Com seis episódios, a websérie conta a história da Tortinha, um boto-cinza fêmea que habita o estuário do litoral Sul de São Paulo
Objetivo da obra é promover a alfabetização científica para crianças sobre o boto-cinza, um dos menores golfinhos de região costeira e ameaçado de extinção
O Projeto Boto-cinza, uma realização do Instituto de Pesquisas Cananéia – IPeC e com o patrocínio da Petrobras Socioambiental, transformou a história de uma fêmea de boto-cinza, monitorada há mais de 20 anos em Cananéia-SP, em personagem de uma websérie para o público infantil.
“As aventuras de Tortinha” contará com seis episódios, sendo que dois já foram lançados pelo canal do IPeC, no Youtube. O objetivo da websérie é encantar e engajar crianças na conservação da espécie que corre risco de extinção.
A descoberta da Tortinha é fruto de uma das linhas de pesquisa do Projeto Boto-cinza, que é o monitoramento dos botos nas águas do estuário de Cananéia.
O estudo utiliza a técnica de fotoidentificação para reconhecer os botos individualmente. Os pesquisadores criam um banco de dados por meio de fotografias da barbatana dorsal, parte do corpo que fica para fora da água quando o boto vai à superfície.
Ao longo dos anos, a dorsal vai ganhando marcas, virando a impressão digital, o “RG” de cada boto. É com elas que os pesquisados conseguem reconhecê-los.
A Tortinha, que pode ser facilmente avistada no estuário, foi identificada ainda filhote, em 2002, acompanhada de sua mãe. Ela recebeu esse nome justamente pela característica da sua dorsal: torta para esquerda. Estima-se que a boto-cinza hoje tenha cerca de 24 anos de idade.
Na websérie, Tortinha é interpretada pela bióloga Dalva Santos e o roteiro conta com a participação de toda a equipe do projeto, que transforma o conhecimento científico de biologia, geografia e oceanografia em conteúdo lúdico e didático.
“Para promover a alfabetização científica para crianças, utilizaremos a personagem Tortinha para explicar, de forma divertida e fácil, os conceitos do comportamento dos botos e sobre o complexo estuário do Lagamar. A websérie está no contexto de Cananéia, mas é um conhecimento que se aplica em todos os lugares do país onde há estuários e que o boto pode ser encontrado”, explica Caio Louzada, coordenador e pesquisador do Projeto Boto-Cinza.
A websérie estreou com a Tortinha se apresentando, uma bloqueirinha com os seus amigos do estuário e do manguezal, que são os personagens de outros materiais educativos do Projeto Boto-cinza.
O segundo episódio vai explicar para as crianças como os cientistas a encontraram e a origem do seu nome, aprofundando nos conceitos de fotoidentificação. A websérie seguirá apresentando Cananéia, o Lagamar e o estuário, como os botos se alimentam, o superpoder de Tortinha, que é a habilidade natural extraordinária da ecolocalização, e finalizará explicando a curiosidade de como os botos dormem.
O coordenador explica que para se aproximar da realidade da criança e facilitar a compreensão dos conteúdos, a sequência da websérie se baseou em hábitos comuns das crianças. “Acreditamos que gerando essa proximidade com o cotidiano das crianças, a aprendizagem se torna mais efetiva.
Por isso, atividades do dia a dia, como comer, dormir, conhecer o seu espaço, além de ter o momento de apresentação deles mesmo, que é comum nas escolas.
Além disso, a websérie dialoga com outros materiais que estamos produzindo que podem ser usados em sala de aula, ou seja, funcionam como ferramentas complementares de aprendizagem”, complementa Louzada.
O coordenador também acrescenta que a série tem o intuito de fortalecer o sentimento de pertencimento das crianças às regiões de estuário.
“Muitas pessoas crescem sem saber que moram ou estão próximas de uma das regiões mais ricas em biodiversidade do país.
Há quem ache que para ver golfinho precisa ir para outro país, viajar horas de avião, sendo que eles estão aqui, no “quintal de casa”. Ao ampliar o conhecimento dos ecossistemas locais, da fauna e flora, é possível ampliar o orgulho de pertencer e, consequentemente, temos mais chances de mudar o futuro dessas espécies, que já estão ameaçadas de extinção”, finaliza o pesquisador.
Sobre o Projeto Boto-cinza
O Projeto Boto-Cinza é uma iniciativa do IPeC que visa o conhecimento e a conservação desta espécie, bem como do seu habitat. As atividades tiveram início na década de 80 na região de Cananéia, litoral sul do Estado de São Paulo.
Ao longo deste período foram desenvolvidos inúmeros trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de doutorado com o apoio do Instituto de Pesquisas Cananéia e parcerias com diferentes instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do exterior.
Além da pesquisa científica, a equipe do projeto promove atividades de educação, conscientização ambiental e valorização da cultura local, o que confirma seu papel como importante colaboradora na busca de soluções para os problemas socioambientais da região.
O projeto participa de redes gestoras das áreas ambiental, turística e cultural e os resultados dos estudos desenvolvidos são disponibilizados, passando a ser incorporados em pautas de discussões da agenda local.