Segundo o anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, houve um aumento de 0.8% nos casos de feminicídio.
Ao todo, se registrou 1,467 mortes de mulheres. Também em relação a casos de abuso sexual, verificou-se um aumento de 6.5%.
Esses números lançam uma névoa sombria sobre a sociedade brasileira, deixando em seu rastro um trauma profundo e muitas vezes não falado entre os sobreviventes e as famílias das vítimas.
Essa questão pervasiva não só tira a vida das mulheres, mas também deixa cicatrizes psicológicas profundas naquelas que ficam para trás.
O que é visto na imprensa, televisão e mídias sociais não é nada comparado ao choque e o luto imediato que as famílias dessas vítimas enfrentam.
O problema é que a sociedade como um todo, vê esses casos tão frequente e corriqueiramente, que está se desinsetizando, anestesiando-se à tanta violência.
O período imediatamente após o feminicídio é marcado por choque intenso e um luto profundo.
As famílias, muitas vezes pegas de surpresa pela perda brutal de um ente querido, são lançadas em um turbilhão de emoções.
A súbita e violenta ocorrência do feminicídio deixa as famílias lutando para lidar com uma realidade incompreensível.
Os estágios iniciais do luto são frequentemente caracterizados pela descrença, raiva e um profundo senso de injustiça.
Além disso, ainda temo desfio de lidar com os efeitos psicológicos a longo prazo.
Dra.Karina Chernacov,, psicóloga especializada em traumas, adverte que com o tempo, os impactos psicológicos do feminicídio podem evoluir para problemas de saúde mental.
Sobreviventes e membros da família frequentemente apresentam sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), incluindo flashbacks, ansiedade severa e hiper vigilância.
A depressão também é comum, exacerbada por sentimento de impotência e pelo estigma que muitas vezes cerca as vítimas de feminicídio.
Crianças que perdem suas mães para o feminicídio enfrentam desafios únicos. As crianças, como sempre, são particularmente vulneráveis aos impactos psicológicos de perder um pai ou nesse caso, a mãe, para a violência.
Elas podem lutar com questões de apego, atrasos no desenvolvimento e problemas comportamentais.
Também pode desenvolver questões complexas em seus relacionamentos futuros, e a confiança, e sua autoestima podem ser afetadas. O trauma pode afetar seu bem-estar emocional até a vida adulta.
Compreender as consequências psicológicas do feminicídio no Brasil requer examinar o contexto cultural em que esses crimes ocorrem.
A cultura machista profundamente enraizada perpetua a desigualdade de gênero e normaliza a violência contra as mulheres.
Esse pano de fundo cultural não só contribui para a prevalência do feminicídio, mas também complica o processo de luto para as famílias, que podem enfrentar pressão social para permanecerem em silêncio ou aceitarem a violência como norma.
A cultura machista cria um ambiente onde a violência contra as mulheres é tolerada, senão abertamente aprovada. Essa aceitação cultural isola ainda mais as famílias e os sobreviventes, dificultando a busca por justiça.
Apesar desses desafios, existem caminhos para apoio e cura. Aconselhamento psicológico e terapia são cruciais para ajudar sobreviventes e famílias a processarem seu trauma.
Grupos de apoio comunitário também desempenham um papel vital ao fornecerem um espaço seguro para compartilhar experiências e estratégias de enfrentamento.
Nos últimos anos, várias organizações no Brasil têm trabalhado incansavelmente para apoiar sobreviventes e famílias de vítimas de feminicídio.
Essas organizações oferecem serviços de aconselhamento, assistência jurídica e advocacia esforçando-se para romper o ciclo da violência e promover uma cultura de igualdade e respeito.
Além do apoio individual e familiar, há uma necessidade de mudança societal, que inclui desafiar e desmantelar a cultura machista, fortalecer os marcos legais para proteger as mulheres e garantir que os agressores sejam responsabilizados.
À medida que o Brasil enfrenta a praga do feminicídio, é essencial reconhecer e abordar o trauma silencioso suportado por sobreviventes e famílias.
Proporcionar apoio psicológico e desafiando normas culturais, cria-se esperança de cura e de um futuro em que as mulheres possam viver livres da ameaça de violência.
Saiba mais sobre a psicóloga Karina Chernacov pelo instagram:
@Karina.chernacov