O que se espera de um profissional psi

O que se espera de um profissional psi


É datado fim do século XIX, nos laboratórios de Wilhem Wundt, na Alemanha, o nascimento da Psicologia. Foi no ano de 1879 a inauguração do primeiro laboratório de Psicologia experimental em Leipzig, naquele país. 

Por conta de seu trabalho a Psicologia se tornou independente da Filosofia, e a partir daí novos estudos se iniciaram. 

Todas as próximas escolas e teorias da área foram possíveis desde esse ‘ponta pé’ inicial.

Mas a história pelo interesse da alma humana ou ‘psique’ remonta séculos atrás. George Canguilhem, filósofo e médico francês, no capítulo “A psicologia como ciência natural” no texto “O que é a Psicologia” (1973) cita o tratado de Aristóteles (384-322 a. C.) em que a psicologia teria tido seu início. 

Feito é que desde esse período “a alma é um objeto natural de estudo, uma forma da hierarquia das formas, mesmo se sua função essencial é o conhecimento das formas” (p. 2, 1973). 

Ou seja, há séculos que nos interessamos pela essência que nos move em busca da realização de nossos desejos.

Desde muito se espera de um profissional da área “Psi” que ele represente toda a gama de conhecimento sobre as causas e impasses que a vida psíquica de um ser humano lhe trava em atingir os objetivos que lhe movem.

Quando Canguilhem proferiu essa conferência no Collége Philosophique em 1956, na cidade de Paris/França, causou um feroz ataque à Psicologia. 

Disse que quando lê tratados de Psicologia, percebe uma mistura de Filosofia sem rigor, uma ética sem exigência (o que ainda vemos em algumas publicações de áreas da Psicologia, em que se propõe avaliar o sujeito sem um objetivo que traga benefícios para o próprio avaliado) e uma medicina sem controle. Faltava uma identidade à Psicologia.

O filosofo parte de uma empreitada avaliando, de início, todo o trajeto que a Psicologia se fez, a fim de apontar na sua época, o que de fato é Psicologia?

Já no final do texto percebemos o apontamento de um modo utilitarista num primeiro momento para a ideia de uma Psicologia instrumentalista: o uso do homem como meio de utilidade. 

Ao psicólogo caberia colocar cada homem com suas aptidões em seu devido lugar (essa é a crítica do Canguilhem), numa constante adaptação a um meio social/tecnológico. 

Uma espécie de poder jogado no colo dos psicólogos que atuavam gerenciando as relações do homem com a vida.

Crítica importante que fez andar a ciência psicológica e nos dias atuais faz com que a Psicologia se mostre não mais como uma intervenção que procure a ‘adaptação do sujeito’ ao modo de vida que lhe fez sofrer sem questionamentos de suas causas. 

Redefinir o campo de atuação desses profissionais “psis” dentro de uma perspectiva da medicina hipocrática (‘Corpus Hippocraticum’ Biblioteca de Alexandria no século III a.C., entre 420 e 370 a.C., composto de 53 tratados perfazendo 72 livros médicos), seria o seu objetivo principal do fazer profissional um ‘servo dessa arte’ - a arte de unir a tecnologia da ciência com a escuta do particular. 

Ou seja, que ao aplicar uma técnica na área da saúde o profissional possa ter a condição de aplicar uma espécie de ‘arte do saber psi’ – a arte seria então a união da técnica com a aplicação dessa técnica para reduzir o sofrimento de cada sujeito de forma diferente, de modo singular.

Enfim, um tratamento na área “psi” indicaria um olhar para uma psicopatologia (saber sobre as afecções patológicas da psique) do sujeito, e não uma psicopatologia da doença. 

 Um tratamento de saúde que vise práticas clínicas que sejam orientadas por uma escuta na subjetividade e não somente para a doença, e que em geral persiga uma melhora significativa dos impasses do sujeito, colocando ele no centro do tratamento, em busca de realizações de seu desejo enquanto vinculado no interior do laço social.



Daniel Vicente da Silva

Psicanalista, Psicólogo clínico e Professor Universitário. Membro Associado do Núcleo de Estudos em Psicanálise de Sorocaba e Região – NEPS-R.

E-mail: danielvicente_@hotmail.com

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