmos continuidade às atividades até que tenhamos outros projetos aprovados", complementou.
Os pesquisadores Luiz Teixeira e Poliana Giachetto, mencionados por Jeanne, acabaram se juntando também ao grupo no segundo dia de atividades no Vale.
Trabalho com a Apta
Depois da recepção na Abavar, a equipe da Embrapa, acompanhada de representantes da associação, seguiu para a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) - Polo regional do Vale do Ribeira, em Pariquera-Açu, onde se reuniu com o pesquisador Edson Nomura. Foi feito um balanço das atividades realizadas em conjunto e também se falou sobre expectativas de novos trabalhos.
“Variedades somaclonais [variação fenotípica de origem genética ou epigenética, que é uma variação transitória devido ao estresse fisiológico] desenvolvidas pela Embrapa e que estão em teste na Apta no Vale do Ribeira foram enviadas para a Colômbia, também com recursos de projetos de colaboração internacional, para testar contra o Foc R4T.
Novamente, afirmo que os resultados terão impacto direto na produção sustentável do Vale, se confirmada a resistência desses materiais”, disse Vilarinhos.
Nomura afirmou que a expectativa com a parceria entre Abavar, Embrapa e Apta em diversos projetos é “bem promissora”. “Principalmente em relação às variedades somaclonais. Temos o potencial de lançar novos materiais no mercado, talvez com resistência à raça 4.
São materiais que estão sendo testados também na Colômbia. Então talvez num futuro próximo a gente consiga materiais interessantes para os bananicultores e possamos enfrentar essa doença com mais tranquilidade.”
No dia seguinte (18), a convite da Abavar, os pesquisadores visitaram, em Eldorado, a Vitroplan, empresa de produção de mudas de banana in vitro.
À tarde, o grupo seguiu para a Fazenda Univale, do produtor Silvio Romão, em Jacupiranga. Lá, Vilarinhos fez nova apresentação para produtores, consultores, pesquisadores e técnicos das ações realizadas pela Embrapa.
“A Abavar, como representante dos bananicultores do Vale do Ribeira, tem grande interesse em desenvolver tecnicamente e tecnologicamente a bananicultura do Vale do Ribeira.
E o grande parceiro que a gente vê nesse momento é a Embrapa, com sua grande força de desenvolvimento de conhecimento, de pesquisa, de aplicação de técnicas e tecnologias.
Então, é fundamental que a Embrapa nos ajude com novas variedades de banana para que a gente tenha tranquilidade de uma transição da nossa bananicultura para uma bananicultura mais protegida e resistente à raça 4.
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A presença da Embrapa nesses dois dias aqui no Vale do Ribeira foi essencial. Tivemos várias trocas de informações, vimos trabalhos de pesquisa já realizados, como as novas variedades que estão em teste na Colômbia e experiências em outras regiões produtoras de banana no País”, concluiu Romão.
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Fonte: Embrapa e Portal Ribeira